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quinta-feira, 31 de maio de 2012

ISSO NUNCA VAI PASSAR, TUDO VAI PERMANECER AQUI

Eu fico impressionada como a forma como vemos as mesmas coisas passam a mudar conforme vamos amadurecendo e ganhando novas experiencias, e também fico perplexa com coisas que de fato eu gostaria que mudassem mais permanecem em mim da mesma forma.

Falo de forma como vemos a vida e associamos nossos valores ao passar dos anos.  Lembro de meus preconceitos aos 15, 20, 30 anos e como eles foram se refazendo. Tipo: tatuagem, mãe solteira ou produção independente, e forma alternativa de vida, comida, etc. Mas também outras idéias mais complexas sobre Deus, percepção de quem de fato é fiel aos princípios e como a vida adulta e os valores são relativos, ou de como o dinheiro muda o humor, compra posições, define relacionamentos, ou de como ser sincero e verdadeiro está tão próximo de calar sobre o que pensa. A gente vai crescendo e o nosso olhar sobre as coisas vão  mudando.

Mas com certeza algumas coisas não  mudaram com o passar do tempo.  Não consegui mudar forma de reação diante de problemas da vida. Calar-me e isolar-me ainda é a melhor forma de digerir todo o caos que se apresenta. Queria ter aprendido a dizer o que penso de fato as pessoas quando me magoam, resolvi resolver sozinha, talvez tenha ensinado isso a Rafa, não sei. Sei que com ele me abria, e ele sabia ouvir, ficava calado e depois em doses homeopáticas dizia o que pensava e achávamos um jeito de agir.

Penso em tudo que guardo no peito por conta dessa dor da perda. Passaram-se 12 meses, 01 semana e 2 dias. E tudo continua do mesmo jeito, talvez pior. Não sei se espalhar fotos pela casa, ou recolhe-las todas muda alguma coisa aqui dentro. Não sei se não entrar no quarto dele, como hoje, e entrar todos os dias, muda alguma coisa aqui dentro. Embora eu precise entrar ainda todos os dias, e em alguns deitar e abrir o guarda-roupa, tocar nos livros, ligar o ar e a tv, deixar a porta aberta, imagina-lo saindo do banheiro enrolado na toalha ou trazendo o copão da cozinha com água, suco ou refrigerante.

Hoje eu vi um filme, depois de passar o dia inteiro na cama, sem levantar nem para banho. Por que? Tentando não ir no quarto, tentando arrumar o horário do sono, tentando fugir de tudo. Tudo apagado, escuro, janelas e cortinas e la pelas oito da noite, não consegui...a sinopse do filme, um casal que perde o único filho num acidente e tentam recomeçar.   Não lembro o nome. Comecei a assistir...percebi que havia assistido o filme em 2010. Ainda com Rafa fazendo parte ativamente de meus dias. O filme me emocionou demais, naquele período. Mas eu não conseguia me colocar no lugar daquela mãe. Lembro que na época eu chorei demais, e Rafa tirou onda, afinal segundo ele, eu choro com vale a pena ver de novo de novela das seis.

Hoje, me via naquela mãe. Naquelas mães, porque a mãe da protagonista também tinha perdido um filho e fala da sua experiencia, e no filme há um grupo de pais que se encontram semanalmente, e eles falam sobre as perdas.  Num dado momento me via ali. Meu período de revolta, quando as pessoas diziam que Deus precisava de Rafa e eu pensava, mas Ele é Deus pode ter quem quiser, pode até criar outro melhor do que Rafa, porque o meu Rafa. Ou quando as pessoas falavam que Deus chamou e ele era um anjo, e eu pensava, pois é mais Ele é Deus poderia criar e ter qualquer outro anjo, não o meu.  Depois a fase de não querer nada com Deus e com a igreja, de interroga-lo sempre, e depois a fase de buscar Nele o consolo. Essas fases não são continuas, acaba uma começa a outra, para mim elas eram concomitantes, dias mais próxima dias mais distantes de Deus. Dias só O questionando, dias interrogando, mas sempre tentando Nele achar uma resposta, um remédio.

Não chorei hoje ao ver o filme. Mas choro todos os dias. Nestes 12 meses, 01 semana e 02 dias, só não chorei no Natal e nos dias que dormi mais de 24 horas, porque se o sono era quebrado, começava num dia e avançava no outro, com certeza chorei a ausência de Rafael.  

Tem uma parte do filme, num diálogo entre  filha e mãe - e ambas tinham perdido seus filhos, a primeira há 08 meses, seu filho único de 04 anos atropelado na porta de casa, e a segunda há 11 anos, um filho com 30 anos de overdose - enquanto embalava as coisas do quarto do filho e as colocava no porão da casa, a filha perguntava para a mãe se aquilo que ela estava sentindo no peito, se aquilo passava. E se referem a "isso", e eu sei o que é "isso" e falo disso todos os dias. E a mãe responde, não, não passa, não passou em 11 anos. E fala que muda, mas não passa.

Não passa e fica cada vez pior.

No filme, depois de quase venderem a casa, quase se separarem, o casal trava um dialogo ao fim do filme, bem pratico tipo, e o que vamos fazer? E descrevem coisas praticas, tipo comprar o presente de alguém, e depois? Embrulhar. E depois? Chamar as pessoas aqui em casa. E depois? Falar de tal coisa, mostrar que temos interesse em saber, mesmo sem ter. E depois? E vão planejando um tarde com pormenores depois e o filme acaba quando eles não conseguem mais planejar aquela tarde...

Sabe o viver um dia de cada vez. Ontem eu planejei que hoje eu ia ao banco, ia fazer umas coisas e decididamente ia tirar a sala da minha cozinha. Hoje...eu não sai da cama. Tem isso também...o e depois se arrasta. 

Isso não passa.




quarta-feira, 30 de maio de 2012

PRECISO OLHAR PARA O SOFRIMENTO DOS OUTROS PARA SUPORTAR O MEU

Tem dias que eu me sinto tao fracassada, tão injustiçada, tão abandonada. 


Tudo dói. Pensar dói, não pensar também, porque não temos o controle sobre isso.  Chorar dói, tentar segurar o choro dói mais ainda. Ser fútil as vezes me parece a unica saída, fútil no sentido de uma pessoa egoísta, desligada de tudo sabe, não ligar para nada nem ninguém, e arcar a essa escolha, isolamento total, e aí se for importante a gente até sai da clausura, mas também não conseguimos fazer isso e então, percebemos que conviver com esse vazio é um desafio e nestas horas de luta perceber que o sofrimento do outro pode ser maior, faz-nos de alguma forma nos sentir normal.

Talvez aquele ditado popular de que em terra de cego quem tem um olho é rei, pode representar um pouco, e aí me entupo de videos bem apelativos, de videos chocantes e de historias insuportavelmente duras para serem narradas, onde famílias inteiras são dizimadas. Onde pais perdem, dois, três ou todos os filhos, e tento acompanhar na net a vida daquela família. Procuro a edição de outros vídeos, informações nos noticiários e blogs locais e comentários posteriores, e quando percebo que o tempo passa e que as pessoas tocaram as suas vidas, eu penso, pode ser que dê certo para mim também.


Estranho isso. Por que a gente tem que passar por isso. Tem horas que concordo com o texto de Pedro Bial sobre morte. É ridículo mesmo morrer. E tudo que deixa de ser por conta daquele segundo que altera sua condição humana. E tento ser um pouco Deus, imaginando como seria diferente se...


Será mesmo que existe alguém que perca um filho e só dê gloria a Deus. Que não chore, nem sofra, que toque a vida só por conta de sua fé, e porque crê sobriamente que essa vida não tem tanto valor, e que feliz aquele que já se encontra no Reino do Senhor. Será que tem alguém assim? Alguém que chega do cemitério e se desfaz de tudo, das coisas, do quarto, das roupas e não vive do passado, e só pensa no futuro eterno ali na frente?  


É tão esperado morrer. Tão certo. É tão normal no mundo atual as mazelas da sociedade e a incerteza de voltar para casa com vida. De encontrar uma bala perdida, de ser picado por um mosquito e ter hemorragia fatal na porta do hospital, de ser espancado em frente a casa, de ter uma dor e não ter diagnostico e receber a certidão de óbito em seguida, de morrer de stress, de sucumbir a um ataque cardíaco, de morrer por diabetes, de morrer de acidente, de morrer de queda, cada vez é mais incomum a gente ouvir que as pessoas morrem de velhice.  


Ultimamente a gente ouve, o pai de fulano faleceu. Perguntamos, quantos anos, e falam 62 e a gente diz, meu Deus tão novo, e foi o que? E e seguida descobrimos, ele morreu de tal coisa, e ano que vem ia se aposentar, ou ia viajar, ou ia fazer o que esperou a vida inteira para fazer e não deu tempo. E a gente sente a dor e fica compadecido da família. Mas quando a noticia leva um jovem, parece que não combina. É uma sensação de derrota, de inconformismo, de pesar...não só pelo fato em si, mas por tudo que não foi vivido. Queria citar Pedro Bial aqui, quando ele diz : "Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, osono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo? Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. "


Hoje eu vi durante minha insonia noturna convencional e parte da tarde em que brigava com minhas lembranças, alguns vídeos onde o exagero da morte prematura se fazia presente na vida de muitas outras famílias, e assim, vendo a transgressão tocar a vida do outro, e no choro e na dor do outro, vertia as minhas lágrimas de saudades.



 Texto completo de Pedro Bial - " Morte ", publicado em http://pensador.uol.com.br/frase/MjQ4NDg4/

"A morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo.Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem,precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina nocarro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta idéia:MORRER!!!A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégioestudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se mantevelá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física,quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir paraestudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazerda vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era horade decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente... De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis.Qual é? Morrer é um chiste.Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, ependuradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curtecostelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, osono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo nãoacompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quasenada guardado nas gavetas.Ok, hora de descansar em paz.Mas antes de viver tudo? Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça. Por isso viva tudo que há para viver. Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida... Perdoe... Sempre!!!"Adiar...Adiar...Adiar...será Sempre o melhor dos caminhos?

terça-feira, 29 de maio de 2012

HAVIA UMA BORBOLETA EM MINHA SALA

Dizem que a borboleta é o simbolo de amor eterno. E eu gosto da analogia, do simbolismo associado as borboletas. Ultimamente algumas noivas, tem escolhido trocar a tradicional chuva de arroz no fim dos casamentos por uma nuvem de borboletas, que são encomendadas e soltas durante o fim do cortejo nupcial. Nunca presenciei, e tirando a historia de que as borboletas são capturadas e ficam presas até serem soltas, deve ser lindo o voo super colorido de centenas e milhares delas ao mesmo tempo.

Também já ouvi algumas pessoas comparando os estágios de transformação da borboleta com as fases da vida de Cristo e do cristianismo. Neste amago, a comparação reside no fato de que a metamorfose, dividida nas fase de lagarta, casulo e borboleta, representam, a fase terráquea de Cristo, o casulo sua sepultura e morte, e a borboleta sua ressurreição.

Em algumas culturas, a borboleta é associada a espiritualidade, que transcende o corpo físico, da lagarta, que morre, e que dá lugar a borboleta, representando aqui o renascimento. Há algumas lenda inclusive que trabalham com essa ideia, que não tenho intenção aqui de divulgar, apenas de fornecer subsidios para que compreendamos porque a associação da borboleta a amor eterno. Se até então os recursos utilizados faz menção a espiritualidade, e morte e renascimento.

De forma geral a borboleta representa a alma e o renascimento, n
a cultura greco-romana, assim como na egípcia, acreditava-se que a alma deixava o corpo em forma de borboleta. A palavra psique, em grego, quer dizer ao mesmo tempo espírito e borboleta. Nos afrescos de Pompéia, a psique é representada por uma criança com asas de borboleta. Mas n
o Japão a borboleta é um emblema da mulher, por ser graciosa e ligeira. A felicidade matrimonial é representada por duas borboletas (masculino e feminino). Essas imagens são muitas vezes utilizadas em casamentos, com o intuito de simbolizar o amor para vida inteira, o amor eterno.

Aqui eu não tenho a pretensão de definir o significado ou de usar o sentido espiritualizado que alguns povos cederam a figura da borboleta. Eu simplesmente soube, na época que fiz a tatuagem em homenagem a Rafa, que a borboleta é amplamente usada como simbolo de amor eterno, de renascimento, de eternidade. E quando quis aprofundar a leitura para entender o motivo, li muitas analogias a vida de Cristo e a eternidade que Ele nos proporcionou por conta de Seu amor eterno por nós, e desde então ver a borboleta voando é entender que esse amor eterno alcançou Rafa e me alcançará também, e só por conta disso, de que Ele nos amou primeiro, vou reencontrar meu filho...nutro por ele também um amor para toda a vida, essa e a eterna.


Desde a quarta feira passada...dia que completou um ano sem Rafa, tenho sensações de sentir seu cheiro em casa, é bom quando ele vem a minha mente, sem que eu precise estimula-lo, sem cheirar suas roupas, suas coisas no quarto ou borrifar seu perfume. Quando esse sensação vem naturalmente, sem que eu provoque, é sempre muito bom, apesar da dor e da saudade, mas eu paro tudo e fecho os olhos e choro com saudades, mas lavo a alma e fico bem, porque não esqueci sabe, porque o cheiro invade minha memoria, minhas lembranças, meu apartamento e de certa forma me acalma, apesar da tristeza e da dor. 

Hoje antes de sair de casa eu senti o cheiro, misturado ao cheiro dos lírios que trouxe para casa na semana passada, mas em alguns momentos o cheiro adocicado de Rafa inundava meus olhos, meu olfato. E quando cheguei em casa, depois de ter estado com Coracy e familia, e de ter visto um acidente de moto, com vitima estendida na Av. Hermes Fontes, e de ter encontrado com Tio Aguiar, Tia Graça e Déa (alem de amigos, vizinhos meu e de Rafa no outro apartamento), bem depois de toda essa emoção para a mesma noite, abro minha porta e escuto um barulho, meu apartamento estava com uma ilustre visita, uma borboleta linda, marrom com umas nuance de verde. 

Contemplei sua beleza e sua visita durante uma meia hora, e agradeci a Deus...ela era linda e representava muito para mim, simbolo de amor eterno...meu amor por Rafael.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

UMA NOVA INSPIRAÇÃO

Tenho revirado a gaveta de minha memoria, os armários de minhas lembranças, tentado truques novos e buscado um jeito de olhar para vida e ainda achar que vale a pena, mas cada dia fica mais difícil, mais desafiador e menos interessante. Há anos que as pessoas falam que é o fim dos tempos, quantas teorias apocalípticas foram surgindo e quantos defensores, mas continuamos aqui...respirando esse mundo caótico.

Dizer que a vida é bela e que deve ser desfrutada em plenitude fez parte de um passado meu recente, mas ultimamente me sinto como se tivesse sido arrastada pelos meus dias, ou os dias arrastados por minha vida.


Fico pensando, e aí um ano sem Rafa, vai fazer o que? Esperar mais o que? Levantar para que? Desfrutar como? Sinceramente você acha que vai ter graça de novo?  E eu ou não tenho resposta para nada, ou acho que não vai ter graça mesmo.


