As pessoas sempre me julgaram como forte. E eu tolamente em dado momento acreditei, Achava que podia quase tudo, que não tinha problema sem solução, embora nem sempre estivesse disposta a resolver de pronto, as vezes eu cozinhava a situação para ter certeza do que eu queria fazer.
O tempo foi passando e cada vez mais isso era fortalecido em mim. Não que eu não tivesse problemas ou que não os quisesse desaparecidos de minha vida, como todos os mortais, mas eu simplesmente achava que tinha habilidades para resolver coisas que muitas pessoas julgavam não ter.
Eu fui uma criança muito medrosa, tinha medo de animais, raramente tocava num gato ou cachorro desconhecido, não pegava uma galinha, um pombo, ou as dezenas de periquitos dos viveiros de lá de casa. Tinha medo de escuro, de imagens de santos, de ficar sozinha...eu era uma imprestável. Não sei quando isso passou, mas acho que foi com a maternidade. Eu não podia ter medo destas coisas para proteger Rafael de seus próprios medos, e daí em diante o mundo foi pequeno. Aprendi a me virar com uma pessoa que não dava moleza nem brecha...fui, como se diz aqui, endurecendo o pescoço, e agora achava que podia de fato ser considerada uma mulher forte.
Enfrentei minha família algumas vezes, enfrentei alguns chefes no trabalho, somei em grande parte com meus alunos uma parceria para a vida, defendi os ideais que acredito, busquei a honestidade e a ética, e a valorizar as conquistas, mas sempre depois de valorizar as pessoas.
Preocupei-me e vivi problemas dos outros como se fossem os mus, buscando juntamente as soluções. Tentei fazer o ceto, mesmo errando muitas vezes. Algumas vezes era hora de calar e eu falava, em outras eu tinha que falar e eu silenciava, ate entender em que brigas valiam a pena falar ou calar para garantir o direito de quem o tinha.
Era chamada para os casos mais bizarros do meu trabalho, e gostava de resolve-los, sem noticia-los ou puxar a sardinha para minha brasa. Eu queria o melhor para a empresa, priorizando a pessoa. Se sofri? Muitas vezes, e nestas horas sofremos sozinhos porque aparecem os urubus julgando e maltratando muitas vezes, mas isso não me impedia a continuar agindo assim.
Tinha fama de ser dura com os alunos, tinha fama de ser linha de ferro e de expor o que penso, inclusive em família, obviamente, usando com o respeito e educação com a qual fui criada.
Naquele dia 23, quando recebi o telefone, recebi um plus de força que não sei de onde veio, parece atordoador não? Seu ex-marido te ligar na madrugada e sugerir um acidente quase fatal (porque na primeira ligação ele tinha certeza, mas não quis acreditar ou quis me poupar) COM SEU ÚNICO FILHO.
Como ficam suas pernas? As minhas como estacas endurecidas, troquei de roupa rapidamente, passei na sala pequei um foto de Rafa, pois não sabia o que me esperava e fui ao IML. Esperei por longas mais de trés horas ate o corpo chegar. O vi, o reconheci, o vesti, o medi, cuidei como se fosse a ultima vez que me fosse permitido fazer isso. Quis fazer por ele, a ultima vez, cuidar do meu bebe. Fomos para a segunda etapa, eu já havia escolhido a roupa, que eu tinha dado a ele e ele amava a camisa, em formalidades com ternos e calças sociais, foi vestido como esperávamos encontra-lo num lugar bacana.
Doei córneas, reconheci na Delegacia, não sai do seu lado durante todo o seu sepultamento e ainda escrevi em sua lapide. Fiz seus textos da missa e do santinho que seu pai pediu. Vou a estancia ver o processo, durmo sozinha todos os dias, enfrento nosso medos a cada instante..mas não tenho mais força. A dor mostra quem de fato somos...
Sou um pedação arrancado de mim...
Nenhum comentário:
Postar um comentário