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domingo, 15 de abril de 2012

É COMO VIVER SEM METADE DE MIM.

Osvaldo Montenegro escreveu uma poesia que refletirá minha proxima tatuagem. Eu sempre ouvi dizer que quem faz tatuagem não acaba na primeira tatoo, que elas são intermináveis, e como diz meu irmão Sidney, a gente acaba virando uma revista em quadrinhos, um gibi todo desenhado. Estou começando a achar que ele tem razão.

Minhas tatuagens são como os furos de minha orelha. Tem historia. O furo do primeiro brinco não sei dizer, nunca questionei a minha mãe sobre ele, se foi feito na maternidade, se demorou, se eu chorei, se eu perdia brincos quando era criança, estas coisas que só as mães lembram e comentam. Mas os que eu decidi fazer, estes têm história. Minha mãe e minha irmã já tinham o segundo furo, eu sempre quis ter, mas me faltava coragem. Aliás para estas coisas e procedimentos para o corpo e cabelo, elas não se amedrontam com o novo e o diferente, divertem-se mudando, mesmo que a mudança não dê muito certo.

Então, num periodo que eu queria marcar a minha fase de liberdade, de virar a pagina, de ser feliz de novo, entramos numa joalheria e num unico dia, eu, minha mae e minha irmã furamos a orelha. Naquele sabado, eu fiz quatro novos furos, dois de cada lado. Em seguida, assistimos duas sessoes de cinema. Obvio que eu estava com Rafa, ele escolheu a cor dos brincos da pistola, escolhemos o formato e o resto do fim de semana ele questionava sobre se doí, se incomodava, se eu já tinha colocado gelo, etc. Daquele dia em diante se eu entrasse em algum lugar para ver brinco, ele sempre perguntava a vendedora ou me mostrava brincos para o segundo furo. Engraçado, era como se eu tivesse realizado uma coisa que ele valorizava, era comum Rafa sentar no meu colo e por meu cabelo atras da orelha e ficar olhando os furos. Confesso que durante a cicatrização, era necessario rodar os brincos no orificio do lóbulo. Nunca precisei fazer, Rafa fazia como se fosse uma obrigaçao indesculpavel.

Foi meu companheiro todo o tempo. Eu tinha tres furos em cada lado da orelha. E pronta para assumir a pior coisa que fiz na vida: ter permitido que um intruso mentiroso fizesse parte dela. Minha irma iria viajar e não participaria da solenidade, mas tinhamos uma vontade - furar a cartilagem da orelha - e fizemos um pacto, providenciamos o furo um fim de semana antes da viagem para Disney dela, sabiamos que ia estar dolorido e era uma forma de estarmos juntas naqueles momentos de distancia. Aproveitei e furei tambem o quarto furo, cada um representava meus irmaos. Bom, o da cartilagem era meu pacto com a mais nova e os outros dois furos, era para os mais velhos. Quando comentei com Rafa, ele já tirou onda...então minha homenagem vai ser um alargador. Eu nunca tinha visto um, aí ele me mostrou no shopping uma pessoa usando.Começamosa rir porque ele dizia que se para os meninos eu tinha feito um furinho, para ele eu ia ter que usar um daqueles alargadores. Presunçoso? Não, ele tinha certeza que era amado e só tentou, de forma hilária, demonstrar essa certeza.

Nao furei a orelha, mas por conta delas comecei a nutrir a ideia de fazermos uma tatoo. Só deveríamos esperar sua maioridade, sua independencia e uma maturidade a fim de decidir por algo representativo de uma vida e não de uma época ou um modismo. Ele ja sabia sobre o boneco que eu queria fazer, o lugar, o tamanho, só o momento não tinhamos definido, porque faríamos juntos. Algums regras antecedentes precisavam ser cumpridas. Primeiro, ser maior, independente e demonstrar maturidade. Ele obedeceu a risca, pois apesar da liberdade que tinha, nao desobedeceu aos nossos acordos.

Não deu tempo de fazer nossas tatoo juntos. Não nos foi permitido demonstrar nosso pacto. Mas com algumas alterações, dois meses após sua partida e com novas configurações no desenho fui, em companhia de minha mae, deixar permanente em meu corpo...por onde for quero ser seu par, acima de nosso desenho de maos dadas, no meu pulso esquerdo.

Mas quis surpreender, inclusive a mim mesma, ao colocar seu nome, e parte da letra Deus forte em notas musicais, e fiz isso. Achei que ia parar por aí. Mas não vou.

Penso muito no quanto fiquei metade, no quanto fiquei partida, incompleta, sem saída, sem me sentir cheia ou forte, não sou inteira como era quando você de fato estava ao meu lado fisicamente. E a tatuagem é fisicamente uma forma de materializar permanentemente o que vai por baixo dela, minha saudade, minha dor, minha parceria e meu amor por você.

Penso que poderia até me transformar numa revista em quadrinhos cheias de desenhos seus, poderia olhar para mim todo o tempo e ver suas marcas, mas não penso que homenagem vire casuismo, por isso, ainda nao virei gibi...mas ultimamente, onde a sensação de ser metade traga os meus sonhos todos os instantes, sinto uma vontade enorme de ser caderno, nas mãos de Rafa, um guardanaoo rascunhado, com letras firmes que falem o que Osvaldo falou...e em minhas palavras parafraseando-o, porque metade de mim é saudade, e a outra implora que seu silencio me grite cada vez mais...minha proxima tatoo, declarará em palavras a minha sentença de saudades.

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