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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

DOR NO OSSO EMAGRECE, DOR NA ALMA EMPOBRECE.

Você já sentiu dor no osso? Nao faz ideia do quanto dói. Em 2005 por conta de uma tendinite calcaria e bursite no ombro direito, padeci de dor, a ponto de perder os movimentos do braço direito e depois do esquerdo, fazendo fibromialgia e consequentemente chegando a caso cirúrgico. Entre o processo de dor e o diagnostico, passaram-se quase dois anos.  Entre a crise aguda, com  internamento de 06 dias e a cirurgia, passamos 04 meses com fisioterapias e muitos, muitos remédios.  Na época cheguei a perder 23 kilos.

Ate hoje meu ombro dói muito. Mas bem menos do que no processo inflamatório. Talvez tenha sido a dor mais forte que eu já senti. Até que fui acometida, pela paulada da vida, da dor da alma, de uma tristeza que seca os ossos e resseca o coração, congela os olhos e devasta os sentidos...o luto empobrece a vida, mas não importância, parece que a vida ficou sem graça.

Tem uma passagem bíblica que Rafael adorava...a volta do filho prodigo e esse pai que ama, e que de braços abertos espera o filho...dá-lhe roupa, sandálias e anel no dedo.  Minha alma empobrecida, meu coração machucado guarda as roupas e as sandálias, seu relógio ainda lhe espera...e você não voltará, não darei uma festa para te receber nem te terei em meus braços mais uma vez.

Eu ainda não havia chorado hoje. Muitas dores espalhadas no corpo me fizeram tomar muitos remédios diferentes. Desde que você se foi, hoje enfrento a terceira infecção de garganta.  Estava muito voltada para minhas dores do corpo, ínfimas, tão ínfimas perto de minhas dores de alma. Mas é difícil voltar para casa e ver a dor estampada neste vazio. É dificil aceitar a falta de você.  Vou comprar um cachorro filho, para preencher alguma coisa, nem estou certa disso, mas preciso fazer alguma coisa, ter alguma responsabilidade para não sumir daqui, porque cada dia é uma luta diária para continuar aqui, esperando não sei o que, lutando não sei porque.

E mais uma vez com os olhos banhados e a voz embargada eu queria muito ser o pai do filho prodigo, porque aquele filho voltou para casa, e eu nem faço ideia de quanto tempo terei que resistir aqui, até que você também possa estar novamente em meus braços.

domingo, 30 de outubro de 2011

SE LIGUE, LIGUE NO PODER DE DEUS

Domingo, dia  de família, de acordar mais tarde, de ficar mais juntos, de sorvete depois do almoço, na Vi-Sabor, dia de igreja, dia de pastel na orla depois do culto. Mas nada disso tem o mesmo gosto, nem a mesma prerrogativa sem você, inclusive a igreja, como tem sido difícil me juntar  a ela, é como se faltasse uma coisa em mim, percebo que essa falta me acompanha em todos os lugares, mas lá, na igreja a falta é mais visível, ou mais sentida.  Lá eu não preciso ter mascaras, eu posso me mostrar como eu sou...uma pessoa com um buraco bem grande no peito, na alma, na vida.

sábado, 29 de outubro de 2011

A DOR QUE NAO TEM NOME NEM FIM

Hoje pela manha aconteceu o que eu esse tempo inteiro quis evitar...me deparar com a dor de outra mãe, que que eu não conhecesse nem a ela nem ao filho que partiu.  Sem que nada tivesse sido organizado ou combinado, paramos o carro no centro da cidade, minha mãe comenta, a dona dessa loja perdeu dois filhos em um único acidente, num período de forrós, há alguns anos.  Eu perguntei, ela tem outros filhos? Minha mãe responde, isso é irrelevante porque a dor é a mesma, são filhos, tanto faz ter um ou ter vários é a dor de mãe que perde um filho.  Concordei com ela, mas no intimo, acho que quando você tem um só, misericórdia, parece que o mundo acabou, é como se você não tivesse motivação para continuar e outro filho eu sempre acho que ajuda neste processo.

Entrei na loja a procura de um copo para por em minha garrafa de água na cama, cujo copo quebrou anteriormente.  Era uma loja que sempre comprava cuja atendente sempre me convida para entrar na loja quando eu passo na porta.  Hoje ela não me chamou, só me cumprimentou e não veio me seguindo como usualmente faz. Em vez disso, veio outra moça. Nunca a tinha visto lá. Achei o copo, perguntei o preço, antes dela me responder, ela me indaga: sua camisa é lembrança? Eu, sem entender, retruco: Como assim? Ela pergunta de novo: Ele era o  que seu? Era seu filho ou seu irmão? Eu já chorando, ela fala, eu perdi dois sobrinhos, e chama uma moça no caixa, que está chorando, e diz...ela também perdeu um filho. A moça do caixa olha para mim e diz...essa dor não vai passar nunca, estou te avisando. Eu perdi dois filhos num acidente na volta de Rosário do Catete, um de 22 e outro de 19, no dia 10/06/2006, nunca mais essa dor passou, eu estava aqui chorando, eu fiz nome deles, mandei fazer os arranjos de flores para o dia 02, é assim filha, eu só tenho hoje a mais nova, uma menina.  Aí me perguntou, você tem outros filhos? Eu só balancei a cabeça, já nao consegui falar. Então ela me perguntou quanto tempo tem que ele faleceu? Eu mostrei a mão aberta, não conseguia falar...a essa altura minha mãe e minha irma já estão na loja.  

Eu recebo um copo de água, pago meu copo e fico fora da loja, sem conseguir esperar o troco lá ouvindo aquela mãe.  Agora estou pensando nela, naquela dor dividida, chorando dois filhos, também separada, mas não sozinha, ainda lhe resta uma filha, a menor, a mais nova, hoje adulta.  Mas disse se sentir só.

Saí de lá com aquelas palavras cortantes...essa dor não passa nunca, tem 05 anos que choro sem parar. Dias como o de hoje, sábados, ou datas especiais são inevitáveis.  Andando ainda pelas ruas do centro, entro numa loja, para cumprir uma empreitada de minha mãe, quando me deparo com um dos dois amigos inseparáveis de Rafa, e sei que mesmo ele em silencio, e sem nos falarmos ou vermos tanto quanto eu achava que ia acontecer, e mesmo sem participar tanto quanto eu gostaria da vida deles, sei o quanto eles sofrem. Imaginei meu filho ali, e num abraço demorado, onde o choro foi conseqüência. Senti naquele abraço uma saudade incontável e um conforto concomitante. Pensei de imediato, por que meu Deus? Por que eu não pude ter meu filho, por que tão cedo? Por que aquela mãe perdeu seus dois filhos? Por que Neide não pode ficar com o Rafa dela (também vitimado no acidente de Rafa)? Por que Márcia perdeu seu filho? Por que?

E como se não bastasse para o sábado, depois do almoço fomos comprar uma antena, no caixa, a moça pergunta quem é o rapaz da camisa, lê a mensagem e eu já digo...não comente nada. Saí da loja arrasada e no corredor do shopping uma menina me aponta e pergunta é ela? Aí a outra fala, é sim é Annalu, a mãe dele...e m dá um abraço, e mais uma vez venho as lágrimas.  Ela tem cuidado de mim, com os torpedos, as mensagens, as piadas pelo celular, as palavras de encorajamento. Ela me abraçava e alisava a camisa e dizia o quanto sentia a falta de Rafa.

Eu tentei provocar o mundo Rafa, para que o mundo não esquecesse que você viveu e abrilhantou o mundo com seu jeito, sua alegria, seu despojamento e sua doação.  Eu tentei filho, expor aqui fora, aquilo que carrego aqui dentro e percebi hoje, que mesmo que eu tatuasse a testa, vestisse roupas de saco como no VT, ou fizesse qualquer outra coisa maior que estampasse o meu luto, nada disso traduz exatamente essa dor, porque ela não passará nunca, porque ela não tem nome, nem fim.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

RENUNCIAS

Hoje me peguei pensando nas coisas que renunciamos quando amamos. Acho que toda relação em que se tenta acertar e que o combustível da relação é o verdadeiro amor, nós sempre temos renuncias a fazer, renuncias que desejamos que a outra parte faça por nós e seguimos renunciando aquilo que deve ser renunciado a fim de proteger a pessoa que amamos ou ao nosso próprio amor.

Talvez a maternidade seja a relação onde as renuncias estejam mais presentes. Sempre ouvi muitos relatos de paz que justificavam suas atitudes por conta do amor aos filhos, principalmente no consultório, quando eu tratava adolescentes, era muito comum na entrevista com os pais, os pais se reportarem a algum tipo de renuncia grande que haviam feito para que tal coisa ou comportamento fosse conquistado para os filhos e mesmo assim estavam enfrentando algum problema que instigava a necessidade de ajuda profissional.

Sinto que na minha relação com Rafael, as renuncias foram de ambos os lados.  Eu me orgulho por isso, é tão difícil na sociedade de hoje, capitalista até os olhos e consumista até a alma, onde num discurso presidencial o dirigente do maior pais do mundo, em consumo, diz que tínhamos que dar um basta nos ataques porque as pessoas pararam de comprar, não porque estão com medo de morrer, ou com falta de segurança ou qualquer outra desculpa, mas que o valor mais importante era o consumo. Então viver nesta sociedade e se ter um adolescente (cujos impulsos são testados por segundo) que renuncia para ver o outro bem, não é uma coisa comum, mas meu filho renunciava.

Rafael nunca, aqui merece caixa alta NUNCA me cobrou absolutamente, nada de consumo ou de qualquer outra coisa, nunca passou na cara nenhuma das dificuldades que enfrentou, nunca disse que A ou B era culpado por nenhuma das coisas pelas quais passou. E eu sinceramente conhecia aquele coração, puro e generoso e dizia, que o coração dele, era lindo.  Nunca vi Rafa demonstrar ciumes ou inveja, e sei que o ciumes ele tinha e elaborava como gente grande e equilibrada, porque tem tantos que ate hoje não sabe lidar com essas disputas ou inseguranças. 

Rafael era de juntar, de agregar, nunca de separar. Sinto como se ele tivesse renunciado muito mais por mim do que eu por ele, tamanha era sua generosidade. Parece que o valor das coisas que ele abriu mão para me ver feliz é sempre maior do que as das que eu fui capaz de abrir mão.  é como se eu sempre tivesse devendo para ele alguma coisa, menos amor. Eu o amei como nunca amei nada na vida.  Nem meus pais, desculpem por isso. Não sei, vocês me ensinaram assim.  Eu sinto tanto a falta dele. Nunca estive preparada para renunciar a vida ao lado dele. Eu sempre imaginei que Rafael conquistaria o mundo, que não ia parar em casa, que sairia  cedo para conquistar sua própria família.  Mas eu saberia que ele estaria ali, sempre, e disponível para renunciar novamente, só para nos deixar felizes. E eu ficava contente só pelo fato de Rafa poder voltar para casa, porque lar para mim e para ele, não precisava ser o lugar para ficar, mas sempre o lugar para voltar, onde a gente recarregava as baterias e se aninhava num dia ruim.  Um lugar de paz - muitas vezes ameaçado por, não vale a pena nem comentar - nosso porto seguro, com nossa cara, com nossas coisas, com nosso cheiro, com nossos valores e com a nossa historia. Construída por mim e Rafa, quando ele fez dez anos, então nossa casa, nossa historia.

Na vida a gente tem que fazer aquilo que a gente sabe fazer. Rafael se doou por inteiro e viveu intensamente todos os momentos como se fossem únicos. E eu ainda não sei fazer da vida uma estrada solitária  preciso do brilho e da luz dele ainda para iluminar meus caminhos.  Não sei viver sem ele, por isso renuncio muitas coisas que hoje não fazem sentido algum.

Hoje eu queria saber renunciar a tudo só para seguir os caminhos do Pai. não estou pronta, essa dor não me deixa renunciar as lembranças. a saudade, as memorias, as camisas, as lagrimas insistentes, os desejos de não deixar que  o mundo te esqueça, etc. De olhar para vida de amigos seus e desejar que voce estivesse aqui...arrumando as malas para Sauípe, com a escola.

Meu filho renunciou muitas coisas para ver as pessoas que amava feliz. Renunciou ate sua própria felicidade amorosa, esperando o tempo certo, e ele estava certo, sofreu e chorou só para vê-la sorrindo, e os amo por isso, sou apaixonada pela historia que construiu. Hoje também fiquei sabendo de uma historia de renuncia de uma amiga pelo amor dele, um texto lindo que ela conseguiu produzir e publicar, mas que em outra oportunidade escreverei porque acho que ela, a historia, não merece ser renunciada.


Eu ainda sonho em seguir o Pai de todo o coração, mas até lá...tudo ainda dói muito e nao me faz olhar para outro lugar que não seja a dor e o vazio.

Alvo mais que a neve quero ser
Pra te honrar, pra te agradar
E em santidade eu vou viver
Em todo o tempo, pois sou teu templo
Renuncio tudo o que é impuro
Renuncio minha carne, renuncio o mundo
E os sonhos que não te glorificam
Senhor, Eu renuncio por amor
Eu quero ser santo, santo, santo
Como santo és, Senhor
Eu quero ser santo, santo, santo
Como santo és
Como santo és, senhor




quinta-feira, 27 de outubro de 2011

QUANDO TUDO PARECE PERDIDO

Vivo constantemente nesta sensação de que tudo esta perdido ou se parece perdido.  Eu imagino que sempre que vai acontecer uma coisa ruim com a gente, a gente fecha os olhos para não ver. Eu tenho sempre essa sensação. É como se estivéssemos prestes a bater o carro, sabíamos que é inevitável, a gente fica com os olhos abertos ou a gente fecha os olhos? Eu sempre fecho.

