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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O MEU É SÓ ESPERA.

Hoje, primeira reunião de trabalho e a cara à mostra. Mas não era eu, era um personagem que enfiou a coragem no rosto e a indiferença no coração.  Sei lá quantas pessoas olhando para você, pela primeira vez desde que meu filho partiu, e ser profissional, e falar de um passado comum a todos, menos para mim. Não era um passado natural, o mundo deixou de ser normal.

Mas as pessoas insistem em ter receitas. Não suportam de forma alguma nosso sofrimento, ou nossa reação. Poxa, eu tenho que aceitar que beltrano não goste de banana, ou canela, ou goiabada com queijo, ou orégano na massa, e isso pode ser normal. Mas sofrer, chorar e dizer não to bem, não to legal, não to pronta, não sou eu, ah isso não pode. Eu posso entender seus motivos banais, e o meu fica banal na sua ótica. Amo essas comparações. Quer me consolar e fala que virou avô, que o filho cresceu, que a filha se formou. E quer saber como eu estou. Será que precisa ouvir? Ver não basta não.

Uma mãe pode ligar 20 vezes no dia para perguntar a baba, se o filho comeu, se arrotou, se lanchou, se dormiu, se fez xixi ou coco, se teve febre, se fez o dever, se comeu todo, se o cocô estava duro ou mole, se fedia, se soltou pum, se....etc. Mas ela é  normal, e ela faz isso meses e anos a fio. Os filhos crescem e ela continua falando trocentas vezes, mas ela é a super mãe, ela pode. E eu não posso chorar, porque não tenho para quem ligar, porque se ligo ele não atende, porque não posso perguntar nada do que ele desejaria que eu fizesse, não posso ter duvidas, anseios, saudades, arrependimentos, vontades, eu não posso ter vontade, porque todas, TODAS, têm um peso e uma justificativa, que precisam ser dadas, para manter as pessoas numa distancia saudável da gente. É só dizer que ela esta louca.

Todo mundo acha que pode contribuir dando sugestões para superação. É uma super receita de bolo. Eu sempre solei bolos.

Mas o que mais me agride, é quando as pessoas associam meu luto a beleza. Dizer que estou ótima  magra, cabelo numa cor linda, etc. Meu Deus o que querem?  Sim eu como, viu, e sim talvez a vaidade esteja voltando, mas beleza mesmo, ela transcende a alma, o sorriso é espontâneo e alegra o coração. O meu esta em luto. Não olhem, só isso.

Mas tinham umas trinta a quarenta pessoas hoje em minha frente. Eu tive vontade de gritar, sim sou eu, mãe de Rafa, simplesmente isso. Porque os outros papéis que vocês conheciam, esses eu ainda não quero assumir, não sei o que restou destes.  E sim, vou retomar muita coisa, só não hoje, parem de me olhar e me deixem em paz.  Mas a cada abraço e surpresa de quem me via pela primeira vez desde então, era só choro.  Meu filho conhecia a maioria daquelas pessoas, e naqueles corredores ele não passeia mais.

As pessoas não entendem que a vida continua, preciso tomar banho, comer, me vestir, trabalhar, mas tudo mudou de ótica de peso. O sabonete não é o mesmo, nem o creme dental, nem o shampoo que usávamos, nem almoço as mesma coisas, enfrentei o shopping hoje, e sim, ainda amo estar com as camisas dele e só abri uma exceção desde então. E não tenho a mesma paixão pelo trabalho, não sei porque, só sei que tem sido assim.

Cheguei em casa e pedi um lanche no automático, e assim que confirmei o pedido a moça perguntou é para Rafael, e eu disse sim. Quando abri o lanche era o que ele sempre pedia e foi difícil digerir. Mas ninguém entende, porque seus filhos estão em suas camas dormindo o sono tranquilo de um inicio de primavera, e o meu...o meu é só espera.

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