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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

UMA CANOA COM DOIS LUGARES, DOIS REMOS E UM TRIPULANTE EM ALTO MAR

Acho que quando nos tornamos responsáveis por outras pessoas, pensamos em protege-los, em cuidá-los em decidir até que eles possam tomar suas próprias decisões, em acompanha-los, em encaminha-los na vida.  E embora tenhamos todos esses valores bem alimentados, no percurso deste exercício de responsabilidades, muitos fatores fogem ao nosso controle. 

A maternidade é um exemplo que retrata bem esse exercício. Quando descobrimos que temos um ser dentro de nós, quantas privações e novos comportamentos começamos a executar para protege-los, e quando eles nascem, criamos tantos medos e surge em nós um sentimento de defesa e proteção, dos quais não eramos capazes de imaginar que cultivamos tal força dentro de nós. Aquele serzinho indefeso abre em nós uma capacidade de ama-lo e de dedicarmos a eles de uma forma unica, integra e intensa.

Eles começam a desbravar o mundo e concomitantemente a nós mesmas, pois ao tempo em que descobrem o mundo nós nos descobrimos com eles, e percebemos o quanto podemos ser histéricas  paranoicas, intuitivas por demais, e tantas outras descobertas capazes de nos mostrar os nossos maiores medos e nossas maiores forças. Temos medo que parem de respiram, que engasguem com a própria saliva, que fiquem sozinhos, que os façam sofrer, que sejam rejeitados, que os machuquem por dentro e por fora.

E eles vão crescendo e nós que tínhamos respostas para todas ou quase todas as suas perguntas, passamos a ter respostas para nossas perguntas, e nós que sempre achávamos ter a melhor indicação, o melhor conselho e as rédias de tudo, percebemos que eles podem indicar um caminho melhor, nos mostra outros conselhos e nos demonstrar que podem cuidar das próprias rédias.

A minha relação com Rafael foi construída assim, se quando ele ainda era pequeno, mesmo estando a postos na minha canoa, eu tinha o controle da direção, da velocidade da canoa, da intensidade das remadas, e sabia que ele esperava em mim as respostas para as inseguranças que o mar trazia. Com seu crescimento pude ver nele muitas vezes a condição de estar a frente do barco, desenvolveu muitas habilidades que o faziam reconhecer o tipo de vento, a valentia do mar ou sua calmaria, fora seu senso otimista e sua criatividade, que nos tirou de muitos apuros em alto mar.

Meu filho em muitos momentos conduziu nosso barco. Eu olho nossa casa, nosso espaço e o vejo em todo os lugares, furou as paredes de minha sala para por os quadros, instalou a cortina, meu painel de adesivo foi escolhido e fixado por ele, ele sempre deu um jeito em muitas coisas de minha vida, era meu faz tudo, meu super companheiro, meu conselheiro, meu amigo e meu inseparável remador e desbravador de mar.  Nossa embarcação sempre teve dois lugares e nos aventuramos a navegar em vários mares, nebulosos, revoltos, desafiadores, mas Rafa, meu eterno Rafa nunca abandonou o barco, mesmo quando ficamos a deriva, ele sempre demonstrava uma confiança. Sempre dizia, no final mãe, tudo acaba bem, se não tá bem, é porque não chegou no final.

Hoje meu mar está revolto, não próprio para navegação. Minha embarcação, minha canoa, permanece, em alto mar, com dois lugares, o meu e o dele, seu remo ali a postos do lado do meu, mas só tem um tripulante, Deus,  porque desde que Rafa se foi, não me vejo mais na canoa sem ele.

Estou à deriva e na hora do panico, do nó na garganta e da onda brava do mar, ouço suavemente a sua voz me soprando a face...no fim tudo acaba bem, mãe...se não tá bem, é porque não chegou no fim.





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