Total de visualizações de página

domingo, 21 de agosto de 2011

ANIVERSARIO DE MORTE

Estou te escrevendo hoje, porque não sei se conseguirei fazer isso daqui a dois dias. É inusitado falar ou fazer isso, porque acho que faz parte da vida do ser humano, planejar, apegar-se a datas e detalhes, porque marcamos e nos programamos para quase tudo na vida a partir das datas e do que elas significam para nós.

Por exemplo, eu não suporto o segundo semestre do ano. Por que? Sei lá, acho que porque casei em agosto, agosto tem dia dos pais, me separei também no segundo semestre, meu pai faleceu em setembro, novembro tem finados e era uma data que me marcava tanto quanto a data da morte e quando a gente estava muito mexido, ainda vinha o Natal, que durante muito tempo foi muito triste para minha mãe, eu e meus irmãos. Acho que passamos uns seis anos, desde que meu pai morreu, dormindo muito cedo na noite de Natal e Ano Novo, sem ceias, com presentes, mas sem clima, só nós quatro juntos no quarto de meus pais e depois cada um no seu quando mudamos para o apartamento. Então acho que por isso não gosto do segundo semestre.

Também nunca gostei de ano impar, desde que meu pai faleceu duas coisas eu aboli como verdades absolutas: ter grandes expectativas por anos impares e entrar reveillon de branco, não ligo a mínima para isso. Mas gosto de números ímpares, amo o 9, o 3 e o 4, que foram números de minhas camisas no voleibol, ou meu numero nas chamadas nas salas. Engraçado eu falar destas coisas, é porque fico pensando no número 23, no dia 23, do mês das mães, mesmo dia do aniversario do Tio de Rafa, 04 dias antes do aniversario de meu avô e cinco dias depois do aniversário do meu padrasto. Será que algum dia vou comemorar alguma dessas datas sem lembrar do dia 23? Acho que não, mas não me preocupo com isso, só estou dizendo que não dá para agir como se esses dias não me fizessem reviver todo o processo de perda.  Pelo menos tem sido assim nestes 26 anos sem painho.

Sofro as consequências do dia 23 antecipadamente.  As vezes paro na sala de minha casa - onde transformei uma parede num painel com fotos de todos os momentos de família, viagens, pessoas especiais, etc. e depois que Rafa partiu deixei só as fotos que ele estava e tirei as demais, e ainda não tive condições de rearrumá-lo, de preenche-lo só com as fotos dele, porque ainda não consigo mexer nisso - e olho para todas aquelas fotos e me pergunto se isso vai ter fim, queria pensar que não é verdade, queria dizer para mim que é um pesadelo e que logo passará. 

E quando penso nisso entro para meu quarto, onde não tinha fotos de Rafa.  Olho aquele painel na sala todos os dias. As vezes percorro os porta retratos com os dedos, as vezes beijo algumas fotos, quando percebo que posso estar ficando louca tiro, troco as fotos de lugar para desopilar um pouco, mas todos os dias dou boa noite e abençou a dezenas de papeis emoldurados na minha parede.

Fiz novas fotos grandes para por no meu quarto e substituir um espaço que nunca deveria ter deixado de ser seu. Espero que amanha estejam emolduradas e no lugar, mas quando penso que por mais que eu transforme minha casa, meu corpo, minhas roupas num estandarte de suas imagens, nada disso me fará passar para os dias 24 de cada mês, sem cruzar o dia 23. E isso é um tormento. No próximo dia 23...03 meses sem você.

Lembro de quando engravidei e fomos para a primeira consulta obstétrica, o médico falando para termos calma com os preparativos porque podia era comum a primeira gravidez não vingar, e  ate o terceiro mês inspirava cuidados, e aconselhou  esperarmos esse período passar para iniciar os preparativos. Bem que podia ser assim agora, a gente sofrer três meses e poder ter a esperança de que a morte também não vingaria.

Sinceramente filho, eu queria poder ir para o futuro e ver como vai ser minha vida daqui para frente, porque de repente, para que passar por tantos dias 23  e saber que a morte comemora seu triunfo sobre nós, e que tudo é só questão de passar tempo longe de você.

Sei que eu podia dizer, olha gente que coisa especial, vai fazer três meses que meu filho foi para a Gloria de Deus vamos comemorar...eu seria insana, porque embora acredite fielmente na Palavra de Deus e sei que lá é a Glória, meu corpo, meu coração e meu espírito estão entristecidos, abatidos e desmotivados, e embora eu não sinta motivo para comemorar, terça feira é aniversário.  Aniversário de morte da pessoa que eu mais amei na vida.



Quando te senti mexendo em mim, 
no dia 10 de outubro, percebi que renasci.
Você era tao pequeno, tao minusculo
Mas produzia em mim uma força que me
fazia sentir uma gigante desbravando o mundo
para entregá-lo sem obstáculos. 
À medida que você crescia em mim,
também revigorava a certeza de que seriamos um.
De que nunca mais eu me veria sem te ver,
e que em você encontraria reflexos de mim.
Ensinou-me uma linguagem unica em tudo que fiz
e sua vida me diz que a cada instante que ser amado
é importante sim, mas amar é uma necessidade.
Você amou a vida, amou as pessoas, amou as conquistas.
Você era a tradução do amor para mim. 
Entendeu-me e aceitou-me sem reservas,
apoiou e muitas vezes segurou a lanterna na minha trilha escura.
Você é, foi e será a minha celebração de vida.
Minha melodia preferida, minha cor inédita, minha melhor invenção,
o melhor colo para meu choro, o melhor riso para minhas piadas
a minha realização e meu verdadeiro encontro.
 Vê-lo partir, sem olhar para trás, fez de mim sequidão.
03 meses sem você, despejo de mim mesmo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário