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quarta-feira, 27 de julho de 2011

EU NÃO CONSIGO FAZER AS COISAS QUE FAZIA ANTES CONTIGO.

Tem dias que me sinto uma mulher forte. Passo quase sempre em frente ao Cemitério onde enterrei meu filho.  Passo no local do acidente, todas as vezes que vou acompanhar o inquérito em Estancia, mantive o quarto dele em ordem e as coisas dele no lugar, lavei todas as roupas que estavam suja, eu mesma as lavei, ao longo desses meses, não quis colocar na maquina, e cada dia que me sentia forte enfrentava isso. Falto passar algumas, tem muito tempo, pelo menos uns 18 meses que não passava  roupas com frequência, a não ser desamassar uma outra camisa de botão, de alfaiataria para que ele fosse a alguma recepção. Tenho, por opção estado sozinha a maior parte do tempo em casa. Tem dias que enfrento tudo isso como se fosse normal...mas não é, sabemos disso. Só tenho 38 anos, perdi meu único filho, e encontro não sei onde força para levantar da cama, porque vontade, mesmo, não tenho nenhuma.

Outros dias...tudo isso que faço não consigo fazer. Não lavo, fecho os olhos quando passo pelo banheiro que ele usava, não abro a porta do quarto dele, acendo todas as luzes de casa para permanecer nela, e na cama era o ultimo lugar que eu queria ficar, pois ficava muito com ele ali, assintindo filmes, conversando, e no período de minha separação, dormi com Rafael na mesma cama por 03 anos, ate termos novamente um espaço só nosso.

Mas independente de força ou não. De me sentir forte ou fraca, ao contrario de Marco, não consigo ir para os lugares que ia com ele. Não fui ao cinema, não consigo andar pelo Jardins, era o shopping que eu mais ia com ele, não consigo fazer pipoca no microondas, não consigo ficar na casa do Saco, não me vejo naquela piscina, não fui na praia nem andar, nem chorar, coisa que sempre fazia, era meu lugar predileto de reflexão. Não consigo ir na Ideal, comer o pastel da Jane da feira da Aratipe, ir na Baviera do centro,  usar os óculos que compramos juntos, ou o relógio que ele me deu, olhar o meu local de trabalho com os mesmos olhos. 

Descobri que estou sem aguá mineral em casa há quase 30 dias, porque não consigo falar com Michel porque quando ele pergunta o endereço eu engasgo para falar que era na casa de Rafael, e da ultima vez que pedi aguá choramos muito.  E não consigo pedir a outro fornecedor porque Rafa sempre pedia para darmos preferencia, para ajudar, teve um tempo que recusei, mas acabei voltando, pelos argumentos de Rafa.  Nunca pedi aguá sem dizer que era para o apartamento de Rafael.

Não consigo ir para o Casquinha, lá temos garçom predileto, frequentava com Rafa há 10 anos, dos quais mais de seis com o mesmo garçom. Também tem um queijo na orla, não consigo enfrentar essas pessoas, não sei o que fazer, o que dizer.  Também não consigo visitar Dea e os meninos, Bia seria nossa afilhada, simplesmente não consigo sequer olhar para o Del Rey, fomos -eu e Rafa- muito felizes ali. Muitos amigos, o prédio em peso em sua despedida, mas eu não consigo nem agradecer a força.

Não cozinho mais,  nem tive vontade de fazer nada, não como o que havia comprado para ele e que ainda está na dispensa ou no congelador, gosto de ver no congelador, mas não consigo fazer, não sento na mesa da cozinha para fazer nenhuma refeição, mesmo quando fico todo o dia em casa.   Não consigo arrumar suas coisas, filho...simplesmente não consigo, não quero, ainda não posso.

Não vai ser como daquelas vezes que eu arrumava e você ficava na cadeira no computador e dizia essa não dá mais, essa eu não gosto, essa eu não uso, essa veja se pode arrumar e juntos deliberávamos e você levava tudo para o bazar ou para alguém que você sabia que necessitava.

Eu vou fazer, e você não vai estar comigo dessa vez. Eu não consigo fazer as coisas que fazia antes contigo, nem as novas, impostas por sua ausência, nem quando me sinto forte, pois fico pensando o que você gostaria que fosse feito.  Desculpe minha fraqueza, meu filho, mas ainda não consigo, continuo sem a água, e sem as outras coisas que me foram impostas.





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