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segunda-feira, 30 de abril de 2012

EU SO QUERIA FALAR DE VOCE PARA UM LEÃO, O DA TRIBO DE DE JUDA

Entre os nomes dados ao Senhor, além dos mais conhecidos, como Príncipe da Paz, Santo de Israel, Rei dos Exercitos, Rei da Gloria, eu gosto muito do Jeová Rafá, que significa Deus que cura, e embora muito ferida ainda, sei que Rafa foi um presente, uma cura de Deus em muitos momentos de minha caminhada e de meu tropeço. Mas hoje, 30 de abril, era o ultimo dia de entrega da Declaracao de Imposto de Renda, e precisei muito da força do Leão, mas do Leão da Tribo de Judá para suportar o dia. 

 O motivo? Ter contato com informaçõs que me machucariam profundamente. Foi a ultima vez que Rafa constou como meu dependente. Declarei apenas cinco meses de escola, cinco meses de plano de saude, cinco meses de medico. Cinco meses apenas. Primeira vez que constou seu CPF, mas sinceramente, nao tive coragem de citar o numero do obito, ou de fazer mençao a ele, nao para o leao do imposto de renda, ele nao olha para minha ferida. Fiz a declaraçao banhada em lagrimas. Quantas coisas indefinidas e diferentes em minha vida. Quanta coisa que eu tive que remexer apesar das feridas que elas provocam. 

A minha declaraçao de Imposto de Renda, demonstra muito mais do que os dados economicos que a Receita Federal tem interesse. Minha declaraçao atesta a minha falencia pessoal emocional. Perdi o sentido de familia e tive que ter isso impresso num recibo. 

Só nao foi pior o dia, porque sonhei com Rafa. Estava precisando desta visita. E como das outras vezes parecia tão real. Ele chegava e eu estava chorando na cama me lamentando em como fazer a declaraçao, minha vontade era de contactar alguém e repassar  os dados ao invés de digitar cada letra e cada numero como tive que fazer, ou nao declarar mesmo, uma outra opção, e depois ver as complicações legais, a multa, eu não me importo mais com nada. 

Então, desta vez, em meu sonho, ele chegou e disse levante e me dê um abraço, eu fiquei inerte eu nao sabia se era sonho ou real, se eu estava acordada ou dormindo, já que até as seis da manhã eu ainda não havia pregado o olho, ele repetiu já segurando a minha mão e fazendo força para eu levantar, eu sorri e levantei e abraçava-o com força e ele dizia aperte, pode apertar mae, mate sua saudades. E já foi tirando onda, mãe você tá chorando tanto que seus olhos tão ficando grandes (só porque estavam inchados). 

Mas já não o senti feliz e perguntei se ele estava bem e ele disse, "tô mãe, fico triste com nossa distancia só, a gente nao pode mudar nada", e então perguntei onde ele estava, e ele descrevia mas eu não lembro, confesso que nem postei no Facebook nada para tentar lembrar, mas desisti, não lembro da descrição. Só que a sensaçao que eu tenho é que não é a festa que eu imaginei que fosse. E em seguida eu perguntei se ele ja tinha encontrado com meu pai, e ele disse que não, que ainda não, que não era o momento dos encontros e eu fiquei tão decepcionada. 

E ele emendou, mae tá dificil né? E chorando abraçada nele eu mal conseguia falar, e ele disse que tínhamos que ser fortes que precisávamos continuar. Foi tão dificil, tão dificil, porque eu chorava demais e ele enxugava minhas lagrimas sem vencimento e me abraçava com força e eu acabei dizendo: " preciso de ajuda filho, estou cansada, preciso compartilhar, sinto falta da gente, sinto falta de voce, mas sei que temos que continuar, só não estou dando conta". E ele disse: "sei disso mãe, tenho visto, mas a gente tem que tocar. No final você sabe que vai ficar tudo bem,creia mãe, tenha fé, Deus está no controle". 

E à medida que eu pensava em coisas era como se ele tivesse a capacidade de ler meus pensamentos. Eu acho que ele já tinha essa capacidade quando ainda estava aqui, porque muitas vezes ele lia meus pensamentos. E enquanto eu chorava ele nao chorava, so me abraçava com mais força e dizia que eu podia tocar e ver que ele tava bem, que ele era de carne e osso, que nao era minha imaginação, que eu podia ver, comprovar que ele estava bem, e que eu tivesse força e fizesse o que tinha para fazer.

Diferente de todos os outros sonhos a gente não se despediu, de repente meu sonho emendou com outro e eu estava segurando a mao de uma amiga, que nao faço ideia de quem seja, que estava iniciando seu trabalho de parto, era uma menina. E eu acordo me questionando cadê Rafa? 

E acordei mesmo e me dei um tempo para processar aquilo tudo, chorei mais um pouco e fui enfrentar o leão da Receita, com o coraçao dolorido mas com a força do Leao de Judá, que permitiu mais um sonho para aplacar minha saudade.

Acho que saudade de quem vai é diferente da saudade de quem fica. Rafa dizia que sentia saudades, saudades daqui, da gente, dos amigos, do povo, mas nao chorava, nao vi emoçao dolorida, nem preocupaçao. Era como se ele já tivesse entendido. Nao tinha medos, só queria enxugar minhas lagrimas e dar força. Foi a primeira vez que conversamos e ele respondia minhas curiosidades, mas eu nao lembro do que perguntei nem das respostas. 

 Meus olhos continuam grandes, Rafa, ao escrever agora, mas é tão bom sonhar contigo, é uma sensação de paz, apesar da dor e da angustia do dia, enfrentada com muita dor de barriga. Somatizei porque eu estava muito doída de saudades. Semanas difíceis longe de você. 

Amanhã entramos no mes de maio, fará um ano daqui a vinte e três dias, uma colega sua me perguntou no sábado o que farei no dia. Disse que nao pensei a respeito, mas a vontade ainda é de ir ao seu encontro. 

Obrigada pelo sonho Deus. Obrigada por ser especial até depois de partir meu filho. Amor de mae, laço eterno.

domingo, 29 de abril de 2012

FOI MASSA FAZER MASSA CONTIGO

Adorava brincar de massinha contigo. Voce falava explicado, apesar da pouca idade, e enquanto brincávamos com a massinha, sua imaginação te dava asas e você inventava um monte de escultura, que só as mães sao capazes de descrever. Eram objetos tão abstratos, mais nominados e definidos apenas por sua imaginação. 

Uma tira colorida de massinha, virava cobra, peruca, pneu, bola, biscoito. Ate aí eu o acompanhava, mas também virava dino da silva sauro, toca do Gugu, máscara, e aí meu filho, as historias que você inventava com as coisas que fazia iam além do convencional. Mas eu amava tudo aquilo, apesar do pouquíssimo tempo que tínhamos juntos.  

Lembro quando aprendemos a fazer massinha numa receita caseira, e aquela massa fedia, mas voce fazia anel, pulseira, relogio, dispositivo de power rangers e um monte de coisas que voce inventava e nos fazia usar. E na epoca das geleias grudentas nos potinhos, ou de quando tinhamos que fazer fazendas e fazendas com bichos que eu nunca tinha ouvido falar, ai eu dizia que não podia fazer, e você tentava explicar como se fazia o prototipo desenhando um rabisco indecifravel e mandava eu fazer. Só rindo. 

Ah, mas teve o tempo das massinhas grudadas no tapete ou no carpete, antes de remove-los por conta da sua alergia. Eu ficava chateada com aquilo mas era inevitavel os resquícios das massas onde não deveriam aparecer. E as cores que formávamos e você batizava-as com novos nomes, tinha massinha cor de cocô de gato, de vomito de morcego da fazenda de vovó, só Jesus na causa. Aí vieram as massinhas com potinhos e ferramentas, mas quando elas chegaram a sua alergia era intensa e mesmo o produto garantindo sua atoxidade, nossas brincadeiras ficaram mais esparsadas.

Uma vez ou outra ele trazia a massinha do colégio e a gente brincava um pouco e depois eu tinha que desprezar a nossa materia prima, e passamos aos desenhos. 

Há um ano, no dia 29/04/2011, brinquei de massa pela ultima vez com Rafa e hoje isso não saiu de minha cabeça. 

Eu havia comprado uma maquina de fazer massa, não de modelar, mas massa comestível, macarrão. E só a inauguramos neste dia, enquanto o Imposto de Renda era revisto e emitido, eu e Rafa experimentamos a maquina pela primeira vez. Rimos muito enquanto Rafa sovava o nosso futuro talharim. Seguimos passo a passo a receita, escolhemos o tipo de massa e cozinhamos um kilo de massa fresca entre espaguete e talharim. 

Fiz o molho, e ele super empolgado me ajudou a por a mesa, tudo lindo, o sabor espetacular, e Rafa se sentindo um super chef, pedindo notas das massas, etc. Ficou tao bom que no outro dia virou almoço, com direito a quatro convidados, minha mãe, minha irma, seu namorado, e a nossa faxineira, a massa evaporou, foi um sucesso. Rafa nao chegou a tempo para o almoço, naquele periodo ele ja se demorava mais na escola, e tinhamos pouco tempo de almoço por conta do segundo turno do meu trabalho. 

 Assim como amava brincar com as massinhas de modelar, amei brincar de fazer macarrao com Rafa, naquela noite brincamos com as tiras de macarrao que fazíamos. Desde aquela noite, nunca mais usei a maquina de fazer massa, olho para ela e lembro sempre daquela noite especial, dele abrindo o vinho para servir, dele dizendo que era um dia especial e usando as taças de cristal, toalha de mesa mais refinada, todo prosa e brindando com o suco de maracuja na taça de vinho tinto e um sorriso largo de dever cumprido. 

Saudades filho, muitas do sabor daquele dia, de sua companhia e de nossa diversão na cozinha.

sábado, 28 de abril de 2012

EM NOME DO FILHO

Belíssimo filme italiano, baseado em historia real de uma mãe que tem seu filho único de 10 anos em coma por 46 dias e na noite de Natal como se num milagre ele acorda do coma. De extraordinário no filme, o amor de uma mae que revoluciona a UTI para trazer seu filho de volta.

Chorei muito e me impressionei com a força daquela mãe, como eu queria ser forte, e levantar como ela levantou. 

