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domingo, 17 de julho de 2011

NÃO TEM RESTITUIÇÃO PARA ESTES ESTRAGOS

As vezes as pessoas me param na rua e as que tem mais intimidade me perguntam como perdi meu filho. O que aconteceu naquele dia e o levou para distante de nós. Eu ainda não posso responder por completo, ainda estamos em fase de investigação, mas não importa a conclusão a que cheguemos, nada o trara de volta ou restituirá os sonhos que se perderam na hora em que ele foi morar com Deus.

As vezes as pessoas associam a fatalidade a necessidade de reparação. Durante todo o tempo sempre afirmei que só queria saber o que de fato aconteceu e mesmo assim, saberia que tudo que fosse revelado seria tao amplamente limitado, porque só eles poderiam contar o que acontecei de fato. O que pensaram, se tiveram tempo de pensar, se conseguiram reagir, se sentiram dor, etc.  Mas conforme o tempo vai passando e as perguntas racionais que não dependem de nenhum construto espiritual não são respondidas, começamos a imaginar como restituir todo esse tempo de espera.

Apesar de formação jurídica, nunca me vi na situação de percorrer instancias criminais para descobrir o que aconteceu naquela madrugada. Mas o mais difícil deste acompanhamento é ter que viajar todo o tempo para lá.  A estrada nos últimos dias tem sido minha grande adversaria.  Ela me poe cada vez mais vulnerável porque durante os noventa minutos que percorro, ate a Delegacia de Estancia (município de Sergipe), é impossível não pensar que nada restituirá não só a vida de dois adolescentes de 17 anos, mais acima de tudo, os planos, sonhos e projetos que eles teriam pela frente.

Cada dia que volto de lá sem ter a certeza do que aconteceu, me dá uma tristeza na alma, porque já abri mão -não de forma espontânea - de tudo o que era necessário para viver. Hoje não tenho sonhos, projetos, planos, o sorriso dele, o toque, a voz gritando quando chegava em casa...mãe?! tô com fome! , os barulhos de som no quarto, a tv ligada e ele dormindo, o barulho de mensagem entrando no msn...nada disso faz parte mais da minha vida.

Quando penso que ter uma resposta para que minha razão convença o meu coração de que a página precisa ser virada, e que isso tem ficado cada vez mais traumático e difícil, porque a cada dia que passa tenho pensado em alguma forma de restituição pelo tempo gasto indo para lá e sofrendo e não chegando em lugar algum, parece que alma fica mais amarga e o mundo sem luz.

Nas vezes que penso em desistir, lembro dele. Não desistia nunca de nada. Nas horas que penso em não ir lá, ele vem à tona, porque sempre buscou justiça. Quando imagino dizendo aos outros pais, isso é muito para mim, não aguento mais essa estrada, essas pessoas, esses nomes, essa gente que vê e não fala, ouço internamente sua voz me falando o que ele falava quando eu tinha problemas e a solução não dependia de mim... mãe ore!

Eu queria mesmo que pudesse haver algum tipo de restituição, algum tipo de condição de minimizar o sofrimento e de aplacar a dor, mas não vejo nada que contribua para isso. Pelo contrario, a ausência de definição para as perguntas racionais que citei faz com que manifestemos o que temos de pior, desejar que de alguma forma encontremos um culpado, e isso parece nos bastar. Alguém que tenha errado mais que nós.  Quando penso assim, fico me perguntando  onde e qual era a vontade de Deus? E qual é a vontade Dele agora? Não sei.  E como esse mundo maldito tem contribuído singularmente em calar minhas repostas eu clamo para o único lugar em que a restituição me interessa, e quem sabe como na musica abaixo, eu veja alguma coisa ressuscitado (bem que podia ser ele, meu grande milagre do Senhor).

Os planos que foram embora
O sonho que se perdeu
O que era festa e agora
É luto do que já morreu
Não podes pensar que este é o teu fim
Não é o que Deus planejou
Levante-se do chão!
Erga um clamor!
Restitui!
Eu quero de volta o que é meu
Sara-me!
E põe teu azeite em minha dor
Restitui!
E leva-me às águas tranqüilas
Lava-me e refrigera a minha alma
Restitui...
E o tempo que roubado foi
Não poderá se comparar
A tudo aquilo que o Senhor
Tem preparado ao que clamar
Creia porque o poder de um clamor
Pode ressuscitar...



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