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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM PORQUE SERÃO CONSOLADOS.

Sempre fomos muito chorões. Minha família não leva a sério a ideia de que homem não chora.  Basta a emoção tomar conta da gente e expressamos nossas emoções. Rimos, gargalhamos, choramos, as vezes mesmo em meio aos prantos, rimos, e tudo é muito intenso, e em alguns momentos devastador.
Mas aqui não quero falar deste choro, do choro provocado por emoções diversas, do choro do apaixonado, do choro de felicidade, mas do choro que nos últimos 71 dias lava a minha face e congela meu coração.  Falo do choro da angustia, do chora da perda, do choro da falta, do choro da morte.  Falo do choro que desce sem piedade, em qualquer hora e lugar, que esquenta a face pois morre quente por entre os lábios ou escorre na direção do meu coração, e que apesar da temperatura quente com a qual é sentido, tem o poder de esfriar o coração, porque aparentemente, nada mais nos aflige, nada nos incomoda, parece que o mundo acabou, ou queríamos mesmo que ele acabasse.
A palavra de Deus fala que os chorões serão abençoados.  Fico me questionando, como poderia ser abençoada tendo perdido minha maior benção? Que benção poderia substituir a benção que eu tinha? Confesso que ouço este versículo, em meio a todas as bem-aventuranças e me pergunto, onde está a benção em chorar, em chorar a perda de seu filho unigênito? Sinceramente, ainda não consigo entender, e confesso que ainda não aceito.Nunca pensei, porque comigo?  Nunca desejei que tantas outras pessoas que julgamos, erradamente, não merecerem a vida também passar pela perda e pelo vale de choro. Mas não é logico, não é racional, não para mim, não para o meu coração, pelo menos ainda não.
Os filhos são herança de Deus, e a minha herança foi maior, muito maior do que o que eu merecia, meu filho era lindo, maravilhoso e perfeito, pois era fruto do trabalhar de Deus. Como pode esta herança gerar a perda e a perda me gerar uma benção? Não sei. Só sei que espero este consolo. Eu não digo que chorar me faz mal, choro em qualquer lugar que tenha vontade e falo quando não estou a fim de conversar ou tocar no assunto, mas nunca consegui dizer a ninguém não chore, nem consigo segurar o meu choro.
Lembro de varias vezes em que meu choro de perda invadiu a minha vida, mas não lembro da falta de consolo tão intensa. Lembro de varias vezes ter visto a dor do outro sem ter a dimensão do que ela significava, mas não lembro de nenhuma vez em que tenha tentado dimensioná-la, com palavras tipo: eu imagino a sua dor, ou eu nem imagino a sua perda, ou eu posso sentir na pela, ou a minha dor é igual a sua, etc.
Hoje eu ouvi por três vezes,e de três pessoas diferentes, esse verso bíblico, confesso que ele também tem sido muito presente desde maio, mas ainda não vejo -mas quero ver- como isso pode ser abençoador.  Eu sei que Jesus no tempo em que passou aqui, também chorou. Chorou por causa de um homem, a morte de Lázaro, chorou por uma cidade, chorou pelo mundo.  Sei que o choro faz parte da vida, entendo que a morte também, embora eu ainda não veja com naturalidade na vida do meu filho, ou melhor, na dele não, porque sei que já esta na vida eterna, num lugar melhor do que o que nos encontramos hoje, mas na minha vida ainda não sinto a morte como uma coisa comum.
Tem outra palavra que também nos remete ao choro e a continuar andando, no salmo 126 podemos ver esta relação, falam dos que semeiam com lágrimas que segarão com alegria, mas também não consigo andar no choro, sei que não tenho semeado.  No meu recado para Rafael e na minha conversa com Deus ainda na primeira semana sem meu filho, eu disse que buscaria e serviria com mais afinco...mas não tenho feito ou sido aquilo que eu confessei fazer...simplesmente choro, tenho chorado e chorado, e chorando, não tenho saído do lugar, e não tenho buscado razoes e motivos para ter outro comportamento.
Sinto em muitos momentos uma alívio incompreensível quando tenho com quem chorar, em outras tantas ocasiões preciso estar reclusa dentro de mim para bradar e exorcizar todo este sofrimento, em vão, pois o cansaço acaba abatendo o meu corpo e eu desfaleço diante da dor, e acordo tempo depois e percebo que ela, minha fiel companheira que se chama dor, continua aqui, que não deu trégua, e que ainda não sou bem-aventurada.
Escrevo agora e ouvi um trecho de musica que era o toque de identificação da chamada do Tiozao no celular de Rafa, as lagrimas, resultantes de lembranças que absorvem minha alma, mais uma vez me banharam. Não deu para disfarçar, mas queria ouvir outra musica, uma que fala que choro por tudo que não realizou, choro porque sei que te amo e você me amou. Pois é o que vale realmente é que Deus não frustra as promessas que faz, e um dia o consolo chega, estarei vertendo lagrimas a espera deste consolo, e quem sabe quando ele chegar, meu choro não tenha outro significado.
CHORO
Tem hora que bate
Uma tristeza tão grande
Que eu não sei o que fazer
E nem pra onde ir
É tanta coisa
Que eu queria dizer
Mas não tem ninguém pra ouvir
Então choro sem ninguém ver
Eu choro
Faço o possível pra segurar a cabeça
Mas a emoção não quer
Que eu me desfaça
Ou então que eu esqueça
Do amor daquela mulher
E eu choro
Sem ela saber
Eu choro
Choro por tudo
Que a gente não teve
Por tudo que a gente não realizou
Choro porque eu sei que ainda te amo
E você me amou e ama
Choro por tudo
Se assim for preciso
Choro porque eu sei que ainda te quero
Choro por tudo
E por tudo lhe digo
Te espero, te quero
Te espero, te quero
Te amo

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