Quero começar de forma diferente a escrever hoje, quem sabe depois de adorar, eu consiga colocar para fora o que tanto me angustiou. Para aqueles que não conhecem a letra da musica que me sustentou em momentos bem difíceis de minha vida, vou colocar o link, so que agora com outra voz, com uma voz bem linda que achei hoje, pelo menos eu achei linda sim....
DEUS DE PROMESSAS
Sei que os teus olhos
Sempre atentos permanecem em mim
E os Teus ouvidos
estão sensíveis para ouvir meu clamor
Posso até chorar...
Mas a alegria vem de manhã
És Deus de perto e não de longe
Nunca mudaste, Tú és fiel
Deus de aliança, Deus de Promessas
Deus que não é homem pra mentir
Tudo pode passar, tudo pode mudar
Mas Tua palavra vai se cumprir
Posso enfrentar o que for
Eu sei quem luta por mim
Seus planos não podem ser frustrados
Minha esperança está
Nas mãos do grande Eu sou
Meus olhos vão ver o impossível
Acontecer...
Quero mesmo saber como os pais podem expressar a dor de perder seu filho sem afrontar as pessoas? Entendo que algumas culturas adotem determinados adornos ou comportamentos para demonstrar que aquela família ou pessoa está em luto, estão sofrendo uma perda, estão passando um processo de desapego, de dor, etc.
No judaísmo o anuncio da dor, passa por cinco estágios diferentes do luto, e nos quatro primeiros as pessoas enlutadas são desencorajadas de sair de casa, e no ultimo estagio, que deve vigorar ate o decimo segundo mês apos o enterro, quando depois disso o prantear não é tão bem aceito, é apenas uma convenção judaica para acompanhar e consolar os enlutados.
O luto é uma forma de expressar a dor, é a forma de anunciar a dor, de exteriorizar aquilo que temos por dentro. E as culturas, ao longo dos anos foram assimilando determinados comportamentos ou valores. Na idade media, por exemplo, não havia a necessidade de se vestir a família do de cujos com uma cor para representar que aquela família estava em luto, pois as cidades eram pequenas e as pessoas se conheciam.
Depois com o crescimento das cidades houve a necessidade de se representar, anunciado qual era a família enlutada, mas o luto não era apenas representado pelo preto. O preto, cor que simbolizava o luto no ocidente era permutado pela cor da morte no oriente, onde as pessoas usavam o branco. Pois em algumas regiões do oriente o branco simbolizava desprendimento, paz e calma. Lembram-se da Novela Caminhos da Índia? Ali se usava branco, que significava falta de cor e silencio cor também adotada na China e no Japão.
Já no Egito, os enlutados usavam amarela, cor de folhas secas, que representam a morte ou algo sem vida. Já na Síria, se usava o azul celeste, porque se desejava que a pessoa fosse para o céu, e na Tailândia se usava o Roxo, mas não sei dizer por qual motivo.
Sou da época em que as pessoas usavam luto fechado. O preto sem exceções. Herança da Roma antiga onde os familiares participavam das solenidades fúnebres usando todas pretas. Usei luto por três meses, mas luto aberto, aquilo que minha mãe nos permitia usar, e não incluia na permissão os estampados, os vermelhos, as cores berrantes, etc. Ela, minha mãe, alem das alianças na mão, usou por muitos anos seu luto, preto, azul e branco (cores do manto de Nossa Senhora, que na época ela achava certo, e graças a Deus o tempo da escravidão acabou).
Ao longo dos tempos no Brasil o preto vem dando lugar ao branco, como símbolo de paz. Sinceramente, sou uma pessoa que gosto de cor, e Rafa também gostava. Embora, atualmente as estampas, as cores fortes não tenham me feito bem. A parede de minha sala é laranja, nem todos os dias consigo assimilá-la, as cores de minha casa me incomodam, minhas flores, a alegria das almofadas, etc. Não as tirei, porque também não quero alterar a nossa casa, minha e de Rafa, de coisas que ele me ajudou a fazer, tipo o retoque da parede, o decalque do adesivo no painel, etc. Mas não consigo usar cores de roupa, não consigo usar maquiagem, ou pintar as unhas com vermelho, as vezes ate nos outros essas cores me incomodam muito. As pessoas não têm culpa, EU ESTOU EM LUTO.
Eu amo joias, e às vezes quero usar algumas, mas as cores, os tamanhos, o que elas representam, ainda me afetam, como afetam meus relógios e meus antigos hábitos, e eu vou me entendendo, as vezes me cobrando muito, mas EU ESTOU EM LUTO.
Se eu fosse casada com Rafael eu usaria duas alianças no dedo (obviamente se não tivessem roubado a aliança no acidente, como roubaram sua corrente com o crucifixo), mas a minha aliança com Rafa não foi firmada com um aro redondo de metal que se poe no dedo, minha aliança era maternal, incondicional, interminável, um elo que nem as promessas de voto de casamento que se extingue com a morte podem ser comparadas, e como, diante deste tipo de relação os pais podem simbolizar seu luto sem agredir os demais seres sociais e preocupados com a energia ou com o estresse que nossos símbolos podem causar.
Mas como nao inventaram ainda o que eu devo usar para não te chocar, vou só postar o exercito de camisas que me fortalecem em tê-lo estampado do lado de fora do meu peito, como forma de avisar ao mundo olha, ele ainda está aqui comigo, bem presente, me acompanhando e vivendo minhas coisas ao meu lado e me permitindo viver um pouco as coisas dele, atraves das pessoas que o reconhecem em minha camisa e me apóiam e me beijam por ter conhecido ou convivido com ele.
Na missa de sétimo de Rafa, Tico fez um trabalho lindo de divulgação e de elaboração da camisa que nós amigos e familiares mais próximos usamos. Depois daquela camisa, uma amiga minha, a doidinha como Rafa chamava me visitava semanalmente e dizia, reaja, vamos sair, use as camisas com fotos de seu filho e vamos em frente que era assim que ele lhe queria.
Na mesma semana minha mãe, eu, e minha irma fizemos algumas camisas com fotos de Rafa...eu não parei. Descobri que esse era o meu processo de exteriorizar o meu luto. Tenho mais de 40 camisas com fotos de Rafa e as uso para todos os lugares. Se preciso ir para um lugar onde minha camisa com foto do meu filho ão é bem vinda, prefiro não ir.
Hoje fiquei muito sentida porque uma pessoa que eu gosto mesmo, disse literalmente que eu não tinha o direito de exteriorizar esse sentimento, porque eu acabava colocando as pessoas para baixo, fazendo com que elas ficassem tristes e podendo fazer mal ate para Rafael. Crenças a parte, longe de mim querer provocar qualquer tipo de tristeza em quem quer que seja, apenas estou afirmando para o mundo. ESTOU DE LUTO, e o meu luto tem sido exteriorizado desse jeito.
Se dói para você olhar minhas camisetas, ou minhas medalhas, ou minhas tatuagens, ou as fotos em minha casa, ou os painéis de meu quarto, não tente olhar para mim, porque estou expressando o que tem dentro de mim, porque também não conseguirá me enxergar, porque eu sou do tamanho da dor que tento, no meu luto, exteriorizar, porque até agora, ainda não descobri em que convenção social está escrito os símbolos que os pais devem usar para expressar seu luto por seus filhos.
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