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terça-feira, 26 de julho de 2011

QUANDO A AMIZADE NOS LEVA A MORTE

Hoje fez dois meses sem Rafa Bispo, uma dor que também pulsa dentro de mim.  Primeiro pelo comportamento que Rafa tinha, um menino calmo, pacato, educadíssimo, estudou no melhor colégio que a vida podia te-lo dado, uma família amorosa e trabalhadora.  Hoje, que conheço pela dor os pais de Rafa, entendo de onde vinha a calma e amorosidade dele.  Segundo, pela própria fatalidade, um amigo que vai ajudar ao outro e na volta para casa morre, faz essa dor ficar mais intensa e machuca mais profundamente.

Naquele domingo, 22 de maio de 2011, eles passaram o dia juntos, almoçaram juntos, comeram caranguejo, foram as dunas, visitaram outro amigo que havia sofrido acidente em janeiro e jantaram juntos.  Tanto na casa de um como na do outro.  Um pediu ao outro para que dormissem na mesma casa, querendo mais companhia.  O cansaço apertou e não titubearam, juntos foram para Estancia, município de Sergipe, mais próximo do povoado onde estavam,  buscar alivio, primeiro na farmácia, depois no hospital e juntos sucumbiram a alguma coisa na estrada que o impediram de voltar para casa, ou de chegarem no céu juntos. 

As vezes penso que inventamos varias formas de minimizar a dor no coração, e uma delas é estruturando novos fatos que possam justificar o ocorrido, ou torná-lo mais suportável. Muitas horas brinco disso, em outras, ufa, não suporto ouvir o que eu chamo de desculpas baratas para que a uma mãe engula seu choro, ou para que um crente teorize sobre aquela passagem bíblica que ele leu ontem a noite e que foi para aquela mãe, embora eu ache que Deus falara comigo diretamente, sem precisar falar com todos os religiosos antes.

Encontramo-nos, eu e a mãe de Rafa, e as vezes nos perguntamos como vamos, outras vezes, nos respondemos reciprocamente, vou como você está indo, e choramos ou rimos aquele sorriso amarelo de canto de boca.  Tem dias que estamos mais revoltadas, mais desconsoladas, em outros, ela continua afirmando que meu Rafa era anjo do Rafa dela, e que veio pegá-lo, acho sensível, principalmente pelo carinho com o qual me trata, mas sei que não foi isso que aconteceu.  Mas tem dias que tentamos pensar como nossos filhos pensaram, e porque decidiram ir sem pedir ajuda. Queríamos mesmo poder responder, mas até agora não entendemos, como e por que eles resolveram ir, sem acionar ninguém que pudesse trazer o conforto mais rápido, aí nos calamos, enxugamos nossas lagrimas e nos dizemos, a morte só quer uma desculpa. Mas quer saber... não aceitamos, mesmo.

Depois eu sozinha começo a pensar de forma fantasiosa sobre isso, e um dia me pus a elocubrar...Bom, dizem que quando uma pessoa gosta muito de uma coisa e morre fazendo essa coisa que a pessoa morreu feliz.  Considerando que a morte é a unica forma de passar para a eternidade, ou até imagino que a gente precise e que em algum momento até entenda que queira ou que é chegada a nossa hora...mas dizer que Rafa ficaria feliz por isso, bem acho que não, na flor da idade, uma pessoa que falava desde muito pequeno em mulher e filhos, família, amigos...aos 17 anos, ter ido feliz...acho que não.

Então começo a bandear para outras divagações, tipo, mesmo que não fosse a hora de ir, e m pergunto, onde Rafa gostaria de ter ido...eu vejo o Saco como o lugar que ele amava, ele gostava de estar lá, gostava de estar com a família, com os amigos, nas visitas que fazia, nas dunas, na praia quando ainda dava para surfar e se tinha muito acesso.  Então, digo sempre a outra mãe o quanto nossos filhos gostavam de lá, apesar de não pertencer aquela redondeza por nascença, a adotaram por amor. E continuo elocubrando....

E que tipo de ocorrência, uma rápida, ou uma que demorasse, para que nos acostumássemos com a ideia...bem Rafa era tudo para ontem, paciência mesmo não era o forte dele, não imagino Rafa persistindo para a morte, porque ele insistia com a vida. E aí vem a pior parte...como, ele gostaria de estar sozinho? Acho que não, Rafael foi, desde pequeno, muitíssimo amigueiro. Soube fazer amigos e a maior prova disso ainda é o orkut ou as mensagens no celular.  Talvez por isso, infelizmente outra vida ceifada, penso eu.  Mas não era qualquer um, era um amigo. Daqueles que nem a morte separa.

E vou adiante, numa tentativa insana (talvez aqui merecesse caixa alta) justificar porque não no mesmo dia, ou na mesma hora.  Primeiro, porque Rafa amenizou a pancada do outro Rafa, com seu próprio corpo, já que o meu Rafa estava na garupa da moto; segundo porque acho que Rafa imaginava que cada um precisava daquele tempo de despedida de suas famílias e juntas era uma dor muito grande e muita comoção para todo mundo, e assim as famílias podiam ser solidarias, alem de Rafa Bispo poder ser homenageado com parte da historia já revelada, pois quando meu Rafa partiu eu nem sabia que ele tinha ido buscar ajuda, ou estado no hospital (e eu não descanso enquanto não souber o que aconteceu) ; terceiro porque Rafa queria arrumar primeiro para quando o amigo chegar e quarto porque eu acho que ele queria um pouquinho de exclusividade para ambos.

Loucura tudo isso. Mas acho que se nossos filhos tivessem vindo de uma farra, onde beberam muito, não dormiram, fizeram arruaça, bagunça,  estivessem em alta velocidade, fossem indesejados ou pessoas ruins...acho que eu não estaria aqui escrevendo nada disso, estaria chorando a dor de perder um filho apenas, não de duas vidas tão especiais.

Mas aqui eu não quero falar de morte física, mas de amizades que nos levam a nossa morte, a emocional, porque nos roubam nossa confiança, porque nos sacrificam a paz, porque nos trazem solidão, tristeza, revolta...esse tipo de amizade os Rafaéis não tinham. 

Até e inclusive nisso eles eram parecidos. Eram daqueles que não mediram esforços para socorrer um amigo.  Embora eu quisesse que tivessem medido. Embora eu quisesse que tivessem se negado a ir, tivesse dito a um adulto ou mais experiente o que pensavam em fazer...mas isso também fugia a nossa vontade, e a deles também.

Eu já tive amigos que fariam qualquer coisa por mim..acho que eu tinha a idade de Rafael quando achava isso.  Continuo tendo muitos amigos , os daquela idade ainda me acompanham, talvez hoje, não façamos qualquer coisa um pelo outro, mas naquela idade, acho que também pilotariam uma moto para me livrarem de um cansaço agudo.  Não os julgo por isso, afinal, eles não foram em busca da morte, mas da vida.

Encontraram-se com a vida eterna.


Vou me recolher filho, orando por amizade como as que você fez ao longo de sua vida, e ao fundo, esse louvor, me ninando, cada dia mais próximo de você....


AMIGO QUERIDO
Amigo, como eu queria poder enxugar 
Todas as lágrimas do teu olhar 
Te ver desfrutar do melhor de Deus pra você. 

Amigo, como eu queria poder entender 
Dói tanto em mim não saber o porquê 
Mas saiba que eu não desisto 
De crer por você! 

Amigo, querido 
Você é mais que um irmão! 
Siga em frente fluindo 
Em louvor e adoracão 
Você não está mais sozinho 
Em meio a multidão 
Estamos juntos neste caminho 
Segure a minha mão. 

Amigo, eu te digo, 
Eu vou crer até o fim 
Estou orando e clamando, 
Profetizando sobre ti 
Veja o que é invisível 
Com os olhos da fé 
Pode parecer impossível, 
Mas para Deus nada é. 

Amigo, querido! 
Tenho uma aliança com você! 
Amigo, querido! 
Tenho uma aliança com você! 




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