Estou vivendo um monte de coisas ruins e mantenho os olhos fechados porque parece que a onda da maldade em minha vida não vai passar assim tão rápido. Esses dias tenho tido a impressão de que o mundo é muito ruim e que o mal está sempre vencendo, tem sido uma guerra muito suja.

Quando eu olha para o mundo sem Rafael, e não quero endeusá-lo, apenas acho que ele era uma pessoa boa, do bem, legal de conviver, não era um espertalhão que distribuía arrogância, ou era mimado, era mal educado, ou era um menino que não estava nem aí para os outros.  Pessoas assim, parecem que não morrem. Elas tem aumento, elas ganham diárias sem trabalhar, elas fazem investimento no sofrimento alheio, elas enganam, mentem, fraudam, roubam. E o mundo, com elas...o mundo as corteja.

E pessoas como Rafael, que tem a ternura no olhar, o riso no amor e alegria na vida, essas, são chamadas muito cedo e nos deixam nesse mundo de cão, com vontade de abandoná-lo, de fechar o olhos porque parece que não toleramos mais nada disso.

Vejo as capas de revistas anunciando a roubalheira no país. As falcatruas são intermináveis e sucessivas. Essas pessoas têm merecidamente o que recebem? E tem o direito de usufruir daquilo que conquistam na surdina? Chega alguma consequência maléfica para eles? Imagina que eles vão para a cadeia, que eles devolvam o roubo ou que morram? Eu não.

Hoje um pai que perdeu o filho me disse com todas as letras, que erra igual a todo mundo, querendo acertar, que não é santo, mas que tenta levar a vida honestamente, com trabalho e ética, que viveu para os filhos e que não entende porque ter sido tão castigado, com o morte do filho, tao amado.  Questionou que justiça é esta onde se leva sem merecer e se merece e não leva.

Eu muitas vezes penso assim, mas quero crer que tem um proposito no fim disso tudo, embora esses dias eu tenha continuado fechando os olhos para não ver tudo de ruim que tem acontecido. Pergunto-me todos os dias ao meu Deus, onde Ele está. Porque sei que tem visto tudo isso, que não deixe a sensação de desmerecimento e que a auto piedade e comiseração não assole as nossas vidas, mas quer saber...a vontade que dar é de sumir do mundo, já que não conseguimos banir dele a maldade humana.

Hoje eu pude conversar um pouco com meu pastor, sobre esse sentimento de que o mal tem ganho a batalha, e  ele disse sabiamente " no mundo jaz o maligno". Mesmo sabendo que a morte de Rafa foi permitida ou provocada pelo Senhor, tem horas que queremos a justiça, a vingança, o juízo, as respostas, tirar um pouco daqui do peito o sentimento de impotência, de inconformismo, etc.

Tem horas que tem tanta coisa aqui dentro do peito que não sei por onde começar. As vezes sinto uma necessidade de me vingar, não sei como, não sei onde, não sei de que, não sei de quem, é como se qualquer possibilidade imaginária de trazer meu filho de volta pudesse ser executada. Mas nada, nada, o trará de novo.

Hoje uma mãe de filha unica que esta fazendo intercambio por um ano, me disse que imaginava o que eu sinto...e eu afirmei positivamente. Disse a ela, sei que tem dias que você deve ter uma saudade absurda, já que moram só vocês duas, e você deve entrar no quarto, chorar um pouco, e segurar a onda, porque também não é fácil para a filha, mas em dias que a onda é tão grande que você precisa falar com ela, e fala...ouve a voz, as vezes até a vê com a webcam. Pensa que quando ela chegar quer fazer uma coisa diferente no quarto, quem sabe uma roupa de cama nova, um porta retrato, mudar a cor da parede, mas esta esperando ela chegar. Eu disse que eu faço as mesmas coisas, só sei que ele não vai chegar, não vou falar, não vou ver...e nos dias que a saudade aperta mais, eu sinto como se tudo tivesse perdido.  Eu não falo no presente, nem no futuro...estou presa no passado e está tão ruim o presente e não enxergo o futuro, porque meus olhos estão ainda fechados, como na batida inevitável do carro.

Não vou entender. Por que pessoas brilhantes, inteligentes, do bem as vezes não viram nada? E pessoas limitadas em muitos sentidos conseguem se safar? Por que muita gente ruim continua na parada de sucesso, nas rodas de escarnio, nas colunas sociais, são consideradas banbanban...e dois meninos com o coração de ouro podem ficar esticados numa BR porque o dono do animal simplesmente, negligencia sua responsabilidade e se esconde atras das mentiras e das brechas que a justiça dos homens permite.  Por que miseráveis homens se escondem atras dos rótulos religiosos, para em nome de Deus, desgraçar uma família?  Por que eu ainda insisto em querer entender tudo isso? Pois sei que nada, nada, nada, vai me fazer ver o mundo com meu Rafa... clarão no meio da escuridão.

Apesar disso tudo, de tudo parecer tão perdido, decidi Senhor crer nos Seus planos. Ajude-me a levantar e a correr para os seus braços a tapar o nariz para não sentir o cheiro desse mundo e para abrir os olhos e enxergar Seus propósitos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A PISTA DE PATINAÇÃO NO GELO VAI VOLTAR

Tudo parece que tem volta no mundo, menos você. Hoje um dia atípico, queria ver você aqui vendo nossas coisas e se alegrando e se divertindo com tudo e tirando a maior onda da vida.  Você sabia viver Rafa, e eu admirava sua dedicação a vida.  A pista de patinação do gelo no Riomar está sendo montada.

Sentia em você  todo o pulsar de uma vida inspirada em alegria e dedicação a colocar os outros para cima, em se doar, em fazer amigos e a juntar pessoas que amam o bem.  Nem vou comentar mais sobre a qualidade do mundo atual, a impressão que tenho é que o mal está ganhando de lavada, vendo você partir e vendo tanta coisa ruim continuando usufruindo normalmente da vida e de nos. E que nós apenas resistimos, porque não conseguimos mais combate-lo ou nos rebelar para dar um basta, por um fim e ter o poder de volta.

Filho, tudo esta voltando ao normal. As coisas estão se acomodando no mundo lá fora. Menos no meu mundo, no nosso mundo, um vendaval, sabe um tsunami, quando a gente via aquelas fotos e não conseguimos identificar onde era nada na casa, onde a gente perde tudo e não sabe nem por onde começar. É estranho, mas essa é a minha sensação.

Nossa casa não foi devastada, pelo contrario, esta tudo em seu devido lugar, tento deixa-la como sempre foi para gente, como a gente sempre curtiu. Cada coisinha que eu trazia para casa com você  cada coisa que inaugurávamos juntos, sempre foi motivo de nossa união e de nossa alegria. Mas o tsunami tirou tudo do lugar, tudo aqui dentro está tão difícil por no lugar, ser identificado, são tantos sentimentos novos e diferentes e difíceis de serem lidados, que não sei por onde começar a arrumar.  Nos tsunamis reais, as pessoas perdem as coisas e ainda perdem parte da família  Eu perdi minha família inteira: meu filho, me fazia ser família, ele era minha família.

Tá tudo vazio aqui fora, mesmo com as coisas no lugar. Tá tudo mexido aqui dentro  que não sei por onde começar, só sei que muita coisa volta, como a pista do shopping, menos eu para seus braços e você para nossa casa. 

Tem uma musica do Roupa Nova que Rafa vivia cantando, e era engraçado porque ele fazia uma sustentação de voz tipo  a la Fagner, de proposito, mas quando ele a dedilhava no violão, fazia um arranjo tao lindo e sua voz se encaixava nela, eu amava e Rafael sempre chamava para cantar...queria, filho, te deixar só uma parte dela aqui, o nome da musica, Volta para mim.

Essa paixão é meu mundo
Um sentimento profundo
Sonho acordado um segundo
Que você vai ligar
O telefone que toca
Eu digo alô sem resposta
Mas não desliga
Escuta o que eu vou te falar...
Eu te amo e vou gritar
Prá todo mundo ouvir
Ter você é meu
Desejo de viver
Sou menino e teu amor
É que me faz crescer
E me entrego, corpo e alma
Prá você...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

NAO PUDE TE LIVRAR DE MUITAS COISAS, MAS TENTEI

Quando se tem filhos, a gente tem a preocupação de livrá-los de todos os problemas da vida. A gente tenta de todas as formas poupá-los das grandes decepções e das porradas que a vida oferece. Por mais que a gente se esforce e os prepare para enfrentar a vida, de muitas coisas a gente não consegue livrá-lo. 

Não os livramos de se apaixonar pela pessoa errada, de não serem felizes na carreira que escolheram, nem podemos conte-los em muitas decisões, e por mais que cuidemos da saúde e da higiene não os livramos de todas as doenças e "viroses" a que são acometidos. também não livramos seus corpos das cicatrizes, das quedas, das fraturas e dos ossos quebrados, nem de serem furados pelas injeções ou vacinas desnecessárias apenas para cumprir a meta governamental. 


Descobri que a medida que vão crescendo e tendo mais consciência sobre a vida, nossa dificuldade em livra-los das decepções e frustrações que crescem na mesma proporção. Eu odiava PG (Progressão geométrica) e Rafael também, não o livrei até de coisas que eu não vi sentido em minha vida saber, e ele teve que passar pelas mesmas dificuldades.  Muitas vezes não tive resposta para suas perguntas.


Não o livrei das dúvidas, de se sentir inseguro muitas vezes, dos medos, antes tão bobos (de escuro, de morto, de trem fantasma, do fundo no mar, de altura nos trampolins da piscina) e depois tão maduros. Queria que você tivesse continuado com alguns medos, queria que você tivesse medo de moto, e que não fosse tão confiante em você, pelo menos não naquela noite.


Não o livrei de sofrer, muitas vezes até fui mentora de seu sofrimento, por minhas atitudes ou escolhas.


Queria uma vida harmoniosa para você, queria te ensinar os valores que recebi e se pudéssemos melhora-los e adquirir outros que tínhamos necessidades, ou que eram indispensáveis para suprir as necessidades dos outros. Tentei te proteger de tudo isso, até de mim. Mas também descobri que o jeito mais normal de te proteger era deixando você ir desbravando as coisas, conhecendo o mundo, sendo aceito e aceitando as pessoas e tendo a segurança de voltar para casa e fazendo de sua casa e de nosso colo seu porto seguro. E claro, impondo os limites.


Construímos uma relação muito bacana da qual me orgulhava. Você tinha e tem um toque muito especial de Deus no coração. Enquanto eu achava que te ensinava as coisas da vida, fui percebendo que você conhecia mais da vida e das pessoas do que eu.  Você conhecia cada um de lá de casa, nas especificidades. Você conhecia seus amigos e descrevia-os. Você me conhecia e num olhar sabia dizer o que eu tinha, qual área estava preocupada. Você me ensinou.


De tudo que tentei de livrar e enxugar as lagrimas de seus olhos e a pontinha de tristeza do seu coração, três coisas eu me arrependo de não ter conseguido livra-lo: de sofrer por família, de sofrer por amor e daquela estrada.



Eu queria tanto te livrar

Filho o que fiz por você é quase nada
muito longe perto do que você merece
mas se eu pudesse ficar com você tantos anos
queria te proporcionar uma vida,
daquelas que ninguém esquece.

Ou talvez repetisse tudo
quem sabe acrescentaria poder adivinhar
pois se você tivesse que sofrer
eu queria sempre sofrer em seu lugar
e isso era o meu desejo para você.

Não bastou que eu te desse todo o meu amor
pois a vontade de te ver feliz tinha que imperar
e minha meta era aliviar de seu coração e de seu corpo toda a dor
porque eu queria que meu amor tivesse a função sempre de te sarar.

Ainda quero aprender a adivinhar
ou ter super poderes espirituais
pois se você ainda tivesse que sofrer
eu continuo querendo sofrer em seu lugar
e se eu pudesse trocar de lugar com você
eu pediria para você voltar correndo para cá.

Meu pensamento mais nobre, Rafa,
reside em você, e tudo que você representa para mim
Eu só queria poder te livrar desse distanciamento sem fim
Olhar pela janela da vida e não ver você sorrindo
É a minha maior dor.
É você doendo em mim. Doendo sem fim.






segunda-feira, 24 de outubro de 2011

TALVEZ ANJOS NÃO VIAJEM DE AVIÃO.

Eu me sinto como se estivesse em um aeroporto, esperando uma pessoa muito amada e especial que não vejo há 05 meses, mas que parece que tem muitos longos anos, porque simplesmente você vivia com essa pessoa, fazia tudo com ela, e essa distancia é muito sentida e intensificada.

Imagino todas as emoções ali bem latentes, as pessoas esperando ou se despedindo.  Sempre relacionei aeroporto com coisas boas, nunca ruins, mesmo quando eu viajava para ficar longo tempo distante da família, eu sempre via aquilo como uma oportunidade de melhora, uma oportunidade de crescimento.

Nunca precisei fazer uma viagem de avião para resolver coisa ruim, mesmo quando há 02 anos fomos visitar minha madrinha na UTI em Juiz de Fora, não imaginava que ia acontecer nada de ruim, e ela teve alta, no segundo dia de nossa estada.

Para mim, a expectativa é bem parecida a de esperar nosso amado chegar, aquela porta se abrir, nos procurarmos entre olhares, nossos olhares se cruzarem, e de repente aquele sorriso inundar e iluminar o rosto, a lagrima da saudade doce molhar a tez, o abraço apertado do reencontro impedir o afastamento,  e o beijo demorado, cheio de amor e saudade selar a paz no coração. 


Então  o pulsar de novas emoções tomam conta da situação, as novas experiencias, o colocar tudo em dia, o que fez, por onde andou, o que errou e o que acertou, a quem ajudou, em que melhorou, o que mudou o entendimento, a nova piada, o jeito novo de se vestir, o novo corte de cabelo, o mesmo cheiro, o mesmo jeito, a mesma risada.

Coisas que vão se agregando no trajeto de casa, porque casa, é o lugar para onde voltamos. E no meio da conversa, as vezes comentários do tipo: Ah! que bom que você voltou, ou nem acredito que você está aqui, foi tão demorado isso  tudo, sentimos tanto sua falta, e aí falamos um pouco de nós que ficamos...e tem lençol cheiroso na cama, comida que mais gosta esperando no fogão, de repente a família toda reunida para comemorar...Na minha família, sempre rola também uma entrega de presentes, de lembrancinhas que trazemos uns para os outros.  Rafael sempre trouxe...fez isso quando foi a Sampa a primeira vez, fez isso de Cancun, fez isso na ultima viagem a Fortaleza...ele incorporou muito bem muitos de nossos costumes. E tinha um bom gosto...trazia tudo muito a cara de todo mundo, ah, com o dinheiro dele, da parte dele disponível para gastar, as vezes pedia ajuda, mas geralmente sabia se virar e ficar bem com todo mundo.

Mas me imagino no aeroporto, sem nada disso.

Espero no saguão a toa. Vejo todas as pessoas ao meu redor receber ou embarcar parentes de viagens curtas, e sempre o sorriso estampado no rosto, e eu, ficando na expectativa. Toda vez que a porta se abre, eu espero cruzar com o seu olhar.  Mas meu amado não chega.

De repente, sem nenhuma explicação plausível ou que seja entendível para o meu coração, e confesso que muitas vezes até minha mente fica sufocada para compreender esse processo, que meu coração teima a negar.  Percebo que o voo que eu espero sumiu, não fará escala no meu aeroporto, e não faço ideia de quando verei meu amado novamente.  O avião sumiu e junto com ele, todos os meus sonhos.

Talvez anjos não viajem de avião.

domingo, 23 de outubro de 2011

E NEM MIREI O ALVO PARA TAO PREMATURAMENTE ACERTA-LO.

É tão difícil hoje, 05 meses sem você, não falar de como meu dia foi tão doído pensando no que você não fez.  Não consigo traduzir agora todas as emoções, está tudo tão embaralhado, mas lembro muito de seus amigos, hoje foi prova do Enem. Nada saiu como planejamos, sonhamos e esperamos, não foi filho. Em todos os sentidos.

Eu queria tanto me sentir plena novamente. Plena de vida, plena com Deus, plena contigo.  Era tão bom quando me sentia forte o suficiente para brigar com o mundo por você.  Quando eu te achava indefeso o suficiente para te-lo em meus braços e só me desapegar quando tivesse certeza que já tivesse arrotado. Que insisti para amamentá-lo até quando você quisesse, porque era naqueles momentos sublimes, só nossos, que me sentia a mulher mais plena do mundo.

Enquanto você podia estar ao alcance de meus olhos e de minhas mãos, sentia-me a mulher mais feliz do planeta, acho que a plenitude de uma mulher pode ser descrita pelo ato sublime de ter dado a luz e ter carregado seu filho no ventre, e agora nos braços, nutrindo com leite e com sonhos de uma vida.  Acho que ali, nos sentimos um pouco mais perto de Deus, é uma simbiose tão grande entre mãe e filho, nos sentimos como o Criador, admirando sua criatura.

Mas a plenitude vai se transformando porque nossos braços e nossos colos não conseguem acompanhar todos os passos de nossos filhos. Tem uma hora que nosso leite que o nutriu e nossos sonhos que também o fizeram sonhar, começam a descortinar o mundo lá fora, e os limites de nosso ventre e de nossa casa se alargam. 

Descobri muito cedo que casa tinha que ser o lugar para gente voltar.  Os filhos vão em busca de seus sonhos, e a gente sonha um sonho novo, de que eles sempre queiram voltar para casa. Que a casa seja o lugar que eles queiram ficar, estar, na volta da alegria, da tristeza, da conquista, do cansaço, mas nem sempre é assim.

Tem deles que não voltam. Não voltam por escolhas. Não voltam por convicção. Não voltam porque construíram as suas. Eu conheci no dia 23/05/2011, que minha aproximação em relação a imagem criador-criatura, ruiu, conheci da forma mais amarga e intensa possível a impotência e os limites humanos.  Meu filho não voltou para casa. E até hoje paira a dúvida e os questionamentos.  Meu amor, meus braços, meu olhar ou meus conselhos foram incapazes de trazer meu filho de volta para casa.

Li hoje pela manha, a caminho do cemitério, num jornal que embrulhava as flores para Rafa - que em breve quero cultivá-las em casa, não importa agora o que os meus correligionários religiosos pensam disso, ainda não estou pronta para abandonar a carne ali, era a carne da pessoa que eu mais amava na vida-  uma citação de Kalil, que já conhecia, mas me fazia verter muitas lágrimas. Primeiro porque penso e eduquei Rafael com este propósito, ele não era meu. Mas meu coração, sinceramente acho que nunca acompanhou esse sentido.  Ou será que todos os pais estão mesmo prontos para devolver a Deus seus filhos, que não estão sofrendo por nenhuma doença nem te fazendo sofrer por nenhum comportamento ou opção?

A citação que trarei abaixo, fala que nossos filhos são flechas na mão do arqueiro. Como cristãos que somos, sempre acreditei que a flecha era Rafa, o arco Eu, e o arqueiro Deus.  Todos temos funções bem definidas neste processo.  Só que eu falhei. Não tenho mais flechas e a minha flecha foi para o alvo antes que eu tivesse pronta para devolvê-lo. Não sei se alguma mãe/arco fica pronto, em algum tempo.  Tem sido difícil entregar e descansar em Deus. Agradecer e louva-lo por ter levado meu filho, por ter me dado a permissão de velá-lo, por ter me dado condição de falar com ele horas antes por telefone, por ter abençoado, por ter falado de Deus e da palavra da igreja, por ter beijado antes dele ter viajado, tantos agradecimentos, tudo é um pouquinho consolador, mas a dor, ah a dor...ela é desumana e indescritível. 

Eu ouvi essa semana, que essa dor deixará uma cicatriz, mas que com o tempo a cicatriz não dói. Queria crer nisso e chegar a esse ponto hoje, mas sinceramente, ainda não consigo ver uma camisa do flamengo andando na rua e não pensar chorando, ou ver a placa do McDonald´s ou ir a Baviera da R de Arauá, ou passar na frente do Del Rey, ou ver a propaganda do Panico na tv, ou ver as coisas sendo conquistadas na vida dos amigos de Rafa e de todo mundo do mundo dele que tem me abraçado sem olhar para essa dor, esse buraco esse vazio e achar que um dia vai ser tudo uma cicatriz indolor.


Voltando aos seus amigos, fico a cada tempo pensando onde vão parar? Que direção tomarão enquanto flechas? Hoje pensei e desejei que cada um deles, que participaram do Enem tenham alcançado seus alvos.  Sou arco sobressalente, sem serventia agora, em reparo, olho a performance dos outros arcos/mães esperando seus filhos voltarem para casa depois de um dia cansativo de provas.

Hoje filho, ao cair da tarde queria ser flecha, e que meu arco/mãe, sua avó, estivesse pronta para mirar-me e eu alcançar o mesmo alvo que você, a casa do Pai.






"Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E, embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos.
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós, porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a Sua força para que Suas flechas se projetem rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:  pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável."
Gibran Khalil Gibran

sábado, 22 de outubro de 2011

MEU MENINO DO RIO NO RIO.

Hoje fiquei bem nostálgica lembrando de você na Praia de Copacabana. Rememorizei todos os nossos passos ali. Como nos divertimos. Sua primeira vez de avião, de ônibus para Juiz de Fora e Petrópolis - para visitar meus padrinhos- de metrô...tudo numa só viagem, e você, incrivelmente aproveitando tudo, uma recompensa pelos dois dias de internação e um presente para mim depois de um mês sem te ver.

Em 1998, Rafa então com 04 anos, fui convocada para trabalhar no Rio de Janeiro, fazendo inquéritos administrativos, inicialmente para um período de 02 meses, que resultaram em 07 meses ininterruptos. Nossas visitas a casa, ou a Aracaju dependiam dos feriados prolongados e dos preços justos das passagens aéreas, que na época, não tinham tanta oferta e concorrência, muito menos um serviço ampliado de oferta em internet, como hoje.

Logo na viagem, na ida, uma dor enorme, maio, no dia das mães, encarei o desafio com muitas lagrimas nos olhos, meu pequeno ia ficar em casa, e eu longe tanto tempo. Na bagagem catei uma camisa dele, a que ele tinha dormido a noite, a camisa do pijama, e coloquei num saquinho. Na despedida ao embarcar, eu chorava como se não fosse voltar mais, e logo ali, antes da decolagem, tirei a camisa da bolsa e a cheirava. Chorei muitos dias de saudades, mas também pude ofertar alguns mimos que em Aracaju ele não poderia usufruir, hoje só me arrependo do tempo que fiquei longe, se soubesse que o teria por tão pouco tempo, acho que não o largaria tempo algum, nem os necessários ao trabalho.

Mas chegou a hora de recebe-lo no Rio de Janeiro, e foi uma festa, com direito a tudo...bondinho de Santa Tereza, Cristo, Pão de Açúcar, Arcos da Lapa, Barra, Ipanema, Torcida jovem rubro-negra, Maracanã, sambodromo, parque temático, Floresta da Tijuca, Jardim Botânico, Copacabana e sua praias estonteantes onde, na medida do possível, aproveitamos os fins de tarde, pós serviço.

Foi nesse período que Rafael conheceu uma das coisas mais importantes de sua vida. A emoção dos brinquedos do parque temático, e os limites. Para a maioria dos brinquedos, ele não tinha tamanho, ou idade, mas em todos em que não era reprovado em estatura, era laureado em alegria. Como nos divertimos e fomos felizes naqueles lugar.

Pude voltar com Rafa em 2010 duas vezes para o Rio. Uma vez para tirar o visto no Consulado do México, em fevereiro, e neste período, pudemos usufruir de nossas lembranças e passeamos um pouco no nosso pedaço, em Copa, mas também revisitamos o centro da cidade, onde eu trabalhava e Botafogo por onde passávamos sempre, Rafa tinha algumas lembranças de nossa semana maravilhosa de 1998.

Depois voltei no Rio com Rafa em agosto daquele ano. Almoçamos em família em Copacabana, e ele foi lembrando do prédio onde ficamos, alugamos um apartamento na Av. Atlântica, entre o posto 03 e o 04, num andar alto onde nossa varanda dava aquele bom dia ao mar e aquela avenida que não parava, Rafael lembou do prédio 13 anos depois, e ele só ficou comigo 10 dias, das brincadeiras na areia da praias, nos lugares onde comíamos, nas lanchonetes, a batatinha frita que ele amava, com queijo ralado por cima,  a pipoca com pedaços de queijo que comprávamos na volta do serviço, os quitutes dos butecos do Rio e finalmente lembrou da televisão dos cachorros, aquelas máquinas de fazer galeto assado, tão comum nas padarias do rio.

Filho, hoje tudo isso invadiu minha memória, porque queria voltar lá atras e ficar dando voltas no carrossel contigo, pegando em tuas mãos quando tinha medo das portas do metrô, ou rindo muito de nossos passeios e de você descobrindo um pouquinho do mundo, contando do avião, da comida específica, do barulho das turbinas, da viagem de ônibus a Petrópolis e a Juiz de fora, das visitas pela primeira vez a um museu e a um teatro, de ver o mengao de perto e no final do dia, voltando cheio de sonhos para casa.

Hoje continuo chorando e cheirando suas camisas, como fiz em todas as minhas viagens até hoje, levando sua camisa, geralmente a última que você usava. Só que nem sonho com mais nada, nem posso sonhar com seus sonhos. Para falar a verdade, meu menino, hoje eu não queria nem dormir nem sonhar, porque amanha, 05 meses sem você, tem sido mais doloroso e sombrio do que todas as nossas memórias e sonhos juntos.

Meu menino do Rio, das pescarias do Rio Poxim, nas andadas de lancha do Rio Sergipe, do Rio Real, do famoso Saco do Rio Real, do catamarã do Rio São Francisco, do Rio de Janeiro e do meu rio de lágrimas,  que tem nascente nos meus olhos e cuja foz mareja os nossos sonhos, tornando-os hoje, apenas expectativas embassadas e desagues das vidas que te amaram e que duramente estão aprendendo a descobrir qual o novo leito por onde correr. Se eu pudesse escolher, correria para o seu leito, seu curso e fazia de você meu afluente, como foi em todos os nossos dias juntos.


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

COLOQUEI A PORTA NO LUGAR, MAS IGUAL A MINHA VIDA, SEM UTILIDADE.

Hoje acordei disposta a arrumar seu guarda-roupa, e fui lá marquei furei, me espremi de sustentar sozinha as coisas, pensei por que você não havia colocado no lugar? Por que se eu estava conseguindo fazer? Você faria com os pés nas costas, e pensando te elogiando, você fazia e resolvia tudo para mim. Resultado, depois que coloquei no lugar, a porta não abriu.  Só ri muito sozinha sentada no chão do seu quarto e imaginando a resenha que você ia fazer e o tanto que ia tirar onda, em seguida, me deu um tristeza, uma angustia, uma falta de você, simplesmente não me achei mais, resultado, fui tentar dormir para esquecer tudo isso.

Acordei e antes de sair pensei em finalmente trocar suas roupas de cama, já que a porta, embora não abrindo, permanece no lugar, e tenho a mania de em datas especiais colocar roupas de cama nova. Não tenho datas especiais mais para comemorar, nem motivos para colocar roupas de cama nova em sua cama, mas, filho, eu tive vontade, escolhi a roupa, toquei e não consegui, comecei a pensar em você, se você ia gostar, as vezes você amava o que eu escolhia, as vezes você achava ruim fazer a cama, cheia de fru fru fru, então a gente ia acomodando a praticidade e nossos gostos. Eu penso que você gostaria, mas eu não troquei. Simplesmente sai de casa, porque hoje estava muito difícil continuar aqui.

Na minha caminhada pensei muito o que seria enfrentar tudo isso sem fé e sem Deus. Porque penso assim filho, acho que a fé nos ajuda a passar por tudo, nos ajuda a seguir, é como se vivêssemos uma ilusão, pelo menos é neste estagio que me encontro. Pensar simplesmente que tudo acabou é uma visão muito minimalista de Deus, mas também ainda não O olho como sei que deveria. Sei que eu deveria estar mais forte do que qualquer um dos outros três pais que perderam filhos no mesmo acidente. Porque eu conheci Deus, e Rafa também, eu deveria estar, sei lá, em outro patamar, ou com outra estrutura, deveria estar levando Deus a eles.  E me vejo igual, da mesma forma e com a mesma dor deles, como se a vida e o mundo tivessem perdido o sentido.

Fiquei pensando nas coisas que ouço de quem se achega para me aconselhar, muita coisa pode ser desprezada, só traz duvida e revolta ao coração. Na tentativa de nos colocar para cima, acabam nos afundando em teorias, sejam elas de que terminologia for, que abominam a dor e falam simplesmente em prosperidade ou fatalidade.

Hoje me pus a pensar na dor diante da Bíblia. Pensei nas dores de mães, que perdem filhos.  Penso muito em Maria, vendo seu filho ali sendo crucificado, inocentemente, sem ter feito nada. Não comparo Rafael a Jesus, longe de mim essa proeza, tampouco eu a Maria, mas comparemos os parentescos apenas e a impossibilidade de agir diante da vontade do Pai. É impossível nao pensar em Maria associando as imagens do filme de Mel Gibson, e toda a encenação. Lembro do desespero no rosta daquela atriz. Imagine na vida real. Eu imagino, posso ate me aproximar daquela dor, e vejo o desespero refletido em meu rosto, mesmo após esses 148 dias.

Também pensei na viúva que teve o filho ressuscitado porque enquanto o caixão saia em cortejo, Jesus ia passando e se comoveu com a dor daquela viúva com o filho único, em Naum, salvo engano.  Não sou viúva ainda, mas é como se fosse, e meu filho era único e Jesus onipotente e onisciente sabia da dor que me afligiria a alma, preferiu esperar para enxugar as minhas lágrimas. Até hoje estou me esforçando a  entender e me entregar sem restrição á Sua vontade.

Mas o que mais me chamou atenção hoje, vou revisitar a historia de Noemi, que perde seus dois filhos, e o marido, e fica sozinha, como eu. Aí lhe restam duas nora, Rute e Orfa, às quais ela aconselha que voltem para suas famílias. Orfa aceita o conselho e Rute não, escolhe permanecer com a sogra, que resolveu voltar para sua terra natal, Belem. Lá chegando ela nem é reconhecida de imediato pelos seus conterrâneos, tamanha deve ter sido a tristeza e desesperança estampada em sua face, e quando a questionam se ela é Noemi, ela responde:  “Não me chamem de Noemi (que significa amável), chamem de Mara (que significa amarga), pois Deus lidou comigo amargamente. Saí cheia e retornei vazia”.

O Direito atual não aceitaria que eu entrasse com uma ação para troca de nome, como fez Noemi. E estou falando de uma historia bíblica, que obviamente não termina mal, para os costumes da época sua nora Rute é resgatada por um parente da família de Noemi e elas voltam a ter novas esperanças. Isso pode ser comparado ao que o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manha.  Entre a partida de Noemi de Belem, com seu esposo e filhos, e seu retorno se passaram 10 anos. Não sei quanto tempo levou entre ela ter ficado viúva, ter perdido os filhos e ter sido resgatada através de Boaz e Rute. 

Imagine comigo: não sou Noemi, nem nenhuma figurinha heroica bíblica. Quanto tempo deve durar meu sofrimento? Sinceramente? 


Mesmo com o resgate, eu queria perguntar a Noemi, ou a amarga Mara, se ela esqueceu algum momento de seu marido e filhos, e se em algum período depois da morte deles, mesmo agora com o resgate, se ela podia considerar aquele período sem eles, melhor do que quando ela os tinha vivos.

Mesmo cheia de dúvidas e sinceramente, com dias em que sinto vontade de morrer, de sumir, de fugir disso tudo, e outros dias em que fico loucamente ansiosa para sair disso tudo e viver outra vida, que não a que vivo, porque não me encontro nela, em que queria ser outra pessoa, eu continuo opinando e escolhendo Cristo.  Sem entender, sem aceitar, as vezes não compreendendo o pai bondoso, ou misericordioso, ou o dono da vontade boa, perfeita e agradável, ou ainda porque que a minha oração não foi ouvida, ou por que tantas perdas, o porquê de eu não pude ter pai me vendo crescer, e tampouco ver meu filho virar pai e vendo os filhos dele crescendo, mesmo com todas essas indagações, taí Deus, sou Tua.

Um grupo muito amado da igreja veio aqui em casa e pudemos compartilhar, chorar e louvar um pouco. Eles têm sido bençãos em minha vida, têm se levantado em oração e pela terceira ou quarta vez têm vindo louvar aqui em casa, e os amo por terem se disponibilizado para isso, porque a unica coisa que eu consigo fazer neste plano espiritual é louvar, as vezes choro, as vezes dói cantar aquelas letras, mas eu penso que seja agradável a Ti.  

Entre os louvores, lembramos, eu e minha mãe que quando Rafa e Lícia tinham respectivamente 7 e 10 anos, nós ainda não estávamos convertidos -isso só aconteceu 03 anos depois- nós adquirimos um CD de J. Neto, e numa das faixas ele fazia uma oração pela manhã agradecendo a Deus. Nós ouvíamos essa oração todos os dias a caminho da escola, fazíamos a oração e cantávamos uma música que eles adoravam (Se ligue no poder de Deus).  


