A cada dia longe de você, vou me dando conta de coisas que amava fazer aos seu lado, e que tenho que continuar fazendo, mas elas perderam a graça. Hoje, conversando com uma de suas amigas, ri muito, porque percebi que nosso universo, o meu e o seu, você contava em verso e prosa.
Percebi que tudo que era super natural para mim, ter sua opinião sobre o que eu comprava, sobre meu consumo, sobre nossa casa, sobre o que fazer no fim de semana, sobre ir para o cinema e resolver lá o que assistir, sobre dividir o suco do Cinemax ou a pipoca como se fosse uma coisa inerente ao nosso programa, que tudo isso que para mim era comum, fazia a diferença em nossa relação.
Quantas mães assistiam filmes com seus filhos? A gente assistia toda semana, senão no cinema, nos inúmeros filmes em casa. A unica coisa que me dói, é que por conta das aulas de sabado, tanto as minhas quanto as suas, nosso cinema começou a ficar sacrificado porque o sabado ficou curto. Mas lembro quando eramos só nós dois. Quantos filmes, lembro de comentarios seus, e lembro de minha implicância, quando tinha varias salas do filme e sua preferencia, preguiçosa, para ver o filme na versão dublada.
Rafael, tem sido duro ir ao supermercado, ainda compro só produtos de limpeza, e uma ou outra coisa que voce gostava só para que eu veja a embalagem em casa como se alguma coisa familiar voltasse a nos visitar, entende? Mas não é só o supermercado não, cinema ainda é um desafio, nem olho para saber o que está em cartaz, praia também não encaro, não sei agora se tiver oportunidade de ver a praia do Shake se encararei. Também não acho graça ainda fazer um monte de coisa super feminina, mas que eu amava sua companhia, em minhas tardes de compras.
Sinto falta de te chamar para ficar na cozinha e eu te interrogando enquanto fazia nossa comida. Sinto falta de comer as sobremesas que você preparava e se gabava em ser elogiado, antes mesmo de provarmos suas habilidades. Sinto falta de ver você jogando no pc e me chamando para ver a estrategia. Sinto tanto filho, tanto, tanto sua falta.
Mas hoje me dei conta de uma coisa muito especial que criamos e eu nunca tinha percebido, por ser tao natural, achava que todo mundo tinha isso, sinto falta de você tirando onda de alguma coisa que eu fiz e você se abria, como dizia você, só porque eu fiz alguma besteira. Sinto falta do respeito que cultivamos e com a proximidade que tínhamos em nossa relação. Você ao mesmo tempo me chamava de senhora e na hora da brincadeira sabia me chamar de coroa, e me deixava cheia de ar quando me chamava de anciã no computador, no msn, no orkut...pois é filho, a tecnologia continuou e você que amava tudo isso, não está aqui para fazer minha transição.
Hoje eu fiz novas camisas com suas fotos velhas. Só então me dei conta que todas essas coisas deixaram de ter graça. Olhava seu sorriso ali inerte e passava nossa historia em minha mente. Não resisti, fui para porta de sua escola, vi as pessoas saindo da aula, e você não saiu porque não vai voltar para nossa casa.
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