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quinta-feira, 7 de julho de 2011

ERA UMA VEZ

As historias começam assim.  E assim embalei muitas noites de Rafa pequeno.  Lembro que comprei um livro sobre virtudes para crianças, e liamos toda noite. Depois do seis sete anos, comprei uns Cds de historias infantis e sobre historias bíblicas, alguns começavam com um era uma vez. Mas as historias que eu mais amava contar, eram as historias que eu inventava onde nós e nosso mundo eram os personagens. Era legal porque Rafa sempre foi ruim de sono, não dormia fácil, nem muito, pelo menos ate chegar a adolescência, porque nesta fase, se deixássemos dormindo...talvez passasse de 12 horas ininterruptas de sono.

Nas nossas historias, ele sempre interagia. Eu nunca conseguia acabar a historia como eu pensava e era uma vez acaba virando uma conversa, muitas vezes divertida, outras discutíamos sobre  coisas da vida, de nossas vidas, de valores, de pessoas, de verdades não tao absolutas e de planos e sonhos.  Dormi com Rafa na mesma cama, por três anos seguintes, entre os seis e meio e os nove e meio.Antes de fazer dez anos e ele voltou a ter o quarto dele, mas dormir em minha cama sempre era motivo de barganha. Ele barganhava sempre.

Perdi uma prima muito próxima e querida, quando ele tinha dez anos. Rafael foi um grande companheiro neste momento. Precisei de companhia muitas vezes para dormir. Mas ele não vinha para minha cama, eu ia para a cama dele e ele conversava comigo ate tarde, ate eu não lembrar e voltar para cama, e ficou muitos fins de semana sem ir ver o pai, para não me deixar sozinha, até o luto amenizar. Eu tinha muitos medos, ele também mas nao confessava. Ficava em casa, tinhamos empregada dormindo no trabalho e eu chegava da faculdade, depois de dar as vezes 08 aulas no dia e em muitas ocasiões ele me esperava na minha cama com todas as luzes do apartamento acesa. Ele perguntava teve medo hoje? Eu respondia que não, e ele também, mas os dois sabiamos que estávamos sendo fortes um para o outro.


Nós sempre estivemos ligados por historias. Rafael era do tipo de pessoa que gostava de saber das historias nos mínimos detalhes.  E quando contávamos historias reais, ele ficava gamado Até há pouco era assim.  Bastávamos contar qualquer enredo mais longo de coisas que o interessavam ou que havia acontecido com alguém próximo a ele, ele sempre queria saber. E se a historia fosse hilária, bem, nestes casos, era bom nos preparar para repetir centenas, sem exagero, centenas de vezes.  Ele gostava de uma sobre um cachorro poodle que desafiava um cachorro maior, ataque o cachorro maior mastigou a poodle, que sobreviveu e que depois da alta hospitalar e do primeiro passeio que foi fazer, estava lá no portão do cachorrão...Rafa pedia para repetir varias vezes essa historia inclusive algumas vezes esses anos, porque a historia tinha direito a fazer as mimicas e era muito engraçado. 


Nas noites que ficávamos sozinhos em casa, amávamos fazer coisas juntos, das mais variadas, mas uma fazíamos muito bem, ficávamos em cima da cama, com um balde de pipoca ou um prato de brigadeiro que ele fazia, porque dizia que era melhor do que o meu, que ficava duro, e assistíamos a  um filme.  Amávamos fazer isso...as vezes depois rolava o pedido...mãe deixa eu dormir em sua cama.

A ultima historia que contei para Rafael foram As Cronicas de Narnia, pois ele tinha me convidado para assitir no cinema e como tinham filmes anteriores, ele baixou no computador para que eu pudesse ir para o cinema com a historia atualizada. So que quando comecei a assistir o filme em casa vi a analogia que o filme fazia a palavra e eu estava com o livro comprado, com todas as cronicas compiladas, assisti ao filme com Rafael, neste mesmo dia, assistimos dois filmes em 3D no shopping, e depois disso, amei tanto o filme que fui ler o livro e a medida que lia cada cronica, fui contando para Rafael, e fazendo a devida relação com a Palavra de Deus. Ficavamos extasiados com a forma poetica do autor colocar as verdades e as comparações do mundo de Narnia e do mundo espiritual iam sendo apontadas por nossas conversas.  Essas historias nao eram contadas antes de dormir, sempre com Rafa bem acordadinho. Era uma vez bem real, tomara que o lugar onde ele esteja agora se pareça um pouco com a floresta de Narnia antes da ameaça.
Nossos filhos vão crescendo e a gente vai se dando conta de que não mais contamos historias para eles daquelas que nós começamos e terminamos porque temos o controle do enredo. A vida é real e não se escreve a partir dos nossos contos e estórias infantis.

Rafael começou a escrever a minha historia, uma pagina muito linda, numa segunda feira de março de 1994.  Naquele dia, 14 de março de 1994, as cinco e quarenta da tarde, que eu olhei para ele a primeira vez, ele me dizia..é uma vez, mãe...é a nossa vez.  E numa mesma segunda feira chuvosa e tristonha de maio de 2011, que eu olhava para ele pela ultima vez...percebi que as ultimas palavras do meu livro estavam escritas...Rafael, meu amor que não tem fim, você é a pagina mais linda e importante do meu livro, de minha vida.








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