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domingo, 5 de junho de 2011

ROJÃO DIFERENTE, UM SOM QUE EMBALOU MEU FILHO

No meio de todo esse processo de perda, afinal são 13 dias sem meu Xeberel, a gente vai percebendo que perdi muito mais, e se perde a cada segundo,e não temos dimensão do que ainda há para se perder.  Nos apegamos ao corpo físico, a voz, a presença, aos hábitos, as lembranças.  Mas cada dia do processo percebemos que perdemos o que foi, o que é e o que seria.

Tentamos nos lembrar de fatos passados que tenham ligação com aquilo que estamos vivendo no momento. Tentamos nos colocar no lugar dos outros, querer a vida dos outros e os filhos dos outros. Tentamos inutilmente arrumar os pensamentos e pensar racionalmente. Tudo é em vão. A dor é absurdamente insuportável que até os paliativos que a gente cria, e cada um cria os seus, são inofensivos para aplacar a devassidão que a ausência de um único filho, com recém-completos 17 anos, causa quando vai para a Glória do Pai.

Ontem me vi assim. Perdida, sem rumo.

Música sempre foi uma coisa muito presente em nossas vidas.  Fui criada com música. Pe. Zezinho nas manhãs dos domingos e familia reunida, o livro do Louvemos quase todos os cânticos eu tinha conhecimento, muito Roberto Carlos - apreciado por mim só na minha fase adulta- e muita alegria com forrós. Meu pai era um festeiro nato, era de junho, e lembro com gostinho de quero mais de nossas festas com muita música.  Minha mãe cantarolava em casa e era muito criativa com as músicas, criava e parodiava muitas delas, também tocava sanfona na mocidade.

 Meu Rafa era assim. Cresceu sendo estimulado musicalmente, teve violão, guitarra, pandeiro, flauta, violino, bateria,teclado e dedilhava tudo isso. Fez conservatório de música, aulas de música, participou de coral e tinha  a musicalidade na alma.

Ainda pequeno eu o chamava de dedinhos nervosos, porque sempre que ficava sentado ou esperando alguma coisa tinha que estar batucando, fazendo barulhos com os dedos ou com a boca.  Era tão talentoso que teve um celular onde ele mesmo criava os ritmos e melodias de toque.

Meu menino cresceu, ficou eclético, ouvia tudo e gostava de tudo. Tinha uma memória musical muito grande e atualizava a todos que estavam em sua volta.  Chegaram os momentos do louvor e eles entraram em nossas vidas com profundidade. Lembro de deixá-los (ele e a tia) na escola ao som do "se ligue no poder de Deus", e depois ele foi cantarolando tantos outros louvores como  "Rompendo em fé", "Te agradeço", até chegar ao "Deus Forte". O refrão desse louvor falava ao muito ao nosso coração e eu dizia que falava muito do que Deus tinha feito quando me concedeu meu Rafa.  Pude ver meu filho louvando algumas vezes na Igreja.O vi tocar também...o chamava de meu levita.

Nos últimos dias, fui apresentada a vários compositores e composições com os quais me presenteava. Conheci Rojão Diferente.  Ouvi algumas, dezenas e centenas de vezes. O gordinho cumprimentava Muskito  nas gravações. Tinha planos de vê-los tocando e ver meu Muskito, eternizado naquelas gravações, fazendo o que ele mais sabia e gostava de fazer: estar entre amigos, alegrando-se e distribuindo alegria. Como ele dizia...zoadando.

Ontem tinha Rojão, mas a sanfona chorava muda acalentando minha perda. Não consegui suportar, não tinha som, não tinha trilha sonora, apenas a cadencia desritmada  de lágrimas que partiam todos os meus sonhos. 

Era um rojão estranho...de dor, vazio e ausencia. Ë como eu vejo a musica hoje sem você.

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