É assim, eu me vejo como numa competição, daquelas que você joga de dupla, mas os juízes permitem que a um dado momento da competição você jogue sozinha. Então eu vinha com a minha dupla, e não que a gente tivesse ganhando os jogos, não perdemos muitos, mas nos divertíamos jogando, era prazeroso, era necessário, era desafiador e um não tinha vontade de desistir para não frustrar a vontade do outro.  Muitas vezes eu tive vontade de desistir de uma ou outra coisa que inventava fazer, mas a mensagem que eu queria passar para Rafa era, pense bem antes de começar qualquer coisa, mas depois que começou faça o seu melhor, não deixe as coisas pela metade...eu achava que isso pudesse facilitar suas escolhas e decisões e acima de tudo suas atitudes.


Quantas vezes eu quis desistir de determinada proibição alimentar, ou comer escondido dele, mas não estava junto, se ele não podia, eu também não, cortava aquilo da casa, até ele ter idade de entender os malefícios e força de vontade consciente para não consumir. Lembro que eu não aceitava essa regra, quando meu irmão não podia e por isso, eu também era proibida, achava injusto a comparação, mas reproduzi, era mão e filho, acho que mais fácil do que se fossem dois filhos.   Rafael cresceu sem balas, chocolates, nada de morango ou vermelho, um tempão sem catchup em casa, eu muito tempo sem consumir, nem fazia falta. Outro dia comprei aqui para casa, coloquei no carrinho lembrando dele, como ele amava e foi privado, numa época que ele comia tudo com catchup, arroz, cuscuz, biscoito, era uma loucura.


Voltando para a competição, os jogos foram ficando difíceis e começamos a perder muitas partidas, mesmo assim continuávamos porque um dava força ao outro. Digamos que no período do falecimento de Rafa era a fase de classificação e ali não consegui classificar a dupla para a fase seguinte. Mas havia a possibilidade de continuar no jogo...sozinha. E eu fico me perguntando...valendo o que? Não tenho prazer em jogar, não vale mais nada, só o esforço de se fazer presente durante o jogo, e por mais que faça o melhor, enquanto eu não entender o sentido do jogo, fica cada vez mais difícil me preparar para jogar.


Ultimamente, eu até me obrigo a tentar me arrumar para o jogo, mas tem sido tão difícil enfrentar a quadra, eu fico semanas tentando colocar em pratica um único objetivo, tipo, tirar um extrato, por o carro para lavar, comprar produto de limpeza para casa, marcar dentista, voltar no oftalmo, ver o caroço nas costas no dermatologista, levar o presente de minha chefe, ou, simplesmente, contratar alguém para levar a sala antiga, empilhada há 03 meses na minha cozinha.  Cada dia me proponho a tentar qualquer uma dessas coisas, mas conseguir deixar o corpo na vertical tem sido um suplicio.  


Até para as coisas de Rafa...eu sinto que também levo mais tempo para fazer. Desde o aniversario dele, que não consegui furar a parede, é só um furo para pendurar o violão ao lado da guitarra.  Comprei maquina nova, naquele período e a broca veio com defeito, a autorizada trocou, mas meu ombro estava bem inflamado e não fiz naquela semana...nem tive forças para fazer nas semanas que se seguiram até a presente data.  Escrevo aqui, sempre no final do dia, com um esforço tremendo. Voltei a não conseguir concentrar-me em nenhum programa de tv ou filme completamente...e ultimamente não abro a cortina do quarto, já que vejo amanhecer todos os dias, a avenida encher as pessoas se deslocarem para os trabalhos, as sirenes das escolas tocando, as buzinas, e dão seis, sete, oito horas da manha, e o sono não vem.


Estou cansando do remédio sem efeito, da dor sem descanso, do vazio sem preenchimento e do jogo sem proposito. Um dia acordo e digo...vou viver para honrar a memoria de meu filho...no outro eu me arrasto para o fim do meu mundo e imploro, vasculho, eu me desarrumo, eu me desalinho, em busca de uma nova inspiração.

domingo, 27 de maio de 2012

COMO É DIFÍCIL TE SEGUIR

Pois é Deus...não posso dizer que é fácil, porque não é. Como é difícil Te seguir e guardar Tuas palavras em meu coração.

Renunciar as nossas vontade e aceitar as Tuas. Muitas vezes é maior que nós mesmos e sucumbimos. Eu penso que quase sempre é maior que a nossa força, e se você não tiver aliado a nossa força, aí não conseguimos mesmo. 

Hoje me senti como Saul, quando em ato de desespero e já distante de sua vontade vai em busca da advinha para ter suas respostas. É o caminho mais curto. Quase o pego, e preciso de Sua força para não pega-lo. Uma vez ouvi que independente da Sua vontade em nossas vidas, minhas ações terão uma consequência e eu arco com a responsabilidade sobre elas. Está tudo tão complicado aqui embaixo, aqui no meu mundinho, que tudo que menos quero é confusão, principalmente essas espirituais que trazem consequências psicológicas.

Eu faço uma analogia a uma mãe que com muito sacrifício consegue colocar o filho para estudar fora, muito longe de casa. No meio desse processo, eles descobrem que não funciona correio, não tem serviço telefônico, não tem internet. Ela não conhece o lugar, não conhece ninguém que já tenha ido, nem ninguém que tenha estudado e voltado para a sua cidade. Ela não tem resposta nenhuma do filho. Ela só sabe que o lugar que ele está é bom. Mas nunca viu sequer uma foto. 

Ainda na analogia, imaginemos que então aparece alguém na casa dela, é uma pessoa muito educada, muito especial, muito atenciosa que também mandou um filho estudar e depois de um tempo descobriu uma forma de comunicação, e ela vem cheia de boa vontade, compartilhar o que conseguiu. E nos informa que foi através de um cara que faz contrabando de coisas pesadas para influenciar pessoas a desistir de viajar, pois se os possíveis candidatos a viagem forem pegos nesta rede de trafico, não poderiam estudar neste lugar. Só que esse cara, se apresentou só para trazer informação, segundo ele quem já conseguiu chegar lá, ele não influencia mais para voltar, ele só quer ajudar a quem ficou porque não tem informação.

Imaginando essa historinha você confiaria em pedir a essa pessoa informação sobre seu filho?

A Bíblia fala que enganoso é o coração. E pode ter certeza que coração de mãe também se engana. Ontem eu pedia a Deus um par de asas, fantasiava uma forma de matar as saudades de Rafa. Não tenho dúvidas que ele está bem, porque tenho a promessa de Deus sobre minha vida e a vida de Rafa...

Olha a promessa Dele para nós em João 6:36-40.
"Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.
Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia.
Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia." 

Ou ainda quando ele me diz em João 3:16:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

Também posso me apoiar nesta passagem, que usei e uso na lapide e nas lembranças com fotos de Rafa, no texto de Romanos 8:38-39:
 “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” 

Então baseada nas promessas de Deus que conheço e que Rafa também conhecia sei que Rafa está bem, não pelo meu coração, mas chancelada pelas promessas de Deus. Mas sou falível, e sou de carne. Sofro com a distancia, sofro com a saudade, sofro com a falta, e mesmo sabendo que ao lado de Deus ele está melhor do que nesse mundo, vamos combinar que eu queria meu filho ao meu lado, desfrutando as coisas boas desse mundo e combatendo as que não são boas, acho que é o desejo de toda mãe que ama e que tem um filho do bem, um filho que não provoca sofrimento, que não inspirava receios ou medos. 

E por conta de meu coração de carne, ou as vezes de pedra porque só penso em mim, na minha solidão, na minha angustia, na falta que meu filho faz, nas coisas que não vivemos, nas coisas que esperávamos viver, etc., eu posso tomar decisões e escrever coisas dando vazão a esses sentimentos, desesperadores da saudade que sua partida provoca em mim. Ainda bem que a vontade de Deus é soberana, e que Seu amor nos salvou.

Falando desse coração enganoso e deste Deus que não engana, eu volto para a analogia que fiz da mãe que perde contato com o filho. Apesar de saber que ele está bem, por conta da promessa, ela perde o contato, aí aparece alguém que diz poder trazer informação, aparentemente informação "quente" segura, mas você arriscaria? Você deixaria que um traficante tivesse acesso ao seu filho para te deixar mais segura? As vezes a gente se deixa levar pela emoção, e nos distanciamos do que está escrito na palavra de Deus só para saciar um desejo nosso, mesmo que motivado pelo amor.
Trocando em miúdos, e aqui apenas a minha opinião e a minha decisão a muito custo de não ter acesso a informação sobre Rafa, que não seja revelada por Deus e Sua palavra, apenas quero manifestar a minha dor e o desejo do meu coração, como ontem sonhei com meu par de asas, ou quando clamo por um sonho com Rafa e recebo, e são lindos e me encho de paz e de gratidão a Deus, pois aquilo que o Senhor for me revelando, enche-me de paz e porque apesar de tentador, eu digo não a qualquer outra forma de revelação que não seja manifestada por Deus.

Ele nos adverte em Deuteronômio 18:9-14:
" Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos. Não se achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem goureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz estas coisas é abominável ao Senhor, e é por causa destas abominações que o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti. Perfeito serás para com o Senhor teu Deus. Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém, quanto a ti, o Senhor teu Deus não te permitiu tal coisa."

Sempre me recordo de Saul quando não atendeu ao profeta Samuel, e lembro de Saul tentando dar um jeito ao seu modo...resultado: na nossa força não dá certo. Vale a pena ler I Samuel cap 28. Quando Saul interpreta a seu modo a consulta que fez a uma cartomante, advinha, ou como algumas versões falam, necromante, que é alguém que consulta mortos.

Quando as pessoas falam de suas experiencias de revelação que manifestadamente não vem de Deus, mas tem riqueza de detalhes e um poder de convencimento e uma emoção que momentaneamente te balança, você também quer ter, quer se sentir especial, escolhido, mas aprendi que as coisas do mal não vem em embalagens feias e não atraentes, não, elas vem sempre para balançar nossa estrutura por isso, desestabilizam-nos por provocar-nos nos nossos pontos fracos, e quanto mais distantes de Deus, mais fácil sucumbir...quanto mais fragilizado, mais influenciável a essas forças, quanto mais se achar forte, cuide para que não caia...e hoje foi um dia que o Senhor veio ao meu resgate...Pai prefiro esperar meu par de asas...

Perdão por ter por um momento querido o contato mais rápido, as respostas instantâneas, mas que não vêem de Ti. Porque creio e quero seguir a Tua palavra. E entender o Teu silencio, como forma manifesta do Teu trabalhar. 


sábado, 26 de maio de 2012

RESOLVI PEDIR A DEUS UM PAR DE ASAS

Resolvi fazer um pedido especial. 
Sem querer interferir em nenhuma decisão celestial. 
Apenas imaginei, que nestes dias aflitivos,
Deus olharia com carinho ao meu mais novo pedido. 


Nem soube como elaborar, nem porque isso veio a mente.
Só sei que depois que tive a ideia, ficou tudo mais transparente. 
Na verdade, conformar-se ou aceitar a partida
Consome muito do tempo e o que restou de minha vida.


Eu cresci ouvindo um ditado, que é pior para quem fica.
E eu até duvidava mas hoje sei que isso é verdade, 
Porque meu coração dói tanto sofrendo por saudade
Porque só se sente saudade quando a pessoa que partiu é querida.


Em seguida, para meu conforto, começaram a me dizer
Só vão os bons, só eles prematuramente vão falecer
Eu nem me consolo com isso, porque para mim isto não faz sentido
Porque os bons têm que ir cedo, e de gente meia boca o mundo fica entupido?


Mas não consigo entender os planos de Deus, 
E a mim cabe apenas aceitá-los
Não posso dar jeito na morte, nem mudar o resultado, 
Senão hoje estaria sorrindo curtindo meu filho tão amado.

E nas minhas madrugadas, com tanta interrogação
As vezes clamando, chorando a Deus por uma solução
Implorando minhas respostas, suplicando uma posição
Qualquer coisa que Ele me dê, que faça acalmar meu coração.


Penso em tantas soluções...
Coisas impossíveis, tolas ou sobrenaturais
Medidas de um coração de mãe
Que não esquece nem vai deixar de amar jamais.


Mas que não aprendeu a ir dormir sem saber
Se o filho comeu, se dormiu, se está bem
Não sabe ficar sem respostas, sem ver
Não lhe foi ensinado a esperar o além...
Além do que seus olhos possam ver
Seus lábios tocar
Seu colo acolher
Seus braços abraçar.


Assim eu imaginei que Deus podia me conceder
Não porque eu mereça, mas apenas para amenizar esse sofrer
Pensei num viagem...
Não sei o rumo, nem a distancia, não tenho preocupação
Não queria levar bagagem apenas meu coração.


E mesmo que fosse de longe, que eu nem chegasse a desembarcar
que com meu par de asas, Ele me permitisse flutuar 
E olhar por uma frestinha qualquer, um buraquinho que fosse
Meu menino em seu mundo,  meu menino em sua nova morada.


Não precisava palavras ou toque, eu queria só uma revelação
Matar um pouco da saudade, aliviar essa aflição 
De amar a distancia, de não sabê-lo, 
de não sabe-lo lindo, de não sabe-lo com quem anda
De não saber o que faz, de perguntar se está bem, se posso ajudar, 


E como num conto infantil eu imagino a viagem 
Com o par de asas de Deus, sem conseguir contemplar a paisagem
porque o coração apertado mal cabia de ansiedade
de ver meu guerreiro menino desbravando sua nova realidade.




Mas como eu queria Deus apenas rever ...
Mais uma vez meu menino, meu Xeberel.

12 MESES SEM RAFA BISPO

Naquele dia 23 eu soube que meu filho estava com o Pai na eternidade, mas o outro rapaz agonizava no hospital lutando pela vida. O prognóstico não era favorável. Na minha concepção, ate então eu não tinha nenhum detalhe do acidente, apenas estava velando Rafael e passei aquele dia orando e chorando bem baixinho ao seu lado todo o tempo que me foi permitido, não larguei sua mão, ela ficou aquecida e lembro de minhas lágrimas caindo sob seu rosto, mantendo-o algumas vezes com o meu calor.  Não pensava na outra mãe, só pedia a Deus que o outro Rafa saísse bem do quadro, ate para nos esclarecer o que havia acontecido.

Na quinta-feira seguinte, dia 26, eu de posse de parte do relato dos patrulheiros, do laudo do hospital de Estancia, de relato de pessoas daquela cidade que mantiveram contato com os meninos antes do acidente, fui ao Hospital de Urgência de Sergipe encontrar-me com os pais de Rafa Bispo. Estavam comigo, minha mãe, o pastor que me acompanhou durante todo o processo, uma irma da igreja que junto comigo e Rafa participava das reuniões de intercessão na entrega da sopa neste mesmo hospital.

Chegando lá conheci a mãe de Rafael, no meio daquela multidão de pessoas. Em seguida chegou o pai, que eu já conhecia da Praia do Saco por ter estado lá em casa algumas vezes.  Confesso que eu não saberia como seria recebida, afinal o filho dela morreu tentando ajudar o meu. Eu também não sabia que Rafa Bispo estava pilotando a motinha e meu Rafa na garupa, só no dia anterior isso foi confirmado com os responsáveis pelo laudo do acidente.  Eles, os pais de Rafa Bispo, não sabiam de nada.  Assim que nos aproximamos ela me deu um abraço do tamanho do mundo, choramos, ela piedosa falando que Deus tinha sido bom com ela porque ainda tinha o filho e comigo Ele não tinha sido generoso, e eu tentando acalma-la dizendo que não, talvez eu não suportasse aquela espera, que a gente nunca ia entender o que levou Deus a decidir que um vai e o outro fica.

Uma de nós não sabia que Deus levaria os dois. E eu tinha ido para o hospital com esse intuito, consolar o que não se consola, confortar o que não pode ser confortado, mas mostrar para ela, olhe para mim...isso é o que te aguarda. Dias de escuridão.  Claro que não falei nada, chorei e orei apenas. Abracei, conheci parte da família. O pastor entrou orou, conheceu o menino, orou com ele, os pais ja haviam entrado antes, conseguimos uma exceção, e dali a cinco ou seis horas o hospital me ligou avisando do óbito.  Em seguida as palavras daquela mãe...Nega, faça pelo meu filho o que você fez pelo seu.  Não corri da delegação.

Tomei nos braços, vesti, arrumei, reconheci, era outro Rafael tão gente boa que eu perguntava a Deus porque tantos Rafaéis daqui de Aracaju na mesma semana. Por que os nossos Rafas? Por acaso o Senhor precisa mais deles do que a gente? Tem ideia do que será levar a vida sem eles? Vivi tudo novamente. Com uma diferença, desta vez, com os documentos do atendimento de meu Rafa em Estancia e de posse das informações do posto policial e de algumas testemunhas chamadas ao processo, que abri na semana seguinte, dei entrevista para os meios de comunicação que na segunda aventaram hipóteses não comprovadas sobre o acidente, com ajuda até de pessoas que faziam número e fomentavam fofoca no IML, porque não tinha nada para acrescentar, nem a sensibilidade de que o lugar e a família não lhe cabiam.

Ao arrumar Rafa Bispo com a ajuda de sua tia, eu pensava nele chegando no Saco, quase não ouvíamos a voz, sempre educado, a gente chamava para comer e ele mal sentava a mesa, nunca comia, e só depois de muito tempo foi que soube que não gostava de carne, eu achava que era vergonha.  Saia com Rafa e apresentou todo o Saco.   Rafael com ou sem amigos em casa, com ou sem colegas da escola, com ou sem programação definida, há cinco anos, tínhamos a companhia de Rafa Bispo e de seu irmão Gabriel.

Tinham planos. Planos para as próximas ferias, onde viriam passar uns dias aqui em Aracaju conosco. Tinham coragem. E eu, mãe...ainda creio que tinham discernimento, e que um dia a colisão e toda a mentira escondida pelas pessoas envolvidas no acidente virão a tona. Não trarão de volta o sorriso de Rafa Bispo, a generosidade, a fidelidade aos amigos, o amor a sua mãe, a alegria aos seus amigos, mas nos dará um pouco mais de paz. Saber como aconteceu faz diferença para nosso coração.

A morte de Rafa Bispo trouxe consequências irreparáveis para sua família. Deixou uma mãe com um buraco tão grande no peito. Um pai que precisou aprender rápido a ser forte e estruturar sua família só com a força de seu caráter e a oração de seus parentes, e um irmão que tem que aprender a ser sozinho.  Três coisas que não se aprende em 01 ano, talvez não se aprenda em uma vida inteira.

A maior lição que Rafa Bispo me deixou...amizade, companheirismo.  Talvez seja essa a marca dos anjos Rafaéis.  Tem uma cena que gosto de lembrar, Rafa dormindo lá em casa no Saco e eu dando bronca em meu Rafa porque não chegou na hora que eu designei. Tinha uma explicação. Tinha tido um acidente no carro em que Rafael Bispo estava, era seu aniversario, e minutos antes, meu Rafa tira ele do carro e convida-o para vir com ele. O acidente foi grave com consequências danosas, o irmão de Rafa hospitalizado e outro ficou paraplégico.  Eu não sabia de nada disso, mas briguei horrores com o horário e para saber quem estava dormindo ali em casa, sem ter me avisado antes. Puxo a coberta, vejo o tamanho do pé, aí deixo para lá. Meu Rafa levanta e diz...só você viu mãe, viu o tamanho do pé ficou despreocupada né...se fosse 36 o numero aí ia ter confusão...rimos e depois soube de todo o acidente.

Lembro de Rafa Bispo rindo quando Rafael contou nossa discussão no quarto por conta do horário, durante a madrugada. Essa é a lembrança que guardo...do sorriso de Rafael Bispo.


É SÓ QUESTÃO DE SIMBOLOGIA

Então é assim passou um ano e o luto se resolveu de imediato ou quase isso, e automaticamente as coisas vão se encaminhando, afinal ja passou um ano, e em um ano, as pessoas namoram, noivam, casam, e se brincar engravidam; e todas que engravidam tem seus bebes nove meses depois dali; em um ano, mudamos de grau escolar, em um ano a maior parte das carências se acabam, até para divorciar antigamente exigiam 01 ano da separação legal. Um ano marca e distancia muita coisa na vida civil...na minha, só acrescentou dias entre eu e Rafa.

Achei que pudesse pelo menos dormir decentemente, são cinco horas da manha, e o sono não chegou, nem a disposição de escrever aqui tinha se assentado, porque estava vendo milhões de outras coisas para matar o tempo e a solidão. Olhando as roupas, o computador de Rafa, um tempo deitada na cama dele olhando para o teto imaginando e relembrando coisas, algumas tão engraçadas e falando sozinha, falo muito sozinha, qualquer dia desses vou estar cumprimentando as estatuetas em casa, falando com os vasos de flores, com as almofadas... se bem que essas eu já falo, tem dias que abençoo almofadas. Loucura? Pode ser. A saudade me enlouquece muitas vezes.

Pensei assim, quando fizer um ano eu acho que vou gostar de respirar um pouco e tentar tocar a minha vida. Ledo engano, minha vida não está desatrelada da vida de Rafa, estamos tão unidos e tão dependentes, talvez ele de mim não, mas eu completamente dele.  As pessoas me perguntam se ele gostaria de me ver assim. É tão obvia a resposta, que filho gostaria de ver a mãe mal? Mas o que as pessoas ignoram é o desconhecimento da formula magica para voltar a sorrir e a ser normal de novo.

Também dizem, trabalhar ocupar a mente, faz bem. A minha vive tão, tão ocupada que eu acho que por isso ela não desliga nem na hora que deveria me deixar dormir. Queria fazer tanta coisa diferente, mas não sinto disposição para fazer nada, tudo cansa, ultimamente nem o zelo por minha casa tem me preenchido. As dores lombares ajudam a evitar, mas perdi também a vontade de cuidar, da casa, de mim, das coisas.  

Eu acho engraçado quando as pessoas tentam me consolar dizendo que sou nova e que terei outros filhos e alguém decente que me faça feliz...e eu penso, joguei minhas chances fora com meu dedinho podre só escolhi tranqueira, e a unica coisa que realmente me fazia sentir orgulho, realizada e abastecida era a minha relação com Rafa. 

Eu olhava para ele, e pensava não o queria mais bonito, ele era lindo; não o queria mais inteligente, senão eu não o acompanharia era esperto e ativo demais; não o queria mais simpático, ele era doce; não o queria mais gordo ou mais magro, admirava sua altura, seu porte físico, até as pernas que ele achava fina, eu sabia que iriam engrossar; não o queria mais engraçado, a gente ria muito junto; não o queria mais companheiro, ele era meu melhor amigo e eramos independentes, mas voltávamos sempre para casa, nosso porto seguro.  Se eu tivesse que mudar alguma coisa em Rafa, e orei muito por isso, era quanto a sua saúde, quanto as crises alérgicas e as faltas de ar.

Essa era a coisa que eu queria mudar em Rafa, e foi por isso que ele pegou aquela maldita estrada no fatídico dia. Para buscar ajuda e se livrar da crise alérgica, seguida de falta de ar, conforme laudo médico do Hospital de Estancia que o atendeu entre 22:00 e 00:30 do dia 23/05.
Não me incomodava a teimosia de Rafa, a insistência, a necessidade de saber e participar de tudo, porque eramos eu e ele durante muito tempo, e um tinha que contar com o outro todo o tempo, guardada as devidas proporções da idade que tinha para participar e conhecer profundamente determinada coisa, mas por demonstrar tanta maturidade, quase nada era proibido aos seus olhos e conhecimento.

Então quando as pessoas tentam me consolar dizendo que sou nova e etc. e tal, eu entendo sabe e sei que falam com carinho e sei que torcem...mas eu não queria outro, eu queria o meu, o único, o especial, o que cresceu ouvindo-me falar que eu podia ter outros 500 filhos, só ele tinha vivido comigo aquelas historias e por isso ele era especial demais, era o amado, era o primeiro, era muito mais que um filho...meu Xeberel.  

01 ano ou 12 meses, é só questão de simbologia porque aqui dentro, não mudou nada filho...seguimos na mesma dor, na mesma angustia e com mais saudades.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

MEU PEDAÇO DE CÉU

Em meus momentos mais difíceis, foi comum o ato e olhar para o céu ou contemplar o mar  e buscar uma solução ou uma explicação para as coisas que estavam acontecendo.  No inicio era muito no mar, era comum eu ir na rua da frente, como chamamos aqui a Av. Beira Mar, que na verdade é uma avenida à beira do Rio Sergipe, e eu moro aqui próximo desde os meus treze anos, então eu ia na mureta do rio e ali chorava vendo o movimento das ondas. A vida foi ficando complicada e nem sempre seguro ficar ali, por horas a fio chorando e ouvindo o movimento do rio, isso me acalmava e muitas vezes Rafa me acompanhou neste "passeio".

O tempo passou e ainda olho para aquele meu confessionário natural com saudades. Nos tempos de Rafa, pegávamos umas pedrinhas na praça próxima e jogávamos no rio e virava uma diversão e não um momento de contemplação e desabafo. Neste período, em que Rafa me acompanhava, independente de ter a resposta para as aflições eu voltava para casa mais leve, mais segura, e sempre brincando.

Depois que ele se foi, nem o rio, nem a praia. Fico da janela da varanda ou sentada na cama dele, olhando sua janela e questionando os céus, alguns sábados mais penosos, brinco com as nuvens tentando montar o seu rosto.

A gente cresce ensinando as crianças que quando alguém especial morreu, virou anjo e foi morar no céu, e em dias como hoje, que contemplo nossa janela, com a chuva caindo sem trégua eu me pergunto por onde você está voando, que sensação deve ser para você ter asas, se sentia livre? E confesso que imaginar coisas assim, faz com que a madrugada passe mais rápido e doa menos, porque fantasiar qualquer coisa hoje é menos doloroso do que voltar ao mundo real.

No nosso penúltimo sonho, eu te perguntava coisas sobre esse lugar e você me respondia, eu tinha a sensação de que minha pergunta tinha sido contemplada, mas não lembro de seus respostas, com exceção de quando eu te perguntei sobre meu pai, se já havia o encontrado, e você disse, não mainha ainda não estamos na fase de encontrar ninguém, não é hora dos encontros.  Mas eu continuo nutrindo a esperança de encontra-lo. Quer seja nas minhas nuves, nos meus sonhos, nas sensações dos cheiros pela casa, nos barulhos da madrugada, na sensação do abraço, da companhia discreta.

Continuo olhando para o céu e questionando minhas inquietudes e necessidades. Continuo buscando no céu um pedacinho qualquer de você. Continuo esperando de Deus meu pedaço de céu, você novamente em meus braços.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

ESSA É A MAE DE TETEU (REPUBLICAÇÃO DE TEXTO DO BLOG MAES E FILHOS) ELO ETERNO


Não é plagio, é uma republicação do texto publicado no blog de Márcia, mãe de TETEU. Mas não preciso falar nada, alguem fala por mim com uma propriedade que eu nao tenho. Uma mãe que perdeu o filho e que choramos juntas quando nos encontramos na net...e Deus a usa de um jeito tão lindo e especial... 


Essa é a mãe de TETEU, uma mulher de Deus, que escreve lindamente no blog mães e filhos elo eterno. Nesta publicação ela cita uma parte de minha publicação do inicio desta semana, e me deixou um comentário lindo...essa era a verdade que ela queria me ensinar, e que descobriu, vivemos para honrar o que eles foram e representam para nós. Para o mundo eles foram, mas para nós...continuamos gravidas deles...caminhamos com eles dentro de nós, o guardamos no nosso ventre emocional e no fundo do coração e na superficie de nossa pele quando a saudade dói fisicamente...Mas não quero ficar falando...uma mãe traduz a dor da outra... mãe e filho, elo eterno.

endereço desta postagem do blog de Marcia: 


http://maesefilhoseloeterno.blogspot.com.br/2012/05/teteu-e-rafa.html


terça-feira, 22 de maio de 2012

TETEU & RAFA FILHOS ETERNOS


Aos dezoito meses da partida do meu Filhote, deste o dia 20 de novembro de 2010, o dia em que minha vida foi  tragicamente e totalmente mudada, hoje estou muito saudosa, aliás eu tenho dito que estes dias são crueis neste processo  de saudade. Eles são dias de muita saudade de tudo que vivemos ao lado dos nossos Filhotes, dor, saudade e lembranças todos eles afloram com tanta  intensidade,  que as lágrimas descem dos nossos olhos espontaneamente que não conseguimos evitar as crises de choro. Os dias, meses e os anos que se completam em relação a partida de nossos Filhotes em nossa vida representam para nós o quanto estamos nos distanciando de tudo que vivemos com nossos Filhotes... 
Meu Deus é impossivel esquecer o que vivemos ao lado de nossos Filhotes.. eu acredito que por isso que dói, dói muito, dói na alma, dói no coração, eu sei que não estou só, tem tantas Mães como eu que este mês completam  dias  meses, ou anos de saudades, quando vimos com os nossos olhos humanos nossos Filhos Amados pela última vez, quando vivemos as últimas alegrias estando ao lado deles.

Assim com eu, a minha querida Annalu Mãe de Rafa, a quem eu amo e quero muito bem, apesar de estarmos longe uma da outra, nos  somos uma só no Amor e na Saudade dos nossos Filhotes, estamos unidas pelos mesmos sentimentos e provavelmente pelos mesmos pensamentos. 
O que temos em comum? Muito, cada uma a sua maneira, meu Teteu partiu há dezoito meses, o Rafa de Annalu partiu há doze meses em momentos e situações diferentes. 
Vimos nossos Filhotes completarem dezessete anos de vida, tínhamos sonhos, queríamos vê-los chegar a maturidade, compartilhar com eles as conquistas, as vitórias, nos regozijar pelas realizações, tínhamos planos e tudo que uma Mãe deseja para o bem estar do seu Filhote... e isso foi nos tirado brutalmente.
"Ah Anna!... hoje eu queria estar perto de você para lhe abraçar, pois não há palavras para dizer, eu conheço os teus sentimentos, entendo o que senti e sei que para você é muito pior, pois nada ficou para amenizar só um pouquinho a tua dor..." 
Eu e Anna como muitas outras Mães vimos nossos Filhos partirem em um dia comum que seria mais um em nossas vidas, sentimos uma grande aflição no peito, derramamos lágrimas sem saber o por que? Então veio o pesadelo, o sonho mau o qual não conseguiremos acordar e se acordarmos estaremos vivendo, pois ele se tronou real, uma nova realidade de vida surgiu dura fria e cruel e temos que enfrenta-la, não podemos desistir, pois como Mães e por causa do nosso Amor precismos Honrar nossos Filhotes que já não se fazem presentes em nossas vidas. Sim minha Anna como você expressou em seu Blog HONRAR NOSSOS FILHOTES, mesmo que a vida não tenha mais valor algum, temos que viver os nossos dias porque nossos Filhotes acreditam em nós e sabem quem somos e do que somos capazes.

O QUE SENTIMOS E DESCOBRIMOS - Ver os nossos Filhotes partirem e o que sentimos depois disso, só nos sabemos e por saber acabamos descobrindo: Quando nossos Filhos partem ouvimos milhares de coisas....
No incio as frases que ouvimos, posso enumerar algumas: Foi melhor assim; ele está melhor; cumpriu sua missão;
Ele era bom demais para esse mundo; voce tem que ser forte; voce tem outros Filhos; voce tem seu marido; pelo menos Deus te deixou algo em que se apoiar; sua família precisa de você.., coisas deste gênero. 
Apesar da dor que nos toma por completo, continuamos lúcidas em relação aos valores dos nossos Filhotes Amados, sabemos os seus valores, sua ídole, seu caráter e sua personalidade e não precisamos que ninguém venha nos lembrar que eles eram bons demais para o mundo, bons demais para nós, bons demais em tudo que faziam, bons demais para nos envolver no Amor... bons, bons... E então o que sentimos?
É como voltar de marcha-ré todo o caminho já percorrido com eles ao nosso lado;
É voltar a ser uma pessoa normal onde tudo virou anormal;
É ter que esperar passar o tempo para se sentir melhor, mesmo sabendo que não vai melhorar e quanto mais o tempo passa mais ador e a saudade aumenta; 
É sentir que tudo ficou sem graça;
É saber que isso acontece, com muitas pessoas, mas não sentir alivio por não estar sozinha, e isto é péssimo, porque aconteceu conosco também;
É sentir solidão porque já havia se acostumado com a idéia de mais um, em vê-lo todos os dias e agora esse alguém nunca vai chegar;
É procurar a causa da partida mesmo sabendo que não vamos encontrar; 
É ter acreditado que comigo não aconteceria esse imprevisto e perceber que essa sensação de proteção é falsa;
É sofrer sozinha, apesar do apoio do marido, da família e dos amigos; 
É ter que encarar de frente a sensação de incompetência;
É ser obrigada a voltar a sua antiga rotina sem aquela constante euforia interna e ansiedade gostosa da espera de alguém querido chegar e dizer: (" Mãe cheguei"," Mãe já estou em casa");
É exercitar a paciência para esperar o que o destino está guardando;
É sorrir com lábios, mas o coração esta em pedaços, e ter que caminhar com uma saudade infinita no peito... 
É estar sempre esperando sonhar, pra poder abraçar e beijar ...
É uma dor doída...infinita...
É viver pela metade;
É remexer papéis, fotos e  roupas;
É ver as mulheres que engravidaram na mesma época e observar seus bebês imaginando como estaria o meu agora;
É querer falar e ouvir sobre o Filho...
É amar...incondicionalmente um ser que não está mais aqui, e não conseguir encontrar um lugar para colocar tanto amor. 
É seguir em frente, mesmo sabendo que, sua vida parou lá atrás.
É tentar encontrar forças, mesmo sabendo que você não é tão forte assim
É chorar muito, ás escondidas, porque, todos seguem em frente, e, ninguém entende que, tudo o que você mais queria, era voltar no tempo.
Enfim, é aprender a lidar com os fatos indesejados da vida e seguir em frente mesmo com a tristeza lá no fundo do coração.
É assim o que nós sentimos....
E o que  nós descobrimos sozinhas é a realidade!
Descobrimos que muitos sofrem conosco, mas ninguém sofre como nós...
Descobrimos que não há lembrança boa que supere essa dor de não poder ver mais o Filho Tão Amado...
Descobrimos que não temos amigos o suficiente...
Descobrimos que o cheiro na roupa dele se vai com o tempo...
Descobrimos que o cheiro dele não era só perfume...era o cheiro dele mesmo...
Descobrimos que um dia no meio da madrugada acordamos desesperadas  pela saudade e pelo amor que nos sufocar...
Descobrimos que somente para quem viu um Filho partir, é natural falar dele como se ele ainda estivesse aqui (e está) vivo em nossos corações...
Descobrimos que você perde o que tem de mais valioso e o mundo continua pequeno e miserável como sempre...
Descobrimos que as lembranças que nos acalmam são as mesmas que nos desesperam...
Descobrimos que a saudade deixa de ser um estado emocional e vira uma dor física...
Descobrimos que a melhor hora do dia é a hora de dormir, porque desligamos de tudo que é material, acreditando que iremos acordar na Eternidade ao lado do Filho Amado que nós esperar para nós abraçar e nós chamar de Mãe...
Eu pergunto:  "Por que tem que ser assim os nossos dias?"


TETEU E RAFA - O que eles tem em comum? Tudo. Eu jamais poderei deixar o meu Teteu no passado da minha vida, como Anna não deixará o seu Rafa no passado de sua vida e como muitas e muitas Mães que não deixarão os seus Filhos no passado de suas vidas, eles continuarão sendo sempre os nossos Filhos.... e não podemos mudar este fato. Isto é impossível. Nossos Filhotes vivem dentro de nós com toda força e energia que tem um coração de Mãe, mesmo estando ausentes,  uma ausência física e temporária dolorosa e cruel, que teremos que aguardar até que chegue o nosso momento de partirmos, eles não voltarão para nós com o passar do tempo, mas nós iremos até eles, e, então poderemos vê-los,  eles nos beijarão e nos abraçarão  e estaremos com eles para sempre. 

Teteu e Rafa -Chegaram em nossas vidas trazendo  muitas alegrias, fizeram a diferença onde ninguém mais faria, eles são o motivo de sermos Mães, através deles somos completas, eles aprenderam conosco assim como aprendemos com eles, eles cresciam e nós crescíamos juntos com eles, eles são a razão de tanto amor em nossos corações.
Teteu e Rafa adoravam música, ambos tocavam instrumentos, Teteu bateria e Rafa violão, sempre foram os melhores alunos da classe,  praticavam esportes, adotados de uma inteligência que nos surpreendia, jovens demais, lindos demais, sempre dedicados e atenciosos, exemplos de amor e compreensão... 
Eu e Anna nos unimos pela dor e saudade, acredito que Teteu e Rafa se uniram para louvar á Deus no céu com seus instrumentos de música cada um com seu jeito, mas juntos na Presença de Deus.
Teteu e Rafa eles tinham sonhos, como qualquer adolescente, já haviam compartilhado conosco sobre o futuro, eles sabiam o que queriam e onde chegariam, mas foram impedidos de realizarem tudo aquilo que eles almejavam... 
O Pai os chamou, sim o Pai tomou para si os nosso Filhotes, Teteu e Rafa eles são evangélicos, batizados nas águas e no Espirito Santos, viviam no altar do Senhor louvando a Deus e hoje eles louvam ao Senhor Face-a-Face contemplam a Glória do Senhor e com certezas eles são muito mais iluminados e perfeitos junto ao Pai Celestial.
Eu e Anna Como qualquer outra Mãe que viu seu Filho partir de sua vida seguimos enfrente, machucadas e feridas,  encontrando uma razão para continuarmos em frente mesmo que nada tenha valor ou sentido, continuaremos paraHONRAR NOSSOS FILHOTESpor tudo que eles representam para nós, apesar do leve sorriso em nossos lábios, o coração permanece ferido, porém o Amor que sentimos pelo nosso Filhotes é Incondicional ao tempo e a distância que nos impedi de vê-los, nos impedir de toca-los mais nunca irá nos impedir de ama-los com toda a força do nosso Amor... e dia após dia, aonde quer que iremos levaremos nossos Filhos Eternos conosco.
Assim como eu e Anna e as demais Mães sabemos que o Ato de Amar é Eterno.
"Quando sofremos a partida dos nossos Filhotes, todos os dias é um recomeço, a nossa maior batalha não é mais contra as coisas rotineiras da vida e do cotidiano, e sim, vencer a ausência, a saudade, o presente e o futuro, enfim, é enfrentar o desafio de recomeçar a cada amanhecer... é saber, que lá fora a vida continua, o mundo é o mesmo para muitos, mais nós sabemos que dentro de nós, algo mudou e nunca mais seremos as mesmas."  

