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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A CHUVA MOLHA TODO MUNDO, INCLUSIVE AS DEBORAS


Quinta feira a noite, e eu me deparo com uma noticia que mais uma vez corrói a alma. Outra mãe acaba de perder um filho. Ela nunca ouvi falar, nao a conheco apenas sei o que fazia, porque era coordenadora de um grupo de oração no sul do pais. O Desoerta Déboras, do qual ja participei, e acredito ser um dos movimentos mais lindos que já vi, alem das historias mais incríveis de superacao e milagres de Deus nas familias.


Larissa perdeu seu filho de 09 anos. Nesta hora pensei, por que o filho dela? Acho que essa pergunta sempre vem a tona, toda vez que me deparo com uma historia de morte de filho. Também é comum neste meu processo comparar as maes, os filhos, as dores, que por imbecilidade minha, era como se eu medisse que mães e que filhos mereciam continuar juntos. Tipo, se eu fosse melhor, ou tanto quanto fulana e sicrana, talvez meu filho tivesse sido poupado, ou o contrario, meu Deus por que o meu filho, e não o filho de beltrana. Eu sei que horrível dizer isso, mas confesso que pensei algumas vezes. Quantas vezes nos surpreendemos com alguns comentários de pais sobre os fihos, e nos perguntamos, por que comigo pai? No dia mesmo que esperava a liberação do corpo do meu filho, haviam dois pais no IML maldizendo os filhos que estavam fazendo identificaçao para serem custodiados ao reformatório. E eu daria tudo pelo meu.

Quando ouço o slogan das Deboras que defendem que maes de joelhos (intercedendo e orando pelos seus filhos) para que eles fiquem de pé. A gente não imagina que coordenando um grupo desse e intercedendo pelos filhos, a morte, a desolação e a perda bata nestas tendas. A gente pensa assim, na minha tudo bem sou uma pobre mortal, mas na dela Senhor, ela levou a serio seu chamado. E ontem mesmo lembrei de meu pastor ao me consolar falando de um pastor que perdeu o filho, na época de lá da igreja e ele mesmo fez o culto de açao de graças pela vida do filho. Para mim é como pai medico que perde filho na mesa de cirurgia, como pai socorrista que não consegue salvar o filho, etc.

Escrevo hoje de frente para o mar, contemplando a natureza perfeita de Deus. O mar verde, calmo, tranquilo, como um dia já foi a minha vida, e como a de Larissa foi ate ontem.

A morte de nossos filhos agita nossas águas a ponto da ressaca do mar esvaziar toda a nossa água. É a sequidão da qual tanto falo. Olho em volta e vejo tudo que Deus construiu, uma sincronia tão perfeita da natureza, mas não me conformo com essa finitude pontual. Nao que seja imperfeito a criação de Desus, mas o nosso processar sobre ela sim. 


Olho as águas tranquilas e penso no maremoto que desce dos olhos de larissa nesta hora, e amanha de Sonia, 11 meses sem Vinícios, e nos dias que se passam e que ficam marcados nao só nas folhinhas mas em cada cravejada da saudade que dilacera nossos corações.

Penso nestas águas, e sonho com o dia em que o rio de aguas vivas flua novamente em nossas vidas, nas vidas de todas as maes que mesmo nao sendo Deboras, intercederam por seus filhos e mesmo assim, eles nos foram tirados tao precocemente.

Queria acabar hoje ouvindo aquela cantiga para me ninar....

Um louvor...que diz assim: existe um rio Senhor, que flui do Teu grande amor, águas que curam feridas...quero beber do Teu rio Senhor, sacia minha sede, lava o meu interior....

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

SEM SENTIDO

As vezes a vida nos trás tantas surpresas e dentre elas continuar a andar sem você foi a maior de todas.

Sabe quando não respiramos mais, quando o sol escurece a lua não tem motivo para brilhar, o mundo perdeu a cor e a gente continua respirando sem saber o porque? Pois é a expressão sem sentido chegou e só agora sei perfeitamente o que ela significa.

Sem sentido significa alem de tudo que perde o significado para gente no mundo, sem sentido refere-se a nossa incapacidade de perceber sensorialmente o que acontece a nossa volta.

Novos sentidos começam a despontar...todavia, continuamos sem sentido a tocar a vida.

Hoje discutindo com duas colegas de trabalho que perderam recentemente seus parente, e uma delas era o filho, percebemos que sem sentido pode ser uma expressão do luto, uma performance dele. 

Ele surpreende de forma tão absurda o nosso mundo interno e externo que nos deixar fora de órbita é uma garantia de nos deixar vivos, porque sinceramente quanto mais o tempo passa, mais sem sentido eu fico.

Meu sentido era sentido através de você...meu filho.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

EM MEU REDOR

A vida parece estar encontrando seu caminho para fluir. Vou ao trabalho, sem o menor estimulo. Ja como, pelo menos a ultima refeição do dia sem problemas, aos poucos a auto-estima sem exagero tem dado conta de que não se foi. Ja tento cores, ja tento cheiros. Ja rio em fotos. Ja quero mar. Ainda não dá para querer cinema, lasanha da baviera, shopping Jardins lotado, praia em Aracaju, tampouco o Saco.

Também não dá makes, e as camisas de Rafa ainda são obrigatorias para diminuir o peso da saudade.  Mas apesar da vida gritar aqui dentro e tentar por si mesma se levantar, quando invade a madrugada e o sono não chega, porque ainda não dá, ainda não durmo antes das 3 e meia ou quatro e meia, nesta hora em que sou eu, sua falta e os barulhos da madrugada, eu olho em meu redor.

Em meu redor, vive a solidao, a tristeza e a angustia. Tem dias que eles recebem a liberdade condicionada e dão uma volta na cidade, mas voltam a cela do meu presidio interior para apresentar suas identidades.  Nao precisam me dizer como foi o dia, mesmo que elas fiquem distantes, parece que sei de olhos fechados, tudo que são capazes de fazer.

Quando me sinto sozinha, apesar de cercada de gente, inevitavelmente te procuro em mim. Te busco em minhas entranhas, nas profundezas da maternidade instintiva, te procuro sentir, te procuro esconder, te procuro deixar em algum lugar em que meus olhos não precisam de ver, mas que meu corpo te percebe em todo meu mundo.

Em meu redor, por mais vazio que tudo possa parecer, eu te sinto, eu te meço, eu te amo.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

SEPARAÇÃO

Tenho a sensação de que está acabando nosso tempo de separação.  

É como se de repente toda essa distancia se dissipasse, e num descortinar dos olhos, nossas faces se tocassem novamente, e num abraço de encontro, poríamos termo a nossa despedida.

É uma vontade desmedida de voltar, de voltar ao passado, de voltar a você, de me buscar em você.  E a sensação de te encontrar em breve, não significa passado, e sim presente, e mais futuro.

Romper a escuridão que se abateu em nossa estrada e de seus olhos iluminar cada passo da chegada, cada estrela da estrada com o clarão de seu sorriso.

É chegada a hora do abraço, do beijo derradeiro que nunca acaba, do apelo de mãos que se desejam e se buscam entrelaçar-se sem fim.

Buscar teu riso, ater-me em seu viço, enroscar-me em teu charme e rir, rir, rir da  morte, pois estamos vivos e JUNTOS.

Joguei fora vários medos, e contei-te meus segredos mais contidos, e por isso me achará, saberá em que gaveta sua eu me escondo, e sabe que você se espalhou em minha estante e se apossou da poltrona de descanso no assoalho de meu coração.  

Balance filho, empolgue-se e espere-me...falta pouco. Sinto assim. Breve, até breve. E até lá, sigo tocando...essa separação.




segunda-feira, 27 de agosto de 2012

UM PASSO PARA FRENTE E DEZ PARA TRÁS

Um passo para frente e dez para trás. Acho que é assim o processo do luto. Não sei, acho que nos lutos dos filhos sim.  Ontem eu não cabia em mim de felicidade, afinal estar cercada por pessoas tão importantes para nossos filhos e que demonstram um carinho grande por nós e por eles, ainda é a melhor forma de consolo, pelo menos por enquanto tem funcionado para mim, eu amo estar entre eles, os amigos de meu Xeberel, parece que o sinto mais perto, por mais que doa quando me afasto.

Mas tem o dia seguinte. O dia do vazio de novo. O dia do silencio em casa. O dia da nostalgia. O dia sem cor, sem som, sem risada, sem cheiro. Ah! os dias de saudades apertadas no peito. De pressão 19x13. De insonia madrugada à fora. De percorrer os espaços, ouvir vozes interiores que te lamentam a ausência, e te procurar em cada canto da casa e não te achar.

Hoje foi meu dia seguinte. Dia de sentir raiva, raiva de mim que não te impediu de partir, de sentir muita raiva porque você não está aqui, como se você tivesse tido a chance de escolher partir.

Um dia disseram que a gente escolhe morrer, e eu morri de raiva, porque se você tivesse escolhido me deixar sem você, eu não suportaria ouvir de sua boca essa escolha. Ainda bem que não penso assim.

Acho que luto também é isso. Sentimos raiva porque vocês partiram. Como ousaram desobedecer desse jeito, e ir embora sem a permissão da gente, seus pais, porque se pedissem de fato, acho que não daríamos, não importa se estavam sofrendo aqui. Pai e mãe, achariam um jeito de suplicar, clamar, barganhar, implorar a Deus mais uns dias de vocês. Daríamos as nossas vidas por isso.  Mas vocês insistiram e fizeram escondido, nem nos perguntaram, apenas foram.

E a gente faz o que agora? Estou andando em círculos. Ou um passo para frente e dez para trás.

Esse universo de pais sem filhos é muito maior do que o que imaginamos. Nem cabe na minha cabeça a quantidade de dor se pudéssemos somar todas as mães e pais que choram filhos.

Nem é suportável no mundo esse choro de dor, acho que por isso andamos assim, um para frente e dez para trás, porque se marchássemos no mesmo compasso e sempre adiante, o mundo não suportaria nossos dias seguintes.

Somos elos de uma força e de uma dor que move nossos corações a dar apoio uns para os outros, enquanto um festeja outro chora e ali adiante trocamos de posição. Festejamos coisas tão simples, e as vezes banais para o mundo.

Contamos com glamour qualquer sonho que temos em que seus nomes são pronunciados, e se os vemos nos sonhos, quase proclamamos feriado nacional, aí tem a hora da escassez dos sonhos, nos sentimos preteridos, como se um sonho nos colocasse num patamar espiritual e emocional diferenciado.   Quantas vezes com vocês aqui, sonhávamos e sequer comentávamos. 

Cada palavra dita ou publicada a respeito de vocês, mesmo sendo coisas que já estamos carecas de saber, tipo quão lindo, ou esperto, ou inteligente, ou gente boa vocês eram, nos fazem repetir e ecoar dentro da gente e fora também, como se gritar ao mundo quem vocês foram, fizesse com que vocês ficassem mais tempo conosco.

E choramos basicamente pelas mesmas coisas. 

Um passo para frente e dez para trás. Talvez eu tenha dado dois, no mesmo fim de semana. Talvez tres, considerando fim de semana anterior...mas hoje, andei uma milha para trás, porque é  lá, no passado e na saudade que ainda me encontro e que te acho preso ao labirinto de meu amor enlutado.

HOJE E AMANHA...SEM VOCE.

Hoje, mastigando capsulas de silencio para liberar o grito emudecedor de sua voz longe de minha vida.

Hoje, triturando barras de inercia para fomentar uma corrida desesperadora para o passado, naquele em que te encontro. 

Hoje, engolindo litros de saudades, para tentar suportar a vida sem você. 

Hoje, te encontrar de qualquer jeito, sentar e conversar, de encontro ao vento, como num domingo. 

Hoje, só hoje. 

Por hoje, você, RAFAEL, sempre inesquecível em mim. 

Amanha, por mais que deseje mastigar outra coisa que não o silencio da sua ausência, as capsulas viraram traves inteiras a sufocar a garganta. E não só de silencio, mas de saudades. 

Amanha, tirando de algum lugar desconhecido em mim, uma porção de energia que você me deixou apenas para amanhecer mais um dia e mesmo que lute, olhar para o passado ainda é o único destino que esse combustível faz efeito, porque lá eu te encontro. 

Amanha, um novo dia, mas a velha sensação de olhar para o mundo e não desejar estar nele, e aventurar nas nuvens, no mundo de fantasia, em algum lugar do planeta um jeito de esbarrar em você. 

Amanha sempre uma nova esperança de que isso acabe. Ou que eu me torne uma nova pessoa, que não se importe tanto em viver a fantasia de uma vida sem você. 

Hoje e amanha...meu mundo continua sem você.

domingo, 26 de agosto de 2012

DOMINGO DOS AMIGOS

Hoje era o dia deles. Um mês que não os via, quase.  Vê-los juntos de alguma forma me traz a você. Acho que cada um deles viveu uma experiencia diferente contigo e por isso junta-los é como se juntasse você. Íamos todos para a casa de seu Tio Sidão, mas não deu certo, fiz almoço e ficamos aqui em casa, do jeito que você gosta. Eles se sentiram e se deixaram sentir.


Estávamos em casa, estávamos em paz. Telefones tocam perguntando o paradeiro deles, e falam...estamos aqui na casa de Rafael. Fico cheia filho...eles estão aqui, continuam aqui. Alem deles, sua Tia Lícia, seu Tio Sidney, seu primo, Felipe e ate Boris.  Uma festa, e eu cheia de você.

Chorei ao vim do supermercado. Chorei pensando estou indo comprar as coisas que eles gostam, e voce não esta ali. Não te perguntei que marca gostaria de beber, que  carne, ou que queijo, o que fazermos de sobremesa, como por as coisas na mesa, como isso ou aquilo. Deu-me uma saudade filho. Mas cheguei em casa e fui fazendo o almoço e me acalmando, como se de fato você de alguma forma se fizesse presente, era paz, era força, era a alegria que se anunciava.

O almoço virou sala de amigos no fim de tarde, chocolate, conversas no face, brincadeiras, chegamos a janta. Estávamos em casa. Sentimo-nos em casa, com toda a informalidade que é se sentir em casa. Passamos para a janta, pedimos pizza, rimos mais um pouco. Brincamos muito mais, de volta para a sala, despojamo-nos de tudo e com leveza um domingo em sua casa, seus amigos e lembranças suas.

Dez da noite e mais uma despedida. Eles se foram, e eu a tia mais feliz do mundo porque neles sinto muito de seu perfume. Ve-los crescer e compartilhar qualquer nova azaração, brincadeira, comentário e até os odores...de forma tão natural, ah filho...sua herança me é muito preciosa, obrigada por tudo.

Obrigada Senhor porque Rafa amou e foi muito amado.

Domingo dos amigos, domingo de Rafa.


sábado, 25 de agosto de 2012

SEXTA DA FAMILIA

Ontem foi a primeira vez que meus irmãos voltaram em minha casa para fazermos uma refeição juntos.
Antes era comum, fazer uma almoço ou jantar para os aniversários, ou para testar uma nova receita, estrear uma nova panela, um novo ingrediente, saborear qualquer coisa juntos.  Minha casa, sempre recebia povo da igreja, minhas amigas nas noites de pizza e de vinho, minha família, casais de amigos. Sempre tinha alguma coisa.

Com a partida de Rafa, morreu a vontade.

Mas a vida continua, continuava, continuou. Nesta área para mim ainda não.

Mas de alguma forma, sem elaborar muito, e aproveitando o friozinho que faz esse mês, e com a desculpa de inaugurar uma das panelas de fondue, marcamos.

No inicio só zoação e brincadeira. Sorrimos muito. Mas teve uma hora que a tristeza, o choro, a saudade, a falta e a ausência fizeram parte da noite, e terminou com ela.

Eles falavam da falta, e diziam do tanto que  me entendiam em ter me afastado, em ter me isolado, porque sabem quem era Rafa e o que eu tinha perdido.

Eu não me sentia compreendida por ninguém, principalmente pela família, que assim como o resto do mundo, também julgam. Ate ontem, quando chorando falaram que não sabem como eu suporto, e terminamos a noite. Cheios de saudades.

Amanheci em seu quarto filho, cheia de você. Impregnada de lembranças e sentindo sua falta por todos os poros do meu quarto, mas dizendo, eles me entendem Rafa, e sentem muito, mesmo que não falem nem demonstrem.

UMA BENÇÃO, UMA UTOPIA

Eu tenho uma tia especial demais. Uma madrinha que além de amar, cuidar, se preocupar comigo, fez seu trabalho de madrinha ser extensivo a todos os meus irmãos, e aos nossos filhos.  Tinha um carinho muito grande com Rafael. E na casa talvez tenha mais fotos nossa, do que deles.

No mesmo dia em que Rafa completava 15 meses que havia partido, era aniversario do meu tio.  Em 2010, nos seus 70 anos, estávamos todos reunidos em seu aniversario surpresa. Maioria de minhas fotos naquela festa, são todas com Rafa, e ele estava lindo e a estadia em Juiz de Fora, maravilhosa, minha família toda juntos. Fefe e Rafa dando rolé no comercio, Rafa foi o centro das brincadeiras.

Minha tia sempre atende meu telefone e antes de dizer alô, ele me abençoa. Sou de uma época que se pede benção aos pais, aos avós, aos tios. Peço até hoje, e Rafa também foi criado assim e me pedia benção, e também aos demais parentes.  Minhas sobrinhas que nem foram criadas com a gente, ja sabem que tem que pedir, e já pedem.

Minha tia sempre fala, Deus te dê juízo, ou Deus te abençoe.

Ontem, ela falou Deus te faça feliz...foi a primeira vez que enjeitei a benção.  Como me fazer feliz sem Rafael?  A gente se sente culpada em querer ser feliz de novo.

Sei que ninguém entende isso, mas é assim...feliz...feliz...feliz, hoje é só uma palavra, representa uma utopia para mim.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

15 MESES SEM VOCE





















Nesses quase 15 meses, porque levei uns 08 a 10 dias para processar que usaria apenas as camisas com fotos de Rafa, em todos os meus dias te carrego dentro e fora de meu peito.  Sábado passado, foi a primeira vez que não usei roupa com foto sua, parecia que não era eu. Mas sempre disse que quando esse dia chegasse, que sentisse vontade de usar outra coisa, usaria.  

Hoje, se eu pudesse usava todas as plotagens de uma unica vez, mas não caberia, pela primeira vez estou compartilhando algumas de minhas camisas, algumas de minhas declarações de amor eterno ao meu amado e inesquecível filho.

Acho que a dor tem disso, tem dias que se pudesse ficava quietinha, reclusa, em silencio, imóvel, tentaria controlar o tempo, para-lo em algum lugar no passado, te fitaria por longo espaço, te condenaria a viver sempre ao meu lado e grudaria em tua mão de uma forma que nem a morte me separaria de voce.

Hoje estou assim, esperando a tua mão, o teu olho e o controle do tempo.

15 MESES DE SAUDADES.

REFLETE EM MIM

Reflete em mim...
Seu humor, seu cheiro
seu som, sua cor.
Sua falta, sua ausência.
Minha espera,
minha prece.

Reflete em mim...
seu amor
seu favor
seu cuidado, seu desvelo
sua companhia, sua alegria.
Minha dor,
minha saudade.

Reflete em mim...
seu toque, seu riso.
Seu jeito, seu ritmo,
seu deslumbre, seu desleixo.
Minha angustia,
minha vontade.

Reflete em mim...
Voce...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

POR QUE TINHA QUE SER ASSIM?


Eu fico o tempo todo me questionando o por que? Obvio que nos lampejos mais maduros de minha fé eu tambem pergunto para que? O que quer que eu faca Deus? Por que comigo? Por que novamente comigo, e de ontem para hoje, fico questionando porque eu teria que ficar sem pai, sem companhia e sem filho. E posso garantir que as respostas que me chegam a cabeça são as mais variadas possíveis. E tambem as mais absurdas de todas.

Tenho convicção de que nao sou a pessoa que mais sofro no mundo, mas sinceramente as vezes acho que ninguém me supera das que estao ao meu redor. Tudo acontecer ao mesmo tempo e do mesmo jeito. Absolutamente tudo de vez? Eu desconheço qualquer coisa de minha vida agora. Nem me vejo mais, nem me reconheço, nem sei em que me tornei, nem onde estou.

Mas ha em mim um clamor, uma forca diferente que não e minha, e embora saiba a origem dela, sei que não poderia me indispor a ela, embora tenha tentado por diversas vezes brigar com Deus, imaginando-o sempre o dono do vídeo game que aperta o botao e decide quem continua e para quem o jogo over. Eu continuava, mas meu jogo tinha acabado. Era assim que dizia a ele, ao Homem com o dedo no botão do controle remoto, disparando suas vontades sobre a face da terra. Era criador, cuidando das criaturas, e eu miseravelmente achando que Ele estava tirando de mim, a minha criatura, a minha unica cria. Enganei-me todo o tempo, mas quis passar a ideia de que era enganada.






segunda-feira, 20 de agosto de 2012

HOJE FALTOU INSPIRAÇAO


Hoje me faltou pela primeira vez inspiração para o blog, e a minha postagem do dia ficou engasgada. Não páro de pensar na dor da mãe de Mari, porque pensar na dor dela, é pensar nas nossas dores. Não páro de imaginar todo o processo que a gente tem enfrentado. 

Não páro de pensar em Márcia esperando a liberação de Teteu, mesma circunstancia de Mari, que precisa ser liberada para voltar ao Brasil. 

Não páro de pensar em Anita, em Neide (mãe de Rafa Bispo, o outro meninos que faleceu no acidente de meu Rafa) em Cristiano, em Genisa, em pais que tiveram que enfrentar a despedida com seus filhos ligados a tubos, aparelhos, sendo mantidos a altas dosagens de remedios e lutando contra a morte, como Mari fez na ultima semana. 

Não páro de pensar em  Sonia , em Waleska, em Elsa, em Lurdinha, em Eliane, em Ana Paula, em Rosangela, simplesmente cada mãe que se aproxima nesta dor, por um lado me faz lembrar de minha própria dor e por outro me faz desejar ser mais forte, para andar de mãos dadas e dizer, não é fácil, não será nunca, mas juntos, sempre juntos, falamos de um amor que não morreu, e que nunca morrerá porque aqui podemos nos cansar de falar de nossos filhos, que não cansamos ninguém...

Em dezembro de 2011 eu já tinha esse entendimento do quanto mães/pais que sofrem essa perda, conseguem falar uma língua que o resto do mundo não entende, e se cansa facil e rapidamente em ouvir...escrevi neste dia sobre isso em 

http://cantigasehistoriasparaninarumamae.blogspot.com.br/2011/12/eu-sou-barro-es-o-oleiro.html

Que possamos sentir o trabalhar de Deus em nossas vidas, mesmo que essas marteladas doam e façam estrias na alma, a certeza que nossos filhos estão na Gloria e a nossa unica esperança e força para continuar. Além claro de hoje, sermos importantes não só para a família (a minha era só Rafa) mas para cada um de nós que irmanados pela dor andamos de mãos dadas.

Muita força a todos, fé e muito amor do PAI.

domingo, 19 de agosto de 2012

OUTRA MUSICA


Musica em minha vida. Sempre trilhei a vida ouvindo sons. Os sons do coração. Os sons que embalaram Rafael, os sons de sua ausência. Os gritos do silencio com sua partida e os primeiros sons que voltam a me invadir.


Inicialmente os sons do louvor que esporadicamente são soprados em meus ouvidos e permanecem dias em mim. Atualmente no carro, todos os idas ouço infinita vezes o louvor Quatro Estações de Kleber Lucas.

Neste louvor as duas primeiras partes da música tem sido profecia em minha vida:


Flores de maio, sol de verão

A primavera está chegando

É o fim da solidão

O pardal encontrou casa

E a andorinha ninho para si...

E eu os teus altares.


Nuvens e raios sobre o sertão

Avisa lá que está chovendo

É o fim da sequidão

Diz ainda que a gente

Conseguiu sobreviver à dor

E Deus mandou a chuva.


Fim da solidão, da sequidão conseguimos sobreviver a dor e Deus mandou a chuva. Essa tem sido a saída que tenho clamado, sobreviver, não sentir-se tão só e continuar dependendo do manancial de Deus.


Neste fim de semana, uma música diferente encantou o podium de meu coração. Ainda recentemente entoada, ainda dificilmente entendida, mas vivida da forma mais que esperada, pois anunciará o fim da sequidão.


Em todos os momentos de minha vida pós partida de Rafa, muita coisa quis compartilhar com ele, como fazíamos antes, ouvi-lo opinar, ouvi-lo aconselhar e finalmente ouvi-lo tirar onda de tudo, depois que a chuva passava, as vezes até durante a tempestade ele tinha a leveza de me tirar para dançar no meio do temporal. Sei que poderia dançar com ele hoje, em meio a chuva que molha meu jardim novamente.

O fim do louvor, a ultima parte, fala da chegada da primavera e em seguida do verão...que o sol torne a brilhar... Serão outros raios, e quiçá outras flores, porque as nossas gerberas e nosso lugar ao sol Rafa, isso nunca sairá de minha tez, de minha face e do meu coração.

Primavera e verão no outono

Ou inverno, então 

O Senhor é o meu Pastor 

Na alegria e na dor 

Eu confio em Ti, Senhor. 



Que nesta caminhada...o Senhor continue a guiar meu dançar na chuva, sem você segurando minha mão e nos meus olhos sempre, sempre carregando o brilho de seu olhar e quiça a ternura de seu sorriso a beijar eternamente meus lábios.







sábado, 18 de agosto de 2012

NA MADRUGADA CONTE CONTIGO

Depois que se sonha, é hora de acordar.Hora de perceber que a realidade sonhada é bem diferente da realidade que se vive,e que voce acaba tendo duas escolhas: lamentar-se da dura realidade ou agradecer pelo sonho que viveu.

Confesso que inicialmente acordar de um sonho, deva gerar muitas expectativas que sonhar nos dá, e perceber que era apenas realidade dói demais. Mas o momento seguinte do lamento porque tudo não passou de um sonho, traz um peso maior e uma culpa relativa por se ter sonhado.

Eu vivo varios sonhos ao mesmo tempo, e tenho dado enfase a fase pesadelo, como se eu não tivesse mais a capacidade de sonhar, a capacidade de ser feliz e a capacidade de proporcionar felicidade.

Estranho como a morte tem esse poder de matar sonhos,e os que sobram são sempre ameaçados por esse medo de   sonhar de novo.  Uma vez eu descrevi aqui mesmo no blog, que muitas vezes no meio da risada, eu tinha vontade de esconder o riso. É como se eu não tivesse mais o direito de achar graça nas coisas.

A morte de alguem que amamos,nao leva só nossos sonhos, ou capacidade de sorrir, mas aos poucos de mim, foi tirando a capacidade de viver, de sonhar, de querer.  De querer muitas vezes e muitas coisas, eu acho.E na maioria delas eu quis coisas para suprir coisas que eu nao tinha, fruto tambem da ação de outras mortes na vida.

Esse fim de semana, dormi da sexta para o sabado, e me permiti ser feliz. O que signifca? Nem eu sei, só sei que sonhei.

Chegamos no fim do sabado, e mais uma madrugada se arrastando e aí voce percebe que nestas horas, voce sempre conta só contigo.


UMA LEVEZA EM MIM

O vendaval passou e junto com a ventania, muita coisa se foi.

Agora os escombros precisam ser limpos. Tantos profundamente embrenhados em meu ser, tantos diretamente relacionados a você e outros tão difíceis de serem removidos porque vão tirar de mim não só o que ficou de perna para o ar, mas muito do que vivemos juntos.

É como desarrumar o quarto, ficam as lembranças mas a essência de alguma forma se vai.  Não estarão disponíveis aos olhos, ao toque de minhas mãos. É como ter empacotado roupas para sentir teu cheiro por mais tempo. Elas ficam ensacadas, e eu também dentro de mim, sem você do meu lado de fora.

Ficam as lembranças mas de alguma forma o peso também precisa sair. Você não pode ser pesado, sua ausência sim, sera sempre, mas você não.

Como posso não perceber que me quer bem, não porque sofra com meu sofrimento ou ande preocupado com minha dor, afinal que filho que foi o filho que você foi, não sentiria isso tudo, mas me cansei de debater diante da dor, porque ela não vai desistir de doer, é como desistir de mim, e não posso por você, por nós.

Agora vejo uma mãe num programa de tv, falando dos 22 anos sem o filho único, famoso cantor vitimado nos anos 90.    E ela diz que cada carinho que recebe das pessoas sente como se fosse o carinho de seu filho.

Pois é filho, ainda sinto seu carinho, preciso sentir e buscar sua leveza de encarara vida, uma leveza em mim.

"Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu

O nosso amor a gente inventa"

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

LEVANTAR NOVAMENTE

Hoje recebi um e-mail de uma pessoa muito importante para Rafa, e nele a pessoa dizia, há que levantar-se outra vez.

Há que ter outro projeto, um novo, um objetivo.

Há que fazer por ele, tentando viver, tentando retomar a vida.

Há que continuar.

E sobre a dor a pessoa diz. Continuará. Ali sempre, permanente.

A diferença é continuar, MESMO SEM ACREDITAR.

Continuar sem acreditar? Não sei fazer isso, e quando me deparava com situações desse jeito. Continuar sem acreditar, tinha um serzinho do meu lado que acreditava sempre que me faltava visao e fé. Sem ele, tudo tão aparentemente escuro, e ter que continuar sem acreditar.

Hoje vivo uma nova historia. Uma historia diferente nunca pensada ou planejada, e assim como o resto da minha vida sem Rafa, apenas vivo, sobrevivendo as tempestades e as vetanias do caminho.

Levantar novamente. Esse pode ser o objetivo de vida. Ainda não para um foco, mas levantar apenas. Só e simplesmente isso.  E quando de pé estiver preciso voltar a acreditar, porque a vida com Rafa era sim. Acreditávamos, acreditamos e sei que ele ainda acredita em mim. É uma convicção, que depende apenas de um esforço maior para virar um sentimento.  Sentir que ele ainda acredita em mim.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DOR DE MÃE SEMPRE DÓI DO MESMO JEITO

Por mais que me esconda, sempre me acham. Mesmo assim, continuo preferindo me esconder.  Foi a forma que encontrei para não falar com o mundo, e para me proteger dele.  Prefiro o silencio, prefiro o ostracismo, prefiro a solidão, prefiro não ser vista, não ser cumprimentada, não ser indagada, etc.

Mas agir assim e viver em sociedade fica cada vez mais difícil.  Não posso e não tenho o direito sobre a vida do outro, exceção de pessoas que ficam muito próximas de mim, a essas pessoas eu sempre me sinto a vontade para dizer hoje não e hoje sim, sem me sentir mal em ser e agir de acordo com o que sou e sinto.

Então, hoje no trabalho fui visitada por uma colega que perdeu seu filho ha 06 meses, e eu soube do ocorrido, há uns 40 dias.  Ela chegou diante de minha mesa, e obviamente que eu estava olhando as fotos de Rafa (passo o dia olhando e buscando trazer a memoria nossos momentos), não é que não tenha com o que preencher minha cabeça, é que minha cabeça esta preenchida com isso.

Assim que se aproximou disse, deixe eu te dar um abraço. E levantei e nos abraçamos silenciosamente. E em seguida ela me disse, eu me preparei para isso, fiquei 31 dias no hospital, ele entrou em coma no dia anterior, e você não.

E eu respondi, acho que não fulana. Acho que não se prepara uma mãe para perder um filho. Não sei o que é mais doloroso, se é enterrar de vez, sem aviso prévio, ou ver morrer aos poucos todos os dias e não poder fazer nada.

Naquele abraço apertado e silencioso, vi passar pela minha memória, todas as mães que eu tenho abraçado pessoal e virtualmente, e com um entendimento maior, percebo que independentemente do que nos separou de nossos filhos, das circunstâncias em que eles nos deixaram, da idade que tinham, ou de quem somos, a dor é sempre a dor de uma mãe que perde a coisa mais preciosa que temos.

Não importa se 10 ou 100 filhos. Não importa se mais ou menos carinhoso, mais ou menos organizado, mais ou menos chameguento. Não importa absolutamente nada, porque a dor é quem vai nivelar o que sentimos ao perder, e isso só pode ser expresso pelo amor. E a gente ama incondicionalmente. E se não medimos amor de mãe quando estamos com filhos vivos, não podemos medi-lo quando eles se vão.

Ali em pé enquanto a ouvia, eu dizia Paizinho, toma conta de Neide, mãe de Rafa Bispo;  Márcia, mãe de Teteu; Anita, a mãe de Ricardo; Sonia mãe de Vinicius, Claudia Mara, mãe de Andre; Lurdinha, a mãe de Kelly ; Vera, a mãe de Walmir; Walesca mãe de Jessica; Ana Paula mãe de ; Elsa mãe de Fabio ; Eliane, mãe de Raquel  e de um pai, Cristiano, pai do Renato. 

Naquela hora, naquele abraço, eu queria todas as outras mães e pai comigo , e na hora que minha amiga alisa a foto do meu filho em minha camisa, eu desejei que todos nós pudéssemos mais uma vez alisar nossos filhos, mais uma vez.

Dor de mãe sempre dói do mesmo jeito: dói para sempre.



terça-feira, 14 de agosto de 2012

EU MINTO


E se eu disser que não choro ainda, minto;
se disser que não penso mais, engano;
e se disser que desisti de conversar, dissimulo;
e se disser que ainda sonho que volte, ainda espero abrir a porta,
ainda espero o beijo na testa e o abraço que me tira os movimentos dos braços...
pode acreditar Rafa, porque é assim que fico toda vez que o dia cai e
escurece novamente dentro e fora de mim...

E se eu disser que estou me virando, minto;
e se eu disser que tenho esperanças, iludo;
e se eu disser que faço planos, ludibrio
porque ainda vivo a juntar os destroços de sua partida
e nesse caos ainda não espero, planejo ou tenho expectativas,
eu simplesmente sobrevivo.

E se eu disser que vai melhorar, nem eu acredito;
se eu disser que acho que vou ser feliz novamente, nego em seguida;
se eu disser que era o melhor para nós...
eu me acho a pessoa mais boba do mundo que precisa 
reafirmar essas coisas apenas para suportar a sua ausência.

E se eu disser que vai passar...
é que eu aprendi a mentir.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A VIDA DEMORA A PASSAR

Depois de 14 meses, precisei ir em Natã. Uma pequena mercearia aqui perto de casa, único lugar onde essa hora venderia água de coco, caso contrario, teria que ir na orla, e ainda é um lugar muito pouco frequentado por mim.

Vesti a cara da maior indiferença, peguei a coragem pelos cabelos e me fiz de forte. Desci e pedi, 03 cocos.  Afinal, se não levasse os cocos a promessa de ir para urgência poderia se concretizar, e era tudo o que não queria era enfrentar o espaço hospitalar hoje.

Assim que pedi, Natã falou, minha amiga por onde andou eu tinha perguntado a um monte de gente por Rafael, manda ele aparecer que a gente esta com saudade, gosto demais de seu filho, um menino bom danado. A gente tem saudade, ele é amigão de meu menino, aquele dali (aponta para o menino) e nem me deixa falar, e emenda, achei que vocês tivessem se mudado, ou viajado porque a senhora viajava muito e Rafa sempre perguntava se que queria alguma coisa se fora porque falava com a senhora para trazer, ou pensei que vocês tivessem morando em outro lugar.

Como eu fiquei ou me senti? Completamente sozinha porque a indiferença e a coragem ao ouvir o relato partiram em retirada, e eu hoje, não conseguiria dizer nada , apenas que eu também tinha saudades.

E Natã diz, tem o que uns seis meses que vocês não aparecem, mande ele vir aqui, a gente gosta demais dele.  E eu simplesmente disse, não. Tem 14 meses, 01 ano e 2 meses que Rafa não aparece, porque ele faleceu.

Preciso dizer o resto? Não...só que amanha assim que entrar naquele corredor abençoado do trabalho, tem sempre o mesmo servidor que me aponta para quem ele tiver conversando e diz...essa colega ai coitada, perdeu o filho um dia desses. Já é a quarta vez que o ouço falando...hoje eu queria ele em Natã, antes que eu tivesse descido ele bem que podia ter apontado e resolvido tudo. Simples, assim, como o mundo faz parecer.

Tenho dito que a vida demora demais a passar, a menos que você ame. Mas caso resolva amar alguém que já não está aqui, nesta vida, apesar do seu amor, a vida vai demorar a passar do mesmo jeito.  Ela, a vida, ou mesmo a morte, elas se arrastam dentro e fora de você.

Tinha que ter sobrado alguma coisa inteira, contínua, alguma coisa com princípio, meio e bem depois o fim.  Só me restou o fim ...e cacos de mim.


domingo, 12 de agosto de 2012

DIA DO PAI

Ontem machucava e hoje ainda dói. As duas da manha, seu quarto era meu refugio, sua cama acalentava meu choro. Teve uma hora que não. Nada o segurava. Tempestade de lamentos, era único Deus, era meu único.  Não é mais meu, é só Seu agora.

Essas frases eclodiam em mim e levavam um rio de lagrimas e de dor.  

No meio da dor, a postagem anterior Meu único filho, meu filho único, você levou.

Num momento, eu estava tão forte, tão esperançosa, tão feliz em compartilhar a dor e a saudade com outros corações enlutados, no momento seguinte, tão solitário, tão meu, tão exclusivo lamento de dor que não pode ser compartilhado, é só meu, assim como o filho.

Manual, eu queria um. As vezes parte da palavra de Deus é soprada em meu ouvidos...ontem era sobre  os mansos de espírito, eu de mansa não tinha nada. Eu era revolta pura, eu ontem era ira. Era vazio, era nada.

Adormeci em sua cama Rafa, as cinco da manha, sem saber quem era eu e quem era a dor. Estava ali cansada, e dormi do jeito que estava, ouvindo a mesma música...perdida estou sem Ti...esse é o meu respirar...pai eu te amo...preciso de Ti.  Doía respirar...doía estar ali.

Tem horas que abraçar todas as suas camisas penduradas no guarda-roupa segura meu choro sufocado, hoje não segurou.  Nem sei o que segura.  Mas estava tão sufocante, que nem todo o procedimento de apagar e só acordar quando o dia dos pais passasse deu certo...estou acordada e ativa, como a dor de não te ter, de ver você saindo e dizendo mãe, beijo, feliz dia dos pais, vou almoçar com painho.  Ou quando você durante a semana já dizia, coroa vai rolar aí um dinheirinho para comprar o presente de meu pai, ou vai estressar?  Eu sempre estressava, não era filho? Sempre dizia que você tinha que economizar do seu dinheiro, e se no dia das mães você pedia a ele. Eu sempre complicava sua vida. As vezes cedia, logo no início eu sempre cedi. 

Mas você cresceu e eu queria que aprendesse o simbolismo de presentear. Passamos as cartas, aos cartões.  Você sempre comigo comprando os presentes do povo daqui de casa, seus tios, seu avô...e quando ia comigo, ainda mais novo levar flores para meu pai, e todo o seu interrogatório sobre morte e saudade. Apesar de não ficarmos juntos nos dias dos pais, você de alguma forma estava comigo.  

Lembro de um dia dos pais que por conta de sua escolha em ficar do meu lado, deixou de estar com o seu pai, e de quanto o ferimos por conta de minha escolha, perdão filho. Sustentei o seu choro na época e te pedi perdão por ter provocado tudo aquilo, se soubesse que te teria tão pouco, nunca teria embarcado. Perdão filho, só a você todos os dias preciso pedir perdão. 

Pois é filho, tudo que a gente conversava sobre saudade e morte, sobre a distancia de meu pai e sobre a certeza do amor, hoje é muito maior, nem se aplica a filho, a saudade de pai parece que tem uma conformidade, eles sempre deveriam ir primeiro que a gente...mas filho primeiro que pais, ah filho...meu único filho, meu amado filho, isso nunca vou entender.

Sabe quando eu digo que você foi meu pai, meu amigo, meu filho, meu irmão...pois é filho, hoje dói, você me protegia e fazia meu dia menos ruim...porque você estava feliz com seu pai em seus abraços. Hoje sei da tristeza dele, lembro de nossos dias dos pais na escola, nossa alegria em te ver fazendo as tarefas, é disso que lembro quando penso em seu pai, e lembro do meu, ao pedir que ele de alguma forma possa ser avô.  

sábado, 11 de agosto de 2012

MEU ÚNICO FILHO, MEU FILHO ÚNICO, VOCÊ LEVOU

ERA MEU FILHO ÚNICO.

MEU FILHO, DEUS.

MEU ÚNICO FILHO.

MEU FILHO AMADO.

MEU AMADO FILHO.

DEUS, MEU FILHO ÚNICO.

MEU FILHO, SENHOR.

MEU ÚNICO FILHO.

MEU FILHO, DEUS

TAO AMADO.

TÃO ÚNICO.

TÃO MEU.

AGORA SÓ SEU.

VOCÊ LEVOU MEU ÚNICO FILHO DEUS.

MEU FILHO ÚNICO,

QUE DOR. QUANTA SAUDADE.

QUANTA DOR.

MEU FILHO ÚNICO.

MEU ÚNICO FILHO.

MEU AMOR...HOJE  SÓ DOR.

MEU ÚNICO FILHO,

VOCÊ LEVOU DEUS.

PAZ SEM PAI

Como sempre prefiro ir a última morada, em dias e horários que não tenham muita gente. E em datas próximas a fatos marcantes do pai de Rafa, eu faço questão de me antecipar, é como quando eu o preparava para quando ele fosse passar o fim de semana, ou viajar nas férias escolares ou feriados com o pai. Eu gostava de que ele se mostrasse muito bem, alem de dizer olha ele está sendo cuidado, dava um certo conforto em não ser recomendada por nada.

Hoje não é essa a preocupação, mas de certa forma, é se for lá, ele não vai ver abandono, eu continuo cuidando. Se ele for lá, basta o sofrimento por ir, não quero que esteja vazio ou apenas limpo, quero cor, quero um pouco de vida, de palavras, de amor, porque foi o que sempre demos ao nosso filho.

Levei as mesmas rosas amarelas, sempre simbolizarão o que tenho de mais precioso por Rafa, um amor a um amigo inesquecível, muito mais que filho, amarelo simboliza a alegria dele, e a energia que ele tinha. Eu sinto tanto a falta disso tudo aqui em casa. De movimento, de barulho, de vida, as vezes as cores daqui de casa me incomodam, mas as mantive, talvez ate a tenha tornado mais colorida, só por sua conta.  Depois, coloquei nossas gerberas, lembro sempre da gente olhando cada botão que abria. Sei que deve ter flores lindas quando nos encontrarmos novamente e tomara que dentre elas nossas gérberas....

Mas uma coisa me incomodava hoje, porque ano passado a dor desse dia, véspera do dia dos pais era tão grande, mas impossibilitada de vive-la com plenitude, para proteger minha própria vida preferi sumir. Hoje ela, a dor, continuava aqui e sumindo ela não se dissiparia, então enquanto tive forças apareci...transpareci.

Assim que perdi meu pai...levei anos a fio para sentir paz em relação a viver sem ele, e confesso que em muitos momentos ainda sinto a falta e é para o colo dele a vontade que tenho de correr primeiro, seja com noticia boa ou ruim, ao longo de todos esses anos esperei seu colo, seu conselho, seu carinho e sua companhia.

Nos primeiros 10 anos sem meu pai, alegria nunca era completa. E olhe que minha mãe se empenhou. Outro dia ela me perguntou aqui em casa, numa terça-feira há umas quatro semanas atras, o que tinha mudado quando ele partiu para gente, se referindo certamente a parte econômica, acho, porque a emocional, ela nunca conseguiu suprir, embora ache muitas vezes.  Mas minha mãe tem pais vivos até hoje, não vai saber nunca a falta que um pai faz a filhos de 12, 09 e 01 ano de idade, mesmo 27 anos depois.  E também não sabe a falta que um filho faz a um pai que sobrevive a sua morte. O pai de Rafa, hoje sabe.

Mas Rafa chegou e a alegria de perder pai foi compensada de certa forma em poder fazer de alguém pai de meu filho.  Obvio que quando se concebe com amor, quando se cria uma família no amor, e fomos assim um dia, e Rafa foi fruto disso.  E nesse celebração ao amor, Rafa trazia para nossas vidas uma alegria que eu já havia perdido, e a vontade de comemorar tudo de novo: Natais, festas juninas, aniversários, etc.  Rafa teve essa função em minha família, e com mais força ainda com minha separação, porque minha família aumentou, nós voltamos para casa. E de certa forma, mesmo sem pai eu tornei a ter paz.

Hoje, paz sem pai e pai em paz...esbarra na tristeza de ter entregue meu filho ao PAI.



sexta-feira, 10 de agosto de 2012

E AINDA PODE FICAR PIOR

Eu sempre discordava disso. Achava que pior não pode ser, mas sempre pode. Eu podia não ter do que me lembrar, não gostar de lembrar, poderia não ter uma série de registros que hoje me fazem bem em relação a Rafa ou podia ser só reclamação a ponto de eu não querer lembrá-lo, afinal já ouvi tantas mães e pais maldizendo suas crias e desejando-os não os ter, que eu podia muito bem ser uma destas.

Podia ser pior ainda, eu podia não ter certeza de onde Rafa está, ou podia não ter a esperança da salvação e do reencontro, ou ainda eu podia querer que ele tivesse aqui simplesmente sem querer medir ou pesar o significado de sua morte e de sua permanência em Cristo, confesso que muitas vezes penso e ajo assim, mas se tivesse que escolher entre a salvação dele e estar com ele, não teria dúvida, mas podia ser pior.

Quando eu lembro daquele dia, ali desde o recebimento da possível notícia, até deixá-lo de vez naquele lugar, eu lembro que muitas vezes em meu silêncio e nas minhas conversas íntimas com Deus e com ele, eu jogava o jogo do feliz, que tinha lido em Polyana, quando ainda era bem jovem.  Hoje eu penso e foi a forma que eu achei para o em tudo dai graças. Porque eu comecei a dar graças por ter um corpo, e podia ser pior se eu não tivesse.

Depois eu agradeci poder vela-lo e ele estar inteiro, quantas não podem beijar seu filho antes dele partir? Agradeci também por ele ter conhecido a Deus, por amá-lo, por na semana anterior ter louvado em minha casa, podia ficar com muito mais duvida do que tive naquela hora, e podia ter demorado mais tempo para reagir as coisas absurdas que nos dizem naqueles momentos tão dolorosos, e falam em nome de Deus (misericórdia).

Agradeci ainda ter dito tantas vezes naquele mesmo dia o quanto o amava, ter agradecido no culto do domingo a vida dele, o quanto eu era abençoada por aquele filho e mesmo com o coração tão apertado no fim do culto e inicio da madrugada, eu vi que podia ficar pior, e ficou.

Ainda assim, dias depois eu disse, é melhor sentir tudo logo, não deve existir dor maior que essa, de fato acho que não existe, mas ele ainda piora, piora com o tempo, piora com os dias, e ainda pode ficar pior, porque ela não passa, cada dia me convenço que a gente é que tolera de formas diferenciadas sua presença, mas amenizar ou diminuir, ainda não.

Essa semana eu achava que não podia ficar pior, 21 dias de retorno, 03 vezes neste período com regras mensais, uma indisposição e uma absurda falta de concentração. Terça-feira, muito pior que a sexta ou o sábado passados, onde a tristeza arrebentou um pouco da cerca que eu já havia começado a construir.  Terça estava ruim, ainda ficou pior.  Não bastasse a nossa dor, lidar com a dor do outro.

E podia ficar bem pior...e ficou. Você olha para o lado e as pessoas agem como se nada, absolutamente nada tivesse acontecido. A morte pode ser a coisa mais natural do mundo, mas me dizer que lidar com ela é normal...não. Isso faz com que ele se torne muito pior, e as pessoas que assim a veem também.