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sábado, 31 de dezembro de 2011

RAFAEL ANO NOVO!

Enfim 2011 acabou. Fico pensando se queria mesmo que ele acabasse porque estou mais distante, em tempo, de Rafa, ou se eu desejei que ele acabasse instantaneamente para que de alguma forma adormecesse meu coração. Até agora, se eu pudesse ter escolhido não sei o que desejaria.

Ano novo, sempre tempo de promessas novas, projetos, expectativas, sonhos, de pensar no futuro. Ainda não consigo. O ano de 2011...poderia de fato ter acabado no dia 23 de maio, teria sido mais fácil para mim, mas não acabou.

Continuei andando. Embora, as vezes me arrastando, as vezes sendo empurrada, as vezes carregada, as vezes consolada...e chego a 31 de dezembro percebendo que o fardo continua.  Ainda me sinto amarrada a um passado que não voltará mas que eu não quero perdê-lo de forma alguma.  Sei que isso as vezes pode parecer loucura, mas sabe quando você perde uma coisa que gosta muito e fica remoendo. Meu irmão perdeu um gorro ontem, e acabamos fazendo um trato, cada vez que ele falava no gorro, dávamos tapinha na testa dele, condicionando-o a não falar mais, porque a gente não aguentava mais a ladainha. Quanto tempo ele tinha o gorro? 24 horas.

Eu perdi a coisa mais preciosa da minha vida, quanto tempo falo disso, todo o tempo que tenho. Meu pensamento é dele, meu sentimento é para ele, meu envolvimento é com a historia dele, a vida dos amigos dele, as coisas dele...ainda olho só para trás. Não tenho planos, sonhos ou promessas para cumprir em 2012, ou daqui para frente.

Alegrias? Não, ainda não consigo vê-las apesar de saber que tive algumas esse ano e foram muito especiais. Lembro de  meu ultimo dia das mães, niver de Rafa esse ano, domingo de Pascoa só com ele, um domingo de maio em que ele abriu o coração e compartilhou segredos de amor...

Em 2011 eu perdi a minha família inteira, deixei de ser mãe e voltei a ser apenas filha, e fiz minha mãe sentir o peso duas vezes.  Como ela mesma diz, tem sido meu desodorante todos os dias, tem dias que não abro os braços e não deixo que ela me proteja, mas ela tenta estar lá todo tempo. Choramos juntos, lembro de ser amparada por meus irmãos naquele cemitério e de sair abraçada com Sidney, de ter em Fefe um escudeiro me cuidando durante o velório e quantas idas a Estancia para ver o inquerito, e em Lícia a dor de uma tia com sentimentos de irma mais velha, como ela mesma disse algumas vezes,  e cujo amor permanentemente tatuou em sua pela, com o Rafael M, de muskito ou menezes, como justificou e fez escola, porque Fefe tambem tatuou em seguida o RAFAEL M. Ou meu padrasto, avô de RAFA, que sei que fez do Saco seu exílio para aplacar a dor.

2011 Nely perdeu o chines, Neide e Neguinho perderam Rafa Bispo, Saulo perdeu a mae, Heloisinha perdeu Ewerton, Nivia perdeu o pai, Laura perdeu Ray, Ana Cristina perdeu Talita, e minha doce Márcia fez um ano sem o Teteu...perdemos, muito. Mais do que poderíamos imaginar suportar. No meio destas perdas ganhei mais de 100 pessoas no Orkut, só por Rafa ser quem é, merito todo dele, cerquei-me dos amigos e colegas de Rafa, e isso tem sim valido a pena. Ganhei o cuidado de Ive, Nane, Aline, Anne, Regina, Tata, Bruna, Mateus, Tiago Sales, Ítalo e os inseparáveis GTR...E tantos outros que não dá para lembrar e citar, só queria trazer a consciência do que Rafa, mesmo não estando aqui, ainda trouxe para mim.

Projetos para 2012..nenhum, viver cada dia de vez, com calma para a ferida não sangrar mais.

Agradecer, apesar de tudo, aprendi que sempre pode ficar pior...quando tudo vai de mal a pior...mensagem na igreja na véspera da partida de Rafa.

E mesmo sem animo ou graça, quero desejar a vocês, todos que compartilharam e curtiram comigo esse pior ano de minha vida,  um RAFAEL ANO NOVO, um RAFAEL 2012, porque meu filho era a imagem da felicidade... não tinha cara feia, raiva, rancor, tudo estava bem para ele, se não pudesse juntar, não separava, tinha consciencia de que sua vida deveria ser para fazer as pessoas que amavam felizes...e estar cercado disso em todos os dias de 2012 não posso ter um desejo melhor...desejo a vocês varios Rafaeis...cura de Deus sempre presente.

Agradecer a igreja que se levanta e levantou por mim, meus pastores, meus amigos que entenderam meu silencio e afastamento, meus irmãos na fé, alguns no ouvido, me ouvem chorar, em especial Dea, Nely e Cora.  Nivia e Junior como foram tolerantes comigo iam mesmo quando eu não queria ver ninguém. Ministério dos impares, quantas visitas de louvor. Olguinha e Boanerges sempre juntos. Meus tios e primos de Juiz de Fora, largaram tudo para dividir a dor. Renata da casa da copia, unica estranha que eu me abria e fez todas as minhas  camisas de fotos, me consolava, chorou comigo tantas vezes. Marco e Jaqueline, quem diria que eu poderia agradecer, faço de coração.  Pr Emanuel, não posso nunca retribuir o que fez e faz por mim, e toda a sua família. Pastores Marcos e Claudia, minha base crista consolidada pela vida que inspiram.

Hoje pela manha estavamos os 04 irmaos nos preparando para sair do hotel, testei minha maquina que sempre travava e era Rafael que a consertava, meu irmão tentou arrumar e testando-a tirou uma foto, o resultado de tão espontâneo nos  emocionou...era o ultimo dia do ano...e ele estava conosco...

Rafael, obrigado por ter se permitido viver como viveu, por ter me permitido compartilhar esses 17 anos contigo e por nunca ter abandonado o barco, mesmo quando eu não sabia navegar...por onde for quero ser seu par...sempre, eternamente juntos.

Desejo a vocês um RAFAEL 2012! Um Rafael Ano Novo, cheio de bençãos do Senhor!

Meu filho especial que perfumou o meu jardim e ate hoje sinto seu cheiro, e seu sorriso lindo...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

QUANDO A ANORMALIDADE É NORMAL PARA O MUNDO.

Estou no olho do furacão. Muitas vezes penso sobre a passagem bíblica de edificar a casa sobre a rocha...eu achava que estava no caminho, e de repente, um furacão toma conta de tudo, e minha casa desaba.  Os últimos furacões, fenômenos da natureza que acompanhei, tinham nomes de mulheres e eram arrastadores.

Tentei descobri como os furacões são nominados, e me surpreendi, ao perceber que eles tem nomes de pessoas porque os estudiosos usavam esta técnica como forma de facilitar a comunicação em caso de emergência, e durante muito tempo, os nomes eram escolhidos de acordo com o santo do dia, como por exemplo o furacão Santa Ana, em 1825. A partir de 1953, os americanos começaram a nominar os furacões com nomes de mulheres.

Já ouvi tanta piada sobre as comparações do que mulheres e furacões são capazes de fazer, mas o que vale a pena ser pensado é que quando se usa nome de mulheres ou homens na comunicação escrita ela se torna mais clara, rápida e causa menos erros.  Cada ano uma lista de nomes é preparada para  ser utilizada na próxima temporada de furacões.  Qualquer país que sofreu o ataque do furacão usa o nome e o escolhido sai da lista e não pode ser utilizado novamente por 10 anos, para evitar confusões de comunicação e controle.

Meu furacao nao estava na lista, mas devastou toda a minha cidadela, meus muros, minha casa, meu porto seguro. Meu furacão foi exclusivo e até que o mesmo nome seja usado para definir outros furacoes, a dor de perder um filho, é tao exclusiva quanto as avariações que uma cidade sofre quando se despedaça aos pés de um furacao.

Paises que precisam se levantar apos um furacão sempre tem as marcas de suas perdas e as vezes ate encaram com normalidade, ate treinam a população para reagir a isso. Meu furacão, não tem treinamento que minimize. Dizer a uma mãe de forma natural que deve enterrar seu filho e que todos morrerão um dia e achar que isso é normal, só me faz sentir anormal num mundo onde exceção virou regra.


Risquem o nome do furacão da lista, ele não poderá fazer mais estragos do que já fez, ele não destruiu  apenas a cidade...ele enterrou vivo os meus sonhos, minha vida, meu animo e minha esperança em dias melhores.


Escrevo as três da manha, do dia 31 de dezembro de 2011, de Lisboa, porque a fúria do furacão que passou em minha vida, ainda não permite que eu encare meus escombros, e se para você isso for anormal, reflexo de fraqueza ou falta de fé...imagine se perder de você mesma...o furacão levou tudo de mim, e o meu melhor...meu filho unigênito.  

Lembro de uma musica que eu amava, e que Rafa aprendeu parte dela no violao...hoje ela esta forte em mim....apenas esses versos me ninam hoje...como os nossos pais...




"Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais..."

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

MEU CONTINENTE É VOCE

Saí  de casa, com um único objetivo, não passar ano no lugar que mais me lembra Rafael. Não sei explicar porque, eu simplesmente não queria, desde o inicio de sua partida me perguntava, onde e como sobreviverei a todos esses dias importantes e cruciais para todos os seres humanos sem meu filho, e nesse processo desvairado, só uma coisa não me saia da cabeça...suma.

Tentei vários roteiros e itinerários, a companhia, bem sempre achei que fosse ser a solidão, esta que tem sido cúmplice de minhas madrugadas e dias de coração muito apertado. Mas, segundo minha amiga Dea, Rafa ia mexer os pauzinhos para arrumar a companhia. Minha mãe foi usada e de forma heroica abriu mão dos filhos, todos, para que me acompanhassem na empreitada.

O destino, sinceramente não importava, só uma regra não podia ser quebrada, não iria para nenhum lugar que lembrasse Rafael, que tivesse estado com ele, ou que ele tivesse comentado que queria ter ido. Oscilei muito, pois as vezes queria voltar a Cancun e sozinha, revisitar minhas lembranças com ele, mas ainda não tenho estrutura para encarar esse desafio.

Dentre todas as opções conseguimos sair do país. Ato insano porque meu pais era Rafael, ele era meu credo, minha língua, minha nação.  Sua vida definia a minha em muitas situações e seu doar-se também me posicionava na escala evolutiva humana, conviver com ele, era evoluir a cada dia. Quando penso nisso, lembro daquela musica de Legião Urbana, que fala que os bons morrem cedo.

Em outro país um mundo novo se descortina, tantas coisas diferentes a conhecer, a experimentar, a analisar, a se descobrir. Sempre gostei disso, e Rafa também. A melhor coisa destes momentos, as fotos em família...nós quatro juntos. Mas quando vejo se ficou boa a foto, o angulo, a paisagem, e vejo que você não está ali, ou está apenas representado por minha camisa com sua foto, filho, aí percebo que em nenhum lugar do mundo isso pode ser amenizado. Nem mesmo aqui. Mesmo quando as pessoas não interrogam sobre o rapaz da foto, ou sobre minha historia, ou sobre qualquer coisa de nossas vidas, parece que está estampado na cara o tamanho da dor.

Apesar de ser uma desconhecida, ser mais uma na multidão, encontrei o primo de seu avô no El Cortes Ingles, e aos nos cumprimentar, ele falou da fatalidade em nossas vidas, falou de seu avô Leucio, e de seu bisavô, meu meu avô e disse é minha filha você tinha que sair mesmo, imagino a sua dor, vi o sepultamento, que bom que conseguiu sair. Desabei. Essa dor não se esconde de ninguém, nem mesmo quando nos escondemos do mundo.

Rio bastante com os meninos e as poses das fotos, tudo vira uma grandessíssima piada. Mas sempre tem alguma coisa que me lembra você. Vejo-os comentando o que levar para os filhos, me pedem opinião sobre os souvenires para eles, vejo Sidney escolher para sidinho, Fefe para as meninas, Lícia se preocupar se Boris está bem...e eu, ah filho, eu só engulo seco tudo, olho e não posso ter, vejo e não posso levar, sinto e não posso dizer, sofro e  não posso chorar, e então ao fim do dia, percebo que a dor e a saudade ainda sao combustíveis que corroem minhas esperanças, porque não adianta trocar de pais se você era meu continente.

Tenho dormido muito pouco, confesso que quanto mais me aproximo do réveillon, mas desespero enche meu coração.  Duas meninas de 16 anos pediram para ficar saindo conosco, viajam desacompanhadas e conhecem vários lugares. Como são as coisas, ando com desconhecidas, cuidamos, esperamos, opinamos, combinamos, e não posso estar com você.

As vezes sinto você tao distante e de repente um vento frio me abraça e acalenta meu choro nos passos árduos pelas ruelas, gosto de pensar que é você. Apesar de todo o sofrimento, longe ou perto, em casa ou fora dela...meu pensamento continua lá em você, nem demais, nem de menos, amando sem medidas mas presente em sua vida em todo o tempo que eu tiver, não importa em que mundo, se te sinto ausente ou presente, apenas sendo alguém que enche-se de você para suportar viver sem voce.

