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sábado, 30 de junho de 2012

JUNTANDO TUDO O QUE RESTOU

Tem dias assim, que precisamos juntar tudo que restou. Juntar todas as lembranças, juntar todas as saudades, juntar os sonhos realizados, juntar num lugarzinho mais afastado aqueles que não realizamos, juntar os amigos, juntar as historias, juntar os gostos e os cheiros e depois de tudo reunido, arrombar a porta do mundo, com toda essa bagagem para impedir que o mundo te engula vazia como você se sente.

Parece um dia normal, as pessoas te veem com normalidade, afinal ela saiu, ela se cuidou, ela esta ótima, ela ri...e só você sabe de tudo que você juntou naquele dia para sair de casa e mostrar a cara ao mundo.

Mas a normalidade do dia termina porque você precisa deixar sua arrumação, o ajuntamento de coisas que você fez, para ter forças em algum lugar, porque você não suporta carrega-la deste jeito. 


Uma coisa é quando a  saudade faz parte da gente e nos dirige para onde quer, outra coisa é quando você tenta dirigi-la, tem coisas que você ainda não tem o controle e o comando, pelo menos eu ainda não os tenho.

Nestas horas, em que o peso da saudade como escudo exige que eu ponha tudo no chão e volte a ser eu,  e ser eu é nada mais que ser aquela que ainda briga com o mundo para não ser engolida pela saudade, enlouquecida pela falta ou abatida pela dor, nada como voltar para casa e aqui não preciso ser nada para ninguém.


E nestas horas, sou apenas a mãe de Rafael, e não preciso exercer mais nenhum outro papel, porque ainda estou juntando-me em tudo que restou.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O CÉU FOI UM CONTO INFANTIL


Quando meu pai faleceu eu tinha doze anos, e não tinha a menor noção sobre a maioria das coisas da vida, apesar de achar, naquela época, que eu sabia o que significava pelo menos o significado de palavras como "mais nunca" e "para sempre". Até algum tempo depois do falecimento de meu pai, que essas palavras, nunca e sempre, passaram a ter outro significado.

Hoje foi um ida peculiar, tentei me fazer de forte e invadir a praia do Saco exigindo que as pessoas que testemunharam mentirosamente se retratassem no processo, mas minhas forças terminaram nas cinzas das primeiras fogueiras de São Pedro, que encontrei pelo caminho. Mas percebi novamente o que era nunca e sempre.

Enquanto toda a cidade, quiçá o nordeste comemorava esta data no dia 28, em minha casa a festa era dia 29, porque meu pai aniversario dia 30 de junho. Lembrei de nossas fogueiras, verdadeiras toras de madeiras resgatadas na caatinga da fazenda, que ele mesmo trazia no fundo da caminhoneta na semana anterior.

Naquela semana parece que tudo era festa em minha casa. Tínhamos mais fogos do que no Sao Joao, as comidas perfeitamente cuidadas por minha mãe, mesa farta, casa cheia, amigos de meu pai da época da escola, filhos todos juntos em alguns anos tínhamos o privilegio de meus padrinhos, tios paternos e meus primos. 

Meu Deus quanta saudade daquele tempo, em que eu nem sonhava sofrer desse jeito, em que o mundo tinha cor, cheiro e som, e uma alegria. Tinha anos que meu pai tirava a barba, e eu amava ele sem barba e bigode e meu beijo no olho, era assim que nos cumprimentávamos, era só meu e dele esse carinho. Meus irmãos não tinham isso. Tentei perpetuar esse comportamento com Rafa e falava sobre isso, mas Rafa um dia disse que não, que era só meu e de meu pai, ele queria um novo, e tínhamos nossos estalos nos ouvidos, e nosso beijo na testa.


Lembro do cuidado de meu pai, buscando a brasa na fogueira para que eu acendesse qualquer coisa, ele intervindo em minhas brigas com Sidney pelos fogos, ele rindo e se divertindo com os amigos e ele e minha mãe felizes. Era uma alegria tão diferente entre o aniversario de meu pai e o de minha mãe. O de meu pai, as vezes sem família alguma, a dele fora e a dela nunca comparecia, mas não fazia falta, na época eu não sentia. E os aniversários dela sempre cheios de família e com falta de alegria. Até que ficássemos nós quatro novamente, nesta época não tinha Fefe, e meu pai sempre a surpreendia, pelo menos é disso que lembro. Parece que depois de 27 anos quase de seu falecimento, são essas coisas que ficam para sempre. 


Meu filho não conheceu meu pai, e quando era pequeno sempre perguntava sobre ele, como era,   o que fazia, tinha necessidade de saber como ele tinha falecido, e eu nunca consegui falar toda a cena que eu vi, vendo-o morrer ali na minha frente. E eu sempre levava a conversa para falar sobre céu, afinal é assim que ensinamos as crianças, aliás é assim que nos ensinam, ate hoje me dizem que ele virou anjo e está me protegendo lá no céu.


Quando falávamos de céu, Rafa me perguntava como era e um dia eu disse que era um lugar maravilhoso e falei das ruas de ouro e tudo que se fantasia também sobre o céu, e Rafa disse se o céu é o melhor lugar do mundo, tinha que ser igual a casa da bruxa da historia de joão e maria, e eu atônita meu Deus casa de bruxa não filho, ele não mãe é só a casa sem a bruxa, porque se ela estiver no céu é porque ela virou boazinha, mas é tudo de bala, pirulito, doce e chocolate, e todo mundo bom, todo mundo é amigo de todo mundo lá. Então a gente parava de falar em morte e Rafa estava discutindo o que era para sempre, viver para sempre.


Hoje filho, você e meu pai, os grandes homens de minha vida, desfrutam o viver para sempre. Voltei para casa, hoje não era dia de fazer ninguém na praia do Saco falar a verdade à força, hoje era dia de mesa farta, amigos reunidos, celebrando a vida e agradecendo desde a véspera mais um ano de vida. Isso me fez lembrar novamente que nunca mais nesta etapa física vou ver meus amados pai e filho, mas que sempre, sempre vou ama-los.


Lembrei de quando entrei na sala de parto, depois que eu, minha mãe e o pai de Rafa lemos um verso bíblico, assim que fiquei sozinha pensei em meu pai, como gostaria de te-lo ali, e de dividir com ele a alegria de apresentar seu primeiro neto, do mesmo jeito que desejei ter seu colo na hora de devolver Rafa para Deus, mas ali no sepulcro pensei, meu pai toma conta de meu filho por aí, ele morria de curiosidade de conhece-lo, e chorou muitas vezes comigo essa saudade. 


Se o céu de Rafael fosse real, cheio de doces, hoje bem que o banquete poderia relembrar nossos aniversários e Rafa desfrutar um pouco de seu cuidado e de seu amor...foi um desejo meu que não durou para sempre, mas tempo suficiente de entender mais uma vez o que significa nunca.



 Eu e painho, uma de nossas ultimas fotos...eu tinha 11 p/ 12 anos.




Eu e meu filho, uma de nossas muitas fotos em festejos juninos...Rafa tinha 11 p/ 12 anos. Junho/2005.



quinta-feira, 28 de junho de 2012

QUEM ERA VOCE

Hoje, me perguntaram como você era, e eu queria ficar ali falando sem parar, queria dizer o quão especial você era, o quão destemido em ajudar, quanto você era alegre, o quanto você se permitia rir da vida, fazer rir e sua capacidade ímpar de chorar junto aos que choram, mas não conseguir falar nada.

Simplesmente naquela hora pensei em tudo que você era, e continua sendo. Alisei sua foto em minha camisa...na minha camisa hoje tinha escrito que você era campeão, vencedor...e simplesmente disse com a voz embargada, ele foi a coisa mais especial que pode acontecer na vida de uma pessoa, ele foi um anjo que Deus me deu em forma de filho.

Chegando em casa, vi na porta da geladeira um bilhete que te deixei naquele mês de maio, e vi sua letra em outro bilhete para mim, gosto de te-los na geladeira, me dá a sensação de que, sei lá, não acabou sabe, e é isso...não acabou filho. Não acaba nunca...

Descobri outra característica que você impregnou em minha vida...não tem fim, é eterno. E parece que isso vale para a dor, para a saudade, e para o amor.

Você foi... você é. Será sempre e, eternamente, a melhor coisa de minha vida.  Minha alegria, minha razão de viver, meu motivo de acertar.

Saudades de suas resenhas, das aventuras do Saco, da companhia dos amigos, dos tempos em que você era minha família.  

Amo você com toda a minha força e com a sua em me manter firme outra vez.


EU SO QUERIA A VERDADE

Dormi, não, fui atropelada por um bonde. Madrugada toda rolando com o sono confuso, um sonho desespero, uma angustia, uma revolta, o resultado nao importa, mas foi como se alguma coisa profundamente em mim exigisse justiça.

Acordei com dores musculares, pedaços de frases e sentimentos, laudas de processos rubricadas, carimbos e assinaturas de pessoas que nunca fizeram parte de nossas vidas, vão decidir e postular o roteiro final de nossa existencia.

Isso nao me deixava dormir, mas era maior do que eu, do que meu corpo ou do que minhas forças. Como gritar e saber a verdade? Como exigir que a coisa mais proxima dela ficasse registrado num inquerito policial que determina a forma como o acidente aconteceu?  Vale a pena, brigar com o mundo se só Deus vai me dar as verdadeiras respostas?

O que uma mãe faria? O que uma mãe considerada boa, ou normal, ou racional faria? E se eu nao fizer nada, como olhar para mim no espelho novamente? Minha vontade agora, pegar o carro, arrastar os mentirosos pelo colarinho, levar a praça publica ou fazer sentir o cheiro que sinto quando choro o corpo do meu filho naquele cemiterio, quem sabe assim, teriam um pouco, só um pouco de clemencia e diriam...pois é vendi o cavalo, eu o escondi no fundo de minha casa, e nós dois ou três o tiramos na cena do acidente, e o resto calou, afinal...um cavalo vivo, vale mais que um corpo no asfalto.  


Mas eles também tem filhos...talvez um dia compreendam minha dor. Eu só queria a verdade.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O MUNDO ESTAVA DOLORIDO HOJE


Hoje tudo doía. Doía olhar seu quarto, doía olhar as fotos, doía pensar em você. Era uma saudade doída, era uma angústia cálida, uma tristeza comprimida, umas lagrimas que ardiam ao descer os olhos e a molhar a boca clamando seu nome. 


Doía lembrar, doía falar, doía mais uma vez tentar arrumar suas coisas. Fui a igreja atender ao chamado do Bazar, mas não levava nada seu, não consegui. No caminho, as ex-coordenadoras de seu antigo colégio cruzavam a calçada do barzinho do pastel, nunca as vi na rua, mas hoje que tudo doía, olhar Luzia e Regina, tive vontade de parar o carro e perguntar se doía nelas, se doía em mais alguém...se alguém no mundo podia dividir isso só hoje, porque hoje tava doendo demais.

Cheguei a igreja e só chorava, chorava de dor, não era de tristeza, era dor, hoje senti saudades de dor...acho que foi isso, e não me demorei porque doía falar, doía sentir, doía pensar...Hoje acho que foi o primeiro dia, em que não quis estar sozinha, porque doía.



Quando menos esperei estava na porta do Graccho, sem aulas, poucos alunos entrando e saindo com camisa de esporte, não tinha mais sua cara, estava vazio, sem vida, mas mesmo assim doía. A noite falei com seus amigos, e doeu, mas não demonstrei porque doía tanto quanto demonstrar então, eles podiam ser dispensados da dor naqueles minutos.

Entro no facebook, duas pessoas distintas postaram fotos de meu Rafa...doeu. Parecia que Deus atendeu meu apelo e alguém dividia a minha dor, dizendo o quanto sentia saudades. 


Por um momento senti um alivio parecia que junto com as saudades poderia vir ajuda, mas esse sentimento foi dissipado em seguida. Não sei os Teus planos Deus, mas continuo aqui, esperando Seu milagre.


E continua doendo Deus...as vezes acho que o mundo inteiro não é suficiente para caber a dor que há em mim...sinto saudades Deus, sinto muito a falta dele.

terça-feira, 26 de junho de 2012

NO SILENCIO E NO ESCURO

Apartamento apagado, cortinas e janelas fechadas no silencio e no escuro tento te encontrar, filho.    Em vão, mesmo que revire tudo dentro de mim, tem horas que você está tão distante, em segundos depois te sinto perto, muito perto, como se uma cortina muito tênue do tempo nos afastasse.  Sempre penso que poderia ser pior, como forma de amenizar o desespero dos momentos em que não te encontro Rafa. As camisas ajudam, porque ao te alisar ali nas fotos, e fechar novamente os olhos, sinto paz, sinto você perto, sinto você junto de mim.

Como a gente fala da boca para fora um monte de coisas. Eu sempre soube que te amava, sempre disse isso, escrevi coisas do fundo do coração muitas vezes, torci e estimulei, sua caixa de mensagens do celular ainda tem nossos últimos torpedos. Sempre te assegurei que você era a pessoa mais importante de minha vida, e nunca duvidamos disso. Mas eu nem imaginava o tamanho do poço sem você. Nunca parei para pensar nisso, em levar a vida sem você, e tem sido impraticável.

Penso em arrumar suas coisas todos os dias, ainda não tenho coragem. Quase arrumo para o bazar da igreja, comecei pelas minhas como forma de estimular-me, não tive coragem de ir adiante.   É como se não me permitisse perder mais nada seu, e eu não pondero que já perdi tudo, morro de medo de perder a memoria, seria impossível sobreviver sem lembrar. Talvez isso me mantenha respirando...lembranças, e talvez nestes momentos em que te sinta distante me de mais panico, e falta tudo.

São 4 e meia da manha, há três horas fico de assento em assento perambulando no escuro e no silencio, as vezes vagueando pelas fotos com um ou outro reflexo que entra no apartamento.  Sinto saudades filho...sinto muito.  Ontem pela manha os meninos voltavam de Boquim, certamente hoje vocês teriam tanta coisa para resenhar. Certamente eu ficaria aflita com vocês na estrada, como fiquei até notar que eles chegaram, mas a aflição era diferente da que sinto hoje, e daria tudo para senti-la novamente.

Hoje faz um ano e um mês que seu xará Rafa Bispo também se foi, e parece que é um luto só. Difícil essas datas, difícil não querer estar no silencio e no escuro, e te sentir novamente, outra vez, e de novo, junto de mim.


segunda-feira, 25 de junho de 2012

PARA TODO MUNDO PODE SER, NÃO PARA MIM

Acho que deve ter muita gente no mundo que sofre de insonia, e pode ser normal para um monte de gente, até e inclusive para a medicina, mas não é para mim.

Não sei o que as pessoas que não dormem pensam ou fazem. Não sei o que fazem para voltar a dormir. Pode ser normal ter fome e não comer, ou comer sem ter fome, da mesma forma que deve ser normal não ter sono e não dormir, é até logico,  se a insonia é apenas um período em que deveria estar dormindo e não se está, mas para mim não é isso, é automático, passo o dia pensando se ele isso, se ele aquilo, se fizesse isso, como acharia aquilo, o que faria nisto, o que não faria, como reagiria, o que pensaria, como falaria, parece uma obsessão, tudo que vejo e olho, difícil eu pensar só em mim, e se não durmo, o que faço neste período? Não durmo e penso...penso o tempo inteiro nele.

Não questiono nada...simplesmente feito zumbi acordo, tomo alguma coisa para dor de cabeça, as vezes almoço ou janto ou tomo café da manha, em plena madrugada, depende da hora que tenha feito a ultima refeição, geralmente no dia anterior, antes dependia da fome, mas nem sempre ela está presente, e como poderia ser a fonte da dor de cabeça, comecei a anotar o horário que comia, e sem importar o que se comia, porque isso era exigir demais de mim.

Então providenciadas essas coisas de alimentação ou a depender da dor, analgésico, como passar a noite, a madrugada e o resto do outro dia? Ainda não sei, só sei que é como se minha mente tivesse apenas dois contatos com o mundo, o primeiro a dor e o segundo a saudade. É uma dor de cabeça estupida e uma inconformação com a saudade, com a falta, com a solidão, com tudo. E questiono, por que? Meu Deus por que? Meu Deus para que? Meu Deus o que eu fiz? Meu Deus por que ele? Meu Deus por que tudo de ponta cabeça? 

E assim o sol nasce e se poe todos os dias e minhas perguntas continuam todas sem respostas.

Sei que poderia ser pior, sempre pode ser pior, mas esse é o pior que eu consigo aguentar e imaginar, e daí fica difícil ser agradecida sabe...dar graças em todas as circunstancias, porque nestas horas de insonia madrugada afora, o mundo é só seu e de seus pensamentos e eles só te amarguram, é uma saudade e uma dor que parece que cresce a noite, durante a madrugada e quando o sol nasce, eles, os sentimentos, estão maiores do que ontem.

Foi mais um dia, mais um fim de semana, outra segunda feira, mais um festejo junino, ou um feriado, ou uma festa, ou um encontro.  Para todo mundo, o mundo voltou a ser normal, mas para mim não.

PAZ

Acho que é isso que buscamos todo o tempo: paz. 

As vezes paz de espirito, as vezes paz com o próximo, as vezes paz conosco mesmo, as vezes paz com o mundo. Acho que corremos a vida inteira em busca disso, e chegamos a alcançá-la muitas vezes, mas nem nos damos conta certas vezes, até que percebamos que a perdemos, e aí começa tudo outra vez.

Eu poderia defender que esse estado buscado de equilíbrio, que talvez seja a melhor tradução de paz que me ocorra agora, depende apenas da gente, mas nem sempre é assim. As vezes as coisas alheias as nossas vontades, ou porque não temos o controle sobre os fatos, ou porque é a ação do outro que importuna nossa paz, nos faz não sermos totalmente responsáveis por nossa paz.

Sempre tive uma vida conturbada no sentido de buscar a paz. Conturbada no sentido de sempre defender a justiça e busca-la as vezes incansavelmente, sempre me foi muito caro ver as coisas erradas e conformar-me com elas. Isso me tirava a paz, fora a paz que me era tirada quando eu exigia de mim e dos outros atingir os objetivos que havíamos traçado, e nesta fase amadurecemos e percebemos que se a gente for instrumento de paz na vida do outro já valeu.

Acho que nem sempre fui, embora tenha buscado e querido ser todo o tempo, mas as minhas imperfeições, minha personalidade e tantas outras coisas devem ter atrapalhado muitas vezes.

Eu sempre tive uma coisa em mente, quem é amigo, não importuna, amigo facilita a vida do outro, e quis ser isso de meus amigos e família. Calei quando quis gritar, conformei quando queria rebelião, pus panos quentes quando quis espremer a ferida, tudo em nome de tentar levar a paz. Rafael tinha uma definição bem legal para isso, ele dizia, se não pode ajudar, não venha atrapalhar. E mais tarde, a gente dizia...se não aguenta, para que veio.

Meu filho era uma dessas pessoas que apesar das brincadeiras, das presepadas, da zoação que fazia, era de paz...sempre de paz. Tirava onda, fazia sorrir, mas na hora de chorar junto, de estar junto, de comer um quilo de sal junto, ele também se alistava e combatia conosco na linha de frente. No meio de minhas guerras, ele era minha paz.

Esperamos isso da vida...paz. Sei que nossa paz vem de Jesus, mas também sei que ele criou os laços humanos e a família como instrumentos usados por Ele para proliferar, multiplicar Seus exemplos. Mesmo sendo apaixonada por Deus e confiante de que Ele está no controle...depois que Rafa partiu, sentir dias de paz tem sido objetivo inatingível.

E minha espera pelo reencontro, é como a espera por alguém que nos conduza a um lugar que nos deixe em paz com o mundo, e para mim esse lugar tem endereço certo, nos braços de Rafa, olhando bem fundo nos olhos dele, enternecida por uma saudade que terminará com um beijo apaixonado de uma mãe que desencontra a paz ao perder seu filho.

sábado, 23 de junho de 2012

NOS DIAS PRÓXIMOS, TUDO MUDA NA GENTE.

Parece que é automático, nos dias próximos ao dia que se faz aniversario, que é dia de festejar alguma coisa, ou é o dia do mês que nos lembra o dia da partida, parece que tudo muda dentro da gente.  É parecido com a TPM, as vezes a gente nem lembra do período menstrual, aí de repente a gente fica irritada, impaciente ou com outro vestígio qualquer, e nem nos damos conta, até que alguma coisa nos chama atenção e percebemos, gente estou próximo ao período, por isso a espinha, o inchaço, o mau humor, ou o que quer que seja.

Quando estamos em luto também é assim, na semana do dia em que se faz mais um mês de separação, a gente sem perceber fica mais fragilizada, mais chorosa, mais revoltada ou impaciente ou questionadora, mais irritadiça, e quando a gente percebe faltam quatro ou três dias para a data, e aí começa um martírio, porque a partir dali parece que a gente não esquece.

Nestes dias, eu gosto de me isolar mais, para que meu choro não incomode ninguém, para que meu choro não provoque nenhum julgamento ou interfira no resto do meu mundinho periférico.  Nestes dias, evito entrar nas paginas sociais porque quando faço automaticamente gosto de saber o que fazem os amigos de Rafa, onde ele estaria se estivesse conosco, o que ele gostaria de fazer, e ao mesmo tempo que fico feliz em vê-los tocando a vida, e sei que sentem falta, eu fico meio mal, porque meu filho não está ali, não está desfrutando, compartilhando ou comentando qualquer coisa.

Hoje de forma mais dolorosa, porque Rafa estaria maior de idade, é véspera do dia mais esperado dos festejos juninos, e Rafa adorava isso, desde os fogos, as quadrilhas, a festa em si, as reuniões familiares, e os meninos estão juntos e meu filho...distante da gente, e completando mais um mês de separação.  Parece que dói mais, quando junta o dia 23 e datas especiais para nosso povo, nossa família, etc.

Uma semana complicada, 23 separação de Rafa, 26 separação do outro Rafa, 30 aniversário de meu pai, comemorávamos sempre do dia 29 para o dia 30...e por mais que eu não pense nisso, essas coisas fogem do meu controle. Provoquei mais um dia prolongado de sono, não queria ouvir a música, pois os festejos juninos da cidade, acontece há pouco mais de 1km daqui de casa, e se ouve plenamente tudo, mesmo com todas as janelas fechadas. Não queria ouvir os fogos, não queria chorar o dia, mas infelizmente as duas da madrugada o sono cessou e escrever é a forma mais genuína que achei para desabafar a dor da saudade e da distancia, nestes dias que tudo fica mudado na gente, nos dias em que a ferida está mais exposta e que qualquer lembrança impede sua cicatrização.

SEI QUE PODE NÃO TER SENTIDO

As vezes olho as paredes da lápide e me pergunto, que necessidade é essa minha de vir aqui e escrever para Rafael...que coisa sem sentido. Ele não lê, não faz a menor diferença trazer ou não mensagens. mas eu sempre penso assim. Penso que vim de longe para visitá-lo, e quando chego lá ele não está em casa, e aí...eu venho embora e pronto. Não a gente sempre deixa vestígios de coisas para que a pessoa perceba nossa visita. Eu preciso disso. 

Sei que não faz nenhum sentido, mas tem tanta coisa que não tem feito sentido em minha vida e eu tenho que fazer, que não vou suprimir a vontade de fazer o que for que acho que tenha que ser feito para demonstrar a mim mesma que ainda estou ligada. Para mim, ali não tem pó apenas...eu não seria capaz de jogar no rio, de deixar abandonado no saco, e porque será que todo mundo faz questão de enterrar dignamente seus parentes...ainda somos ligados aqueles corpos.

Se para isso o nome correto for loucura, podem rotular. Tem gente que fala com plantas, que trata animais como gente, que até destrata gente em comparação a regalias que proporcionam aos animais, tem gente que dá valor as coisas materiais mais que as pessoas, tem gente que olha só para o umbigo, tem gente de todo tipo...e tem mães que choram os filhos. 

Eu achei uma forma para chorar o meu, dentre tantas coisas consideradas maluquices, eu vou sim ao cemitério, levo flores, perfumo o lugar, sei que não tem espirito, nem alma, talvez nem corpo haja mais...mas é ali que está a coisa mais palpável que restou de seu corpo, e sinto saudades. Mesmo tendo barras de ferro, cimento, laje, mármore, granito e um mundo espiritual que nos separa, quando fico ali, é como se estivesse o mais próximo que consigo.

Não tenho obrigação...tenho vontade, e vou. E choro, e penso, e calo, e escrevo, e arrumo. E volto para casa e durmo, ah, eu durmo depois dessas visitas, sem culpa, sem dor no corpo, com cansaço e com uma saudade apaziguada.

Hoje, apos a madrugada conturbada e um sonho muito estranho, acordei e te escrevi....

Meu inesquecível filho, RAFAEL...
Sabe quando falta tudo? Hoje faltou. Faltou um monte de pensamentos positivos afirmando que isso vai passar. Faltou esperança para esperar, faltou disposição para entender e acima de tudo, capacidade para não julgar.
Hoje faltou você, faltou cheiro, alegria, lembrança boa, conversa divertida.
Hoje faltou até coragem de sair daqui, faltou vontade de vir também, faltou força para te levar embora e paz para aceitar tudo isso (que tenho que te deixar aqui e sair mais uma vez sem você).
Eu penso em você e me invade sempre lembranças boas e agradáveis ao seu lado, porque você se doou a vida inteira para quem amava. Renunciou, calou e se entregou...
Tenho saudades da gente...sinto falta de você lá em casa. Sinto falta de sua alegria e companhia.
Hoje seria dia de festa. Não para mim. 
Hoje me faltou tudo, pois me faltou você.
01 ano e 01 mês de saudades
Te amo, para sempre...sua mãe.

MAIS UM MÊS INTEIRINHO SEM VOCÊ

São quatro e vinte da manha, devo ter pego no sono por volta de uma e meia, e acordei agora, assustada, num daqueles sonhos que a gente corre e entra no quarto do filho para ver se esta tudo bem, só que no caminho do impulso, já sabia que você não estava lá, e comecei a pensar em que de fato tinha sonhado, se era mesmo contigo.  Não era.  Sonhei com pessoas ligadas a você, corri ao banheiro, orei e lavei o rosto.

Em meio a todo esse processo, vou ate a cozinha em busca de um copo de água que mantivesse mais a calma e o ritmo desenfreado da minha respiração, talvez um remédio para cólica fosse necessário. Mais uma vez as lembranças, como as de dias como hoje, em que ao levantar para ir a cozinha, você vinha em seguida perguntar se eu precisava de alguma coisa, eu levava um baita susto e eu questionada depois o que você fazia acordado, percebia em seguida, computador, telefone e violão a postos e você conversando com alguém.  Ou então na volta da cozinha eu entrava em seu quarto, as vezes desligava a tv e te dava um beijo porque você tinha pego no sono, ou te pegava no flagra e as vezes ficava um pouco, e as vezes te dava uma daquelas broncas, a segunda opção era mais comum...a não ser que fosse sábado ou véspera de feriado, daí você era absolvido.

Volto da cozinha e entro em seu quarto, nenhum vestígio de coisa alguma que funcione, apenas o porta retrato digital que seu pai me deu, passando fotos de sua infância e pré-adolescência. Sentei e contemplei um pouco aquelas cenas, inevitavelmente me inundei de suas lembranças, de sua presença ao fundo o som da praça, o ritmo que você mais amava, uma música conhecida embalava minha memória.  O mal estar do sonho passou, restou tudo de bom que vivemos.

Pela primeira vez, lembrei das broncas e castigos. Lembrei dos inúmeros flagras pelas madrugadas de você ao telefone, de você no msn, no twitter, no orkut, no celular, de você sempre fazendo companhia para alguém, fazendo alguém rir, fazendo alguém desabafar, desabafando também.  Lembrei de quando não tinha isso, e essa insonia ou essa energia sua  era extrapolada em meu quarto, aos meus ouvidos.  Hoje...só memórias e saudades.

Um ano filho, um ano e um mês inteirinho sem você.  Um sonho ruim que se dissipou.  E uma cena real que se instala com voracidade, saudades, eternas saudades.


sexta-feira, 22 de junho de 2012

VONTADE DE SAIR DE CENA, CANSEI DO ESPETÁCULO DA VIDA.

Tem dias assim, acordo disposta, arrumo casa, cama, escrevo, planejo alguma coisa, converso com alguém, atendo telefones, faço toda a rotina de higiene, provo e ensaio usar as antigas roupas, tento ler alguma coisa ou me preparar para fazer algo que fazia antes e que perdi a coragem, sinto fome, saio e como alguma coisa...mas são poucos, quase ínfimos, os dias em que me sinto assim tão disposta.  Os dias que se seguem a um destes dias...são de matar.  Parece que participei de uma maratona de 30 km sem nunca ter corrido nem 100 metros e meus músculos doem ate pensar, levantar para o banho pode demorar mais de 24 horas e assim todas as outras rotinas caseiras, a unica coisa fácil nestes dias...o pensamento em Rafael e o coração na saudade que ele deixou.

Ontem foi um dia assim.  Almocei as seis da manha, e sofri de dor de amor o resto do dia, rolando nos assentos da cama e em cada comodo contemplando nossas fotos, nossas lembranças e a dor que a saudade vai imprimindo pelo corpo.  Ate que a noite chegou a cólica, e um coisa normal nestes dias não tenho mais...Rafa era super-cuidadoso neste período, poupava-me mesmo. Deitava do lado, perguntava se precisava de remédio, e mesmo quando estávamos a mesa nas refeições, ele imprimia um ritmo mais rápido para comermos e eu meio que descansar.  Neste período lembro dele e de sua sensibilidade.  Ele sempre perguntava...e aí tá naqueles dias né..."instrumada"... e ríamos por conta de uma historia nossa de quando ele só tinha 06 para sete anos.

Nestes dias dói não pensar em Rafa, e mais ainda não parar de pensar em nós.    Fico pensando se ele vê alguma coisa daqui sabe...queria que ele tivesse poder de me levar para perto. Descobri que ainda não sei viver sem ele. Nem sei se se aprende isso, acho que não quero aprender. Sentido? Nenhum para mim.

Se a nossa função é apenas de louvar e engrandecer o nome do Senhor...não tenho feito isso, porque não consigo olhar para diante. Sei que Ele, Deus, cuida e está no controle de tudo, e por que isso não passa? Por que isso não acaba? Por que sorrir, ficar feliz, ou ter paz, ou se sentir plena, ou ter alegria, ou sentir-se cuidada, ou louvar com o coração alegre, ficou tão pesado, e para mim aparentemente impossível?

Por que eu não tenho uma fagulha de esperança de que isso passará, de que serei normal de novo, de que terei motivos para continuar, que sentirei vontades de fazer novas coisas, de que gostarei de conhecer outras pessoas, de que lerei sobre as conquistas dos amigos e das pessoas que gostavam de Rafa e sentirei apenas alegria, sem remorso, sem culpa, sem dor, sem saudades?

Vontade...a minha se resume a apenas uma...só que nao lentamente, podia ser de forma acelerada.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

TUDO FORA DE LUGAR

Almocei as seis e meia da manha, senti fome, de ontem ainda, e depois não consegui sair de casa. Aposto que pessoas nesta empreitada de se reerguer também passam por isso.  Vontades que não se saciam. Quero atender telefones, mantenho-os desligados, não tenho nada de novo para contar.  Não vi o último filme, não assisti ao programa mais falado da Tv,  descobri 15 dias depois sobre o crime que chocou o país, sobre a fusão de uma empresa, sobre a construção da ponte na cidade, sobre as viagens de minha mãe por terceiros, sem noticias de meu irmão, tenho vontades, mas meu cativeiro é o melhor pior lugar onde ficar.

Não sei o que foi pregado na igreja nos últimos 03 meses, nem sei sobre o que se tem orado, não cumpro horários e compromissos, nem posso, não sei quando sentirei a próxima fome, e como substituir a refeição balanceada pela fatia de pizza congelada na semana passada, ou das remanescentes sobras da pizzaria no niver de Rafael, ou ainda quando troco uma xicara de cha ou leite por 10 jujubas de cafe da manha, as três e meia da madruga e depois da noite em claro, ou do sanduíche misto quente na hora do almoço, ou do cuscuz com ovo que dura a semana inteira em cima do fogão, sendo requentado quando sinto vontade, ou o copo de água com algumas pilulas de esquecimento.  Ou seja, tudo fora do lugar.

Ate poderia me organizar, voltar a almoçar com minha mãe enquanto ela estava aqui, voltar a estar perto, mas o medo de perde-la e a dificuldade de expressar o inferno em minha vida me repele da convivência...continua tudo fora do lugar. E agora, as cobranças me sobrecarregam, interna e externamente.

Descobri que estou sozinha e de certa forma livre para decidir o que fazer, e nunca me senti tão presa, tão aprisionada, tão sem direito de ser eu mesma, e ao mesmo tempo livre.  Como posso ser tão livre e não ter vontade de fazer nada, e ser a minha maior prisão. Eu não me sinto deprimida em casa, e sim quando tenho que encarar o mundo, e porque tem que ser o mundo o responsável a definir quando devo me expor...estou cansada...estou querendo ficar sozinha mesmo, preciso de um tempo e querem me convencer que uma lei é que determina minha melhoria. Engraçado, chegue para a pessoa que sobrevive a um terremoto e perdeu tudo e diga a ela que a lei a obriga a continuar. E que o que ela sente e combate não tem a menor diferença para o mundo, e não deve ter mesmo.

Hoje, noite em claro, macarrão, pela primeira vez em todos esses meses, fiz um macarrão e o devorei as seis da manha, minha ultima refeição tinha sido no sábado, nada descia desde então, exceto uma pipoca na madrugada do domingo para a segunda e na terça meio dia comi uma salgadinho e algumas batatinhas. O resto do dia em casa, forças nem para banho, nem para atender telefone, nem para ir fazer a extração do caroço nas costas, marcado par hoje, não consegui sair, porque...porque continua tudo fora do lugar, e as pessoas não entendem que não cabem a ela decidir onde eu porei as coisas, nem de que forma elas voltarão as prateleiras da vida ou ficarão soltas pelo chão dos meus pensamentos.

Sabe quando a gente contrata uma nova empregada e ela tenta mudar tudo em sua casa, a rotina, a capacidade de armazenar porque acha que te fará bem? Só tem um problema, não dei essa permissão, e a vida ainda é minha, e uma lei não muda meu estado.  Ela não vai estar lá quando eu precisar achar as coisas que ela mudou de lugar, e o tempo que vou levar procurando poderá me fazer desistir de tentar de novo achar.  Por exemplo, aprovar o aborto após o estupro, não impede o sentimento da vitima estuprada, as dores, a vergonha, o senso de injustiça e a raiva ainda estarão lá, e criará nela, outras situações que ninguém que está de fora sera capaz de mensurar, embora achem que estejam fazendo o melhor.

Isso tem me incomodado. No meu primeiro casamento, perdi três gestações.


A primeira, em 1997, recém formada em direito, fizemos a curetagem e voltei para casa, ouvia de minha avo e minha mãe, foi a melhor coisa que aconteceu, Deus sabe o que faz, e blablabla, tudo ali na minha frente, e continuaram falando vocês nem podiam criar outro filho, o colégio de Rafa atrasado, vivendo de aluguel, aliás isso não impediria ter tido outro filho, meu irmão tem duas, sem emprego fixo e relacionamento estável. Eu tinha as duas coisas, pelo menos naquele período.  Engraçado as pessoas interferirem dessa magnitude em minha vida e eu ali não ter me imposto. 


Chorava calada, talvez hoje tivesse uma criança de 14 anos, compartilharíamos a dor de ter perdido Rafa, tínhamos um ao outro. Depois em 1998, mais uma vez, gravidez de risco vim do Rio de Janeiro, onde estava trabalhando, vi em cadeira de rodas na antiga Vasp, fiquei internada tentando segurar o bebe, com quatro meses de gestação, mas perdi mesmo internada há 04 dias tomando remédios para mante-lo, de novo, a família dizendo, foi a melhor coisa que te aconteceu, e julgavam-nos em nossa condição financeira e nosso relacionamento instável, embora ainda não era tão certa nossa separação.

Precisávamos de ajuda profissional e espiritual, eu busquei, mas não era dos dois lados e as coisas foram se complicando, terceira gestação, perdida aos seis meses.  Fui ao chão, minha barriga já grande, Rafa curtindo e cada dia um nome bem original... chitãozinho e xororo, joao paulo e daniel...ainda bem que ele nao cogitou sandy e junior porque era apenas um bebe. Perdi novamente, e de novo só eu elaborava a perda, para os demais...foi a melhor coisa que aconteceu...nem quero crer que desejariam isso achando ser o melhor para minha vida.  Todos esses procedimentos com internação e curetagem.

Depois mais dois bem naturais...onde enfrentei sozinha sem apoio de ninguém. Até que chegou o pior de todos, um aborto manipulado por crenças e lavagem cerebral, num período de fragilidade emocional e muita chantagem.  Perdi de novo, com uma cirurgia de risco.  Quantas chances tive de ter outros filhos? Nenhum companheiro a altura para curtir a maternidade...apenas Rafa, meu guerreiro presente em todas as horas...tudo continua fora do lugar e esses fantasmas me perseguem ainda.

Trouxe Rafa pela primeira vez em nossa casa numa sexta feira, após cinco dias de maternidade. Sem baba ou enfermeira, sem apoio de ninguém que pudesse passar um tempo do dia conosco. Morava há 02 quadras de minha avó, ela aparecia para dar ordens a empregada (que resistia a fazer o trabalho de baba e por isso, apenas 02 meses ficou comigo, depois fiquei sozinha, com apoio da sogra até começar  a trabalhar,  Rafa com 09 meses e então os testes com empregadas).

E a vida foi se construindo, formatura, consultório, colégio de Rafa, emprego federal, sonhos que nunca realizamos, viagens nunca apenas nós três, sempre muita gente, nunca nosso espaço, minha casa não era dos meus amigos, nem de nossas famílias, tratamento autoritário conjugal  e o balsamo para tudo era aquele sorriso e simplicidade de Rafa andando de cuecas e meias pela casa. Seus beijos constantes  e sua tagarelice em todo tempo, preenchia as lacunas que  eu tinha. 

Ele me chamava de senhora, me dava beijo na porta da escola e uma encochadas na pia da cozinha, cocegas na cama e a melhor companhia para bater perna, sem cobrar nada em troca...viver sem isso, porque os outros determinaram que tenho que continuar no ritmo e no preço que julgaram oportuno.  


Quer saber...prestes a cometer uma loucura...quase que da minha vida cuido eu, o que e como vão justificar não é o meu problema, mas não posso ser penalizada por perder meu filho. Não o joguei naquela estrava, não paguei para ter animais sotos na pista, não permiti a condução da moto e  não estava bebendo junto com o suposto motorista envolvido no tranco do animal.

Vontade de fazer justiça com as mãos, sempre tenho... então lembro de Rafa dizendo...a justiça é de Deus...estou aguardando chover novamente sobre a minha tenda...apesar da ansiedade e cansaço em esperar.  Daria a Deus qualquer coisa para não estar vivendo tudo isso, e para estar mais perto de Rafa.  


Continua tudo fora do lugar Deus, e estão me obrigando a arrumar as coisas, no tempo deles, nas verdades deles.  Senhor, mostra a Tua verdade, e a Tua vontade...preciso de Seu milagre.

SÓ QUERIA OLHAR PARA VOCÊ NÃO PRECISARIA FALAR NADA

As pessoas sempre falam que eu não deveria ficar assim porque isso não te faz bem, e me perguntam o que eu acho que você sentiria se me visse assim.  Na hora eu penso, se eu criei e eduquei uma pessoinha com um coração enorme com certeza, olharia para qualquer pessoa sofrendo e tentaria ajudar. Tentaria de alguma forma por para cima. E sei que compreenderia o que sinto e como reajo sabe. Mesmo quando eu enfrentava meus problemas e tinha você bem de perto vendo tudo, poderia ate não aceitar a minha forma de reagir, mas sempre me compreendia.

Você somava Rafa, sempre somou. Nunca dividiu ou diminuiu. Sinto falta de nossas conversas, sinto falta de desabafar, sinto falta de você fazendo graça e a gente acabava fazendo piada das coisas, era só eu perceber a saída, muitas vezes por seus olhos, e as coisas fluíam. Com dificuldade, sim, sempre...mas estávamos juntos.

Filho...estou cansada. Parece uma roda gigante que quando me preparo para descer, me leva novamente para a altura e cortam a energia. Não tenho medo da altura, só cansei do brinquedo, da mesma emoção e da vida sem graça que se apresenta.

Até tento sabe...mas é tudo sem graça ainda. Batom perdeu a graça, salto alto não faz sentido, cuidar do corpo ou da saúde é coisa do passado, basta só livrar a dor e pronto. Perfume não tem cheiro, esmalte colorido não manifesta segurança ou alegria, casa arrumada e organizada não é mais sinônimo de porto seguro.   

Ando pelas ruas da cidade sinto que meu olhar camufla um mundo que não quero participar...o mundo sem você. Não encaro nada, sempre para o chão na esperança que das ruas frias e do asfalto sujo brote alguma coisa que alimente a vontade de continuar andando.  Passei uma época comprando coisas de casa, tentando transforma-la esquecer parte sombria do passado e deixar mais evidente só que era nosso...cansei, não mudei por dentro. Depois a fase da maquiagem, mas continuo de cara lavada, tudo incomoda, a textura, o cheiro, a cor, a imagem que passa e nem sei em que vou me segurar de agora em diante, porque nada, nada, nada faz passar a angustia de um dia como hoje.

Só queria mesmo olhar para você e sem dizer nada chorar soluçando em seus braços, não precisaria falar nada, mas  eu continuaria desejando ouvir sua voz assegurando que vai ficar tudo bem...que você esta bem e que isso tudo está perto de acabar.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

NESSE MUNDO MEU E SEU, RAFAEL.

Agora há pouco recebi uma mensagem de pessoa que não conheço, eu acho, e que diz que começa o dia no trabalho lendo minha postagem, e fiquei pensando? Meu Deus, só ler tristeza. Como eu queria impactar ou de alguma forma criar um habito saudável para a pessoa...ler algo mais prazeroso, menos doloroso. Queria escrever sobre esperança, sobre como Deus tem cuidado, como os amigos são importantes, como conheci pessoas que compartilham essa dor...mas não é disso que estou cheia.

A palavra de Deus diz que a boca fala aquilo de que o coração está cheio. E é fato. Ainda tenho muita dor e saudade. Não pensei que esse blog chegasse a tanto, que tivesse criado em mim o habito de registrar meu mundo depois de Rafa. Não virou um diário tampouco, porque perde a característica sigilosa, e tantas coisas não consigo postar porque sei que poderia de alguma forma influenciar pessoas que passam pela mesma dor e que pudessem fazer coisas que tive vontade de fazer, as vezes ainda tenho, mas tento reprimir...tipo, transferir as vezes a raiva e a ira por determinada situação ou pessoa em gritos em quebras de objetos, etc - coisas que aprendi convivendo com loucos, e de repente exorcizar essa raiva de alguma forma pudesse me fazer bem, mas me falta coragem e loucura suficiente para tais atos. Então, eles calam em mim e escrever sobre meus sentimentos me faz elaborá-los melhor.

Na verdade o blog surgiu como uma ferramenta terapêutica para mim. Num período em que fiquei em casa, mesmo acompanhada me sentia só, completamente sozinha, com sentimentos que ninguém que me rodeava conseguia mensurar, com duvidas, culpas, anseios, revoltas, uma mescla de sentimentos e uma dor quase inimaginável. Eu não entendia nada, e estou longe de compreender alguma coisa. Coisas simples me fogem da explicação, tipo, por que sorrir perdeu a graça, por que quando sorriu me sinto culpada, por que essa sensação de que nunca vai passar e as vezes a sensação de que não é real? 

Se eu pensei que teria acessos, como mais de 10000 pessoas visitaram o blog, claro que não, porque nem tinha a ideia de divulgar, mas durante o dia, alguém me tocava profundamente por externar algum sentimento em relação a falta de Rafael, e eu não conseguia falar com a pessoa, dar força, etc, mas me sentia obrigada a fazer, a agradecer o carinho e o amor a Rafa e a compartilhar um pouco daquilo, mas não tinha condição de falar numa conversa telefônica ou por e-mail, pois nem sempre conhecia a pessoa, usei e uso o blog para isso, e essas pessoas começaram a divulgar. E hoje alguém que não conheço diz que começa o dia no trabalho lendo a mensagem e orando por mim e compreendendo melhor alguém da família que enfrenta um momento de dor.

Só uma coisa não quero no blog. Não falo de outros assuntos, ele tem uma finalidade...meu dia a dia pós ter perdido Rafa. Falo desse universo. As vezes mais esperançosa, as vezes menos, dias com mais fé, outros completamente entregue ao socorro e misericórdia de Deus, dias com lembranças mais suaves outros de muita dor e saudade, mas sempre cantigas e historias que me ninam enquanto eu mergulho nesse mundo, meu e seu Rafa.

terça-feira, 19 de junho de 2012

JA QUE O MUNDO NAO PÁRA, PODIA ME DAR UM TEMPO, SÓ UM TEMPO MAIOR

Depois de uma manha confusa e da pressão em passar mais uma vez pela perícia médica tentando ser o que não sou - uma pessoa forte e resolvida. Tentando demonstrar racionalmente coisa que não se explica ou entende. Tentando convencer pessoas, de coisas que não se convence, porque o mundinho de todo mundo continua passando e as coisas permanecem na sua evolução natural, tinha apenas um desejo diante daqueles olhos, estar em qualquer outro lugar.


Percebi ou me dei conta que não preciso convencer ninguém de nada, e também não preciso ser a película da tela de cinema de ninguém. Quer ver, não posso impedir, mas também não consigo me deixar tão á mostra.  Engraçado a pergunta, como eu sendo psicologa e tendo ajudado a tanta gente não conseguir se ajudar. E eu pensando, será que alguém da família dele teve câncer? Sera que um filho adoeceu? Será que ele sendo médico já errou ou procrastinou em algum diagnóstico familiar, ou até pessoal? Se isso aconteceu, como pode ter acontecido, pois é um médico? Mas só pensei e calei, e naqueles minutos seguintes nem lembro o que falaram.


Ao final em resumo, depois de uns 40 minutos avaliaram que se eu durmo ainda, se continuo chorando, se sinto dores no peito e se nada tem adiantado, a melhora esta no trabalho, devo retornar a trabalhar, o trabalho me dará sono de volta, concentração, diminuirá a tristeza e cessará a falta de sono, ou a simples insonia como trataram.  Como não pensamos nisso antes? Sugeriram mudar de medico, psicologo, remédio, e a tudo fui solícita, mas fiz pouco, não foi suficiente, o retorno ao trabalho é a solução.


Uma vez acolhi um servidor que há muito tempo estava afastado e a pericia determinou seu retorno, um dos médicos se compadeceu e solicitou novos exames, fomos ao sistema único de saúde porque o servidor, tinha perdido o plano de saúde, e assim que as taxas dos exames  chegaram o servidor precisava de cuidados excepcionais, taxas variadas e altas não deveria retornar ao trabalho...ele foi considerado apto para o retorno ao trabalho, morreu em seguida.  Não penso que vou morrer, nem estou difamando trabalho algum, apenas demonstrando a dificuldade que temos de compreender o desenvolvimento psíquico do outro.


Para muita gente estar cercado de gente ajuda a transpor, para mim não. Nem todo dia quero conversa, som, barulho, luz, opinião. A risada das pessoas me incomoda, as vezes não, gosto de rir junto, mas entendo que para viver em sociedade, precisamos tolerar muita coisa, e eu não tolero ultimamente. Tenho vontade de gritar, de quebrar, de chorar e o auto-controle é bem penoso.  Falo de Rafael todo o tempo, nem sempre tem gente para ouvir, e quando tem as vezes pede para eu mudar de assunto, então ficar sozinha não é apenas uma opção, foi a solução que achei.


Mas para o resto do mundo essa solução não serve. Não entendem que hoje a apenas 04 dias de fazer mais um mês de saudades eu fico mais vulnerável, que as cólicas e a TPM são mais fortes, que não dormir me deixa mais angustiada e agressiva, que não frequentar lugares que ia com Rafa é minha forma de me defender das lembranças que ainda são doídas e que usar camisas com suas fotos e de momentos tão nossos é a forma que encontrei para não me sentir tão só e distante dele.


Uma nova etapa está prestes a começar, e não tenho nenhuma expectativa ou interesse sobre ela.  Nao tenho vontade de me sentir produtiva, da mesma maneira e na mesma intensidade que desejo do fundo da alma reagir de alguma forma e planejar qualquer coisa que não seja como fazer o sono voltar.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

POR QUE É DIFÍCIL LEVANTAR?

Obviamente que as pessoas reagem diferentemente  a quase todas as coisas na vida. Nem todo mundo tem medo de barata, tem medo de morrer, de dormir só, ou tem medo de ficar sozinha, do escuro, de agulhas, de injeção, de ficar doente, de comida pesada, de moto, de avião, de dirigir, de andar de cavalo, de patins, de bicicleta. Ou medos adultos, de desempregar-se, de reprovar, da violência, dos filhos não serem felizes, ou de morrer e eles ficarem órfãos (nunca aceitamos o pensamento de que eles morram primeiro). Sei lá, acho que cada um tem uma forma diferente de reagir aos estímulos do mundo.  

Fui uma criança bem medrosa. Tive medo de todos os bichos possíveis e imagináveis, apesar de ter um mini zoológico em casa.  Tinha medo das galinhas, medo das ovelhas, do bode então corria, do veado, nem comida eu dava, do pastor alemão, só passava perto se meu pai estivesse segurando a coleira, e do cachorro que ele me deu, ainda de dias, no segundo dia o cachorro já latia para mim e eu deixei a maternidade, logo, logo.  Resultado, meus bichos se resumiam apenas aos pássaros da gaiola, e depois que eles morreram, ainda tentei com uns preás que também morreram, e por ultimo com Nárnia, uma cachorra que ficou comigo 01 mês e pouco, falecendo no dia seguinte ao dia que Rafa completava 06 meses de falecido.

Depois disso, só peixes, de verdade e os de vidro, no consultório e em minha sala do trabalho.

Mas meus medos iam além. Tinha medo de ficar sozinha no sítio, e fiquei algumas vezes com os meninos pequenos. Ir de um comodo ao outro, naqueles 14 cômodos era um suplício, principalmente depois da morte de meu pai, que minha mãe passou a trabalhar em horário integral.  Também tinha medo de ficar no quarto da casa de minha avó, um que foi objeto de muitos medos que a irma de minha mãe me submetia. Por conta disso, fiquei com medo de tudo que era imagem, imagem de santos nas igrejas, imagem de carrancas do São Francisco, imagens de santos nas lojas de produtos religiosos, aquelas partes do corpo que as pessoas deixavam nas igrejas em busca de milagres.

Depois comecei a ter medo de pensar em morte, de trocar o bojão, de que Rafael não respirasse e morresse numa crise alérgica, medo de que ele fosse maltratado por alguma babá, medo que ele não fosse feliz, sei lá...acho que eu era um medo ambulante. Até que Rafa cresceu e apresentou seus medos, medo do escuro, medo de ficar sozinho, medo de injeção...tinha chegado a hora de eu crescer.

Nunca tive medo de morto, de cemitério, destas coisas. Mas sempre que eu ia a um enterro, e só ia se eu conhecesse a pessoas que morreu, ou alguém muito, muito próximo a ela. Então eu nem ligava muito para a condição humana de quem morria, embora precisasse ver o caixão para me convencer, mas meus olhos sempre estiveram voltados para os que sofriam aquela perda.  Continuo sem medo, mas não tenho a menor vontade de participar novamente de nenhuma cerimonia desta natureza, nem das visitas subsequentes aos que choravam aquela perda.

Não tenho medo de nada, aliás não tinha. É como se eu nunca tivesse tido esses medos. Bichos, não tenho medo de nenhum, talvez de cobras, porque não sei distinguir a venenosa das outras.  Os demais animais, descobri que eles tem medo da gente e na maioria das vezes, eles só se protegem. Ratos...fui monitora de uma disciplina na Universidade Federal de Sergipe, em que os alunos ficam 01 ano condicionando comportamentos no rato e observando as premissas da teoria comportamental.  Quanto aos santos e imagens, não gosto mesmo, não é medo.  Não gosto.  Ultimamente tenho colecionado estatuetas de mulheres com filhos no braço, tenho atualmente 09, é uma forma de espalhar pela casa a maternidade...sinto falta disso. Mas são estatuas, não imagens.

Perdi o medo da panela de pressão, de trocar bojão de gás, de escuro, ou de dormir sozinha, ou de ficar sozinha, ou de violência, ou de morrer, ou de perder qualquer coisa.

Ganhei um novo medo...medo de levantar, medo de continuar vivendo.  Medo de que alguma coisa faça a diferença em continuar viva sem Rafa. Medo de não cumprir o que prometemos, medo de conseguir ser normal sem ele. Medo da vida, e anseio pela morte, pelo reencontro...pelo fim de tudo isso que dificulta que eu me levante.


domingo, 17 de junho de 2012

COMO LIDAR COM A DOR ANTES QUE VIRE APENAS SAUDADES

Eu sempre ouço as pessoas falarem que a dor da perda, o luto, o vazio, o desespero que toma conta da gente quando perdemos alguém importante, que tudo isso vai se transformar em saudade. Que isso fica mais brando, mais leve.  Mas eu não sei se isso vale para quando se trata de mãe que perde filho.  Porque quando eu encontro com alguma mãe assim, que enfrentou a morte de um filho, elas falam que isso nunca passa, então eu não sei dizer mesmo.

Eu já vi uma mãe que perdeu um filho único dizer que ser abandonada em vida, é pior do que ser abandonada por alguém que partiu por conta da morte. Na época, eu fiquei conturbada, como uma pessoa podia dizer que perder um filho doeu menos que ser abandonada por um amor? Se antes eu não aceitei esse argumento, hoje que sei o que é perder filho...posso dizer que nada, nenhum tipo de dor, nem de abandono se aproxima disso.

Falam que a dor de parir e a cólica renal, são as piores dores que um ser humano enfrenta.  Minha avó dizia que a dor de uma boa abortadura era mais forte do que a dor de uma pior paridura. Tradução: a dor do aborto é pior do que a dor do parto.

A verdade é que senti todas essas dores: do parto sem passagem, do aborto com cólica forte aos seis meses de gestação, aos três, aos dois; a cólica renal, algumas crises com internação e a dor do abandono e a dor de abandonar. NADA PODE SER COMPARADA A DOR DE MÃE QUE PERDE FILHO.

A gente tem várias formas de lidar com a dor. A gente foge dela, mas ela continua ali. Ela acorda antes da gente, ela nos olha no espelho antes mesmo de escovarmos os dentes, ela senta em nossa mesa e faz as refeições, ela controla o nosso sono, o nosso enfado. Fazemos um esforço muito grande para não encontrá-la e ela nos grita aos ouvidos todo tempo. A gente se esforça para fugir e quanto mais nos escondemos, mas ela nos encontra e nos persegue, até que entendemos que a dor faz parte da gente...que a gente é dor.

Ou então a gente assume a dor. Mas isso não faz com que ela fique mais branda, mais suave e menos dolorida. Não a dor nos invade da mesma forma e nos aprisiona do mesmo jeito, a gente só acha que porque a assumimos, temos controle sobre ela, mas isso não procede. Ela tem vontade própria e quando a gente menos espera ela também toma corpo, toma o nosso corpo, e entendemos que a gente continua sendo dor.

Talvez o segredo seja esse. Aceitar que ela exista em nós e esperar...quem sabe um dia ela mude de nome. Quem sabe um dia você consiga dizer para ela o quanto ela mudou e neste dia você a trate por outro nome...apenas por saudade.


sábado, 16 de junho de 2012

A CIDADE RETRATA MEU CORAÇAO

Hoje fui ao centro da cidade, entre outras coisa, comprar lâmpadas que algumas nossas estavam queimadas.  Um tumulto danado, nem esperava encontrar aquela bagunça no transito e na cidade.  O povo eufórico, as ruas enfeitadas alegres, mas tudo sujo. A sujeira da festa de ontem pelas ruas e calçadas, um reflexo do descaso e abandono.  Olhei aquilo, pessoas dormindo nas calçadas ao redor da festa, muita gente comprando miudezas juninas e o transito completamente parado.

Olhei tudo em volta, e parecia que eu não fazia parte daquilo, que não compreendia o que tinha acontecido e que não entendia como as pessoas conviviam com tudo aquilo sem se incomodar. Voltei para casa, sem resolver nada do que havia me proposto a fazer, e de alguma forma eu me sentia do jeito que compreendi a cidade esta manha.

Eu me sinto fora do contexto neste mundo, durante a maior parte do tempo. Ele, o mundo, já teve significado para mim, não tem mais, não agora, não ainda, não sem Rafa.


Olhava aquelas ruas e me imaginei da mesma forma...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

UM SOM QUE LEMBRA VOCE.

Começaram os shows do Forrocaju. Nunca fui contigo. Achava perigoso deixar Rafa ir sozinho com os amigos, não deu tempo de ir com ele e quando ele de fato tinha idade para ir, a vida lhe tirou de mim.

O som invade o apartamento, inunda a varanda e nossas salas vazias, dói ouvir um som que você gostava de cantar, tocar, cantarolar e saber que vou conviver com isso sem você.  Nestas horas dá uma vontade louca de sair de cena, as vezes acho e fantasio estar bem longe, como se de alguma forma não ouvir isso, significasse não lembrar de você.  Isso não existe.


Mas sair de cena nestas datas, nestes dias e nestas horas, é uma forma de sentir a dor, sem que nada do meio externo tivesse o condão de machucar mais que a sua partida em si.


Saudades, no compasso das notas que você tocava e que ao fechar os olhos, vejo a gente lembrando de músicas que entoaram nossas vidas.  


Hoje o meu baião tem uma nota só...dó...dó de tudo que ficou para trás e das coisas que não viveremos para frente.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

POR QUE TER QUE RAFAZER A VIDA?

Eu sei que as pessoas torcem e desejam de fato que eu refaça a vida, pelo menos é o que a maioria quando consegue ter um tempo mais intimo comigo, acabam falando, e aquilo soa tão pesado para mim. É como se qualquer coisa importante que me aconteça seja capaz de refazer a minha vida.  


Mas eu não quero refazer...eu queria a minha vida de volta. 


Só isso.


Mas ninguém entende.


Como é difícil me fazer entender, e até me entender mesmo, mas sei que não dá para romper simplesmente e tocar a vida descobrindo coisas novas. Não virei uma nova pessoa, não deixei de ser mãe de Rafa, mas não exercer a maternidade fez com que todo o resto perdesse o sentido. Nem sei se é da maternidade que sinto falta...acho que sinto falta mesmo do amigo.


Não sei se ele era filho antes de ser amigo, acho que ele sempre foi amigo antes de te-lo filho em meus braços. 


Conversávamos a noite, depois das dez quando eu ainda era estudante e fazia duas faculdades ao mesmo tempo, e chegava em casa depois da faculdade de Direito. Meu trajeto para casa, no ônibus já era de muita conversa, eu usava todos esses momentos sozinha para isso. Ainda ficava em casa muito tempo sozinha, porque o pai trabalhava no turno da noite e inicio da madrugada. 


Era incrível deitar na cama depois das dez, depois do óleo de amêndoas e todo aquele cuidado gestacional e só naquela hora do dia Rafael mexia dentro de mim, era como se ele processasse todo o dia e ali ele começava a me dar as respostas. Era um mundo meu e dele...meu melhor amigo. 


Não sei refazer isso, nem sei o que refazer.  Simplesmente, para continuar viva eu preciso olhar para trás.


Esse desabafo foi escrito ontem mas não foi postado, porque simplesmente achei que estava sendo contraditória, em relação a postagem da estatua de sal, da semana passada, mas hoje resolvi postar sem autocritica, porque o luto de um filho é o berço da contradição para uma mãe...a gente está viva mas é como se estivéssemos mortas e nossos filhos mortos continuam bem vivos, em todo lugar dentro e fora de nós.

UMA NOVA ESPERANÇA

Parece que quando tudo está perdido - e aqui no sentido de algo que mereça ser encontrado ou reencontrado, como, por exemplo, uma nova capacidade de continuar ou a mesma capacidade de andar de novo - pois é, quando parece que tudo está perdido, apagamo-nos a qualquer pista que de alguma forma nos dê folego para procurar o que se perdeu.

No meu caso qualquer coisa serve para definir esta procura, mas talvez a coisa que mais anseio, depois do reencontro com Rafa e da recuperação e estabilização da saúde de minha mãe e de meus irmãos todos juntos, é sem sombra de dúvida conseguir dormir novamente.

Aquele sono que não foi provocado por substancias químicas e que não é entrecortado pela dor de cabeça fatigante, ou pelos pensamentos de critica, culpa, reflexão, cuidados de Deus, desespero, ansiedade, etc.  

Quando as pessoas me perguntam quanto tempo faz e eu digo 01 ano e 22 dias, elas sempre comentam alguma coisa em seguida que não chega perto de tudo que estou vivendo. O esfacelamento de minha família, e da família que minha mãe construiu...e estamos enfrentando todos juntos e ao mesmo tempo: a perda de Rafa, doença de minha mãe, gravidade de meu irmão e de quebra duas separações que podem não dizer muita coisa, mas incomodam bastante.

E imaginar que nesse cenário em algum lugar a minha capacidade de olhar em frente e sentir esperança foi escondida, de mim mesma e do mundo que me espia e as vezes me persegue ao não entender o que se passa no meu submundo familiar.

Hoje retorno ao médico, depois de mais de 50 dias sem visitá-la. Nas nossas conversas, e hoje baixei a guarda com ela, ao vê-la exibindo aquela barriga de uns cinco, seis meses de gestação, eu não tinha como não me quebrar e achar que ela merecia agora um pouco da minha confiança. Só hoje falei sobre meu irmão e sobre a ansiedade de ver minha mãe enfrentando a doença e eu sem conseguir olhar para frente.  Ela elaborou uma cena bem real.

Em minhas perguntas sobre quando isso passaria, e porque está demorando tanto e que eu não tenho suportado remédios que não conseguem nem me por para dormir, ela me falou que tinha um filho do primeiro casamento que nas ferias escolares, precisava ir visitar o pai, que morava em outro estado. o que ela fazia durante as férias? Chorava, trancava a porta do quarto do filho e só reabria quando estivesse próximo de seu retorno.  E ainda me disse, o que minimiza tudo isso é que eu tinha outro filho, então pelo outro filho eu não chorava todo tempo... você não tem. E pensei...e meu filho não voltará das férias escolares...aliás ele não voltará mesmo. Por isso minha ansiedade de ir ao seu encontro.

Em meio as lágrimas e conselhos, um presente...um novo remédio que me deu 04 horas de sono. Uma nova esperança enquanto não consigo achar outra.

terça-feira, 12 de junho de 2012

MINHAS MEMÓRIAS, RAFAEL E O DIA DOS NAMORADOS

Minhas memórias sobre Rafael, em dias em que celebramos o amor.

E hoje, mesmo com uma atmosfera diferente na cidade, quiçá no país inteiro, e em algumas partes do mundo, já que deve ter brasileiro em tudo que é lugar, e dia dos namorados é comemorado em datas diferentes ao redor do mundo, mesmo fazendo parte do mundo do solteiro, e defensora do slogan que antes só do que mal acompanhada, tem sido um dia dos namorados bem difícil, pois sinto muito a falta de Rafa e suas memórias, desta ordem de paixonites, tomaram vida sobre mim hoje.

Lembro da primeira paixão de Rafael. Eu tinha me separado, e estávamos morando com minha mãe. Então logo em seguida a separação, férias da escola, e minha mãe matriculou Rafa, Lícia e uma prima nossa numa colonia de férias. Eram todos bem guris, acho que Rafa não tinha sete anos completos, Lícia tinha quase 10 e minha prima perto de 11anos. A colônia de férias funcionava em período integral, durante 03 semanas, numa escola com proposta bem de hotel fazenda, o Arqui Zona-Sul. 

Ao fim da colonia, eles prepararam uma apresentação para os pais, e cada grupo tinha uma atividade diferenciada. Rafael, estava todo serelepe, pois a bailarina da turma, filha da coordenadora da escola, responsável pela colonia de férias, tinha escolhido ele para ser seu par na apresentação. Rafa, que no final do ano, menos de dois meses daquela colonia, tinha participado como Pero Vaz de Caminha na apresentação de final de ano da Escola Babylandia, numa participação especial, obviamente que usou essa informação para convencer a nova bailarina de que ele era o indicado para conduzi-la. Ele só falava nisso, na surpresa.

Todavia, no dia da apresentação a bailarina chamou outro menino, da idade dela, que estudava com ela na mesma sala da escola, e que já se conheciam desde a educação infantil. Bem, naquele dia, o mundo de Rafa se quebrou, e meu coração, o de minha mãe e o de minha avó junto. Nós enchíamos os olhos de lágrimas ao ver o escândalo de Rafael chorando preso as minhas pernas. Foi a primeira taboca (forma variada do nordestinês para informar que fomos preteridos) da vida. Foi pública. E calou fundo. 

Deste episódio, Rafa teve febre, ficou muito sentido, e tempos depois, mais de ano, estávamos na fila da matricula do Conservatório de Música do Estado de Sergipe, eu e Rafa, e a menina, a tal bailarina, com a irmã e o pai depois da gente na fila, umas 20 posições. Rafa perdeu o compasso, eu nem lembrava dela, mas ele parece ter revivido tudo. Então ele foi procurou, ela reconheceu e fez de conta que nem conhecia, ele continuava menino, ela já se sentia como uma pre-adolescente. Conseguimos a vaga, elas não. Mas Rafa ainda tinha esperanças de que ela desse bola. Mas desencanou, porque já tinha sofrido a segunda decepção amorosa.

Da segunda vez, a menina, alvo de seu amor, estava deixando a escola que ambos estudavam, no meio do ano, porque o pai dela foi transferido. Rafa queria dar um buque de rosas, vermelhas porque ele dizia que era o simbolo do amor, e nesta época ele conversava comigo em tempo real sobre o que sentia, nem era dia dos namorados, mas ele queria que fosse... 

Chegou em casa naquele dia me pedindo dinheiro para comprar o buque que já sabia o preço e tudo mais, consegui convence-lo a mudar de ideia, dizendo que ela tinha que ter uma coisa que durasse um pouquinho mais para ela lembrar dele e então ele cedeu e compramos juntos uma bonequinha de louça, mas ele insistiu e compramos uma rosa...de cor rosa. Alvoroço na escola, estudavam em turno integral, mas vinham almoçar em casa, naquele tarde em que o presente foi entregue minha casa caiu, o pai da menina ligou para mim, depois de ter ligado na escola, achando tudo um abuso. Ponderei e consegui me fazer ouvir por aquele pai, dizendo que não eram Romeu e Julieta, eram duas crianças, sem proibição alguma porque era uma amor inocente que estava intenso porque ela ia embora. 

Ufa, sobrevivemos a tudo isso, e Rafa foi aprendendo um pouco mais sobre a vida. Depois de tudo explicadinho, o pai da menina nos convidou para visita-los na outra cidade. Não lembro o nome da guria, talvez Alysson e Gui lembrem...Tico acho que não, porque nessa fase Gui, Pedro, Alysson e Afonsinho andavam mais juntos. Mas essa foi a segunda paixão de Rafael. 

Sobre o primeiro beijo...abafe o caso, porque se Lícia ler isso, pode difamar Rafa...porque graças a Deus que o gosto dele foi aprimorando, porque a guria era digamos muito mais para Sherek do que para Fiona. Se bem que isso era só eu que achava, coisa de mãe ciumenta, morta de ciumes, porque ele tinha beijado uma boca que não era a minha. 

Rafa cresceu e continuou se apaixonando. 

Primeira e unica namorada apresentada para mim e mais uma fase que demorei a engolir, hoje amo ter noticias de Rayane, muito, muito especial, muito atenciosa e meiga comigo. Mas o namoro não resistiu ao dia dos namorados, acabando um mês antes. 

Depois disso só amores impossíveis transformados em amizades verdadeiras e nenhum dia dos namorados acompanhado. Talvez ano passado ele tivesse chance, talvez esse ano também, mas se não tivesse, sei que a alegria e a descontração de estar ao lado dos amigos solteiros, indireta viu meninos, faria desse dia um dia de muita diversão. 

Difícil é entender que tudo isso é passado. Que suas paixões e suas possíveis tentativas de namoro ficaram no passado. Rafael, foi um dos homens mais românticos que conheci. Rafael era daqueles que fazia música, cantava ao telefone, escrevia e deixou coisas lindas escritas para seu ultimo amor, aliás escritas, mas não para ela, mas sobre ela. Rafael era daqueles que quando sentia-se apaixonado, demonstrava e não tinha medo de correr atrás, mesmo que fosse preterido. 

Hoje quando olho para frente, vejo as pessoas que se diziam apaixonadas por ele, ou as que ele demonstrava paixão, já recuperadas pela perda. Torci muito por isso, afinal quem continua tem que tocar, embora seja estranho vê-las, logo uma após outra, numa sincronia de horários, manifestando publicamente seus amores eternos aos seus atuais cúmplices. Como é bom ser adolescente, como é bom viver intensamente. Fico feliz por elas, e sinto saudades...de quando Rafael sonhou viver um pouco isso ao lado delas. 

Dia dos namorados. Dia do amor...que tudo sofre, tudo espera, tudo suporta...se não é assim, não é amor. Lembro de quando os meninos são crianças e as mães suas namoradas na imaginação, perfeito Complexo de Édipo antes de ser solucionado. Saudades desse tempo, em que seus olhos eram só para mim. Esse amor não acabou, esse continua crescendo esperando nosso reencontro. Eu amo muito você.




segunda-feira, 11 de junho de 2012

PARA ONDE OLHAR

Eu fico boa parte do tempo questionando para onde olhar, em que direção andar. E serio que o que mais desejo no mundo, pelo menos neste mundo sem Rafa, é dormir, dormir numa boa, dormir no horário que todo mundo dorme, dormir sem remédios, dormir até sentir que não aguento mais dormir, até sentir aquele cansaço de ter dormido tanto, aquela moleza gostosa no corpo, aquele sono que alimenta e rejuvenesce.  Mas até isso acontecer, para onde olhar?

Hoje vi um filme baseado na historia de um adolescente que no primeiro ano da faculdade, morando longe dos pais, liga para eles numa noite e no dia seguinte ele entra na faculdade atirando, e mata alguns adolescentes e depois se suicida. Mas quero me deter na historia dos pais daquele menino, após a sua morte. A crise que enfrentaram, a separação e depois a reconciliação. O menino era filho único, e como foi responsável pela morte de tantos outros adolescentes, aqueles pais não puderem sequer enfrentar o luto com dignidade, uma vez que o apelo da imprensa e da comunidade os fizeram se afastar inclusive da casa onde moravam.

E falando nestes pais, muitas vezes durante os diálogos deles, se questionavam, onde tinham errado. Questionaram a fé, deixaram de ir para igreja, os próprios irmãos da igreja, pessoas e por isso falíveis independentemente de religião, também os criticavam duramente.  Também se afastaram dos empregos, e o retorno do marido foi extremamente conturbado, e a esposa não retomou o trabalho.  E finalmente, culpavam-se. Culpavam-se por não ter percebido, culpavam-se por não se acharem presentes durante aquela "crise" do filho, questionaram a criação, os valores, a genética, a vida. 

Durante o filme eu pensava, Senhor já pensou se além dessa dor, eu tivesse que carregar a dor da culpa de Rafa ter contribuído com a morte de alguém? Pior que levei por muito tempo, achando que Rafa tinha sido responsável pela morte do amigo, também vitimado no mesmo acidente.  Acho que a culpa ainda vem algumas vezes, mas de forma mais branda, pelo carinho dos pais do outro Rafa, por não ter sido Rafa pilotando e o mais importante, porque eu não tenho controle sobre a morte ou a vida de ninguém, nem tinha sobre a vida de Rafa.  Isso é com Deus.

Mas voltando a culpa, e aos questionamentos infindáveis que durante a falta de sono e minha opção de vida, involuntariamente me controlam. Acho que a culpa deve ser pertinente a todos os pais independente da causa morte de seus filhos. Acho que quando são vitimas de doença, nos questionamos porque não percebemos, porque não evitamos isso ou aquilo. Quando são vitimas de acidente, questionamos porque não levamos e buscamos, ou porque demos determinada coisa para eles andarem, ou porque não proibimos a amizade com beltrano e fulano, e as vezes nenhuma destas hipóteses são verídicas. Não que sejamos perfeitos, mas de repente o livramento de morte de nossos filhos não cabe a quem não é Onipresente, Onipotente e Onisciente, como os pais.

E imagino que não saber para onde olhar é comum para pais que perdem filhos, e talvez mais causticante para os pais que perdem filhos únicos.  Acho que ficamos muito tempo perdidos, sem saber para onde olhar...e muito tempo olhando para a nossa dor.  Hoje, o único plano que tenho antes de descobrir para onde olhar novamente, é apenas dormir, sem sentir tanta culpa por não ter impedido Rafael de ir para a Praia do Saco naquele fim de semana, ou de quando meu coração apertado naquele domingo sem saber o motivo ter ido busca-lo e traze-lo para nossa casa.

domingo, 10 de junho de 2012

MUSICA...QUANDO SUAS LEMBRANÇAS ME INVADEM

Musica. Como você era musical, sonoro, cheio de som.  Sinto falta de seu som, sinto falta de cada descoberta, de cada nota, de cada instrumento musical, da cada batuque, confesso que até do som de carro sendo montado aqui em casa e o teste das caixas que sopapavam tudo até antes de eu chegar em casa me fazem falta.

Lembro daquele celular antigo, onde as teclas tinham determinada nota musical e você fazia as melodias, você tinha oito anos incompletos, sinto saudade da gente comendo cachorro quente na esquina de casa e você me mostrando as novas composições.  Saudades de sua música, de seu som.

Lembro de você cantando no karaokê daqui de casa, ou melhor, começamos na casa de sua avó, depois baixamos no nosso computador, quantas competições, quantos sábados até conhecermos a igreja, passávamos nossas tardes, cantando e rindo, as vezes brigando pelas notas. Saudades de seu som, de sua voz.

Lembro de você ainda menor tocando teclado. Depois a sanfona que comprei quando ainda estava no Rio, quanta alegria. Ou quando me fez conhecer a flauta doce, e depois o violão, e descobriu minha caixa de livros de musica, e os grupos de minha época, e conheceu a MPB, o rock dos anos 80 e 90, e as farras com Tio Aguiar te ensinando novas musicas, e ríamos muito ao vê-los tocando juntos, como nos divertíamos.  Depois a fase rápida do violino e a sua paixão pelo cavaquinho...Hoje lembrei de você provando a seu avô Roberto que sabia tocar, e mandou a introdução de Brasileirinho de costas, para gente isso era uma grande proeza, pois não tocávamos nem caixa de fósforo e amava vê-lo despertando musicalmente.  Saudades de sua voz, de seu ritmo.

E finalmente filho, lembro de você cantando pela casa, me mostrando coisas novas, cantando coisas que eu pedia.  Hoje pela madrugada, senti saudades de musicas especiais para nós, senti saudades  de seu som, de sua voz, de seu ritmo, de sua música. 

Fecho os olhos e posso te ouvir cantarolando aqui em casa. As lágrimas refletem apenas mais uma coisa que vivi ao seu lado e que me faz muita, muita falta. Sinto saudades de sua melodia que embalava minha vida.