Total de visualizações de página

sábado, 26 de novembro de 2011

UM SUPERMERCADO COM PRATELEIRAS VAZIAS

Imagine um supermercado instalado num lugar habitável, onde muitas famílias tenham construído suas residencias próximo ao lugar de instalação do prédio do supermercado, imagine que ele tenha marketing de peso e preço competitivo com outras redes, imagine que você esteja acostumado a ir sempre lá e achar as suas marcas prediletas, as necessidades de sua casa e de sua família. Você ja esta tao familiarizada ao supermercado que você sabe de cor onde ficam os produtos, como estão dispostos na seção e em que lugar das prateleiras eles se encontram.

Acho que isso acaba sendo natural na vida das famílias, não? Adotar determinado supermercado, marcas, produtos, gostos, seja por predileção, conveniência, preço, qualidade. O motivo, cada um elege para si, mas o natural é estarmos acostumados a nossas escolhas e criarmos fidelidade as mesmas.

Minha vida estava entrando neste estagio, eu tinha uma leve sensação de dever cumprido. Rafa ainda não tinha entrado na faculdade, ainda não tinha emprego, ainda não tinha construído família, ainda não andava com as próprias pernas, mas eu gostava de tudo que via nele, gostava no que ele estava se transformando, era como se a fase mais difícil e espantosa de enfrentar com os filhos, a adolescência, já tivesse passado. Sabe os medos de pais comuns, de que os filhos se envolvam com drogas, de que tenham amigos que você não aprove, de que não queiram nada com a hora do Brasil, que sejam vagabundos em tempo integral, que tenho problemas ou conflitos com suas definições de sexualidade, sabe, isso tudo tinha ficado para trás, agora iriamos enfrentar os problemas da vida adulta, e na minha cabeça, se o adolescente não deu trabalho na fase juvenil, seria mais fácil encaminha-lo para jornada adulta. 

Meu supermercado estava em ordem, um ou outro produto que faltava na prateleira era facilmente substituído, tal como o desestimulo dele para o esquema casa-colégio-casa, ele já estava ansioso para a faculdade, para estagio, para emprego e consequentemente salario.  Ou quando o produto faltava mesmo na prateleira e nenhum substituto a altura podia ser usado, como a paixão e amor que ele enfrentava e não pode ter, não porque ele não quisesse, não quiseram.  Mas apesar destes fatores, a sensação de que a vida seguia e a normalidade de condução do supermercado era tranquila para mim.

Hoje, percebo que as prateleiras estão no mesmo lugar, mas sem produtos e quanto ao supermercado eu não reconheço  onde ele está agora, não é um lugar habitado, nem famílias moram perto dele, virou um prédio vazio, abandonado, sem função, porque prateleiras vazias não abastecem ninguém nem permite que o negocio seja definido, porque deixou de ter função.  É assim que me sinto, supermercado sem produtos, mãe sem filho.

Minha maternidade virou um aberração, assim como o resto da minha vida. Não tenho papeis, o que me restaram, não tem função, não quero ser filha, irma, neta, amiga, profissional, não sei o que quero, só não quero ser esse supermercado vazio.  

Voltando da missa de Rafael Bispo, com toda a família dele presente e igreja lotada, diferente da minha família que por crença e outros motivos, nem sabe que tem missa de Rafa todo dia, me vi no meu supermercado vazio.  Chorei com Neide, mãe de Rafa Bispo, nossos sentimentos são muito parecidos, com a diferença que ela tem uma família, eu, enterrei a minha naquele dia 23. De lá não sobrou nada de meu núcleo (marido, esposa, filhos), só as prateleiras vazias.


Nenhum comentário:

Postar um comentário