Se eu não queria levantar? Queria e quero. Mas ainda me sinto culpada pelo batom, se uso salto, se rio na rua, se as pessoas me encontram enquanto eu como, ou saio, ou ando, ou tomo folego, ou converso com as poucas pessoas que permito que se aproximem.  As vezes rio de uma piada, de um comentário, de uma coisa engraçada de Rafa de Cora, de uma coisa alegre ou uma piada que Valter conta, das mimicas e sonorização de Jr Bil ou do vasto dialeto batinguense de Nívea, eu rio, me divirto, mas no fundo a mesma pergunta: Você está rindo de que mesmo?

Um folego de vida sabe, de me arrumar, de fazer de conta que vai tudo bem, de voltar a sopa as segundas no HUSE (hospital publico aqui em Aracaju, onde eu, e Rafa algumas vezes, participava de uma ação evangelística no pronto socorro e no setor de oncologia), as intercessões as quartas, de encontrar uma igreja porque não quero encarar ninguém na igreja, não quero sentir pena de mim, não quero sentir culpa dos olhares dos outros, dos pensamentos dos outros, não quero que minha desgraça seja sinônimo de falta de benção. Não quero comparações, mas também não estou pronta para o esquecimento, e como posso exigir dos outros o que não sei se quero para mim.

Aquela mãe retratada no filme tinha uma força que eu queria ter, mas não tenho. A força dela vinha de uma esperança de ter o filho de volta, ele ainda estava ali. O meu não mais, e com ele minha força se esvaiu.  

Eu quero levantar preciso...preciso dormir decentemente, seis horas de relógio sem remédios,  preciso comer decentemente, tomar banhos em horas normais e não nas madrugadas para aplacar meu choro, preciso de coisas que não seu ainda mas preciso não sentir culpa de tentar viver, preciso de um jeito novo, de uma forma nova encontrar a saída, que por enquanto só me faz me aprofundar em minha escuridão interior.  Qualquer passo que dou para fora desse lugar escuro, me dá a sensação de deixar minha historia com Rafa para trás, e isso que me doía nas cenas do filme. Aquela mãe trouxe a historia deles, da voz dos professores de seu filho, do treinador de futebol, dos seus colegas de classe, do seu urso de pelúcia, do bonecos que ele brincava, dos jantares com os pratos que ele gostava, de sua musica preferida e assim seu filho voltou do coma.

Meu filho não voltará do coma, mas a sensação que eu tenho é que se eu não viver intensamente esse luto com Rafa ou de Rafa, quem entrará em coma sou eu.

HORA DE OUTRA CONVERSA COM DEUS

Hoje foi um dia surreal. De todo jeito eu me preparei para receber visita em casa para dormir. So que nao tinha dormido nada no dia anterior e nem saberia como seria essa reação recebendo visita em casa. Primeiro meus amigos me deram bolo e foram direto para o passeio sem a parada prevista em Aracaju, depois a doidinha tambem veio desconversando para nao ficar aqui esses dias, enquanto o marido viaja e ela nao morra de solidão, ou de outra coisa sobrenatural criada pela sua forte imaginação. 

Resolvido o impasse de que ela seria minha acompanhante, ela cria outro: igreja. Lá fomos nós, de novo, novamente e mais uma vez, ela me arrasta para igreja. Eu chego ali, numa reuniao para mulheres, apenas mulheres,  em tempo de louvar, adorar, testemunhar e aprender de Deus. 

Para mim, um desafio. Amo o Senhor. Isso é inegociavel, sei o tamanho do sacrificio que Ele fez por mim e por voce. Senti-me muitas vezes amparada, cuidada, amada. Mas é tão fácil amar quem nos ama, difícil mesmo é continuar amando quando não nos sentimos amados ou quando não somos mais amados. 

Foi dificil entender que nao deixei de amar a Deus mesmo nos dias mais obscuros que atravesso. Foi dificil entender esse amor de Deus por nos, confesso que tem dias que nao O entendo. Aceitar Seus planos então, é mais fácil, como disse Djavan, aprender japones em braile. Mas esse amor que tudo suporta, tudo espera, tem doído fundo na alma. Dói cada hino ou musica que fala dos planos perfeitos de Deus, que fala que o melhor de Deus ainda esta por vir, de como é bom e agradável os Seus caminhos que até faz parecer um caminho plano e florido. 

E ainda mais doloroso é quando eles falam de todas as promessas ou palavras esperançosas de Deus para com seu povo. E enquanto tudo aquilo é dito, ou eu estou chorando ou duvidando. Mas nao quero que a duvida pareça blasfemia, sei que é dificil entender, mas é que esperar só a vinda de Cristo, é que só pensar em viver depois que morrer nao tem dado certo para mim neste momento. Parece uma derrota, fui derrotada pela morte de Rafa. 

Eu olho para mim e fico pensando o que será que Deus está vendo? Fico me perguntando se Ele enxerga o caos em minha vida, esta tudo fora do lugar. Sou uma crente tão descrente hoje, uma filha que desejaria ser apenas mãe e não tem suportado o papel de filha, uma profissional sem profissao, nada que me defina como mulher, perdi minha feminilidade, meu papel social, meus sonhos, meus desejos. As vezes nem me sinto mulher, a não ser na hora do numero 1, porque continuo fazendo xixi sentada, pois o resto das coisas, nestes poucos meses, tive que aprender a ser homem, e desempenho muito mal esse papel.  Literalmente não sei quem sou.

Onde eu quero estar? Em lugar nenhum, talvez dormindo sem precisar de remedios ou quem sabe passar umas horas sem falar ou pensar na morte de Rafa ou no abandono. Fé é acreditar no que não se vê. Nao tenho crido. Mas tambem sei que a fé é gerada por e para Deus. 

Hoje minha amiga, a doidinha de Rafa, disse que nao ve nada demais em minhas loucuras e as apóia, mas não suporta quando eu falo que nao oro e não consigo orar, e fala do alto de seu coração generoso, Deus quer te ensinar alguma coisa e te tirou Rafa e tenho medo que Ele te tire outra coisa para que voce aprenda o que Ele quer. É tão singelo e amoroso seu cuidado. É solidario em muitos momentos. Hoje, por exemplo ronca em minha cama, e faz a noite parecer dia, passa mais rapido. Mas talvez ela, nem ninguém, entenda quanto tem sido penoso dizer a Deus eis-me aqui. Porque eu tenho dito silenciosamente socorro, mas a outra parte que fala que meu socorro vem do alto está muda, tem sido complicado sentir esse socorro pelo meu coraçao machucado e incredulo. 


Meu filho era de Deus eu bem sei. Quantas vezes eu ouvi de meus irmaos crentes, como forma de consolo a famosa frase: Ele te deu, Ele tomou. Ou ainda, um monte de versos biblicos para justificar o que nao se justifica a um coração de mãe. Fiquei pensando na mensagem de hoje, na anunciação do anjo a Maria, ainda bem que aquela mensagem foi de boas novas, apesar de toda a aflição ou duvida que pudesse vir sobre eles, sobre o casal Jose e Maria, por conta dos costumes da epoca. Mas já pensou se o anjo dissesse a Maria: "cheia de graça, você dará luz a um filho, que aos 33 anos, sem lhe deixar netos, será sentenciado, ao pior tipo de morte prevista na lei, sera açoitado, espancado, crucificado, esnobado, escarnecido, zombado, e voce não poderá fazer nada para impedir.  Aliás, você acompanhará tudo de perto, verá todo o sangue de seu filho primogênito ser vertido na cruz.  


Ela era a Cheia de Graça, e toparia a parada eu acho mesmo se tivesse ouvido isso do anjo Gabriel, pois eram os planos de Deus. Eu sinceramente Senhor naquele lugar temeria tal acerto, e olhe que eu nem teria me tornado mãe né, nem saberia que amor é esse, imagine agora que sei, acho que eu remoeria isso como fel, eu estou mais para aquela mulher rica que vai atras do profeta e o interroga perguntando se por acaso ela tinha lhe pedido um filho? Mas se ele a concedeu de livre vontade, por que ele estava morto, em sua casa? E pela fé, e VONTADE DE DEUS, ela tem seu filho ressuscitado. 


 Pois é Deus, só o Senhor me enxerga como nem eu mesma posso me ver. E o que mais dói nessa solidariedade desconcertante da verborragia religiosa é essa pregaçao vitoriosa de um evangelho da prosperidade, onde tudo que pedirdes terá recebido, é uma performance que não deu certo comigo em nenhuma de minhas orações para que a vida de Rafa fosse poupada.


Eu creio em milagres, eu creio na Palavra, creio em Deus e em Seu poder...eu perdi a crença em mim, e em metade das palavras que me disseram em nome de Jesus, e eu cri e vivi aquilo que me anunciaram como promessa de Deus, cajado de Deus em Aracaju, homem de Deus, cordão de 03 dobras, os filhos são nossos, e tantas outras ladainhas, mas não falaram revestidos no Poder e na Autoridade de Jesus. Por que eu afirmo isso? Porque Ele, DEUS, não mente e nem é filho do homem para que se arrependa, e se essas coisas não se cumpriram - mesmo eu tendo buscado e lutado com minha pequenez a estar mais próximo de Deus e de Sua vontade - não vieram Dele. 


 Entao hoje, em minha apatia, em minha silenciosa caminhada forcada a me expor a Tua palavra, como diz sempre minha amada Cora, e sei que ela e sua família se levantam por mim, só quero te dizer Senhor, que só Você pode me tirar disso, porque ainda sangra e dói demais, é uma hemorragia que só o Teu Poder pode estancar, então Pai se faça mais audível, e me faça entender por que e para que? 


Ele era a unica coisa que me fazia sentir especial para Ti, porque Rafa foi uma jóia rara em minha vida e sua falta apagou o meu viver.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

JA NAO ENTRO TODOS OS DIAS

Eu sempre passo em seu quarto. Tem dias que deito na cama e respiro fundo em seu travesseiro, as vezes nao me contento e abro suas gavetas, abro o guarda-roupa cheiro suas camisas, passo os dedos em sua bancada, lembro de cobrar a cadeira que mandei forrar, passo os olhos nas fotos leio os poemas de seu pai que emoldurei, e depois saio com as lagrimas na boca e a revolta no coração. 

Por que eu não pude ficar com meu unico filho? 

Claro que nao tenho respostas, e sei que nao tenho a maior dor do mundo, que nao sou unica, que nao sou fariseu de dizer meu Deus eu era tao santa, por que isso foi acontecer comigo? Mas confesso que é inevitavel olhar os outros crescendo, correndo, tirando habilitação, fazendo dois anos de namoro, comemorando aniversário e o sorriso do meu filho estampado apenas em minhas camisas. 

Se gritar resolvesse, porque gritei e grito muitos dias em seu quarto de faltar a voz algumas vezes, e se orar tambem resolvesse, porque orei algumas vezes, clamei, vesti meu saco e fui ao pó até que ficou difícil não ter resposta.  Então, nao tem resolvido para mim, nem cantar, nem orar, nem conversar com Deus, nem dizer a Ele milhoes de vezes ao dia por que e o que ele quer me mostrar, porque tambem já fiz todas essas coisas. 

Eu me sinto, orfã, burra, abandonada, desgraçada, literalmente vazia. Sepulcro caiado, sou materia sem vida. Ora se debate com Deus, ora tenta ignorá-Lo para sobreviver ao Seu silencio.

Sonhos, projetos e refazer a vida sao coisas que nao passam por minha cabeça. Nela, só coisas que me envergonho ate de falar, mas penso...todos os dias. 

Por que maes tem que perder filhos? Por que os unicos? Por que os bons? 

Meu Deus ainda doi com a mesma intensidade todos os dias...mesmo quando eu nao entro no quarto dele e por opção choro em outro canto da casa.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

VOU RADICALIZAR

Cortar o cabelo a la panicat, maquina zero, comprar umas botas de drag queens, uma mini saia de onça com paete, barriga de fora voltou e está em alta, de repente eu compre uma também, e nao posso esquecer do pircing no umbigo e uns aneis de metaleira. 

Talvez na camiseta umas bobagens escritas e voltarei a usar esmalte vermelhos com batons bem cheguei, daqueles que você achava brega. 

Também preciso mudar o vocabulario, chingar bem, falar um monte de palavrao, vender tudo de casa, torrar o dineiro bebendo ou fumando e o mais importante...trocar o coraçao, colocar uma pedra no lugar dele, mas pode ser uma pedra vagabunda sem valor,  e na minha memória instalar um daqueles chips desativados que deletam o que temos e não armazena nada. 

Aí sim, talvez eu volte ao normal.

Insuportavelmente dificil respirar sem voce. 

Saudades meu filho. 

Hoje sem remedios, sono, palavras, ou saco. 


Hoje só eu sem você. 

Hoje só a dor, dor de você.

terça-feira, 24 de abril de 2012

EU QUERIA ACORDAR EM OUTRO MUNDO

Depois de 24 horas dormindo, infelizmente percebo que as mesmas angustas continuam...nao sao só 11 meses, agora são 11 meses e um dia. 

Não é meia-noite, aliás é meia noite só que do dia 25, entao 11 meses e dois dias.

Mas se eu dormir e nao acordar, nao preciso fazer essas contas. Contas dos aniversarios que meu filho nao participa, ou dos que ele não terá, dos telefones que ele nao atendeu, das fotos que ele nao tirou, dos lugares que ele não viu, dos filmes que não assistiu, das opiniões que não compartilhou, da vida que corre lá fora, porque aqui, em nossas veias, aqui so corre a saudade.

Madrugada ela teve gosto de waffle, como eu fazia quando voce pedia. E comi toda a porção sentada no chão da cozinha lembrando e chorando da gente, e fiz todas as receitas que tentamos juntos e nao dava certo. Na madrugada deu. E doeu muito mais, nao tinha cheiro de ovo, nao derramou sujando tudo, não queimou...MAS VOCE NAO ESTAVA AQUI. NAO COMEU COMIGO! NAO RIMOS NAO CONVERSAMOS! NAO LIMPAMOS JUNTOS...

Que raiva de tudo. Raiva de voce ter ido e me deixado, raiva de mim insistindo em ficar, raiva de Deus...não entendo nada, quanto mais me aproximo Dele mais dói. Por que? Que mal teria me deixar com voce e ter levado tudo o resto, mas levou você e o resto nem sei como usar, o que fazer e como viver. 

Talvez dormindo assim uma hora dê certo, e eu consigo acordar de outro jeito, em outro mundo, onde eu não sinta saudades. Saudades de você.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

11 MESES NAO CABEM MAIS EM MINHAS MÃOS

Nao tenho dedos suficientes para demonstrar a grandeza de nossa distancia. E isso machuca porque demonstra o quão longe estamos um do outro, o quão difícil tem sido se sentir perto ou próximo e o quão desesperador é falar e pensar sobre esses longos 11 meses, numa segunda feira como aquela em que nos separamos.

vou me manter sobriamente acordada para ir lhe ver no mesmo horário que te deixei e sinceramente, clamo a Deus que não me deixe sair de lá.  Nestas horas o egoismo me invade e não penso em mãe e parentes, só eu mim e você. Talvez ate mais em mim, porque imagino que você quisesse que eu tivesse tocando a vida, mas não tenho mais seu ritmo me acompanhando, e não ouso tocar outro ritmo, simplesmente porque perdi a capacidade de ouvir as notas musicais...hoje eu ouço só o sol...de sozinha, de solidão, de sem você.


Minhas mãos não cabem mais em dedos demonstrar o tempo que nos separa, tampouco a distancia que nos mantem longe um do outro. Tudo começa a ficar mais difícil, porque os mesmos pensamentos e a mesma sensação ainda é morada em meu coração...Não sei porque você se foi, quantas saudades eu senti, e de tristeza vou morrer, e aquele adeus NÃO QUERO dar.




domingo, 22 de abril de 2012

MUTILAÇÃO

Podemos dizer que saudade também é a pior forma de mutilação.

Ao perdermos um filho, sentimos como se tivéssemos sido mutilados.  Mutila-se não só aquilo que faz parte da gente, que é sangue de nosso sangue, mas depois vamos tendo contato com um monte de coisas que também foram mutiladas em nós.

E a sensação é de que a dor da mutilação não é nova, ela sempre está ali, mas tem a capacidade de doer de forma diferente a cada descoberta e intensidade da nova mutilação.

O tempo passa mas a ferida não cicatriza, é uma mutilação que não se fecha. Dizem que com o tempo ela sangra menos, mas não sei se isso pode ser aplicado quando a mutilação é com nossos filhos.  

Quando parte de nós nos é arrancado porque poderia nos levar a morte, como um trombose ou diabetes, ou hemorragia, ou trauma, etc., sentimos a dor mas também temos a consciência de que é melhor perder aquela parte do que perder tudo.  Mas com a morte, nos levam tudo, não fica nada, não fica parte de nós, acho que nossos filhos levam com eles a nossa vontade de viver, de continuar.

E ainda temos a convicção de que não deveríamos ter sido afastados, arrancados, e começamos a brincar de Deus, a interrogar Deus e a todo custo tentamos dizer o quanto Ele estava errado em nos separar, ou quão injusto foi Sua decisão de tomá-los de nós. Acho que esse é um momento bem difícil da mutilação, onde a criatura se rebela contra o Criador.

A mutilação que falo produz dores em todos os sentidos. Dói fisicamente, o corpo dói, a cabeça dói, dói espiritualmente, nos sentimos fracos, derrotados, doentes no espírito. Questionamos tudo, todas as verdades defendidas anteriormente, questionamos Deus, questionamos a nós mesmos. Dói emocionalmente, é uma dor, um vazio, uma saudade. É como se gritássemos com toda a nossa força, toda nossa voz, com um folego sobrenatural e mesmo assim ninguém ouve.  É uma dor psíquica, pois a sensação de que a loucura anda de mãos dadas conosco é muito presente. A gente se apega ao ultimo tubo de pasta de dente que ele usou, o resto de comida que deixou na geladeira, o bilhete que ele escreveu há mais de uma década, o cheiro do travesseiro a ultima roupa de cama usada. 

Começamos a dar valor a coisas imperceptíveis antes.  O papel da ultima bala que ele chupou e você achou no bolso da calça vira uma relíquia.  E neste momento começa o nosso processo de auto-mutilação. Preservamos a memória deles, a presença deles, tentamos perpetuar as mesmas necessidades, mas elas não bastam para gente porque estamos mutilados e na ânsia de diminuir o vazio deixado nos mutilamos.

Hoje é véspera de completar 11 meses sem você. Também um domingo, também noite, também hora em que meu coração ficou apertado e ansioso, tentando me avisar sobre a mutilação a ser sofrida.  Saudades é um tipo de mutilação.

sábado, 21 de abril de 2012

UMA HISTORIA DE AMOR

Hoje fiquei determinada a ir ao Culto em Ação de Graças pelos 60 anos do Colegio Gremio Escolar Graccho Cardoso. Tenho uma divida de gratidão com essa familia. Se bem que quando amamos, não falamos em divida, não é obrigaçao, então eu tinha um compromisso de amor, profundo, sem pesar, um convite as águas tranquilas de minha infancia, como se eu me reportasse aquele balanço de pneu pintando de branco, onde Tio José me balançava (meu inesquecível Tio Macaco, como eu o chamava, tamanhas vezes que ele imitava para mim e me fazia rir por demais) ou na gangorra onde Tia Lalia me contava historias sobre letras e números e era capaz de inventar historias sobre o que dissessemos, ela sempre tinha uma coisa a ensinar. Ensinava brincando, com amor e diversão. 

Cheguei ao Graccho com quatro anos incompletos e pelas mãos de Tia Lalia conheci um mundo novo. Nunca tinha ouvido a palavra ballet, ela foi divulgar e convidar a turma, ainda com a jovem professora Iracema Maynard. Por influencia de Tia Lalia, fiz ballet por mais de 10 anos. Deste periodo de ballet no Graccho lembro de algumas viagens inesquecíveis na Kombi, onde eu e as outras crianças dividiam o carinho e o colo de Tia Lalia e de meu exclusivo Tio Macaco. Mas essa divisão sempre tinha resto no resultado e um numero incalculável no quociente, pois quanto mais se dividia aquele amor, mais amor eles tinham para dar. 

Passados 35 anos de minha estada no Graccho, eu lembro da textura dos azulejos floridos na escada da casa dos tios, porque também fui aluna de dormir na casa dos diretores, depois de cafe tomado, banho e camisola emprestada das meninas. Eu tinha um lar na escola, o Graccho era assim para mim. Não lembro de broncas, de gritos, de reclamação, de disciplina, de castigo, de copias ou repetições, acho que porque não tiveram. Eu lembro de alguns colegas que não encontrei pela vida, não lembro do nome de nenhum professor, mas lembro com exatidão de Tia Lalia, fecho os olhos e seria capaz de descrever algumas conversas. 

Lembro de ter sido Rainha do Milho, lembro de minha mãe me acompanhando no patio e mandando eu rir e me dizendo a marcação das poses. No Graccho dancei minha primeira quadrilha junina. Do Graccho eu lembro com saudade de uma infância amorosa conduzida por uma pessoas obstinada a plantar amor no coração de quem compartilhou com ela qualquer tempo de vida. Diria que seria impossível passar pelo Graccho e sair ilesa ao amor de Tia Lalia e a sua vocação de criar, cuidar e educar para a vida. Ao longo destes 35 anos em que fiquei longe fisicamente do Graccho, algumas vezes via ou sabia alguma coisa de Tia Lalia e ficava feliz porque as pessoas compartilhavam esse amor por ela. 

Joguei voleibol, participei de alguns eventos esportivos que ocorreram já na atual sede do Graccho, mas no antigo ginásio e encontrei com tia Lalia e a cada encontro, tudo que ela plantava me enchia o coração de novo. Lembro que perdi um jogo uma vez, eram quartas de final, ficamos com o bronze e o Graccho com ouro. Obviamente que eu não gostei de perder, mas doeu menos que no ano anterior que tinhamos perdido para outra escola, porque eu trabalhei minha cabeça de forma a pensar, não perdi para o Graccho, foi o time de Tia Lalia que ganhou de mim (ficava na conta do amor). Ganhei outras vezes do Graccho, inclusive ate na quadra do Graccho, mas eu nunca queria ver tia Lalia nestes dias, sei que ela ficaria feliz por mim, mas eu sentia culpa em faze-la sentir-se triste, sei lá. 

 Parei de ser atleta, e por conta de ter pulado dois anos no Graccho pelas mãos de Tia Lalia, aos 21 me formo em Psicologia na UFS (só para perceber, se eu nao tivesse perdido o primeiro vestibular para  nem o primeiro ano cientifico em física, teria me formado com 18 anos). Assim que montei consultório, Rafael já nascido com um ano e pouco, fizemos um projeto direcionado as escolas sobre orientação educacional, a chamada orientação vocacional. Trabalhei apenas com 04 escolas em Aracaju, escolhidas a dedo, pois eu não conseguia dar conta de atender a demanda. O Graccho, mais uma vez abriu as portas para mim, e então conheço Neto educador e percebo nele os genes dos pais aflorando no mesmo brilho e amor pela educação. Daquele dia em diante, mesmo já não precisando divulgar o projeto todo aluno do Graccho que chegou a mim, mesmo que eu não tivesse agenda para atende-lo tinha um cuidado especial, afinal de alguma forma tínhamos uma historia de cuidados especiais em comum...a família Graccho.

Percorri outros caminhos e em 2011 procuro o Graccho para matricular Rafael, no terceiro ano mas com dependências de materias do segundo. Neste dia, uma terça-feira de janeiro, Tia Lalia entra na Secretaria e nos olhamos e depois dela lembrar de muitos fatos ela lembra meu nome sobrenome e nos olhamos e sorrimos. Não sai do Graccho neste dia com a matricula, voltei ainda tres vezes, tempo de convencer Neto de abrir exceção e atender a dependencia de aluno do terceiro ano. Mas nos outros dias valeu ter voltado, revi Tia Lalia. 

Rafa saiu do Graccho na semana da matricula com uma certeza e um comentário do tipo "minha mãe, isso nao existe não, Tia Lalia ama mesmo", e me interrogou, como todo adolescente, perguntando quando eu estudei, como, por que saí. Tia Lalia o beijou, elogiou o jeito de Rafa e ele demonstrou preocupação em não conseguir a vaga, mas ela fazia isso parecer pequeno diante de todas as historias que nos contava. E falava com paixão, dos filhos, dos netos, dos ex-alunos, e nós a ouviamos, eu tinha o mesmo interesse de ouvi-la de quando eu tinha 04 anos. 

Rafael ficou impactado. Segundo ele,  extasiado dizia "minha mãe, não existe isso não, de lembrar desse jeito e falar desse jeito de aluno, é muito amor". E eu aproveitei a deixa e disse, pois é Rafa então faça por merecer todo esse amor porque aqui não é escola que ensina, aqui é família que educa. Saí do Graccho e liguei para minha mãe e comentei sobre como Tia Lalia estava forte, firme e ainda tao apaixonada por educação. Esperamos a resposta, e matriculei Rafa. 

Quatro meses e pouco depois da matricula, em sua missa de sétimo, eu li uma mensagem, sem saber quem estaria para ouvi-la, mas não poderia não agradecer as escolas que Rafael passou, mas a nenhuma eu agradeci por te-lo amado, só ao Graccho e desabafei, Rafael nao poderia estar estudando em outro lugar, ele precisava ser amado como foi no Graccho. 

Minha divida de gratidão cresce um juros impagáveis, nestes momentos dificeis. Eles estavam comigo nos meus piores momentos. Se fizeram presentes na porta o IML sete horas da manha, Neto e muitos, muitos alunos se mostravam solidários. Velório e enterro, direçao completa, coordenação, muitos professores e os colegas, em peso. Sexta-feira seguinte, missa na escola, eu nem sabia, mas seus colegas me disseram que foi feito 01 minuto de silencio em homenagem a um aluno de 04 meses de casa. Missa de sétimo, novamente choravam comigo, prepararam uma homenagem que eu por tao desligada e emocionada esqueci de apresentar. 

Não acabou por aí. Forro do Graccho 2011, Rojão diferente homenageia Rafael, a turma dele faz singela homenagem com palavras lindas numa foto de Rafa. Franquearam a sala de aula para que eu pudesse agradecer aos alunos e me deram os convites do forro, acho que se eu dissesse que queria levar a família inteira, eles estavam dispostos a proporcionar, agiram com uma generosidade que só famílias  têm, e nem todas.  Olimpíadas do Graccho, outra homenagem da turma, com o apoio e o aval da direçao. 

Mas o Graccho não me fortalece apenas no espeço físico da escola, fora da escola também me cercam de apoio e carinho. Encontro com Neto e Neyla no shopping ele fala da camisa de Rafa, eu levo uma para ele, ele usa na escola e posta no face palavras lindas que qualquer mãe gostaria de ouvir sobre seus filhos. Muitas vezes me cercam com mensagens de fé e otimismo, assim como os abraços de Lívia e Ana Lucia toda vez que me encontram.  Aniversario de Rafa esse ano, Neto comparece, usando a camisa, mesmo tendo que viajar naquela madrugada e me dá o presente de levar consigo seu filho querido, representando toda a família. Esse amor e dedicação é contagioso, a gente sente na familia Graccho. 

Sentimos na coordenação, com Neverson, nos professores (alguns professores mesmo após o falecimento de Rafa ainda conseguiam expressar a falta e a saudade, quando em ato falho liam o nome na chamada ou rezaram por ele, ou mantiveram foto dele no mural da sala, com o cuidado de alguns colegas) e nos alunos, como presenciamos, hoje,  na voz de alunas que ao declarar seu amor a escola e a Tia Lalia choravam copiosamente, levando muitos presentes na mesma emoção, na tentativa de dizer o quanto são preciosos para nós. 

O culto foi maravilhoso, uma reflexão sobre o Pai Nosso e uma disposição em agradá-Lo com nossas vidas. Um culto intimista, familiar e genuíno. Uma horas para agradecer a Deus os dons e talentos dispostos no sacerdócio de quem educa com amor. 

Algumas pessoas foram previamente contactadas para proferir uma mensagem aos presentes. Entre os preletores, uma pessoa especial para Rafa. Não sabia que eu estava ali, nem eu sabia que ele falaria ate que usou a palavra, e mais uma vez o Graccho me proporcionou um momento inesquecível. Sr. Alcides falou do amor de Deus e da necessidade de perdão. Fez algumas analogias, falou daquilo que nos mantem vivos, do sacerdócio de Tia Lalia e do amor do Pai para conosco e concluiu dizendo que toda honra e gloria se deve dar a Deus pelas bençãos derramadas na escola e nas famílias a partir do trabalho de Tia Lalia. E. em dado momento, ele falou de Rafael, e de como sua partida foi sentida por ele, e usou de uma comparação que eu nunca esquecerei. Pois é, o cenário para essa declaração de amor a Rafa, foi o Graccho, responsável também por Rafa conhecer os Ponce de Leon, sua miss Duda e seu parceiro Joãozinho, como ele o gostava de chamar. 

Neste ínterim sou grata ao Graccho por ter proporcionado a Rafael contato com tantas vidas incríveis. Claro que me emocionei ouvindo esse e todos os demais relatos de amor a família Graccho, até que Neyla me convida a falar, nem sei o que disse, porque eu só queria estar presente, tenho uma divida de gratidão, e quietinha em meu canto passei o culto pensando em como é bom saber que Rafa sentiu esse gostinho e desejando que muitas outras famílias possam sentir esse mesmo cuidado. 

Mas não consegui o meu intento de ficar ali quieta, tampouco tive coragem para negar o convite, e falei de meu amor e de meu eterno agradecimento. Nem percebi, e nem sei dizer como, mas minha calça rasgou de fora a fora em lugar que não tem costura, como se tivesse sido cortada a navalha, e eu não liguei, deve ter sido o maior mico, mas nem pensei, porque até nisso, sem estrondo nem alarme, Neylinha (como Neto a chama) cuidou de mim de forma especial e o que estava acontecendo com minha vestimenta não teve importância, estavam me cuidando e poderia me concentrar no meu foco, de só e apenas dizer ao Graccho (e a todos que fazem e se orgulham de fazer parte desta equipe) o quanto eu sou grata a Deus por ter sido amada e de ter visto Rafael perceber e usufruir deste mesmo cuidado.

Minha divida de gratidão pode ser traduzida por uma história de amor, a historia do Graccho, de amor a Deus, ao próximo e ao oficio que Deus os capacitou. 

Ao Graccho, por ter amado Rafa e compartilhado comigo momentos impares como o culto de hoje. Saudades de Rafa, porque estar no Graccho é lembrar dos 04 últimos meses de meu filho, meses recheados de muito amor.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

QUERIA FAZER UMA ENGENHOCA

Eu queria comprar um aparelho novo, mas nao sei onde. Nem sei se ja fabricaram. Talvez sim, mas dada a importancia e a serventia, de repente, quem o criou, nao possa compartilhar com ninguem, sob pena de perder o direito de uso. 

Fico imaginando uma forma de torna-lo real. 

Queria um artefato que fosse capaz de me deixar ve-lo, quem sabe poder toca-lo, até conversar com horas de diferenças mas, de algum jeito palpável, ter noticias. 

Parece loucura, mas converso com outras maes na mesma situação e o desejo de saber é muito maior que a racionalidade da vida. O desejo de continuidade, de qualquer forma abreviada de continuar, toma a nossa mente, como uma ideia fixa que nos molesta a integridade emocional e cognitiva. 

Hoje foi assim, tentei inclusive direcionar a mente para sonhar contigo, pois tamanho é o desespero sem ter inclusive as experiencias tão reais de sonho. Ontem eu era completa e nao sabia, hoje sou faltante em imensidão, e entre um e outro, quase onze meses me separam de você e não sei quantos mundos nos tornam distantes. 

Imagino uma escada florida. Eu nao sabia onde ela me levaria, mas sabia que tinha forças para percorre-la, porque tinha você, combustivel de minha jornada. Hoje minha escada é dura e fria paisagem, tambem não sei onde ela me levará e não tenho vontade de descobrir, porque os degraus exigem mais perna e um esforço muito grande, com um folego que me foi tirado quando nao o vi mais respirando. 

Então, nestas horas, fecho os olhos e imagino um artefato, daquelas engenhocas nao muito rebuscadas e de simples funcionamento para uma pessoa não tão adepta de tecnologia,  mas que captasse sua risada, seu caminhar, o jeito que você coçava a cabeça, de certa forma, que captasse seu cheiro e que me desse a sensaçao de ouvi-lo mais uma vez. 

E se desse tudo certo, queria que minha engenhoca tivesse um botao, um dispositivo qualquer, que me proporcionasse a emoçao de ter suas maos entrelaçadas as minhas e sentir seu aperto, e numa segunda opção de intensidade do botão, que me permitisse sentir aquele beijo estalado na cabeça e depois na minha testa, e assim como meu pai, um beijo no olho fechado.

E finalmente que a ultima opção do equipamento fosse de permitir que tudo fosse registrado numa filmagem, ou numa foto nova para selar nosso encontro. Saudades.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

PASSEANDO! NAO, FUGINDO MESMO.

Alguns dias preciso fugir de mim, e de alguma forma, de algum jeito, procuro me refugiar em algum lugar que nao me lembre quem sou e para onde vou. Nao importa onde, muito menos quem, mas de alguma forma venho com alguma coisa nova para casa, nao ajuda, mas passa. Complicado? Nao, apenas fuga. Ate que um estranho da vez pergunta quem é na foto, ou quantos anos tem. Minha realidade vem à tona, com o gosto de fel.


Quem tem Deus no coração sempre está bem. Era uma verdade absoluta que se quebrou bem diante de meus olhos. Como estou? Assim, como você me vê, tire suas conclusões, na verdade, tem dias que elas não importam muito. Hoje é um deles. Estranhos e conhecidos se fundem nos corredores e ruelas. Solidariedade, irmandade, curiosidade e tantas outras caracteristicas que nos fazem humanos me invadem no seu olhar, mas não me despem mais, porque nem eu sei quem sou debaixo desta casa de dor, morada da solidão, então hoje, só hoje, durante a minha fuga, não sou eu, sou apenas uma sombra do que não quero ser.


Fico pensando se tem fim. Vai ser normal rir, contar piada, fazer planos para o futuro, para um reveillon, um Natal, um feriado, um domingo de páscoa, um plano diferente dos que faço de apenas virar a folhinha depois de ter dormido à pulso nos dias antes considerados especiais. Eu sinceramente não creio. Não tenho fé nisso mais. Sabe aquelas correntes ou pensamentos que entoam um coro do querer é poder. Eu quis, como nunca quis nada na vida, e não consegui. Coleciono um monte de nãos a essa filosofia de vida.

Tem outro também que enaltece a oração das mães pelos filhos, as minhas, nem sei onde ficaram. Orei, mas não pude impedir, hoje vivo no passado, lugar onde fui feliz, por pouco tempo, mas valeu a pena. Os melhores momentos de minha vida foram compartilhados por Rafa ou foram proporcionados por ele.

É correr atras do proprio rabo, faltam 04 dias para 11 meses sem voce, e esses dias são manifestamente piores, parece que doem mais, sangram mais, quis ter força para ir ao Graccho lembro te levando para a abertura dos joguinhos ano passado, no dia da missa de setimo de seu tio Keko...mas não consegui. Briguei comigo todo o dia para ir, mas nao enfrentei a tristeza e voltei da porta...hoje não fui passear, como as pessoas me perguntam. Hoje eu fui fugir mesmo. Fugir de mim.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

VOCÊ TEM QUE LEVAR UMA VIDA NORMAL

Hoje recebi este conselho. Levar uma vida normal. Eu desci rápido no prédio e fui ao banco na esquina de casa, e encontrei uma pessoa que não vejo há mais de ano, ela me questionou sobre coo eu estava, o que eu fazia, onde eu passava meu tempo, falava de Deus, da igreja,de vida, de Rafa, do tempo dele, da vontade de Deus, e falou uns dez minutos, talvez menos, para mim foi como se tivesse ouvido uns dois dias de sermão. E eu? Só chorava e balançava a cabeça sim e não.

Eu não esperava encontra-la, e quando ela começou a falar de Rafa, elogiando-o, falando de como ele era atencioso, educado, alegre, lindo, cheiroso e cheio de vida, eu chorava mais ainda. É como se testificassem tudo o que sinto e aqui dentro uma vozinha começa a gritar:está vendo, você perdeu uma pérola mesmo, como podem querer que você fique normal?

E tentei não pensar nisso, mas não tem como, não tem jeito. O que seria levar a vida normal? Nao me sinto normal, não me vejo normal, nao me veem com normalidade, porque nao é normal, nao é o costume, não é o comum...afinal, pais vao depois dos filhos, pais se apoiam em momentos de perda, pais superam juntos...nada disso é o meu normal.


É bom falar, mas tem sido muito ruim ouvir. O meu silencio e o meu confinamento é o meu normal. Isso é normal para mim agora. Anormal é ver que seus filhos crescem, que você não está sozinha, que você continua sonhando e tendo motivos para sorrir. Já imaginou que sua normalidade fere a minha anormalidade? Pois é, ficar na minha pode ser um jeito de preservar a sua rotina.

Estou sendo normal. Respiro, tomo banho, sinto fome e vivo um dia de cada vez. Esse é o meu mundo, minha escolha, minha normalidade. Se chegar mais perto pode ser que entenda, mas da sua janela não tem foco para observar minha anormalidade. A gente pode tentar trocar de vida, fazer um laboratorio, imagine-se 10 meses e 25 dias sem falar, sem ver, sem saber noticias de seu filho, feche os olhos e pense nisso. Sua respiraçao está normal?

Desculpem foi um desabafo, depois de uma soneca motivada por muito choro.

terça-feira, 17 de abril de 2012

GRITARAM SEU NOME E EU EMUDECI.

Um dia como outro qualquer, onde o silencio e a solidão são meus fieis companheiros. Mas não andam sozinhos, eles me visitam diariamente, e noturnamente com mais amplidão, e aparecem de maos dadas com a saudade, o vazio, a dor e o amor. Em dias mais cheios trazem tambem um pouco de nostalgia, de angustia e de revolta. Mas nestes dias de coração cheio eu aprendi a lidar: ou saio de casa para não antecipar minha partida ou durmo mais de 24 horas, com a ajuda dos laboratorios farmaceuticos, dando sempre preferencia a primeira opção.

Hoje foi um dia comum, sem o desespero dos dias cheios, mas com o vazio de sua falta e com a dor de viver sem você. Fiz as coisas de sempre, manter a casa em ordem, o basico da higiene pessoal, olhada nos e-mail's, tentativa de leitura, planejamento de coisas que nao faço, como o imposto de renda, que só em pensar no dependente, já desisto de fazer, e tentativa de voltar a cozinhar, também em vão...refeição para mim e na mesa, e nunca sozinho, então, todos os planejamentos furaram, desisto e invento outra coisa.

De repente ouço um grito forte subindo pela janela e enchendo o apartamento, oarei no corredor, faltou até ar, antes que eu pensasse quaquer coisa, o segundo grito, numa voz feminina estridente, como a minha, gritaram seu nome, eu emudeci. De imediato eu choro, sei que voce nao responderá,isso me apavora, apesar de ter te chamado tantas vezes por esses corredores no intuito de desabafar, hoje era inedito. Era outra voz, mas era seu nome, cono se voce fosse unico...pois é para mim. Nunca doeu tanto ouvi seu nome.

E no meio do meu amargor o seu chará respondeu bem alto. Ah, filho...tive que correr de casa, tive que sair sem rumo, sem lenço, sem passado, sem futuro, só com o meu presente vazio...seu nome ecoava em minhas paredes e eu não conseguia ouvir você respondendo...senhora...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

ASSISTI A UM DOCUMENTARIO INTRIGANTE

Hoje na madrugada assisti um documentario intrigante sobre uma comunidade espirita americana. E longe de aqui fazer apologias ou defender seitas e religiões, uma coisa eu tinha em comum com os pais que ali chegavam e foram entrevistados para o documentário: sofríamos com a perda e o vazio silencioso da partida de nossos filhos.

E no meio da dor e desse processo maluco de aceitar ou conformar ou sobreviver (porque eu acho que nao aceitamos nem nos conformamos com isso), percebi que tambem tinha outra coisa em comum com aqueles pais, buscávamos um porquê e precisávamos nos sentir perdoados por não termos evitado nada disso.

Nao mudou o que penso sobre Deus, nem minha capacidade de julgar alguns fatos, mas é impossivel não me questionar sobre os dilemas cruciais da vida e da morte. Eu via aqueles pais buscando de alguma forma um conforto, um consolo, batendo numa porta que se abria ali naquela comunidade espirita, e percebo que nosso desespero por uma resposta, por um consolo, por colo, por uma porta que se abre. Nestas horas nos comparo a uma ressaca em alto mar, daquelas onde a onda nos leva para mais longe e mais fundo do que onde originalmente estavamos.

A necessidade que temos de ter uma resposta imediata e de entendermos porque tamanha fatalidade (confesso que muitas vezes chamamos isso de desgraça) se abateu sobre nossa casa. Questionamos por que conosco? Por que com nosso filho? Sabe, essas indagações muitas vezes nos levam para um monte de portas que se fecham bem no nosso fucinho. Nem minha fé, nem meus amigos inteligentes sobre as leis de Deus, nem minha formação, nem o que eu conhecia sobre Deus se fez suficiente para que eu não tivesse vontade de bater nestas portas.


As vezes a gente quer tanto uma resposta que diminua esse sofrimento, que talvez o sobrenatural, as coisas que queremos, digo queremos no sentido de desejamos, de fato acreditar tomam uma proporção maior do que de fato são. Nao julgo. Não critico. Mas ao longo destes 10 meses e 23 dias de espera por qualquer uma das respostas que procurei, não tenho forças para bater em nenhuma porta anunciadora de novidade, simplesmente espero que a boa nova e o sobrenatural de Deus mova a pedra sobre minha vida.

domingo, 15 de abril de 2012

É COMO VIVER SEM METADE DE MIM.

Osvaldo Montenegro escreveu uma poesia que refletirá minha proxima tatuagem. Eu sempre ouvi dizer que quem faz tatuagem não acaba na primeira tatoo, que elas são intermináveis, e como diz meu irmão Sidney, a gente acaba virando uma revista em quadrinhos, um gibi todo desenhado. Estou começando a achar que ele tem razão.

Minhas tatuagens são como os furos de minha orelha. Tem historia. O furo do primeiro brinco não sei dizer, nunca questionei a minha mãe sobre ele, se foi feito na maternidade, se demorou, se eu chorei, se eu perdia brincos quando era criança, estas coisas que só as mães lembram e comentam. Mas os que eu decidi fazer, estes têm história. Minha mãe e minha irmã já tinham o segundo furo, eu sempre quis ter, mas me faltava coragem. Aliás para estas coisas e procedimentos para o corpo e cabelo, elas não se amedrontam com o novo e o diferente, divertem-se mudando, mesmo que a mudança não dê muito certo.

Então, num periodo que eu queria marcar a minha fase de liberdade, de virar a pagina, de ser feliz de novo, entramos numa joalheria e num unico dia, eu, minha mae e minha irmã furamos a orelha. Naquele sabado, eu fiz quatro novos furos, dois de cada lado. Em seguida, assistimos duas sessoes de cinema. Obvio que eu estava com Rafa, ele escolheu a cor dos brincos da pistola, escolhemos o formato e o resto do fim de semana ele questionava sobre se doí, se incomodava, se eu já tinha colocado gelo, etc. Daquele dia em diante se eu entrasse em algum lugar para ver brinco, ele sempre perguntava a vendedora ou me mostrava brincos para o segundo furo. Engraçado, era como se eu tivesse realizado uma coisa que ele valorizava, era comum Rafa sentar no meu colo e por meu cabelo atras da orelha e ficar olhando os furos. Confesso que durante a cicatrização, era necessario rodar os brincos no orificio do lóbulo. Nunca precisei fazer, Rafa fazia como se fosse uma obrigaçao indesculpavel.

Foi meu companheiro todo o tempo. Eu tinha tres furos em cada lado da orelha. E pronta para assumir a pior coisa que fiz na vida: ter permitido que um intruso mentiroso fizesse parte dela. Minha irma iria viajar e não participaria da solenidade, mas tinhamos uma vontade - furar a cartilagem da orelha - e fizemos um pacto, providenciamos o furo um fim de semana antes da viagem para Disney dela, sabiamos que ia estar dolorido e era uma forma de estarmos juntas naqueles momentos de distancia. Aproveitei e furei tambem o quarto furo, cada um representava meus irmaos. Bom, o da cartilagem era meu pacto com a mais nova e os outros dois furos, era para os mais velhos. Quando comentei com Rafa, ele já tirou onda...então minha homenagem vai ser um alargador. Eu nunca tinha visto um, aí ele me mostrou no shopping uma pessoa usando.Começamosa rir porque ele dizia que se para os meninos eu tinha feito um furinho, para ele eu ia ter que usar um daqueles alargadores. Presunçoso? Não, ele tinha certeza que era amado e só tentou, de forma hilária, demonstrar essa certeza.

Nao furei a orelha, mas por conta delas comecei a nutrir a ideia de fazermos uma tatoo. Só deveríamos esperar sua maioridade, sua independencia e uma maturidade a fim de decidir por algo representativo de uma vida e não de uma época ou um modismo. Ele ja sabia sobre o boneco que eu queria fazer, o lugar, o tamanho, só o momento não tinhamos definido, porque faríamos juntos. Algums regras antecedentes precisavam ser cumpridas. Primeiro, ser maior, independente e demonstrar maturidade. Ele obedeceu a risca, pois apesar da liberdade que tinha, nao desobedeceu aos nossos acordos.

Não deu tempo de fazer nossas tatoo juntos. Não nos foi permitido demonstrar nosso pacto. Mas com algumas alterações, dois meses após sua partida e com novas configurações no desenho fui, em companhia de minha mae, deixar permanente em meu corpo...por onde for quero ser seu par, acima de nosso desenho de maos dadas, no meu pulso esquerdo.

Mas quis surpreender, inclusive a mim mesma, ao colocar seu nome, e parte da letra Deus forte em notas musicais, e fiz isso. Achei que ia parar por aí. Mas não vou.

Penso muito no quanto fiquei metade, no quanto fiquei partida, incompleta, sem saída, sem me sentir cheia ou forte, não sou inteira como era quando você de fato estava ao meu lado fisicamente. E a tatuagem é fisicamente uma forma de materializar permanentemente o que vai por baixo dela, minha saudade, minha dor, minha parceria e meu amor por você.

Penso que poderia até me transformar numa revista em quadrinhos cheias de desenhos seus, poderia olhar para mim todo o tempo e ver suas marcas, mas não penso que homenagem vire casuismo, por isso, ainda nao virei gibi...mas ultimamente, onde a sensação de ser metade traga os meus sonhos todos os instantes, sinto uma vontade enorme de ser caderno, nas mãos de Rafa, um guardanaoo rascunhado, com letras firmes que falem o que Osvaldo falou...e em minhas palavras parafraseando-o, porque metade de mim é saudade, e a outra implora que seu silencio me grite cada vez mais...minha proxima tatoo, declarará em palavras a minha sentença de saudades.

sábado, 14 de abril de 2012

ALGUMAS VEZES A DOR É MAIOR QUE O AMOR.

Não sei se esse titulo reflete a verdade, mas é o que sinto em muitos momentos. Tem horas que não lembramos só da parte boa de ter convivido com quem amamos. Lembramos da pior parte: o momento em que o perdemos, e o ruim do processo é rememorizar todas as coisas boas que vivemos, do quanto nos curtíamos, de como nos afinávamos e que hoje tudo ficou para trás e essa ausência as vezes anula o que ficou de bom, porque a dor muitas vezes é incapaz de superar o que tivemos juntos.

Eu não olho para as fotos de Rafael e tenho sempre sensações boas, de como foi legal ter sido sua mãe, de como foi especial ter crescido ao seu lado, de como fui feliz vendo-o crescer. Tem horas que dá vontade de gritar, de quebrar tudo, de implorar por respostas, de exigir uma palavra, um sussurro, de pedir perdão por ter falhado tantas vezes.  Nestes momentos, a dor supera o amor, infelizmente esses momentos existem e misturam tudo, e no desespero, por mais que tenhamos amado e sido amada, não os temos e isso dói, fere, maltrata. 

Hoje na madrugada recebi um torpedo informando que um colega de trabalho tinha falecido. Ele era especial para mim e para muitos que conviveram com ele. Pela alegria, pela capacidade de servir, era um bonachão, morreu de repente, em menos de uma semana tinham o diagnostico do câncer e o óbito. Obviamente não consegui dormir e fiquei pensando na viúva de Cristóvão, outra vitima da mesma doença. mas não o conheci, todavia falo muito sobre o processo de perda que sua viúva enfrenta. Ontem falamos muito disso, e na madrugada sua experiencia compartilhada comigo, e que a questiono todas as vezes que fico muito angustiada, suas respostas não saíam de minhas reflexões.

Pergunto a viúva se ela era feliz casada por conta da devassidão que a perda provocou em sua vida, e ela assim como eu, ficou sozinha, mora sozinha e lidar com a solidão é um desafio cotidiano bem menor que lidar com a perda, com o luto, com o vazio e com a dor.  Não me surpreendo pois quando ela fala da relação que já não estava boa e que não era feliz, todavia passados quase 18 meses ela ainda enfrenta a dor de perder alguém que estava se preparando para perder para vida, cada um andando seu caminho, mas não perder para a morte, onde os caminhos não se cruzam mais.

Pode parecer coisa de gente egoísta que quer tudo para si, aí nem liga para o que tem, até que a gente dá conta daquilo, então, mesmo sem uso, a pessoa não quer abrir mão, pelo simples fato de ser proprietário. Mas não é. A morte aniquila qualquer titulo de posse, mesmo quando você tem claro que é empréstimo, que não é seu para sempre, mesmo assim ela vem de uma forma tão nefasta que parece um pesticida na lavoura, momentos antecedentes da colheita, e o que não fica morto, fica impróprio para o consumo, e a terra precisa de muita, muita ajuda para superar o veneno pesticida que adentra em suas camadas.  Eu sou a terra, a morte é o pesticida e a colheita era tudo que nossa relação seria capaz de produzir.

Obviamente que viver com Rafael não exigia muitos adubos, porque ele era especial mesmo. Ele dava muito mais do que o que recebia. Ele era daquelas pessoas cheias de luz, cheias de vida, cheias de entusiasmo.  Cheio de Deus, porque era alegria, amor, perdão, capacidade de servir. E eu contava com minha colheita.  Rafael sonhava com casa cheia, com filhos, amigos, parentes, agregados, ele gostava de estar cercado. Eu só tinha ele, e ele tinha o mundo, então não era difícil sonhar com o mundo dele. Eu esperava viver o mundo dele.

Acabou...e hoje, uma poesia de Marina Ferraz, retrata o que restou em mim...mas já não importa.




sexta-feira, 13 de abril de 2012

SER IRRESISTÍVEL, É UM ATRIBUTO DA SAUDADE.

Acho que algumas paixões da vida são irresistivelmente tentadoras. Tenho algumas convicções acerca disto e da força que nos impulsiona para estas coisas. As vezes minha cama ou o estado de prostração, daqueles em que eu fico inerte parada na cama só respirando e fazendo toda a força do mundo para não levantar, para jamais sair deste estado de coma induzido, tem sido minha irresistivel paixão.

Tive paixoes irresistiveis na vida. Tiveram momentos que dizer nao era impossivel. Alguns desafios me faziam me sentir cada vez mais viva e viravam uma paixao irresistivel, como meus alunos, minhas disciplinas, meus pacientes, o Rh, minha casa, etc. Algumas paixões viraram regra de vida, de poder, de felicidade.

