Total de visualizações de página

sexta-feira, 13 de abril de 2012

SAUDADE É NÃO SABER.

Tem horas do meu interminável dia que questiono onde voce está e o que você faz. Questiono coisas bobas e também coisas mais intrigantes, essa é a diferença entre perder um filho e imaginá-lo morando longe, ou servindo numa guerra, ou preso, ou num escondeirijo, etc.  Não saber, e não ter quem saiba define a distancia e a saudade.

Eu cresci ouvindo sobre uma tia-avó que tinha uma filha que havia ido embora para a Europa e nunca mais havia se correspondido com a familia. Obviamente que como em toda familia muitas especulaçoes foram feitas e muitos boatos insustentaveis tambem foram ditos sobre o paradeiro desta prima, familia paterna da minha mae. Todavia, nos momentos que eu conversava com essa minha tia-avó, residente no Rio de Janeiro, ela sempre tinha uma novidade para contar sobre sua filha, que morava na Itália. A familia nao comentava sobre argumentos reais, porque não tinha acesso, mas minha tia vez ou outra tinha um fato novo para relatar e eu amava ouvi-la. Seus olhos expressavam um amor contido e uma admiração pois a filha não tinha se perdido, ela tinha se achado lá fora.

Essa minha tia teve uma participação muito especial em minha vida. Foi uma guerreira otimista. Todo o tempo manifestava uma fé em Deus e uma alegria tão especial pela vida. Rafael a conheceu, ela chegou a segura-lo algumas vezes e a participar de "momentos especiais de nossas vidas.

Minha tia sentia saudades da filha, mas ela sabia onde sua filha estava, o que fazia e na medida do possivel e do acesso as informações, mesmo que de longe, acompanhava as noticias quando sua filha as mandava. Lembrando que falo de tempos onde não podiamos contar com as facilidades do celular, do sedex e da internet. Falo de cartas que eram remetidas sem endereço, falo de parcas ligações só de lá para cá, sem acesso ao numero originario de chamada, falo de uma filha que não se mostrava por completo, mas de uma mãe que estava sempre disponivel para ver o que precisasse ser visto.

Nunca houve desespero na espera de minha tia. Porque embora distantes, elas -mãe e filha- se sabiam.  Minha tia já faleceu, minha prima já se mostra por completo. Sentimos saudades, mas nos sabemos.

Saudade de quem partiu é traduzida por desconhecer, saudade é não saber.

Não sei onde Rafa está, como é lá, o que ele faz do dia, se tem noite. Se tem brisa, se tem cor, tem jardins? Mora em casa? Precisa dormir? Se já encontrou pessoas que conheciam? É cuidado? Tem gente que já gostava dele aqui e continua tratando-o e cuidando-o lá? Onde é lá? Tem se alimentado direito? Está feliz? Em que pensa? Tem sido útil? Não sei responder nenhuma destas e posso formular mais milhares de perguntas. Todas sem respostas.

Mesmo que ele tivesse partido como minha prima e eu não tivesse acesso a sua vida, de uma forma ou de outra, eu o saberia, e ele a mim. Mesmo que eu não pudesse confirmar a marca da pasta de dente, ou do chiclete que ele mais gostava, ou se ainda perambulava de cuecas e meias pela casa, ou se ainda amava o Ferrari Black, ou se ainda gostava de apertar todas as camisas de malha para ficar bem definida no peitoral, ou se ainda ria com episódios reprisados de Mr. Bean, e se ainda ouvia Rojão...mesmo que eu não soubesse confirmar nenhuma destas suposições, de alguma forma eu o saberia, e ele a mim.

Hoje eu não sei, não o sei, só sei da saudade...da saudade de não sabe-lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário