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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

MAS E O QUE É JUSTIÇA?

Estou num forum esperando a hora de minha audiencia, e tudo que passou por minha cabeça ontem me consome. Escuto uma cliente se referindo ao serviço de seu advogado de forma indignada e demonstrando sua desesperança sobre justiça. Neste momento me pergunto de que me valeram cinco anos de direito e teses e teses, conceitos e referencias sobre justiça.

Na memoria vem a frase pintada no patio interno do Colegio do Salvador, onde passei 06 anos lendo-a diariamente. Aqui estudam os homens de amanha. Justiça é dar a cada um o que lhe é devido. Isso tudo se confunde aos meus conceitos religiosos.

Justiça é dar o que lhe é devido. Temos ou deveriamos ter o que merecemos. Fico pensando e divago  indagando o que eu mereço. Entao tambem me constranjo em pensar sobre graça, favor imerecido. Para levar a vida desse jeito, na luta sobre aquilo que acho justo e aquilo que acho merecido, precisa ter uma dose muito grande de fé e otimismo, combustíveis muito caros nesta fase da caminhada.

Olho em volta e me sinto muitas vezes a mais desgraçada das criaturas. Por que tinha que acontecer comigo? Era meu único filho? Ele merecia? Eu merecia? Fizemos por onde, fomos irresponsáveis ambos em suas parcelas de culpa e colhemos a morte, é isso? Não, não me convenço assim tão fácil, porque tenho certeza que você já deve ter dado bobeira e foi poupado. Por que não fomos?  Começo a sentir raiva, raiva de mim e do mundo. Vejo de forma anormal a normalidade da vida dos outros. Casais abraçados, vendo filhos crescendo, pegando ate netos no colo, ou bisnetos...a morte não bateu naquelas portas...porque na minha? Por que se eu só tinha um?

Não sou a unica mãe que perdeu o único filho...sei disso. Mas não posso achar justo, devido ou normal. Não, essa lição é de difícil absorção.

Atendi em consultório muitas pacientes que iam dar a luz e ao invés de voltar para casa com os filhos nos braços voltavam com um atestado de natimorto ou de óbito. Alguns atendimentos a domicilio, em suas residencias, outros no consultório mesmo, e o que mais elas alegavam era sobre ir para um lugar festejar a vida e ter um encontro com a morte. Falavam da preparação do quarto, do enxoval, do pre-natal, da dificuldade de engravidar ou de segurar a gravidez, de um processo que em media durava 01 ano, nove meses, etc. e como ele destruía a casa e os sonhos...e muitas, em seis meses um ano já estavam com outra gravidez a vista e todos os sonhos de novo. 

Nao precisavam de ajuda psicológica novamente estavam fortalecidas com outra vida que tinham gerado e com o amor que nutriam pela anterior...era a magia da maternidade as restaurando de um processo inimaginável de dor. Era justo a compensação, mas nunca seria a altura do prejuízo, um filho não compensa outro, mas ajuda a caminhar, a restaurar, a levantar novamente. É amor que gera amor.

Meu filho tinha 17 anos, também o esperei, o acalentei, o aninhei, o amamentei, o vi andar, correr, pular, crescer, virar gente, virar homem, meu menino-gigante, meu guerreiro menino...mas ainda era meu bebe. Era a minha vida, alegria de minha casa, minha companhia, nos tratávamos e sabíamos como estávamos pelo olhar...hoje o procuro, percorro a multidão e ainda o vejo lá, cada vez mais dentro, cada vez mais meu, cada vez mais feto...neste parto as avessas da morte de um filho.  

Justiça? Será? Acontece com qualquer um...mas foi no meu telhado que a pedra caiu e quem sente sou eu, o tamanho do que eu não acho que merecia... não porque sou boa, mas por ele, ele merecia viver a vida...porque ele era vida cheia de alegria. 

Dar a cada um o que lhe é devido...Justiça...Não, não posso receber tudo isso no lugar de Rafael...esse conceito não é aceitável. Onde está a parte pratica do ...e livrai-me do mal? 

E querem que eu ache normal e justo seguir porque não sou a unica mãe a perder...sou sim, pois ninguém no mundo perdeu Rafael, o meu Xeberel não...

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