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sábado, 14 de abril de 2012

ALGUMAS VEZES A DOR É MAIOR QUE O AMOR.

Não sei se esse titulo reflete a verdade, mas é o que sinto em muitos momentos. Tem horas que não lembramos só da parte boa de ter convivido com quem amamos. Lembramos da pior parte: o momento em que o perdemos, e o ruim do processo é rememorizar todas as coisas boas que vivemos, do quanto nos curtíamos, de como nos afinávamos e que hoje tudo ficou para trás e essa ausência as vezes anula o que ficou de bom, porque a dor muitas vezes é incapaz de superar o que tivemos juntos.

Eu não olho para as fotos de Rafael e tenho sempre sensações boas, de como foi legal ter sido sua mãe, de como foi especial ter crescido ao seu lado, de como fui feliz vendo-o crescer. Tem horas que dá vontade de gritar, de quebrar tudo, de implorar por respostas, de exigir uma palavra, um sussurro, de pedir perdão por ter falhado tantas vezes.  Nestes momentos, a dor supera o amor, infelizmente esses momentos existem e misturam tudo, e no desespero, por mais que tenhamos amado e sido amada, não os temos e isso dói, fere, maltrata. 

Hoje na madrugada recebi um torpedo informando que um colega de trabalho tinha falecido. Ele era especial para mim e para muitos que conviveram com ele. Pela alegria, pela capacidade de servir, era um bonachão, morreu de repente, em menos de uma semana tinham o diagnostico do câncer e o óbito. Obviamente não consegui dormir e fiquei pensando na viúva de Cristóvão, outra vitima da mesma doença. mas não o conheci, todavia falo muito sobre o processo de perda que sua viúva enfrenta. Ontem falamos muito disso, e na madrugada sua experiencia compartilhada comigo, e que a questiono todas as vezes que fico muito angustiada, suas respostas não saíam de minhas reflexões.

Pergunto a viúva se ela era feliz casada por conta da devassidão que a perda provocou em sua vida, e ela assim como eu, ficou sozinha, mora sozinha e lidar com a solidão é um desafio cotidiano bem menor que lidar com a perda, com o luto, com o vazio e com a dor.  Não me surpreendo pois quando ela fala da relação que já não estava boa e que não era feliz, todavia passados quase 18 meses ela ainda enfrenta a dor de perder alguém que estava se preparando para perder para vida, cada um andando seu caminho, mas não perder para a morte, onde os caminhos não se cruzam mais.

Pode parecer coisa de gente egoísta que quer tudo para si, aí nem liga para o que tem, até que a gente dá conta daquilo, então, mesmo sem uso, a pessoa não quer abrir mão, pelo simples fato de ser proprietário. Mas não é. A morte aniquila qualquer titulo de posse, mesmo quando você tem claro que é empréstimo, que não é seu para sempre, mesmo assim ela vem de uma forma tão nefasta que parece um pesticida na lavoura, momentos antecedentes da colheita, e o que não fica morto, fica impróprio para o consumo, e a terra precisa de muita, muita ajuda para superar o veneno pesticida que adentra em suas camadas.  Eu sou a terra, a morte é o pesticida e a colheita era tudo que nossa relação seria capaz de produzir.

Obviamente que viver com Rafael não exigia muitos adubos, porque ele era especial mesmo. Ele dava muito mais do que o que recebia. Ele era daquelas pessoas cheias de luz, cheias de vida, cheias de entusiasmo.  Cheio de Deus, porque era alegria, amor, perdão, capacidade de servir. E eu contava com minha colheita.  Rafael sonhava com casa cheia, com filhos, amigos, parentes, agregados, ele gostava de estar cercado. Eu só tinha ele, e ele tinha o mundo, então não era difícil sonhar com o mundo dele. Eu esperava viver o mundo dele.

Acabou...e hoje, uma poesia de Marina Ferraz, retrata o que restou em mim...mas já não importa.




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