"Quero ser o teu amor amigo. Nem demais e nem de menos. 
Nem tão longe e nem tão perto. 
Na medida mais precisa que eu puder. 
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida, 
Da maneira mais discreta que eu souber. 
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar. 
Sem forçar tua vontade. 
Sem falar, quando for hora de calar. 
E sem calar, quando for hora de falar. 
Nem ausente, nem presente por demais. 
Simplesmente, calmamente, ser-te paz. 
É bonito ser amor amigo, mas confesso é tão difícil aprender! 
E por isso eu te suplico paciência. 
Vou encher este teu rosto de lembranças, 
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."
Fernando Pessoa



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

EU NUNCA MAIS VOU TE ESQUECER

Separação. Uma das piores coisas do mundo. Mesmo quando pensamos, pesamos e achamos que tentamos de tudo para nos manter juntos, mesmo que saibamos ser a unica saída capaz de manter a saúde emocional dos envolvidos, a consequência da separação deixa marcas insolúveis. Tem que ter muita perseverança para não por um fim. As vezes é difícil porque a luta está travada apenas em um coração. As vezes a disposição de lutar para permanecer juntos está nos ombros de um só, e apesar de discordar de que quando um não quer dois não brigam, acredito que um só, muitas vezes, não consegue segurar uma relação que dependa de dois ou mais.

Rafa sofreu muito com a separação. Separação dos pais, como todo filho de pais separados. Não houve revolta, não era uma pessoa revoltada nem chantagista, mas a separação em si trás tantas complicações que uma vida inteira as vezes é pouca para solucionar todo o desgaste. Separação dos amigos, quando o tirei do Amadeus e coloquei no CCPA, separação dos colegas quando nos mudamos. Mas a maior separação a que fomos expostos foi a separação física, e essa independe de nossas vontades. Com certeza não queríamos, não quisemos, mas fomos forçados a conviver com essa separação, eu costumo dizer que não convivo com ela, e sim, que "comorro" com ela.


Esta deixou marcas tão profundas que nao posso mensurar o quanto marcou nele, mas posso  comentar a desgraça a qual submeteu a minha vida. Pensar que Deus está no controle nao ameniza ou suaviza a dor, nao diminui a separação e seus estragos, não faz desta separação uma coisa menor ou sem culpa porque não a quisemos, ela fere, mata, maltrata tanto quanto as demais, nos sentimos menores, inferiores, incapazes e desgraçados em não termos evitado ela bater a nossa porta.




Penso que mais nada é duradouro em minha vida, nunca tive nada que tenha durado mais de 17 anos, que é menos que a metade de minha idade, então, acredito mesmo que nada mais durará. A coisa mais longa e intensa que tive me foi tirada e permanecer com qualquer vínculo de quando eu o tinha por perto fica bastante complicado, as vezes insuportavelmente doentio, mas pior ainda é interrompe-los, eu não consigo respirar sem eles, mesmo que nao os encare de frente, preciso deles por perto, preciso saber que eles estão ali, e que nunca mais irei esquece-los.


Ouvi uma musica postada pelo pai de Rafa... não tinha me dado conta de quanto ela é significativa para nossa dor, embora separados, estamos juntos pelo laço da morte e de suas feridas...pela falta de Rafa e por seu legado tao especial.


Nesta canção, que Moacir Franco canta, vejo muito de você, da sua capacidade de amar e de deixar essa saudade imensa, de termos lido em sua cartilha porque ela era especial, você traçou linhas de vida que me fizeram sonhar com um para sempre que nunca acabaria, não desse jeito nao voce primeiro, por isso que nunca mais vamos te esquecer.



Se eu tivesse o coração que dei
Tivesse ainda ilusão, nem sei
Coragem pra recomeçar no amor
Bobagem, pois amor assim, só um
Agora é vida sem razão, porque
(se eu pudesse repetir cada momento)
Tentando orar eu só rezei você
(se eu pudesse te rever mais por um momento)
A sua ausência mais e mais me invade
(agradeço a esta canção emocionado)
Pediu amor e devolveu saudade
(ela põe a gente de repente lado a lado)
Eu nunca mais vou te esquecer
Eu nunca mais vou te esquecer, meu amor
Agora é vida sem razão porque
Tentando orar eu só rezei você
A sua ausência mais e mais e mais me invade
Pediu amor e devolveu saudades
Eu nunca mais vou te esquecer
Eu nunca mais vou te esquecer, meu amor
Eu nunca mais vou te esquecer
(se eu pudesse repetir cada momento)
Eu nunca mais vou te esquecer
(se eu pudesse te rever mais po um momento)
Eu nunca mais vou te esquecer
(agradeço a esta canção emocionado)
Eu nunca mais vou te esquecer, meu amor

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

MALAS TÃO DESARRUMADAS QUANTO A VIDA

Fechei as malas, o que trouxe? Nao faço idéia, milhões de camisas com fotos de Rafa, milhões de lembranças dos dias que antecediam nossas viagens, milhões de estresse ate sair de casa...e a falta do seu abraço quando chagávamos no aeroporto e enfim, respiravamos. Desta vez, nao tem ele, nem suas resenhas, nem sua curiosidade, nem o "sabedorismo", como diz Guilherme.

Sei que Rafael em algum lugar amaria saber que estou com meus irmãos pela primeira vez viajando juntos...mas dói tanto ele não estar aqui, dói tanto saber que ele precisou partir para isso acontecer, pois foi o motivo principal de minha mãe incentivar meus irmãos a não me deixarem viajar sozinha, porque eu faria isso de qualquer jeito, não me doparia no réveillon, precisava sumir de qualquer lugar que eu lembrasse ter curtido Rafael. Ledo engano, em qualquer lugar que eu fosse essa dor me transpassaria como fez o dia inteiro...

Lembrei de Juiz de Fora, estávamos todos juntos, família reunida, mas faltava Sidão, que agora tirou uma foto e eu com meu olho marejado...pensando em você....Olho para a gente juntos e inevitavelmente penso em você. Olho as coisas o clima, as vitrines, os carros, as motos topadas, as meninas de sua faixa etária, as mães nos aeroportos com seus filhos únicos a tira colo, e eu...eu não me permito pensar sem você.  Tem coisas a sua cara, tenho vontade de pega-las e dói saber que não tenho mais você, que não importa o quanto as coisas se pareçam contigo, acabou.

Provei trilhões de perfumes, e sorria, quantos perfumes adocicados, quantos lançamentos e você dando uma de sabichão com o pote de cafe convertendo moeda e vendo o que valia comprar. Vejo seus tios babando as coisas e comentários bem másculos, e você não estava ali. Vejo eles tirando onda, tirando onda com Lícia, tudo é motivo de riso, de me colocar para cima, de fazer valer, de me mostrar que tem que continuar, e eu filho...se estou aí quero sumir se estou aqui queria estar no seu quarto, em sua cama, olhando suas coisas, conversando com suas fotos, tentando estar no nosso mundo, porque o resto do mundo não tem valor sem você.

Olho minha mala e percebo que ela reflete minha vida. Ela não tem sentido, nem cores, nem sincronia, nem harmonia. Ela está cheia de coisas sem sentido, lotada e ao mesmo tempo vazia, entende? Como eu, as pessoas olham e acham que eu tenho tudo para continuar, não conseguem ver essa bagunça, tampouco esse vazio, elas olham e não enxergam, nem podem, ninguém nos vê como nos víamos. 

Percebi que a vida me desarrumou e que eu entoquei tudo na mala, mas ela não serve, ela não pode sair do lugar, ela não serve para sua função, não transporta, não armazena, apenas contem a desorganização de minha vida, meus sonhos, meus sentimentos, meu coração e minha razão.  Hoje minha mala foi transportada num carrinho de aeroporto que não obedecia os comandos de Fefe, empurrando-o. Minha vida era representada por aquela cena...uma mala desarrumada, com coisas sem sentido para o mundo mas que dá o sentido a minha vida num trajeto desordenado onde a direção que damos não é a direção que a mala toma de per si.

Enfim, saí de Aracaju, pela primeira vez nestes sete meses dormi fora de minha casa, e num esforço muito grande percebi que não há lugar no mundo que meu pensamento e minha dor não esteja ligada a você. Usei maquiagem, sem a sensação de que o choro viria a qualquer tempo,  achei que não me acostumaria mais, não preciso falar de você aqui, nem de mim, isso dói menos, mesmo usando camisas com as suas fotos, que não abro mão, usando seu relógio inseparável e seu nome em meu corpo, mesmo assim minha alma, filho, e meu espirito, ainda estão com a pintura da guerra, em luto pela falta que me faz.



"...Mas vou me acostumar com o silêncio em casa com um prato só na mesa
Eu não me perdi o Sândalo perfuma o machado que feriu
Adeus adeus adeus meu grande amor
E tanto faz de tudo o que ficou guardo um retrato teu
E a saudade mais bonita
Eu não me perdi e mesmo assim ninguém me perdoou
Pobre coração - quando o teu estava comigo era tão bom.
Não sei por quê acontece assim e é sem querer
O que não era pra ser: Vou fugir dessa dor.
Meu amor, se quiseres voltar - volta não
Porque me quebraste em mil pedaços. "



Quando ouço essa musica sempre lembro que meu coração era bom quando estava contigo, tem gente assim, que sabe dar o melhor de si, e extrair o nosso melhor... você era assim Rafa especial...sem você, sigo com minha vida tão desarrumada quanto minha mala.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O PORRE DO NATAL

Bem depois de 35 horas de sono Ininterruptos e de alguns outros remedinos para vencer o dia 25 por inteiro, açodei, as9:30 como sei treno e tosadas renas tivessem me atropelado, mas ao vi nada...era essas intenção.Ainda sem condições dedigitar nada, nem de equilibrar pensamentos, mais tarde novo contato, agora, muita água para tirara ressaca sem bebidas....

Sem condições de falar de nada que essa avalanche provoca, sem condições de pensar sem irar-me, sem querer sumir, sem querer quebrar tudo, e me quebrar em mil pedaços...fujo disso, mas isso me persegue, não é o amor ou a presença dele, mas é a falta absurda de levar a vida sem ele. Os presentes intactos na sandália, o silencio absurdo da casa, a falta do som dele, da voz, do cheiro, um silencio que me ensurdece gritando a sua falta...

Natal tempo de comemorar...meus motivos esse anos, estão enterrados num lote qualquer, sob pedras de granito do Cemitério, mas Deus continua sendo bom  e dando as cartas para o resto da humanidade...inclusive para mim.

E para voce Rafa...minha cantiga de ninar de hoje...

Olhos fechados
Prá te encontrar
Não estou ao seu lado
Mas posso sonhar
Aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá...
Não sei bem certo
Se é só ilusão
Se é você já perto
Se é intuição
E aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá...
Longe daqui
Longe de tudo
Meus sonhos vão te buscar
Volta prá mim
Vem pro meu mundo
Eu sempre vou te esperar
Larará! Lararára!...
Não sei bem certo
Se é só ilusão
Se é você já perto
Se é intuição
E aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá..."


SAUDADES...SAUDADES,,,SAUDADES...SAUDADES....
O COISINHA QUE NAO PASSA, NAO DA TREGUA, E AINDA DOI NO MEUS OSSOS...QUE DOR ENORME SEM VC...SEM TE VER...DORMIR DOIS DIAS FORAM POUCOS QUEM SABE O RESTO DA VIDA DORMINDO NAO DIMINUI TODA ESSA DOR..

domingo, 25 de dezembro de 2011

AS MAES QUE PERDERAM SEUS FILHOS

NÃO LHES DESEJO FELIZ NATAL..PORQUE NÃO CONSIGO PRONUNCIAR ALGO QUE NÃO PODE ACONTECER SE A PARTIDA DE SEUS FILHOS FOREM RECENTES, MAS DESEJO QUE CONSIGAM OUVIR A MUSICA, ENTOADA NA VOZ DELES EM SUAS IMAGINAÇÕES...É ISSO QUE GOSTARIA DE OUVIR TAMBEM, NA VOZ DO MEU ETERNO RAFAEL...


II ETAPA DO 1 NATAL

Acordei agora pouco, das cinco da tarde de ontem, ainda sonada, mais uma dor profunda ainda dilacera a alma...segunda etapa, mais sono induzido para que isso acabe logo. Telefones desligados, um arranjo de flores lindos, uma orquídea e uma bonequinha adornam minha comoda, sua avó teve aqui, nao vi, estava te buscando em sonhos... não te achei, tentarei te encontrar novamente, já sob efeito dos remédios, me despeço, sem você para o cafe do Natal...amo você, não desisti de pensar e lembrei de trecho desta musica.

Me transformo em luar


Pra saber dos seus pensamentos na beira do mar

Eu não penso em mais ninguém


O teu beijo fica comigo e me faz seu refém


Nossas vidas vão seguir, eu sei
Já desisti de pensar


Mas não consigo esquecer


Eu sem você já não há


É o que o amor quer dizer

Mas agora, prestes a dormir novamente e nao te encontrar em meus sonhos, apesar dos


desejos latentes de te ter por perto, dizer que espero seus olhos de nunca mais, mais 


uma vez aqui...

Olhos de Nunca Mais Jorge vercillo

Alguém me sorriu assim
E o tempo deixou pra trás
Passou tão perto de mim
Visão que não se desfaz
Alguém me sorriu assim
Com olhos de nunca mais
Mas vive dentro de mim
E dentro de si me traz
Foi um minuto somente
Um oculto presente pra mim
Foi a primeira metade
De eternidade sem fim
Os anos passaram-se
A vida me leva e traz
E ainda não esqueci
Seus olhos de nunca mais

AMO VOCE ETERNAMENTE MEU FILHO AMADO...

Nossa musica....seu nome...Deus que me curou quando te trouxe para minha vida...e me machucou profundamente quando te levou


e a cançao que nao esqueço quando o vejo cantando na igreja, quantos ensaios contigo, quanta felicidade em meu coração vendo voce ali, tendo regado para voce sobre a tribo de Levi e a consagração deles para adentrar ao templo...meu levita, meu filho especial...meu presente de Deus...


uma parte de mim é saudades, a outra é desejo de estar 

contigo do outro lado, e nessa 

batalha que travam, a  segunda é mais forte que a 

primeira...sempre...daria tudo para 
continuar contigo...EU AMO VOCE...


ETERNO XEBEREL, 


SAUDADES....


sábado, 24 de dezembro de 2011

O NATAL CHEGOU...RESPIREI FUNDO E DORMI.

Dizer que consigo pronunciar Feliz Natal, bem não pude, apesar de imensamente desejar que sim, espero muito que as pessoas tenham um Natal com paz e amor do Senhor, espero que estejam em família e que a felicidade seja imperativa neste dia especial. Desejo também que as pessoas se sintam emocionadas e felizes por comemorar o aniversario de Jesus, e que o espirito natalino, que congrega, ajunta, amolece os corações e e perdoa, todos manifestados do amor de Deus, seja o recheio de todas as ceias de Natal, e também daqueles que não cearão, nem terão família reunidas, não importando o motivo. Que um milagre natalino possa congregar esses solitários.

Encontrei com as pessoas, elas me abraçavam e me desejavam Feliz Natal durante a semana, eu não conseguia pronunciar, e pensava Feliz, como? Nao ia conseguir repetir nem a palavra, apenas desejava do fundo do coração que ela fosse feliz...eu sabia que para mim, essa felicidade não será mais possível.

Dispensei a companhia da família, meu irmão mais novo, fez um cafe nordestino ontem, para reunir a família, mas com a missa que o pai de Rafa manda celebrar e que eu sempre vou, para estar um pouco com eles, com os amigos que há dois meses não aparecem,  e toda a emoção do dia, eu não tinha clima e coragem de enfrenta-los, sai com minha mãe, que preferiu estar comigo, mesmo sabendo da importância de estarmos com eles agora, foi linda a intenção, era a primeira vez que ele cozinhou para gente, seria nossa ceia antecipada, mas não deu...hoje ele me mandou um torpedo, dizendo que sentiu, que fez para gente que sabe da importância da data, e no final, me diz.."força aú", como ele sempre me chamou.

Deliberamos em família, sem presentes esse ano. Exceção: as crianças, entreguei dos meus sobrinhos no mesmo dia que comprei os de Rafa. Arrumei nossa casam preparei como sempre faço todos os anos, só não pus roupas novas na cama, não tive coragem de trocar as roupas da cama de Rafa, mais um vez...não consegui.

Fui na loja que comprei as guitarras sem som, peguei os papeis para embrulha-las arrumei, limpei seu quarto pus pilha no tapete, tentei fazer novas camisas mas a maquina de impressão estava quebrada, comprei lanche na Baviera e voltei para casa.

Liguei o tapete, embalei os presentes, pus nossa foto nova na parede, coloquei sua sandália aos pés da cama, como você sempre fazia antes de dormir na madrugada do dia 24, depositei os presentes, e cheia de você, de nossas lembranças, de nosso amor e de todos os 17 natais do seu lado, passarei meu primeiro natal sem você...

Quando eu acordar, os presentes continuarão lá intactos e não acharei seu sorriso de surpresa estampado em seu rosto...mas sonharei com ele, e esse é o meu desejo de Natal, meu presente eterno de Natal, ano novo, aniversario, dia das mães...sonhar com você.

Nossa nova foto...Natal...meu jeito de representar nós dois juntos...Sempre.



Seu tapete, como você dizia...comprado com parte de sua mesada em 2004, no Natal, até hoje funcionando normalmente, sua relíquia, as vezes sentávamos para ouvi-lo, tantas melodias, sentei hoje sem você e ouvi nosso tapete.


Sua avó fez duas fotos com textos para dar a seu pai, com as poesias que ele escreveu quando vimos as fotos da pericia no processo, um choque convertido em lamento e saudade nos textos que seu pai escreveu e pôs no seu orkut, os coloco em cima da cama, como se O Corpo, e Os pés, titulo das poesias, representassem voce em sua cama...



Deixei as almofadas, tudo do jeito que voce deixou, só virei a colcha dupla face, mas tudo continua com seu cheiro, e coloquei tambem o sapato perto da cama, como você faria se estivesse aqui esperando a visita do "Papai Noel"



Seus presentes na sandália, não tive coragem de tirar o tênis ou o sapato do armário, e essa você tinha deixado fora, então fiz os embrulhos e coloquei as guitarras que não tocam, elas adornará seu quarto e me lembrarei sempre de seus sons.


E não podia deixar de ouvir o som do tapete, como fazíamos todos os anos...


Desejo filho tudo de bom, viu...com amor, tanto, tanto, tanto e saudades eternas.
Só para você...Feliz Natal, vou dormir, quem sabe você aparece em meus sonhos. Nosso ultimo Natal juntos...dezembro 2010.






sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

EU SOU BARRO, ES O OLEIRO.

Hoje foi um dia insuportavelmente triste, insuportavelmente solitário, insuportavelmente doloroso e conforme foi passando, mais doído era capaz de se fazer, até que seu apogeu se deu no cemitério, onde fui levar as gerberas do mês, a lapide e resolver colocar a pedra no lugar do cimento onde eu havia escrito e desenhado um coração com um ponto dentro representando que ele sangrava, estava seriamente ferido.

Fiz meu trajeto de costume, comprei as flores, escrevi um texto, coloquei as flores devidamente ornamentadas na água e continuei, ali chorando e conversando e desabafando com Deus. Lembro de meu pai, da forma como ele arrumava quando íamos levar flores para minha avó, lembrei do tumulo sem reforma ainda, sentei no batente e lembrei das vezes que levava Rafa quando ia levar flores para meu pai, a brisa suave, o cheiro das flores, recostei-me e pensei sou barro Deus e estou disforme, não virei peça alguma, não tenho serventia, não sei quem sou, estou em crise, não estou conseguindo me ver só como filha, eu sou mãe, mãe sem filho, Senhor meu barro não tem liga, meu contorno não me define, tá doendo tanto.

E em seguida perguntei a um dos funcionários se ele poderia colocar a placa de granito no lugar, o que eu precisaria fazer, e ele disse você não precisa fazer nada, eu vou fazer para a senhora. Sentei e ele foi pegar suas ferramentas: um martelo, um ferro, carrinho de mão com cimento, colher de pedreiro e dois parafusos. E eu sentada ali chorava.

Ele começou tirando o excesso de cimento, depois meteu a colher de pedreiro no coração que eu desenhei na lapide no dia que Rafa partiu, e começou a bater e a desmanchar o coração com a colher de pedreiro, e eu pensei neste verso bíblico, e não me continha, e quanto mais eu chorava mais ele aprofundava escavando o coração. Vi ali a representação do que Deus está fazendo com o meu coração, esmiuçando, burilando, trabalhando, mas estava doendo, depois que eu estava no choro catártico, ele pegou o martelo e quebrou o coração, furou e aprofundou na primeira camada dos tijolos, eu percebia que a ferida era profunda e que a cicatriz não sumiria.

Quebrou em mais quatro lugares, furou, enfiou parafuso, bateu, voltou a medir, voltou a quebrar, a bater a aprofundar o furo e depois varreu e pôs o cimento, nivelou e colocou a tampa de granito, durante esse processo, eu só chorava, via nas mãos daquele pedreiro o que Deus estava fazendo em minha vida...ainda estou na fase de quebrar, de furar, de levar as marteladas, apesar de querer estar já pronta, mas ainda não, ainda sinto cada ferramenta do oleiro machucando meu coração.

Algumas pessoas passavam olhavam para mim, e sem o nome na lápide se aproximavam para ver a lapide que eu estava instalando, se ofereciam para pegar água ou se eu precisava de alguma coisa... não sou de escândalos, choro calada, mas choro sem restrições de tempo, faço o que meu espírito pede, por isso preciso ficar em casa todo o tempo, aqui não preciso justificar nada para ninguem, só choro. E minha alma, meu corpo e meu espirito, eles choravam. Choravam os sete meses longe, choravam o Natal, choravam a falta, choravam a saudade, choravam e choravam. Até que chega uma moça e me pergunta, você era a mãe de Rafael, respondo, e ela já engata falando: "eu também perdi minha filha"; pergunto quantos anos, ela disse 17, e fala, "tem dois anos e 04 meses que Rafaela partiu, ainda choro todos os dias, minha vida não votou ao normal", e continuo me explicando que só uma mãe pode entender outra, e eu ali sentada aérea sem saber o que fazer, eu estava ali chorando e clamando ha quase duas horas eu não tinha forças para levantar.

Ela me contou sobre a causa mortis de Rafaela, em seguida ele precisou me pedir um abraço eu não tinha reação, pensei dois anos e chorando assim, eu morrerei antes, espero Senhor, me leve antes, levantei nos abraçamos e choramos muito. Ali foi o meu Natal, um abraço irmanado na dor, no luto, na falta.


Não sei o nome dela, o que faz, quantos anos, qual o sobrenome, onde mora, quem conhecemos em comum, que conselhos ela me daria porque já tem mais tempo convivendo com a falta da filha, mas conheço a sua dor, em tamanho e profundidade.

Depois nos despedimos e o coveiro me fala, não gostamos quando a senhora vem, somos pais, e não gostamos de vê-la desse jeito, não sabemos medir a sua dor, e eu pensei, eu respondi que não podia deixar de vir, era meu filho, único, eles disseram sabemos, as pessoas passam e falam dele com alegria, muita gente conhecia e comenta que ele era um menino bom, mas mesmo assim a gente não gosta de ver a senhora aqui, a gente se machuca porque não sabemos medir a sua dor, nem dar para imaginar...e eu pensei,  a mãe de Rafaela sabe; a mãe de Rafael Bispo (Neide) sabe; a mãe de Mateus (Márcia) sabe; a mãe de uma menina que também desconhecia Márcia mas que chorou com ela no cemitério também sabe; a mãe do menino que encontrei essa semana que chora há 45 anos a morte de seu filho, quando ele tinha dois anos sabe; a mãe de Ewerton (D. Heloizinha) sabe; a mae que perdeu o filho sabado passado no mesmo lugar do acidente de Rafa enquanto eu passava naquela estrada e ainda vi seu corpo estendido no chão também sabe; minha ex-sogra, avó de Rafa, mae de Keko, que passara o primeiro Natal sem o filho e sem o neto, também sabe... a dor que aproxima mães que perderam seus filhos. Compreendemos-nos por excelência, nos fortalecemos mesmo quando estamos fracas questionando a obra do oleiro, porque enquanto nossos filhos voltam ao pó, somos barros sendo trabalhados na mão do oleiro.

Escrevi para você e pus lá meu filho querido...mas sem palavras para o Natal, pelo menos ate aqui, não consigo desejar...só olhar no olho e chorar....e torcer para que isso acabe logo.

Rafael, eterno filho meu melhor amigo...
Hoje faz sete meses sem você, sei que imaginaria a falta que nos tem feito, quantas saudades temos guardado no peito e as vezes ela desce pelos olhos e inunda nosso corpo, tem horas até que embaça a nossa capacidade de olhar para frente.
Cada mês é mais dolorido, são mais lembranças, menos historias para contar, mais coisas que você não fez, não viu, não participou, e isso nos deprime tanto.
Mas hoje em especial, filho, que antecede nosso primeiro Natal separados, apesar da saudade, espero que a festa de aniversario de Jesus seja bem divertida e que você seja a graça do amigo secreto, se é que tem segredos aí. Aqui, você continua sendo nosso desejo de presente de Natal e do resto da vida.
O primeiro dos inúmeros Natais, quem sabe, sem você, e hoje sem sentido para gente e sem graça. Mas pus o tapete que você amava na porta do seu quarto e o presente no sapato também não vai faltar porque creio que não estamos separados, só não nos vemos, mas nos sentimos, nos amamos e nos fortalecemos. Em dias como hoje gosto de pensar assim, mesmo que as vezes duvide se isso é possível, no fundo desejo que seja  e me alegro um pouquinho em pensar que estás conosco, mesmo que dessa forma, só do lado de dentro. Ate breve. Amo você muito, e te espero no meu sonho de Natal.
Com amor,
Sempre  sua   eternamente  grata  por  ter  sido  sua mãe.

SETE MESES SEM VOCE.

Noite em claro me lembrando sobre você aos sete meses em meu ventre, eu já me preparava para sua chegada que podia ser a qualquer momento, eu até achava que você viria antes, foram tantas complicações, queda, internação, correria, tudo sem planejamento e você chegou...do mesmo jeito foi embora, e hoje, sete meses sem você, não posso esperar que você chegue a qualquer hora ou no máximo daqui há dois meses, simplesmente conto os dias que me afastam de você...hoje são 214 dias sem te ver, sem te ter.

Hoje, sete meses, anti véspera de Natal, meu primeiro sem você, fim de ano, dezembro, que peso...só penso que aí você deve estar bem contente, a festa deve ser grande né, aniversario de Jesus, nem consigo imaginar o tamanho da festa, isso me consola um pouco, você está bem e serão dias felizes aí na Gloria, dias cheios e de alguma forma estarei ligada, aproveite filho, um dia teremos nossos natais de volta, e todos os outros dia também.

Como você sabe, eu to daquele jeito, tentando ficar bem, mas a saudade nestes dias dói um pouquinho mais sabe...mas sei que tem cuidado, senti hoje a madrugada inteira sua presença aqui, e segurei as pontas bem, foi bom pensar nisso e trabalhar juntos, tomara que tenha gostado do resultado, e sem condições, talvez mais tarde te escreva mais...queria que ouvisse essa musica...foi tia Déa que me mandou ontem, num texto lindo e falou de quando você ficava com raiva quando eu não dava a volta por cima em algumas coisas e ficava no meu canto sofrendo, e você raciocinava para me por para cima, como disse Gui a pouco, você cheio de seu "sabedorismo"...

Eu queria pedir que voce viesse tomar conta dessa saudade...vem ser de novo meu sorriso...



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

DAS GUITARRAS NÃO SAEM SOM

Pensei no que colocar nos seus sapatos, pois meus planos foram totalmente arquitetados, e as coisas precisam estar em ordem já amanha, passaremos o Natal juntos, e nao sabia o que te dar, achei duas guitarras, mas delas nao saem som.

Elas representam nossas vidas hoje. Você com a sua radiante aí, se virando, sem eu ouvir seu som, e eu de fato sem emitir som algum. É uma sinfonia muda, desritmada, intolerante, como nossa separação.

Eu tento com toda a minha força digerir isso, mas é bolo sufocante que trava o passamento do ar. Hoje encontrei com uma mãe que perdeu o filho ha 45 anos e chorou com a intensidade do meu choro, meu Deus isso não pode ser humano, não dar para passar por isso com humanidade, tem que ser herói, ou ter muitos pontos contigo, como as que tiveram os filhos ressuscitados na Bíblia, porque para nós mães que não fomos contempladas com Seu milagre, restou o beneficio da loucura, então que ela me tome logo, porque com certeza me livrará do sofrimento e da dor.

Como tocar a vida sem seu filho único, que aos 17 anos vai morar com o Pai...só ao som de guitarras surdas, e fazendo coisas ensandecidas, porque no cru e a seco, isso é loucura, não pode ser normal, real, plausível...e ainda vir de Deus, não é muito para meu entendimento e bastante para minha aceitação.

E falar do Teu amor Pai nestas horas, cala ainda mais minha guitarra. Que difícil reagir e levantar, correr para onde, se o que mais quero é ficar dentro de mim, porque só aqui bem dentro, ainda tenho Rafael preservado, porque aqui bem fora ele foi arrancado e das guitarras não saem som.

Depois de amanha as guitarras de metal para compor o quarto do meu filho estarão no sapato dele, embrulhadas de presente, mas ele  não abrirá o embrulho nem virá me dar o beijo estalado, nem a lembrança que ele me comprava com os trocados dele, sem pedir mais a ninguém que comprasse meu presente de Natal, o do meu sapato, ele me dava quando acordava no outro dia...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

QUANDO O JORNAL NÃO PUBLICA SUA NOTICIA

Hoje finalmente saiu o resultado de vestibular da UFS. Segundo o meu sonho, Rafael me aconselha "mãe não pense no que eu não fui, lembre do que eu fui apenas", ou alguma coisa próxima a isso que não vou voltar a postagem do sonho para conferir como ele dizia, mas apesar do sonho, é impossível que uma mãe não se coloque no lugar das outras mães em idade de seu filho e que aguardavam o resultado da Federal.

Na verdade sofro antecipadamente com a veiculação dos resultados dos vestibulares desde o meio do ano, quando foram aplicadas as provas do semestre. Primeiro porque muitos colegas de Rafa fizeram, segundo porque ele estava bem animado, e contando com essa possibilidade e terceiro porque era a realidade que eu estava vivendo: Terceirao, Enem, Vestibular, Cotas.

Aqui em Aracaju não temos o costume de fazer terceiro ano e depois um ano de cursinho para o vestibular, como em muitas capitais, tentamos já no terceiro ano, e o comum é entrar.  Venho de uma tradição de colégios que aprovavam para a UFS, que era a cobiçada independente do que hoje se utiliza para menosprezar o esforço de entrar nela, e além de entrarmos na Federal direto do terceiro ano, tenho muitos colegas aprovados em federais e estaduais pelo pais afora.  De uns tempos para cá tem se dado mais valor as universidades particulares, e fui professora das três maiores faculdades particulares do Estafo, e a aula que daria nelas, dava na UFS, e alguns professores passaram a ser colegas e não vejo diferença entre estar na particular ou na pública, desde que o esforço seja diretamente proporcional ao que recebeu.  Digo isto pelas restrições que tenho ao ENEM, as cotas, etc.

Dito essas informações fica clara que a turma de Rafa, tanto no Graccho, como a turma do Amadeus, viveu até hoje a expectativa do resultado. E junto com ela, vem a cobrança velada dos pais, parentes, amigos, a própria auto-cobrança e todo o desejo do mundo de que aqueles segundos que antecipam o conhecimento do resultado pareçam uma eternidade.  Na hora de procurar o nome na lista, desejamos ter qualquer inicial menos a nossa. E quando o nome é comum precisamos conferir o sobrenome, e quando o nome é difícil parece que os olhos percorrem o texto de forma mais rápida.

Rafael ano passado passou na Fase e também foi chamado para a Unit, os dois vestibulares que fez, ainda cursando o segundo ano. Lembro dele chegando em casa, e eu perguntando como foi, e ele falando sobre assuntos que não tinha nem visto e resenhando para dizer como tentou resolver.  A gente ria junto, mas não tinha tanta cobrança, era um vestibular para experiencia, só que ele passou, deu certo. Emancipamos e tentamos autorização judicial para fazer supletivo e cursar. Eu ainda tinha receio sobre essa decisão, mas ele tinha apoio de outras forças familiares, no final, vencida, o apoiei. Saiu a sentença, recorremos, perdemos, o juiz entendeu que com 16 anos ele não deveria entrar. Uma pena, me formei aos 21 em um curso de 05 anos.  E não fui estudante imatura por entrar cedo na faculdade. Hoje acredito que Rafa tinha que ir mesmo para o Graccho, precisava conhecer pessoas, precisava estar em casa, para partir em família, é como me sinto lá, e ele pode também se sentir assim.

Ano passado beijei-o, fomos a casa de minha mãe (moramos no mesmo prédio) ele recebeu os parabéns e deixamos para comemorar na sexta, pois minha família achou melhor sair no dia seguinte. Nunca fizemos a comemoração.  Meu filho comemorou com seus amigos, os melhores, na mesma noite. De uma forma atrevida, perigosa e corajosa, pegaram meu carro e saíram, só soube depois que ele partiu, quando o mais responsável deles, em visita logo depois do falecimento de Rafa, e contaram sobre o que fizeram. Mas não o vi careca, nem alegre em demasia, nem realizado.


Hoje obviamente que feliz com os que passaram, obviamente que esperava resultados mais animadores para a maioria dos meninos que vi crescerem, mas aprendi nessa jornada que esse resultado não é capaz de dizer quem somos, nem de ditar quem seremos. É apenas, sem desmerecer o esforço de ninguém e sendo extremamente solidaria e contente com os que lograram exito, solidarizo-me agora com os que tinham nesta porta a ultima esperança.


Muitas vezes a vida não publicou a noticia em minha pagina. Em tantas outras, minha noticia já agendada foi cancelada, em tantas outras a noticia já não fazia diferença em minha trajetória, então,  essa é mais uma das muitas vezes que a vida não publica nosso nome no jornal. Hoje ao invés de procurar o nome de Rafa, deveria ter recebido o nome para colocar na lápide. Mesmo essa, não ficou pronta hoje. Então, é olhar para frente, porque essa é a vidinha que vamos levar, com ou sem nome na lista de aprovação, ela sempre nos tirará da noticia algumas vezes.


Apesar do dia sofrido, ele começou e terminou com noticias boas, dentro do possível.  Sonharam com Rafa e me avisaram ainda cedo, e mais uma vez, ele falava, estava comigo o tempo todo, sabe que estou triste mas está bem e a noite, outro Rafa, meu ex-aluno, ao se formar, em seu convite, nos agradecimentos, fez uma referencia e postou sobre a unica coisa da qual me orgulho: mãe.  


Que as mães sejam abençoadas, independente da aprovação de seus filhos, porque sei que sofreram junto.




terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A FORÇA DE UM CORAÇÃO

Acho que luto é isso, uma incansável batalha entre a razão e o coração e que por mais que a razão leve vantagem, por mostrar ao resto do corpo as consequências da falta e a permanência da ausência, o coração teima em não aceitar e resistir bravamente a todo esse processo.


Nessa luta desbravada entre nossa razão e o coração, que vença o sentimento, combustível de toda a minha vida, e da de Rafa também. Prefiro enlouquecer a tentar ter razão neste processo. Tinha uma frase usualmente falada, que defendia que não queremos ter razão, só queremos ser felizes. Não desejo a felicidade, já fui feliz um dia, eu achava que precisava de outras coisas para ser feliz, ter um ministério na igreja, ter casa própria, o emprego dos sonhos, realização profissional, sucesso, casa cheia e amigos para todos os lados. Na verdade, abriria mão de tudo isso, para sempre, só para tê-lo novamente. Felicidade para mim hoje é isso, estar cercado de quem amamos, minha felicidade nunca mais se completará, ele não me cercará por fora, estará só do lado de dentro, e as vezes do lado de dentro é insuficiente para dar força ao coração. 


Pensando assim, não quero nem ter razão e não tem como ser feliz, é sempre incompleto, incompleto sem pai, incompleto sem filho, incompleto sem sonho...então se minha razão perde para o coração e se o coração não sobrevive ao choque realístico sem pesar, tenho saídas: fugir, mentir, negar a realidade, sucumbir a ela, ou esperar.


Estou esperando. Espero que o meu coração se fortaleça, espero que ele consiga elaborar amor e dor na medida suportável para viver. Acho que esse é o pior tormento, tem uma musica que acho interessante sua construção, Someone Like You, "as vezes o amor perdura, mas as vezes dói, ao invés disto", a morte desestrutura até essas afirmações porque o amor continua, ele perdurou, mas ele dói porque ele está em excesso, excessivamente guardado, misturado com outras coisas e dói, dói como carne viva exposta a meio acido,arde na alma estar amando alguém que nos deixou sem ter escolhido partir.


Espero também reencontrar, isso também fortalece meu coração. É a forma mais primitiva de suportar a distancia negando sua eternidade. Nego-a todos os dias.     E negando-a de certa forma, nego um pouco da morte   e um pouco da vida, nego a mim mesma, nego a minha realidade, mas sustento meu coração fortalecido pela esperança do breve reencontro.


A força do meu coração vem de nossas lembranças, mesmo distante de tudo que amei em você, e que ainda amo, e de tudo que tentei mudar em você e que hoje me faz falta, preciso dizer que espero que suas fotos envelheçam comigo se assim for meu destino, ou que suas lembranças povoem meu leito de morte, desejo de outrora, todavia, ficando ou partindo, agora ou daqui há 100 anos, quero viver do amor que tive, que seja tatuagem sobre a minha pele, inesquecível, interminável e inseparável.


Que o meu coração seja seu reinado e o seu coração minha morada. Amo voce, força do meu coração.
                                                   


A FORÇA DO MEU CORAÇÃO (Desconhecido)
Distante de tudo que amei,
Em tempos obscuros, vivo hoje sem vc,
Mas ainda fica um suspiro de honra,
Como aliado desse grande amor.

Há um lugar muito mais além do sol,
Onde meu reinado acaba no seu coração,
Onde os sonhos se tornam realidade,
E uma lenda nasceu gravada a fogo em minha pele.

Com a força do meu coração,
E a coragem de um amor se fim,
Me armarei um dia, de valor,
E volatarei a conquistar o que perdi,
Com a força do meu coração,
Lutarei até recuperar,
Cada instante que passei sem vc,
No ermo de um distante adeus.

Quando a noite chega, sei
Que essa luz brilha pra nós dois,
Marca o destino que será
E em seus lábios sempre scrito está.

Há um lugar muito mais além do sol,
Onde meu reinado acaba no seu coração,
Onde os sonhos se tornam realidade,
E uma lenda nasceu gravada a fogo em minha pele.

Com a força do meu coração,
E a coragem de um amor se fim,
Me armarei um dia, de valor,
E volatarei a conquistar o que perdi,
Com a força do meu coração,
Lutarei até recuperar,
Cada instante que passei sem vc,
No ermo de um distante adeus.

Minhas ilusões brotam sem razão,
São o legado da inveja e do poder,
Mas a esperança nunca morre,
Porque sei que te levo bem dentro de mim,
em mim...