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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Voce ja enterrou seu filho?

Hoje me questionaram sobre isso. Alias, questionaram e prontamente responderam, que eu nao, que, infelizmente, eu não tinha enterrado meu filho, e que alias tenho feito muito pouca coisa para me ajudar, que o que eu fiz ate agora foi nada, ou muito pouco. Quem me perguntou isso? Um setor de meu trabalho ao avaliar a minha condição de retorno.

Fiquei o dia inteiro remoendo isso. Se eu entenrrei? Infelizmente fiz isso no dia 23 de maio de 2011. Seguramente o pior ano de minha vida, o pior dia. Sabe quando voce é bem feliz e diz que aquele é o melhor dia da sua vida, e se engana depois vive dias melhores e percebe que se enganou? Pois é, quanto ao pior de minha vida, o pior dia, eu tenho certeza que foi esse, nada que aconteça podera ser comparado a este dia, pior que o dia em que voce perde um filho, é o outro dia em que voce perde de novo, se tiver mais de um filho obviamente, mas esse não é o meu caso, eu nao tenho outro filho e não acredito que tenha outro dia pior que esse. Nao consigo conceber nenhuma desgraça que supere esta.

Se eu sonho acordada que ele vai aparecer? Se eu penso que eu vou acordar e tudo isso nao passou de um pesadelo? Se eu tenho esperanças para alguma coisa legal na vida que me surpreenda? Para todas essas perguntas, minha resposta é não. 

Por que? Porque eu reconheci o corpo de meu filho. Eu assinei os papeis para doaçao de órgaos. Eu o vesti, o arrumei naquele caixao, e é a primeira vez que falo disso, e nesses termos. Mas eu ainda segurei a alça do caixao, escrevi em sua lapide e ainda deixo mensagens no cemiterio, porque foi lá que deixei sepultado nao só o melhor de mim, tudo que eu tinha de bom e meus sonhos para o futuro tambem ficaram ali.

Mas é dificil ser julgada pelos outros, tipo assim, nao sou especialista para falar, nunca passei por isso, nem faço ideia de sua dor, mas voce nao esta se ajudando. Foi isso que ouvi hoje. Nenhum deles perderam filho. Nao ficaram sozinhos na vida. E esta nunca foi minha opçao. Criei Rafa para ser independente, e ele era, por isso, alias, por merito dele e nao de minha criaçao porque ele nasceu pronto, com certeza, hereditariamente, ele herdou os melhores traços de seus pais. Ele nunca se enquadrou na tipologia do filhinho unico e mimado. Foi amplamente amado, eu nao tenho duvidas de que ele ouviu o numero de vezes que seus pais puderam dizer do quanto o amavamos. Ele sabia o quanto era especial E CONTINUA SENDO.

Talvez seja esse o problema. Eu continuo falando de Rafa da mesma forma como falava antes. O periodo que dei aulas, ele era alvo de todos os meus exemplos, continua sendo. Nao é porque eu o sepultei que tenho que esconder suas fotos, doar suas coisas e parar de falar dele, se puder parar de chorar as pessoas agradecem, e se voltar ao trabalho, perfeito. Superei o luto, a perda e voltei a viver.

Era tao bom se fosse assim, mas eu estaria me enganando, nao tenho forças para isso, enganar-me. As pessoas ficam intrigadas perguntando o que eu faço o dia inteiro. E eu nao consigo explicar. Estou tentando achar minha saida. Estou a procura do que sobrou de mim e me redefinindo. Nao sou mae, nao sou amiga de meu melhor amigo, deixei de ser professora, nao tenho sido serva de Deus, sou alguem indefinida, que nao conhece seus limites nem o rumo a tomar. A unica certeza que eu tenho, nao vao calar meu choro, minha dor e minha forma de expressar meu luto.

Por isso, em casa, sozinha na maior parte do tempo é o melhor lugar para catar meus caquinhos. E quando eu estou fazendo mal pra mim, quando eu acho que eu posso me boicotar, ainda tiro forças desse amor que me une e me unirá eternamente ao meu filho e respiro fora de casa um gas menos asfixiante que o gas da solidao e do vazio, porque infelizmente EU ENTERREI MEU FILHO UNICO naquela segunda-feira chuvosa do mês de maio, aproximadamente na mesma hora que em uma segunda-feira ensolarada de março de 1994 eu o vi pela primeira vez.

2 comentários:

  1. O que sentimos, só nos sabemos, e mesmo assim não sabemos explicar a dimensão de tudo que acontece conosco.
    As pessoas não sabem ajudar, por que não tem conhecimento sobre estes sentimentos que muitas vezes nos aniquilam, nos mutilam lentamente dia a dia, e assim vamos tentando sobreviver em meio a tudo isso que sentimos, ouvimos, pensamos e desejamos. Ah! minha querida Annalu só Deus sabe o quanto queremos partir também, o quanto queremos nossos Filhotes de volta, que daríamos tudo que temos por eles, se é que temos alguma coisa de bom para oferecer neste momento onde estamos doloridas com a dor, onde a ferida não sara, onde o nosso amor pelos nossos Filhotes Amados, dentro do nosso coração de mãe está a ponto de explodir pois não há mais lugar para tanto amor.
    Não ligue minha amiga para as pessoas, viva o seu tempo de luto, prantei o tempo que for a partida de Rafa de sua vida, expresse sempre e não tenha medo de falar em alto tom de voz o que sentes, não se preocupe com as pessoas, elas são muito pequenas em um mundo pequeno, diante de tudo que estamos vivendo, somos bem maiores que elas, acredite somos bem maiores por amor ao nossos Filhotes (Rafa & Teteu)...........Abraços Fraternos

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  2. Pois é Marcia que esse amor nos de força para superar esse lento processo e quem sabe que a alegria possa vir ao amanhecer. Bjs e força.

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