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quarta-feira, 15 de junho de 2011

SONHAMOS COM UM FUTURO AMENO, MAS O PRESENTE TEM SIDO AVASSALADOR.

Acho que isso acontece com todo mundo que está vivendo um grande problema. A gente perde noite de sono, diminui ou quase não tem apetite, fica ansioso, as vezes no mundo da lua (ou no mundo dos problemas mesmo) irritadiço, preocupado, por vezes atormentado por nao enxergar de imediato uma solução, ou quando a enxerga, não tem condições de colocá-la na prática.  Alguns falam sobre o problema com mais facilidade, outros, se trancam neles. Alguns conseguem conviver mais tempo com o problema e vai levando as outras áreas da vida, outros transferem o problema para todas as áreas. Uns justificam o problema se culpando, outros não admite culpa alguma, e até nega todo o problema para não ter que se envolver psiquicamente com a solução.

Imagino que quase todo mundo reaja assim, possivelmente com algumas variações na intensidade do comportamento, mas em todo caso, as pessoas que me cercam reagem mais ou menos desse jeito.  Entretanto, todos sonham com dias melhores, onde esses problemas não mais existam, onde já fora dissipada toda angústia, toda preocupação,  onde já se implementou inclusive uma solução plausível para o problema.

Hoje não vivo um problema. Todos dizem que foi a solução de Deus. Não importa o credo ou a fé, as pessoas se referem a ida de Rafa para a casa do Pai como a solução, a vontade de Deus.


Difícil imaginar que meu maior problema - e acho que de todos os problemas que a humanidade enfrenta, perder alguém que amamos deve compor o topo do ranking da lista - tenha sido vontade de Deus e que para isso, a perda, não se tem solução.  Muitas vezes nao consigo entender porque tem que ser assim. Aceitar então, agora inimaginável.  Mas em outros dias, onde sonho com um futuro ameno que não sei como será conduzido, sequer se será projetado, até esqueço  desse presente avassalador, que me roubou a paz, a tranquilidade, o sono, os sonhos, e o bem mais precioso que eu tinha, tão precioso para mim quanto para Deus, o Seu filho Rafael, e a minha família, porque já ouvi tantas vezes que o que define uma família são os filhos.  (Na verdade eu estou me dando conta de que além de perder meu filho, deixei de ser mãe e não tenho mais a minha própria família).


Mas voltando a idéia de que somos preciosos para Deus, e pensando desse jeito, de que Rafa era preciosíssimo para mim, mas muito mais valioso para Deus, começo a enxergar um futuro ameno, embora meu presente ainda seja extremamente avassalado pela saudade, pela dor, pelo inconformismo, pela teimosia, por nao me render completamente a pensar que essa era a vontade de Deus. Por que pensar assim ameniza meu sofrimento?  Ora, se Deus nos ama com um amor incondicional, maior que o de mãe pelo filho; se sacrificou seu filho único por nós; se nos dá tantas chances para que nos acheguemos a Ele e se nos traz para perto todas as vezes que os eleitos se desviam de Seus caminhos, é porque Ele nos ama muito e nos quer perto. Para alguns, mais tempo perto,  a exemplo de Rafa.



Então agora o problema não é porque Rafa não pode estar comigo, pois acho que o difícil para qualquer mãe é admitir que alguém, diferente de nós, possa criar, amar, proteger e cuidar da nossa cria melhor que nós mesmos. Mas existe alguém assim: DEUS.  Aí me deparo com o real problema, porque eu não posso estar perto de  Rafa? Queria poder responder. Mas sinto que a resposta é a mesma que o fez estar longe de mim, só que precedida de um não: porque Deus não quer.


Saímos de uma análise de como agimos quando temos problemas e chegamos ao âmago dela. Deus é a unica solução que posso ter para sonhar com um futuro ameno. Ele mesmo, que me pôs nesta situação  só Ele pode me fazer superá-la.  Somente Ele tem a condição de me fazer acreditar que esteve todo tempo no controle e que tudo vai acabar bem.


Falar nesse problema, a perda, é resumir de mais todo o processo,  porque não falo só da perda, falo de uma solidão que nos invade neste momento, porque queremos estar a sós com a nossa dor, com a nossa lembrança, com as nossas memórias, com a nossa vida tão unica e tão dividida com aqueles que amamos, enquanto estavam do nosso lado.  E neste caso, tão singular porque Rafael era meu filho único,  e com a separação há 11 anos, vivíamos muito uma vidinha só nossa, um mundinho  só nosso, indescritível, onde não era permitida a entrada de estranhos, e estranho era qualquer um que não fosse eu e ele.


Hoje eu tentei levar uma vida normal. Tentei ser forte, tentei me reerguer. Voltei para casa aos prantos. O que aconteceu? Nada, só aquele vazio imenso que parece que nos engole inteirinha. Cheguei em casa, peguei um agenda para anotar um número qualquer achei um bilhete. Eu havia deixado para ele uns 10 dias antes dele ir estar com o Senhor. Falava de orientações para o almoço,pois eu teria médico e não poderia esperá-lo após o ensaio da quadrilha. Era dia de feijão,arroz, farofa e rabada (e ele adorava quando eu desfiava a rabada do osso e já deixava separado). Naquela hora, relendo o bilhete que Rafa nao rasgou percebi quão difícil tem sido meu sonhar, porque meu presente não tem dado trégua, é avassalador.

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