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domingo, 29 de janeiro de 2012

PARTILHAR A DOR DE NÃO VER SEU FILHO COMEMORAR A MAIORIDADE

Hoje seria o aniversario de 18 anos de Rafael Bispo, o amigo de meu filho que também faleceu no mesmo acidente. Mas não podemos comemorar sem ele, na verdade, é mais uma data que nos machuca. Nos reunimos mais uma vez, toda a família de Rafa, seus pais, seu irmão, seus tios, seus primos, suas avós, seus amigos, os patroes de seus pais com respectivos cônjuges e filhos e eu.

A missa que eles celebram é sempre comovente. Comove ver toda a família reunida. Comove ver a dedicação que eles fazem tudo. Comove ver o banner com a foto dos dois. Dói muito intensamente encontrar com Neide (mãe de Rafa) e chorar com ela essa dor cruel.

Hoje não sei o que esperar, mas antecipo-me a pensar quando a minha vez chegar. Não sei o que fazer, se eu soubesse onde me esconder de mim, da minha dor e do mundo, teria levado Neide para lá hoje, mas levei para orla, para o barulho, para o estresse, para ver gente, cor, coisas, apesar de nosso coração querer só um cantinho escondido para nos refugiar, mas queria de alguma forma fazer com que o dia dela acabasse logo, e se possível bem, era o milagre que eu queria de presente.

Depois de lanchar viemos para casa e depois de 08 meses é a primeira vez que passamos juntos uma noite que não seja a noite do hospital, quando Rafa Bispo nos deixou.   

Conversamos e nos lembramos da trajetória, mas a palavra de ordem de nossa conversa não era Deus, nem fé.  A amargura nos levou para o mesmo lugar. A ansiedade e a tristeza nos aflige com a mesma importunação. Eu emagreço, ela engorda, mas independente da forma que tomamos olhamos nossas fotos, e não nos reconhecemos mais, nossos corpos não expressam a dor que carregam. Falamos de loucura e da percepção de que enlouquecemos a cada dia longe dos meninos.

Eu, cada dia mais sozinha, e ela cada dia mais próxima de Neguinho (seu marido e pai de seus filhos) empurramos como podemos esses dias sem nossas joias. Mas todas as vezes que falamos  sobre a motivação de Deus ao permitir que a morte batesse em nossa porta, sempre nos deparamos com a sensação de perplexidade.

Durante a missa hoje no ofertório ninguém levou o banner com as fotos, os meninos ficaram ali no púlpito, enquanto a prima de Rafa Bispo comentava a missa.  Uma surpresa, era aniversário do Frei celebrante e ouvimos no final da missa a musica parabéns. Não tem como não se despedaçar, estávamos todos ali, era o aniversario de Rafa, ele não estava e ainda tivemos que acompanhar a comemoração contida, mas dolorida em nós.  

Eu já tinha sido amplamente machucada, não tinha mais espaço para mim doer, durante a missa cantaram uma musica de Pe. Zezinho, uma das que Rafapel sabia de cor, cantei inúmeras vezes para ele, e durante a apresentação do coral infantil, que veio da Serra do Machado/Se apenas para essa celebração, lembrei da ultima vez que cantamos juntos essa musica...sei que você viveu como a musica pedia, mas não há como ouvi-la e não lamentar sua ausência...

Queria ter comprado um bolo, mas acho que não deveria, nossa dor é tão igual, mas nossas reações não, então filho tomara que desse lado tenha bolo, daqueles que dona Eliza fazia de queijo com  goiabada, tão saboroso, ou então um bem transado e gostoso, tipo os de Doralice, e que vocês aproveitem tanto, mais tanto esse dia que nem se deem conta que nosso tempo distante ainda não acabou.




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