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sábado, 28 de abril de 2012

EM NOME DO FILHO

Belíssimo filme italiano, baseado em historia real de uma mãe que tem seu filho único de 10 anos em coma por 46 dias e na noite de Natal como se num milagre ele acorda do coma. De extraordinário no filme, o amor de uma mae que revoluciona a UTI para trazer seu filho de volta.

Chorei muito e me impressionei com a força daquela mãe, como eu queria ser forte, e levantar como ela levantou. 

Se eu não queria levantar? Queria e quero. Mas ainda me sinto culpada pelo batom, se uso salto, se rio na rua, se as pessoas me encontram enquanto eu como, ou saio, ou ando, ou tomo folego, ou converso com as poucas pessoas que permito que se aproximem.  As vezes rio de uma piada, de um comentário, de uma coisa engraçada de Rafa de Cora, de uma coisa alegre ou uma piada que Valter conta, das mimicas e sonorização de Jr Bil ou do vasto dialeto batinguense de Nívea, eu rio, me divirto, mas no fundo a mesma pergunta: Você está rindo de que mesmo?

Um folego de vida sabe, de me arrumar, de fazer de conta que vai tudo bem, de voltar a sopa as segundas no HUSE (hospital publico aqui em Aracaju, onde eu, e Rafa algumas vezes, participava de uma ação evangelística no pronto socorro e no setor de oncologia), as intercessões as quartas, de encontrar uma igreja porque não quero encarar ninguém na igreja, não quero sentir pena de mim, não quero sentir culpa dos olhares dos outros, dos pensamentos dos outros, não quero que minha desgraça seja sinônimo de falta de benção. Não quero comparações, mas também não estou pronta para o esquecimento, e como posso exigir dos outros o que não sei se quero para mim.

Aquela mãe retratada no filme tinha uma força que eu queria ter, mas não tenho. A força dela vinha de uma esperança de ter o filho de volta, ele ainda estava ali. O meu não mais, e com ele minha força se esvaiu.  

Eu quero levantar preciso...preciso dormir decentemente, seis horas de relógio sem remédios,  preciso comer decentemente, tomar banhos em horas normais e não nas madrugadas para aplacar meu choro, preciso de coisas que não seu ainda mas preciso não sentir culpa de tentar viver, preciso de um jeito novo, de uma forma nova encontrar a saída, que por enquanto só me faz me aprofundar em minha escuridão interior.  Qualquer passo que dou para fora desse lugar escuro, me dá a sensação de deixar minha historia com Rafa para trás, e isso que me doía nas cenas do filme. Aquela mãe trouxe a historia deles, da voz dos professores de seu filho, do treinador de futebol, dos seus colegas de classe, do seu urso de pelúcia, do bonecos que ele brincava, dos jantares com os pratos que ele gostava, de sua musica preferida e assim seu filho voltou do coma.

Meu filho não voltará do coma, mas a sensação que eu tenho é que se eu não viver intensamente esse luto com Rafa ou de Rafa, quem entrará em coma sou eu.

2 comentários:

  1. Bom dia!, ja li quase tudo que vc postou, acho que vc tem razão esta linguagem de maes que perderam um filho só nós entendemos, mais ninguém.
    Perdi meu filho de 18 anos no dia 29 de janeiro deste ano e simplesmente tento me achar desde então. Fazer isso que as pessoas dizem que temos de fazer SEGUIR EM FRENTE mas como seguir se estamos pela metade?
    Que Deus nos ajude.
    bj na alma

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  2. Verdade querida, luto todos os dias para continuar, nem sempre meu cérebro ou meu corpo atendem esse comando de continuidade, tem horas que sinto que é anti natural pedir a uma mãe para seguir sem o filho, deixado inerte e frio em um dia do passado. Tem dias, que o sinto tão vivo, tão perto, tão próximo. Mas não importa quando eu me sinto de um jeito ou de outro...o mundo, insensível para essa dor, no máximo nos diz, eu imagino sua dor...mas nós sabemos, que nem a gente consegue dimensionar a profundidade dela.
    Gosto de um texto bíblico...as vezes, e é uma pena que somente as vezes eu sinto consolo na Palavra, vai chegar uma hora que a Palavra de Deus curará mais rapidamente esses dias ruins, mas esse texto hoje me prova que estamos com nossos filhos, porque se sobrevivemos até então a essa dor...Deus deve estar nos carregando no colo, mesmo que nos sintamos sozinhas a maior parte do tempo.
    Obrigado por ler o blog, por comentá-lo, também vou orar nominalmente por você mãezinha, e fique com Deus...e com as promessas Dele. Vou compartilhar com você o texto: Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 8:38-39). Parte desse texto está transcrito na lápide de meu anjo.

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