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terça-feira, 12 de julho de 2011

NÃO SOU FORTE: FRACASSEI

Geralmente as pessoas me julgam como uma mulher forte. Não consigo dizer que aspectos em mim hoje transparece essas características opara favorecer esse tipo de julgamento. E neste processo do luto, muitas vezes me pego pensando o que seria ser uma pessoa forte neste período.  E para todos os lados dos meus argumentos não consigo concluir de forma que concorde com as pessoas que me têm por forte. Fraquejei, fraquejo todos os últimos 50 dias .  

Imagino muitas situações onde gostaria de ser forte, de reagir e de pensar diferente, mas não estou preparada para fazê-lo.  Por exemplo, esta semana não lembro onde precisei ir e a atendente me perguntou se eu tinha filhos, eu falei gaguejando não.  Queria gritar para o mundo que era sim, mãe de um filho muito especial, e que embora não estivesse ali mais ao meu lado de forma externa, estava ali sim, dentro de mim, esta ainda, mas fraquejei e calei.

Também fui atendida por uma ex aluna, há 09 anos lecionei uma disciplina para ela. Quando estava copiando os dados de uma medalha com fotos de Rafa, ela me perguntou, como vai Rafael, travei, não falei mais uma palavra.  Minha mãe fez mimicas em minhas costas, fez com que ela entendesse o que aconteceu, mas eu...eu fraquejei e calei.

Estava com uma blusa que tem foto dele e escrito saudades, o caixa de uma loja me perguntou, ele morreu? Era seu filho? Só enchi os olhos de lagrima e ela também e eu só falei estou comprando essas camisas porque são 100% algodão e as fotos só podem ser postadas em camisas assim, esse é o meu luto. Fraquejei de novo.

Mas o maior fracasso é o do dia a dia, aquele que não permite que eu levante a cabeça, que eu consiga ver que tudo isso terá um propósito. Não vejo nenhum proposito em nada disso. Aprender com perdas e com a morte, acho que eu já entendia, só não consigo levantar a cabeça e continuar, me pergunto todo o tempo, para onde? Para quê? Que sentido tem tudo isso?

Creio que eu poderia estar me confortando com o privilegio de ter sido mãe de Rafael, de ter convivido com ele os 18 anos mais especiais de minha vida, me confortar pelos amigos que ele conquistou, pelo amor que ele exalava e cativava, pois não consigo, pois quando me pego pensando assim, sempre me pergunto não se eu merecia a partida dele, com certeza nem merecia ter convivido com ele, mas ele não merecia não ter vivido tudo que sonhou viver. Fraquejo sempre, pois o privilegio de estar com  ele é também a sentença de viver sem ele. E por mais forte e intensa que seja a nossa relação, ela sucumbe muitas vezes a minha fraqueza.

Em me sinto tao perdida, tao impotente e tao prestes a enlouquecer de saudade, de tristeza, de angustia, de desespero mesmo, que isso nada mais é do que a exposição crescente do fracasso, pois Rafael era o contrario disso tudo. Ele era paz, alegria contagiante, amor presente e espontâneo.  Com certeza Rafael não desejaria que eu reagisse assim, mas não tenho conseguido elaborar tudo isso.  Fracassei mais uma vez.

Sei que as pessoas tem razão quando me mandam reagir. Só nao tenho conseguido.  As vezes penso que eu nao tenho mais o direito de rir. As vezes me pego rindo por uma coisa engraçada, por uma lembrança nostalgica dele, por uma coisa que mereça mesmo que possamos sorrir, e no meio do riso eu me censuro, por que está rindo? Esqueceu que seu filho partiu? E isso dói fundo e cala o riso e o peito se enche de um choro contido que dilacera as entranhas, e aí, eu fracasso.  

O tempo passou e eu ouvia as pessoas dizendo não vai querer ter outro filho? Você é tao nova, e filho único não presta, cresce mimado. E olhe, quem tem um não tem nenhum. Pois é eu respondia de pronto, eu dizia que mesmo que eu tivesse 100 filhos e um partisse, meu vazio estaria ali presente e ninguém poderia preencher, nem os outros 99 filhos que pudessem ter ficado.  Também sei que cada pessoa tem uma forma diferente de expressar seus sentimentos e de agir diante do luto.  


Continuo achando que nenhum filho substitui outro, mas dentro do meu fracasso, me permito defender que não ter nenhum para compartilhar a perda, é muito pior do que o que eu imaginava. Aí reside um fracasso também, porque ultimamente me deparo com mães que sofreram historias de perdas, mas ainda não encontrei com nenhuma que tenha perdido um filho único e que este não a tenha dado netos.  Então, sem querer menosprezar a dor das outras, mas sempre me pergunto, você tem algo maior que as lembranças que te obrigam a continuar andando. eu? Fracassei.  Mas se por acaso conhecer alguma dessas, vou perguntar em primeira mao: Isso algum dia passa ou tem sentido?

Até lá, vou continuar me apresentando como uma ex-mãe, que não sabe reagir a tudo isso porque vive um fracasso interior muito grande. Ele não deixou de ser filho, mas eu não posso mais exercer a maternidade dele. Fracassei

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