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domingo, 16 de setembro de 2012

UM ROJAO, DUAS CANTIGAS E MUITAS HISTORIAS PARA NINAR UMA MAE

Nunca participei de festa de interior, nao por me achar ou sentir mais cosmopolita, mas simplesmente porque na adolescencia nao me era permitido e na vida adulta nunca ter tipo oportunidade. Todavia, esse fim de semana, hospedada na casa de Laura, amiga de Rafa, a quem chamo de meu bebe tamanha a meiguice e dependencia, e a quem me refiro como minha herança rafaelica, em Dores, participei de eventos desse porte.

Aqui na cidade, muitas coisas que queria conhecer, em especial a mae de Jai, que tambem sofre a perda prematura de sua filha linda, alem de retribuir o carinho que os pais de Laura, em especial,sua doce mae, tem me tratado ao longo desss tempo em que nos consolamos mutuamente.

Estar aqui me trazia um desafio ver gente, fazer coisas diferentes e me expor um pouco. E é mais facil fazer isso aqui que nao tem ligaçao emocional com minha historia e com a de Rafa, do que em Aracaju ou Boquim por exemplo. Aqui eramos duas familias enlutadas, aprendendo a viver seus processos de luto. Nas casas das tias de Jai, sempre repletas de mini altares de fotos para lembrar a sobrinha linda que foi para a Gloria de Deus, e a minha casa cheia de Rafa em todos os cantos. Aqui ninguem me conhecia, mas eu sendo sempre a mae de Rafa, amigo de Laura. Na casa de Laura um mimo, um foto do meu pequeno na mesma reverencia que a dos demais membros da familia.

Só que ontem tinha uma coisa diferente na cidade, depois de todos os ritos religiosos que essas festas de interiores tem, como novenas, procissoes e missas, sempre tem o que chamamos de sagrado e profano, a festa do corpo. Shows, parques, atrações e muita gente na rua.

A proposta era so dar uma volta e assim o fizemos na sexta. O barulho, o frio, o som alto e uma banda em especial do inicio da noite deram o tom do dia. A banda era do primo de Laura, que havia falecido ha 05 anos num acidente, e o pai continuava ajudando a banda a se promover, porque de algum jeito o sonho do filho ficava de pé. Conheci o pai do menino e sua irma, que olhou para mim e disse voce é mae de Rafa, é a cara dele. Ela tinha conhecido meu filho. Voltamos para casa cedo e mais um dia sem dormir.

Mas no sabado tinha um desafio, a banda que Rafa mais gostava daqui do estado, de quem fez muita divulgaçao assim que a conhedeu, e a qual em um dos shows, ainda com Rafa presente, cantou uma musica onde ouviamos na gravaçao Gustavo fazer referencia a Rafael Muskito, e de cuja gravaçao Rafael se orgulhava.

Uma de minhas primeiras postagens aqui no blog tinha o seguinte titulo Rojao Diferente, o som que embalou meu filho. Ontem tinha Rojao em Dores.

Na festa de forro do ultimo ano de Rafa, da qual ele nao participou, a Rojão fez homenagem a Rafael. Eu timha planos de conhece-los em performance, Rafa ia me apresentar, iriamos para um show na F1, 15 dias depois do falecimento dele, ja haviamos combinado, mas ele nao conseguiu cumprir. Era a primeira vez que meu filho ia me levar para algum lugar que eu não conhecia e que nao fazia parte de meudia a dia. Ate entao eu que levava ele, e apresentava o mundo a ele. Eu estava faltando muito pouco para entrar naquela fase onde filhos trocam e ensinam muito mais que aprendem. Nao deu tempo. Nao vivi isso.

Neste periodo de perda de Rafa, cheguei a compor uma musica e mandar para a Rojao. Ate agora nao deu em nada. Mas ontem vi Rojao, conheci Rojao. E o nó engasgou e assim que os acordes começaram, choravamos eu e a sanfona.

Ate que chegou uma hora que eles cantaram uma musica que eu ouvia demais com Rafael,em outras vozes e logo depois a segunda musica que mais ouvi com ele, neste ritmo porque ele amava o arranjo ele falava sempre da musica. Parecia que naquela praça lotada só tinha eu e Rafa, mas nao o via, e as lagrimas rolavam quentes rosto a baixo.

Eu estava ali e meu filho nao. Que loucura pensar isso e que desespero na alma. Quem vem em meu socorro? O pai do filho falecido ha cinco anos e chorou junto, e depois daquele momento uma vontade de estar com os amigos de Rafa em qualquer lugar de qualquer jeito, e foi onde me recolhi, na atençao dos meninos que ontem nao me faltaram e nem sabem como me ajudam.

Ate agora nao sei se fez bem ter ido...só sei que mais uma noite em claro e um nó na garganta pela invasão das memorias das musicas na voz de Rafa, que me embalaram como cantigas para ninar uma mae.

Meu filho lindo, chama no mamao aí! (frase sempre dita pelo vocalista do Rojao), e em breve, muito breve quero estar em seus braços dando as piruetas que me dava quando me tirava para dancar...Ontem seu abraço, sua respiracao em minha orelha, sua mao na minhas costas conduzindo a danca, suas instruções sobre o arrocha que eu nao gostava de dançar e voce insistia e seu cantar em meu ouvido, nossas musicas prediletas, encheram-me de lembranças que eu ainda nao tinha me permitido sentir.

Sao seis cordas, são seis cordas para amarrar uma mulher...Voce so precisou de uma filho, a corda do cordao umbilical que continua existindo e me amarrando em voce, nesta simbiose de saudade e cuidados. Mais uma vez obrigado Deus, por permitir que eu lembre e compartilhe apesar de todo o sofrimento, porque lembrar do que vivi com Rafa me dá forças para superar o que eu nao consegui viver.

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