As vezes ficamos pensando de onde tiramos tanta força para seguimos em frete, todos os dias é uma nova luta, uma nova batalha para vencermos e temos que nós manter firmes, tem momentos que não conseguimos, e ai desmontamos, é tão difícil ajuntarmos os cacos quebrados, para mim dezoito meses que o Teteu partiu, para Anna doze meses que o Rafa  partiu e para as demais Mães são dias, meses e anos que seus Filhos partiram e ainda sentimos aquela dor rasgando o nosso peito todo dia.
Mas guardamos essa dor pra nós, porque não conseguimos falar e nem expressar o que realmente sentimos, da forma que sentimos, então, sentimos vontade de chorar, mesmo quando estamos rindo, sentimos falta dos nossos Filhotes e só Deus é quem sabe o quanto, não sabemos o porque, não escolhemos, fomos escolhidas assim como nossos Filhos foram escolhidos, porque as coisas tem que ser assim, nossos Filhos foram escolhidos antes de nós e nós aqui ficamos como dói, dói...
 


Dedico esta postagem a ninha companheira de dor, saudade e de muito amor Annalu e em Memória aos Nossos Filhos Eternos Teteu e Rafa vivos em nossos corações.
Link do Blog cantigas e histórias para ninar uma mãe de Annalu:
 http://cantigasehistoriasparaninarumamae.blogspot.com.br/

COMPARTILHO COM ANNA E OS DEMAIS A MINHA ORAÇÃO: 
"Querido Senhor Deus, não compreendo os Teus Desígnios no percurso da minha vida nesta caminhada, pois os Teus pensamentos são maiores que os meus, mas Te darei meu coração para que possas dele cuidar, me sustentar em minha dor e me levas para perto de Ti...
Meu Senhor Amado, sei que não prometestes dias sem dor, risos sem sofrimento, sol sem chuva, mas Tu prometestes estares comigo, no dia da minha angústia, no dia do meu temor, no dia da minha assolação e no dia da minha aflição...

Tu me prometestes, que nestes dias maus o Senhor estarias me sustentando com a Destra da Tua Justiça, me fortalecendo e me ajudando a caminhar nos dias da minha fraqueza...
Tu prometestes, estares comigo Querido Senhor em todo tempo, concedendo-me o Teu Amparo até a consumação dos meus dias, pois a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-me do Teu Amor, que está em Cristo Jesus meu Senhor e Salvador...
 Confio em Ti, meu Amado Senhor, pois sei que não és homem para mentir e nem filho do homem para que se arrependas do que falas ou fazes...
Tu prometestes, que a Tua Presença estarás sempre comigo aonde quer que eu ande, no vale da morte para sobreviver a dor da partida, mesmo sendo a dor da partida do meu Filhote Amado, no vale das águas e dos rios das lágrimas elas não me submergirão e no vale do fogo não haverá chama ardente para transforma-me em cinzas e não me queimarei diante do fogo abrasador da ira, da cólera, da decepção, da frustração ou da irreverência do meu próximo.
Meu Amado Senhor, guardas o meu espirito, conserva-o junto de Ti, permitas que repouse em paz em Tua Presença,  que na Grandeza do Teu Amor meu espirito possa aconchegar e na Beleza da Tua Santidade conservar-se puro para sempre...  
Assim Seja... Graças à Deus... Amém".

ABRAÇOS FRATERNOS DE MÁRCIA SANTOS AO SEGUIDORES E LEITORES E AO PAIS ENLUTADOS QUE NESTE MÊS COMPLETAM DIAS, MESES OU ANO DA PARTIDA DE SEUS FILHOS AMADOS

O CORPO BLINDADO PELA SAUDADE ADOECE

Em Provérbios, há um versículo que nos adverte dizendo que "um coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos".  Essa passagem sempre me falou fundo ao coração. Em muitas vezes situações de minha vida, corriqueiras ou não, esperadas ou não, as vezes até repetidas, algumas até pressentidas me abatiam de uma forma, que roubava minha alegria, mas poucas de fato me levaram a nocaute a ponto de secar alguma coisa.

Eu sempre pensei assim: o que será que de fato faz um osso secar, não deve ser imediato, tudo ao redor do osso deve ficar comprometido e depois o osso seco, só pode ser a morte. Assim imaginava, então na minha cabeça. tristeza leva a morte...abate, adoece e morre.  Beleza, não estou triste porque quero, vou adoecer e vou morrer, isso deve ser rápido. Tem tantas historias de pessoas próximas que morrem logo em seguida, e as pessoas dizem: fulana veio buscar sicrano, ou morreu de tristeza porque beltrano se foi.

Tinham historias assim, de mortes próximas, que eu achava até poética, não sei se é funesto pensar assim, também sei que por mais que seja desejo de A ou B partir junto com o amado, essa decisão e o seu resultado não estão em seu controle.  Então eu achava bonito, mas não tinha a compreensão que a decisão não era pessoal, tinha um ser que regia tudo, inclusive que interrompia nossas vontades.

Tentei ser um desses casos, e também tentei trazer alegria ao coração, fracassei nas duas hipóteses. A fonte para alimentar qualquer uma das duas não estavam disponíveis para meu acesso, porque eu não queria fazer esforço. Afinal, eu era a vitima, apesar de me sentir vilã muitas vezes, culpada em não ter protegido Rafael da morte e minha casa dos maus.  Mas mesmo percebendo que nem ficava alegre e nem partia, era inevitável que a sensação de um corpo que não pereceu no início traga em suas lembranças as feridas desta caminhada.

Passei os primeiros 15 a 18 dias de cara limpa, sem tomar nem analgésico, e também não comia, nem dormia, medos de tudo me assombravam,  fiquei sozinha nesse período no apartamento e mantinha a porta do quarto de Rafa trancada como se isso fosse favorecer o armazenamento das lembranças e de suas coisas. Mas passei a ficar irritada, passei a sentir uma dor de cabeça que ficava mais de 24 horas latejando, e aí busquei ajuda.

Necessário, imprescindível...mas paliativo, a dor não passa. No inicio só querida dormir, e nem com o remédio eu dormia. Dois meses depois, com quase 90 dias do falecimento peço arrego. Não durmo, sinto dores, não como, não quero ver gente, não quero saber de nada, não fico triste com a tristeza dos outros, minha dor é o centro do universo e Rafael o sol, só que meu eixo esta sempre no escuro ele não brilha mais em meu território, eu lembro da luz dele, mas não a vejo, não sinto, não me aquece...virou passado.  Arrumar isso tudo...loucura.

Vieram as dores, as crises de gargante, 06 em dois meses. 45 dias de antibiótico variados. Remédio para dormir, para não chorar, para conter a infecção, para a dor de cabeça (minha filha caçula, não me larga ate hoje...as vezes fica mais de 24 horas me azucrinando).

Até que as dores encontraram meus ossos, e depois de 10 meses, voltaram a atiçar meu quadril, meu ombro e todos os lugares onde a bursite ou a tendinite já existiam. Fiz algum esforço físico. Fiz e faço todos os dias. Respiro, sem sentir vontade. levanto, quando queria ficar prostrada. Como, mesmo sem ter fome, as vezes uma coca-cola e qualquer besteira, pode ser meu café, almoço e janta, lá pelas três da tarde, ou três da manha.

Onde dói? Mais fácil dizer onde não dói. Hoje, depois da missa, de uma noite divertida com os amigos de Rafa, depois de muita risada e muita saudade, chego em casa e o corpo não relaxa. Doi ficar em pé, sentada e deitada. Dói mexer qualquer coisa. Dói, dói de dentro e sinto fora. Não um lugar do meu corpo blindado pela saudade que não esteja dolorido.
Tem algumas referencias bíblicas que falam sobre secar os ossos.TEXTO EM EDIÇÃO