SEM PRESENTES

DIA DOS PAIS...para mim hoje poderíamos entrar com um pedido de lei alterando o nome da data para dia dos ausentes, nao tenho pai nem o pai do meu filho tem meu filho,... ou outra proposta legal que me autorizasse a estar fora do mundo.  Tentei estar assim neste dia dos pais, num  mundo onde as pessoas não soubessem o que são pais tampouco filhos.

Me exilei num quarto de hotel, eu, minhas lembranças o acesso a internet e um computador. Eu tenho padrasto, avô, irmãos, amigos que estavam passando o primeiro dia dos pais sem seus pais, e outros que era o primeiro dia que passava com seus filhos. Mas minha dor era tão grande e tão minha, que me refugiei nela.  Minha dor tinha gosto amargo de fel que trava a boca, descia por entre os músculos e transbordava as veias, eu sentia o pulsar dela e a carne tremula que não se sustentava na solidão.

Daquele jeito não podia estar em família, não podia faze-los padecer comigo, não daquele jeito.  Junto a dor da perda, um ranso de abandono bate a porta, mas não um ranso de choro ou perda, um ranso de nojo de mim, de raiva de mim, de ter permitido as coisas chegarem a este ponto.  Agora é hora de sentir só minha dor por você, Rafael, e mais nada, nem ninguém tem poder ou direito ou escopo para interferir nisso.

Eu fico agora pensando na figura de pai, e lembro do meu pai. Também lembro do seu pai, em nada se parecem com figuras masculinas que para não encararem a paternidade indesejada matam seus filhos, ou por não deixarem nascer, ou se nascidos, por não os deixarem alçar voos... também pudera, como ensinar se não aprenderam...é verdade, ninguém dá aquilo que não tem. E para se locupletar da falta, roubam, historias, cenas, sorrisos forçados e pousam de bons moços, bons pais...coitados, a vida também vai ensina-los, espero, de coração, que não precise ser de forma trágica  pois enquanto mexem na menina dos olhos de Deus,  a Deus eles são entregues.

E, ao pai do meu filho....escolha feliz, pois o amou e se dedicou  a ele por todos os dias da vida que teve, e a contra prestação veio a tempo....Rafael deixou em um histórico do msn, "tenho muito orgulho do meu pai".   

Hoje, no dia dos pais, eu não comprei presentes para ninguém, nenhum pai da minha família, não consegui presenteá-los, mas gosto de fantasiar a cena de ver meu filho correndo ao encontro do meu pai, no primeiro dia dos pais deles juntos, e eu daqui só queria poder dizer: - painho, cuide do meu maior presente, o melhor neto que eu podia te dar, especial, carinhoso, compreensivo, prestativo, alegre, só não podem discutir futebol, pois ele é seu rival, é flamenguista e confiança...e diria ao meu filho...Rafa, cuide e curta seu avô pois ele será o melhor avô do mundo, nao só porque te incentivará e torcerá por voce fazendo as coisas, mas porque participa contigo é parceiro para tudo.

Sei que nem painho nem meu Xeberel podem ter contato com tudo isso, mas de alguma forma Senhor, eu queria muito que hoje, aí na eternidade, tivesse uma festa muito especial com docinhos de sabor de saudade, jujubas de esperança, torta recheada com carinho e cocegas, salgadinhos de cheiros e suspiros de beijos estalados no olhos fechados para meu pai e surpresa de leite ninho sabor lambida na bochecha para Rafael. Ah!  e que o tempo daí nao passe tao rápido a ponto de eu chegar a tempo de participar dessa festa, ao lado de vocês e de tantos outros amados que eu gostaria de ter por perto.

Com lágrimas nos olhos, feliz dia dos pais...meu pai e meu filho!