Fui apaixonada por coisas que nao tive, e confesso que hoje nao tenho paixao por nada, mas a consumiçao da paixao ainda queima em minha vida. Descobri que quando temos paixao, nao resistimos, queremos ter, estar junto, compartilhar...

Mas nao tenho mais paixoes, mesmo assim irresistivelmente não paro de pensar em você Xeberel. Descobri que a saudade é motivada por paixão, em alguns casos por um sentimento mais nobre, o amor. Só sentimos saudades daquilo que foi passional em nossas vidas, e creio que o amor é alimentado também por paixão e seu ardor que consome.

A saudade tem essa chama irresistivel para consumir. É um atributo da saudade, por mais que tente nao pensar, nao falar, nao demonstrar, ela está ali, instalada, gritando muda, consumindo, e faz uma retro-alimentação, quanto mais sentimos saudades, mais há para sentir.

Irresistivelmente lembrado, esperado, amado.

Nunca imaginei que apenas um momento, uma fração de segundos teria o condão de mudar todo o resto da minha vida, e me faria encontrar com o maior sentimento que inundou meu coraçao, amor transformado em saudade.

Tenho percebido que o impacto da morte é maior do que a visita da vida. A vida se anuncia e cresce lenta e gradativamente, conta sua historia e permite criar personagens á medida que crescemos, já a morte se desvenda como um misterio revelado diante das cameras, de uma unica vez, não permite conserto, não aceita replay, e deleta todas as historias, acaba o enredo, a narrativa e o personagem.

Morte e saudade...irresistivelmente dolorosa caminhada.voce nao quer pensar, nao quer falar, mas nao se livra de não sentir. Sinto Rafa...saudades, não resisto ao processo de chorsr sua ausencia e declamar sua falta. Irresistivel para amar.


SAUDADE É NÃO SABER.

Tem horas do meu interminável dia que questiono onde voce está e o que você faz. Questiono coisas bobas e também coisas mais intrigantes, essa é a diferença entre perder um filho e imaginá-lo morando longe, ou servindo numa guerra, ou preso, ou num escondeirijo, etc.  Não saber, e não ter quem saiba define a distancia e a saudade.

Eu cresci ouvindo sobre uma tia-avó que tinha uma filha que havia ido embora para a Europa e nunca mais havia se correspondido com a familia. Obviamente que como em toda familia muitas especulaçoes foram feitas e muitos boatos insustentaveis tambem foram ditos sobre o paradeiro desta prima, familia paterna da minha mae. Todavia, nos momentos que eu conversava com essa minha tia-avó, residente no Rio de Janeiro, ela sempre tinha uma novidade para contar sobre sua filha, que morava na Itália. A familia nao comentava sobre argumentos reais, porque não tinha acesso, mas minha tia vez ou outra tinha um fato novo para relatar e eu amava ouvi-la. Seus olhos expressavam um amor contido e uma admiração pois a filha não tinha se perdido, ela tinha se achado lá fora.

Essa minha tia teve uma participação muito especial em minha vida. Foi uma guerreira otimista. Todo o tempo manifestava uma fé em Deus e uma alegria tão especial pela vida. Rafael a conheceu, ela chegou a segura-lo algumas vezes e a participar de "momentos especiais de nossas vidas.

Minha tia sentia saudades da filha, mas ela sabia onde sua filha estava, o que fazia e na medida do possivel e do acesso as informações, mesmo que de longe, acompanhava as noticias quando sua filha as mandava. Lembrando que falo de tempos onde não podiamos contar com as facilidades do celular, do sedex e da internet. Falo de cartas que eram remetidas sem endereço, falo de parcas ligações só de lá para cá, sem acesso ao numero originario de chamada, falo de uma filha que não se mostrava por completo, mas de uma mãe que estava sempre disponivel para ver o que precisasse ser visto.

Nunca houve desespero na espera de minha tia. Porque embora distantes, elas -mãe e filha- se sabiam.  Minha tia já faleceu, minha prima já se mostra por completo. Sentimos saudades, mas nos sabemos.

Saudade de quem partiu é traduzida por desconhecer, saudade é não saber.

Não sei onde Rafa está, como é lá, o que ele faz do dia, se tem noite. Se tem brisa, se tem cor, tem jardins? Mora em casa? Precisa dormir? Se já encontrou pessoas que conheciam? É cuidado? Tem gente que já gostava dele aqui e continua tratando-o e cuidando-o lá? Onde é lá? Tem se alimentado direito? Está feliz? Em que pensa? Tem sido útil? Não sei responder nenhuma destas e posso formular mais milhares de perguntas. Todas sem respostas.

Mesmo que ele tivesse partido como minha prima e eu não tivesse acesso a sua vida, de uma forma ou de outra, eu o saberia, e ele a mim. Mesmo que eu não pudesse confirmar a marca da pasta de dente, ou do chiclete que ele mais gostava, ou se ainda perambulava de cuecas e meias pela casa, ou se ainda amava o Ferrari Black, ou se ainda gostava de apertar todas as camisas de malha para ficar bem definida no peitoral, ou se ainda ria com episódios reprisados de Mr. Bean, e se ainda ouvia Rojão...mesmo que eu não soubesse confirmar nenhuma destas suposições, de alguma forma eu o saberia, e ele a mim.

Hoje eu não sei, não o sei, só sei da saudade...da saudade de não sabe-lo.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O DIREITO SAGRADO DE VER O FILHO CRESCER

Esse negocio de analisar a vida nunca me deixou tão estressada, acho que porque a vida hoje para mim não tem um significado muito forte. Virou apenas um antônimo. E eu era boa nestas coisas de analise, não sei quando que me perdi.  Hoje, vida para mim é simplesmente o contrario de morte. Não é mais um substantivo abstrato, porque virou concreto em minha vida.  Engraçado porque Rafa que era a coisa mais concreta que eu tinha e ficou abstrato, não paupável, e morte que era tão abstrata, apesar de velha conhecida, hoje exprime uma qualidade do concreto em minha vida.

Por que é tão difícil levantar? Por que não encontro em lugar algum a formula para virar a pagina? A sensação que temos é que se mudarmos a pagina estarei fingindo ou fugindo da minha própria narrativa. Não sou masoquista e amo o sofrimento, mas a morte concreta não abateu só a minha vida, mas arrastou com ela meus sonhos, minhas esperanças, minha alegria e minha razão de continuar.


terça-feira, 10 de abril de 2012

ERA O MOCINHO MAIS CHEIROSO QUE JÁ CONHECI...ESCREVERAM PARA VOCÊ.

Nao tenho dedos suficientes para demonstrar a grandeza de nossa distancia. E isso machuca porque demonstra o quão longe estamos um do outro, o quão difícil tem sido se sentir perto ou próximo e o quão desesperador é falar e pensar sobre esses longos 11 meses, numa segunda feira como aquela em que nos separamos.

vou me manter sobriamente acordada para ir lhe ver no mesmo horário que te deixei e sinceramente, clamo a Deus que não me deixe sair de lá.  Nestas horas o egoismo me invade e não penso em mãe e parentes, só eu mim e você. Talvez ate mais em mim, porque imagino que você quisesse que eu tivesse tocando a vida, mas não tenho mais seu ritmo me acompanhando, e não ouso tocar outro ritmo, simplesmente porque perdi a capacidade de ouvir as notas musicais...hoje eu ouço só o sol...de sozinha, de solidão, de sem você.


Minhas mãos não cabem mais em dedos demonstrar o tempo que nos separa, tampouco a distancia que nos mantem longe um do outro. Tudo começa a ficar mais dificil, porque os mesmos pensamentos e a mesma sensação ainda é morada em meu coração...Não sei porque voce se foi, quantas saudades eu senti, e de tristeza vou morrer, e aquele adeus NAO QUERO dar.




segunda-feira, 9 de abril de 2012

A UNICA COISA QUE ME DEMOVERIA DA IDEIA ERA A SUA VOZ

Tem horas que é muito dificil controlar os pensamentos. Geralmente são pensamentos ruins sobre todas as areas da vida. A gente fica convencida de que nada do que estamos vivendo vai passar. A gente fica se perguntando onde estaremos daqui a um ano, a dois, a dez. A gente se pergunta porque viver todo esse tempo. A gente fica sem vontades. Vontade de nada, de fazer nada, de conhecer nada, é a coisa mis sem sentido que podia acontecer, era eu ficar e voce ir.

As vezes me sinto como se estivesse numa grande forma de gelo, respirando, mas paralizada, congelada, inerte, mas por dentro tudo queimando, tudo em ebuliçao, tudo fazendo um grande efeito interno que me corroe, me mata lenta e calmamente.

Olho em volta e espero, mais uma semana, mais um feriado, que por coincidencia ano passado caiu na semana santa, mais um mes sem voce, o decimo primeiro, chegará o dia das maes, o primeiro sem voce e a partir daí tudo se repetirá...dia dos namorados, dia dos pais, eleiçao que voce ia comigo e entrava na cabine, seria a sua primeira eleição, natal, ano novo, nosso aniversario, e tudo de novo...só que de novo não tem nada.

Ficou de repente vazia a vida. Os planos para o futuro, as vontades, os desejos. Tudo é manifestadamente sem graça e sem motivo. Nao sei quem sou,só quem fui. Fui feliz do seu lado. Um dia escreveram sobre nos, eu divulguei para a familia. Nao tinha nada bom naquela carta, mas uma coisa era verdade, nós nos afinávamos. Eramos bons juntos. Nao sei nao ser junto mais sabe Rafa.

Preciso de direção, e viver contigo era a unica direçao que norteou minha vida adulta. Pensar no futuro, onde eu queria te ver, pautava nosso presente. Eu achava que ver você na faculdade, encaminhado na minha vida era a porta para entao eu correr atras de outros sonhos, mas só tinham sentido porque voce fazia parte deles. Fazendo intercambio ou doutorado, tinha um lugar para voce em meus planos, mesmo que nossas vidas estivessem tomando rumos distintos, estavamos juntos.

De certa forma estou livre, nao precisaria esperar voce ficar encamihado. Mas nunca estive tão presa. Nao sei onde ir, nem entendo porque preciso ir. O lugar mais seguro do mundo hoje, é deitar em sua cama e sentir teu cheiro no travesseiro. Mas sei que nao posso ficar a vida inteira aqui, entao quando penso em tudo isso e nao consigo desistir das ideias imbecis de trazer algum sentido para minha vida, nestas horas queria ouvir sua voz, como voce sempre fazia nos meus momentos de afliçao, e me dizia,no final vai dar tudo certo mae, se nao deu ainda é porque não chegou no final.

É filho só sua voz me convenceria de que nao é o fim, é como gás de cozinha que a gente vira o bojão para aproveitar o fim do combustivel...virei o meu, mas nao ouvir a sua voz tem me sufocado.

domingo, 8 de abril de 2012

VOCÊ CRESCEU TO RÁPIDO

Ainda lembro de voce e toda aquela energia e alvoroçamento nas gôndolas do supermercado a escolha de seu ovo de páscoa. Lembro da maioria dos ovos que comprei para você a cada ano. Lembro de seus comentarios a cada ovo, e lembro do minúsculo ovo do ano passado, se não fosse sua avó salvando sua expectativa de ganhar um ovo de tamanho decente, de certo eu ficaria magoada esse ano, pelo ovo que não te dei.

Em alguns anos, comíamos chocolate o ano inteiro, tamanha era a quantidade de ovos de páscoa que iam parar em vasos de mantimento em nossa geladeira. Esse ano, nao quis ver ou participar ou ter nenhum destes invólucros aqui em nossa casa, nao podia tê-los sem você.

Lembro de seu terceiro aniversário, cujo tema na escola era o coelhinho da páscoa pois era uma semana ou 15 dias antes da páscoa. Lembro do bolo, das lembrancinhas e principalmente das musicas que cantávamos juntos. Ensinei todas as músicas que eu sabia e aprendi umas novas com você. Depois que seu irmão nasceu voce me apresentou outras músicas de coelho. Pois é filho hoje me dei conta do quanto voce cresceu e o quanto ainda era pequeno para mim. Voce conseguia ser adulto e ser criança ao mesmo tempo, todo o tempo.

É dificil olhar um ovo de pascoa e nao lembrar instantaneamente de voce. Na verdade, quando compramos pela primeira vez o ovo do tamanho grande, lembro de sua alegria. E na epoca que o que mais importava era o brinquedo, sofria não era filho, porque eu só deixava abrir no domingo de páscoa e voce ficava olhando o tempo inteiro o ovo fechado e me enjoava para abrir antes, ansioso, mas eu não cedia, aí chegava o dia, voce abria e comia um pedaço, mas o interesse era o brinquedo. O ovo mesmo, o chocolate, voce dividia comigo.

Lembro da pascoa que inventamos fabricar os ovos, nunca passamos dos bombons para colocar nos ovos, fazíamos e comíamos. O resto da barra de chocolate virou fondeau no almoco do domingo em familia. Quantas lembranças.

Fico feliz por sua ultima pascoa, voce sonhou com Sauipe, só deveria ter aproveitado mais, ter brincado mais, ter curtido seus irmaos, nao ter ficado ligado em Aracaju, no msn, no orkut, no celular, ter curtido sabe filho, ter ficado ao lado de quem te amava mesmo, porque foi nossa ultima pascoa ao seu lado.

Na semana seguinte recebemos os ovos de sua avó, você estava tao ansioso, porque o que eu te dei era minusculo, e você nem o considerou falava tanto que não ganhou ovo, que eu te dei o que eu ganhei de sua avó e você então estava com dois ovos, e só não dei o terceiro porque era chocolate amargo e você não gostava, senão você sabia que eu fiquei tão sentida com sua tristeza em não ganhar ovo que dei todos que ganhamos para você, parecia que eu o tinha comprado para voce, tamanha sua alegria. Foi a melhor reaçao que eu vi voce ter ao receber um ovo, se eu soubesse, todos os ovos que ganhei na vida tinha repassado para voce, por conta da sua manifestante alegria, foi maior do que quando você ia e escolhia o ovo que queria no supermercado.


Pascoa é renascimento filho...que voce renasça cada vez mais forte dentro de mim, e que nossas lembranças me fortalecam para retomar o caminho mais proximo da vontade de Deus. 

Amo voce, eternamente minhas melhores pascoas foram ao seu lado.

sábado, 7 de abril de 2012

Os planos fracassaram, so restou a vontade.

Semana santa do ano passado foi planejada em janeiro com a ida de Rafa para Sauipe, mas esse ano eu queria apresentar Nova Jerusalem a ele. Mas meus planos fracassaram. Alias, tenho pensado muito sobre meus fracassos, tantos e inúmeros que me atormentam e o pior deles, são aqueles fracassos que de alguma forma roubaram meu tempo com você.

Lembrei de minha avó e seus sete filhos, um deles já falecido. Lembro de anos que se seguiram e minha avó se referia ao filho falecido com certa nostalgia e arrependimento, ela comentava que se soubesse que ele iria morrer tao cedo não o teria castigado tanto.  

Pois é filho, também me arrependo de não ter sido mais branda contigo, não de castigos ou surras, porque você não precisava apanhar para obedecer, eu sempre usava aquela frase, "com gado a gente engorda, fere, mata, mas com gente é diferente." Eu cria nisso, e você reforçava meu pensamento. Eu era dos castigos, achava que os castigos, as privações eram suficientes para não reforçar um comportamento indesejado, e você comprovava a minha teoria.

Tenho saudades de você menor, de você sem tantas vontades, sem toda essa independência. Tenho saudades de você sem decidir para onde queria ir, apenas me acompanhando e se divertindo em meus roteiros. Eu achava que esse ano seria assim.

Eu achava que você ia ficar surpreso com a cidade, com a fazenda, com o espetáculo em si, e com nossos questionamentos sobre o que era real a luz da palavra. Eu achava que seria uma forma de nos divertir em família, quem sabe ate sua primeira viagem dirigindo com carteira na estrada, sei lá...sonhei tudo isso e comentei contigo. Obviamente que você, a não mãe nada a ver, Semana Santa no Saco. Mas eu achava que não fracassaria, e que você mesmo resmungando ia acabar gostando da folia.  Meu discurso estava pronto, ida direto para o espetáculo, passada na feira de roupas para comprar roupinha para bater na faculdade e na volta o nosso mergulho em Porto de Galinhas e retorno para casa amanha a tempo de jantar com a família.

Sonhei filho, e também nisso fracassei. Passei a noite em claro, remoendo a nossa ultima semana santa juntos. Só o domingo de pascoa juntos, mas marcou tanto, você estava especial.  E mesmo não querendo ouvir meus planos para esse ano, sonhou comigo naqueles minutos. Serei eternamente grata por todas as pascoas ao seu lado. Por ter sido meu companheiro nos primeiros anos da separação, por ter sido meu amigo nos sermoes do monte que ouvimos, meu filho nos domingos de pascoa ao abrir os ovos e meu único e eterno amor nas semanas que ficamos em casa aproveitando o feriado como gostávamos: praia, cinema, rua e um ao outro bastando.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Paixao de Cristo

É inconcebivel para qualquer um de nos dimensionar o tamanho da dor de Cristo em sua crucificaçao. Por mais didatica que nos apresentem as explicaçoes e que se simule todo seu sofrimento, nunca saberemos medir o tamanho daquele sacrificio por mim, por voce, e por Rafa.

Uma das musicas que Rafa chegou a tocar na igreja, versao de uma musica estrangeira, em dado momento falava que nao saberemos o preço que foi pago lá na cruz. Pois é hoje compreendo com outra medida o que o autor da musica defendeu. Por mais que imaginemos a dor, nunca a sentiremos.

Na minha caminhada em busca do Senhor, acho que em janeiro de 2006, eu estava lendo um livro que falava sobre os estagios do pecado, e naquele ano, à medida que avançava na leitura do livro tambem avançava na compreensao do que significou a morte de Cristo, porque Ele tinha intimidade com o Pai, ele fazia parte da Trindade, e quando assume os pecados do mundo, por mim e por voce, ali em Seu sacrificio, rompe-se momentaneamente Sua relação com o Pai.

Chorei imensamente ao perceber o tamanho da dor e de Seu clamor quando indaga ao Pai o porque de te-lo abandonado.

Nesse processo de luto, perda, tristeza, revolta, solidao, etc., tambem clamei muitas vezes e chorei implorando a Deus por uma soluçao, um consolo, um remedio. Tambem me senti abandonada por Deus. As vezes tambem penso besteira, a palavra de Deus trata a mulher de forma especial, principalmente se analisarmos o contexto historico onde mulher e criança não são nem citados, nem contados, como eu digo em alguns momentos, naquela epoca nos eramos a terceira pessoa depois de ninguem em grau de importância. Mas para Deus isso era diferente.

Mas para o Senhor desde o papel de Eva, a escolha da virgem para ser a mae de Jesus, o papel confiado a mulher, a ajudadora, a capacidade dada a mulher de gerar o filho no ventre, quando penso nisso, vejo o olhar especial de Deus para sua criatura. Ser mae...

Hoje, onde o mundo religioso se prepara para a pascoa, eu vivo a crucificaçao. Ainda estou no estagio das perguntas...pai, por que me abandonaste? Onde o Senhor estava enquanto eu perdia meu filho? E o Senhor sabe o quanto doi perder, por que permitiste? No fundo, sei que Deus é Deus e não deixou de ser soberano em nenhum dos meus momentos de revolta. Deus continuou onde sempre esteve, a minha dor é que não permite que eu veja muita coisa.

Continuo sem saber dimensionar a dor de Cristo, por mais que eu me esforce nunca chegarei a sentir o que Ele sentiu. Assim como as pessoas nao chegam perto de minha dor. Tambem nao sei dimensionar a dor do pai que perde o filho para fazer Sua justiça. Mas peço todos os dias que ele cuide de Rafa, meu filho, porque apesar de Rafa ser Dele, nao deixou de ser meu, e tem sido dificil sobreviver a essa separaçao. Sinto-me injustiçada, as vezes me sinto culpada, depois revoltada, em alguns momentos de muito pesar o sono me abate, tenho vontade de dormir e nao acordar. E sei que tudo isso nem se compara a paixao de Cristo.

Ano passado, Rafa me liga de Sauipe pedindo que eu escaniasse a certidao de nascimento com a emancipação e enviasse para o e-mail dele. Fiz isso, e em seguida ele me responde...obrigada mãe, se cuide, te amo. Foi a ultima semana santa de Rafa, de lembrança guardo uma foto linda de seu perfil, com uma camisa lilas que eu a dei. E para amenizar vejo as fotos dele tocando a musica que falo no inicio da postagem. Nisso tem se resumido a minha paixão.

E por conta da Paixão de Cristo, vou reencontra-lo filho um dia, e neste dia, alegria reinara novamente, acabou o sofrimento e nossa separação.