Agora eu queria postar a oração do Cd, porque eu queria muito ouvir Deus me falando o que a música declara, queria ouvir audivelmente, que Ele, o meu Deus, está aqui para me tirar disso tudo.




quinta-feira, 20 de outubro de 2011

LAGRIMAS SERÃO RECOLHIDAS

Hoje sai de casa pela manha e entre outras coisas queria comprar a dobradiça para finalmente consertar seu guarda-roupa.  Entendi seus motivos e minhas inúmeras tentativas de coloca-lo no lugar, você sempre me convencia de que deveria estar daquela forma, mas não precisamos mais lembrar disso filho.  Todo tipo de violência e constrangimento passou, restou eu e nossas lembranças.  E quero lembrar de nossas casa como sempre foi.

Comprei as dobradiças, pensei em lanchar na lanchonete do calçadão onde sempre lanchávamos, não consegui, então segui e fui na loja das amigas de sua avó da igreja. Para preservar não direi os nomes, mas você as conhecia, compramos nosso tapete musical de natal lá, lembra?  Também fiz você trazer comigo um vaso enorme com umas flores tropicais que eu fiz para colocar na sala do Ed. Del Rey, lembrou?

Pois é enquanto conversávamos sobre o Poder Restaurador de Deus, e obviamente eu chorava, chorava a minha dor, a dor de Neide (Mãe de Rafa Bispo, 17 anos) e a dor de Márcia, uma mãe que conheci na estrada da dor, uma mãe que aprendi a amar pela força que tem demonstrado ter ao longo destes 10 meses sem seu filho, também de 17 anos, me cortava o coração.  Chorava e pensava em quantas vezes nestes dias, conhecendo ou não a palavra de Deus, nos rendemos a mais profunda tristeza e desespero.

Choramos, sei todos os dias, choramos por nossos filhos, choramos por outras mães que perderam filhos depois de nós, é como se naturalmente fizéssemos parte de uma irmandade, das mães que choram pelos filhos que foram chamados por Deus. Penso sempre que quando perdemos um filho para Deus, e não os perdemos para as drogas, para as bebidas, para a vagabundagem ou para co crime, quando perdemos para Deus, esse pode ser nosso maior consolo, a historinha que as vezes me irrita: Deus deu Deu tomou, mas é verdade, nós cremos.

Na nossa conversa ela me deu um folheto que falava sobre que Deus enxugara toda a lagrima, e o folheto continha uma historia bem profunda relacionada ao que enfrentamos hoje:


"Em algumas localidades da Pérsia, as pessoas dão grande valor às lágrimas. Acreditam que elas possuem virtudes curativas.  Nos velórios, são oferecidas esponjas aos presentes para que estes enxuguem suas lágrimas.  À saída, as esponjas são recolhidas, e o seu conteúdo, cuidadosamente guardado.  é comum haver nas câmaras-ardentes avisos como este: Não esqueça de entregar suas lágrimas. " (Folheto CPAD- Deixe suas lágrimas ao sair)

Percebo uma semelhança entre o que me foi presenteado hoje e o que a palavra do Senhor fala sobre as lágrimas.  Sei que não estou semeando em lágrimas, nem tenho a pretensão de colher nada neste momento de minha vida, é como se não tivesse lugar para alegria, não cabe em minha vida agora o olhar para outra coisa que não seja a minha dor.  Confesso que muitas vezes tem sido difícil olhar a dor dos outros, ou ter um pouco de esperança de que a alegria vem pela manha.  Na verdade, até olhar para Deus as vezes minhas lágrimas me impedem de vê-lo, de tão absorta que fico neste processo, enlutada.


Uma coisa eu sinto e isso me traz um pouco de expectativa, pois apesar disso tudo eu tenho esperança de que um dia isso findará, como findou para Rafa, e como acredito na palavra de Deus, Ele pedirá minha esponjinha e recolherá minhas lágrimas.

“E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas”.(Ap 21:4) 

“Eis que eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne; acaso haveria alguma coisa demasiado difícil para mim? (Jr 32:27)” Permitamos que o nosso Senhor enxugue nossas lágrimas hoje.





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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

MEUS AMIGOS

Hoje Rafa pensei a fundo em meus amigos, e quase todos se fizeram presentes em sua partida. Estavam meu amigos de escola, eu ainda com 12 anos, e eles estavam lá: Luciana, Lucimara, Valeria, Monica. Meus amigos de cientifico: Demi, Fabíola, Adriana, Carina e Fernanda...Carina ainda me emprestou Leilinha para entrar como florista lembra?  Meus amigos de faculdade, toda a turma de psicologia minha e de seu pai estavam ali nos abraçando. Meus amigos da Unit, alguns hoje promotores, outros delegados, outros advogados, outros funcionários públicos como eu. Meus amigos da pós que viraram amigos de vida Dea e Iandra...para você Tia Déa e Tia Iandra.  Meus amigos pós separação, Déa acusada, Iandra, Déa, em outro tempo Nívea (doidinha) e Junior. Meus amigos de mestrado, meus professores do mestrado. Meus ex-patroes das faculdades por onde lecionei, meus coordenadores, meus colegas de trabalho, meus colegas da previdencia e meus amigos, parcos amigos do INSS, em especial Cida, Teka, Ju, Mercia, Dora e Ceiça.  Tambem vieram de Salvador, muitos colegas da Auditoria, que me deixaram muito emocionada pelo cuidado e carinho Ines, meus primos Suely e Dantas e a irma de Vania, que estimo muito. Meus alunos que viraram amigos, os amigos de meus pais, nossos amigos e vizinhos e todos os seus amigos, colegas, professores, mais de 700 assinaturas nos livros do velatorio, mas nao sei te dizer quantas pessoas se valeram da amizade para nos apoiar.

Pensei que com tudo isso de amigos, nao estou falando especificamente das pessoas que nos amam, que sentiram muito e que quiseram dar uma força não. Estou falando de amigos. Ainda tinha minha família da igreja, amigos tao preciosos, alguns cuidam de mim ate hoje, meus pastores, tão presentes, Emanuel e Cheiler, sem palavras para todo apoio e principalmente meus amigos de casa, meus irmãos, meus padrinhos, meu padrasto e minha mãe, em especial.  Com tudo isso eu achei que fosse superar mais rápido.

Ainda posso citar seus amigos, tao meus nestes momentos de dor, todos se oferecendo, ficam muitas vezes comigo durante minhas insonias, dividem comigo seus momentos, de vez em quando me catam e perguntam...tia como vai? E eu vou né filho, tô indo, não sei para onde...acho que queria ir para o parque, gritar muito lá de cima exorcizar tudo isso, como posso ter todas essas pessoas disponíveis e não poder ter você?

As vezes junto um pouquinho de você em todo mundo e fico mais feliz, fico mais cheia de vida, se é que posso falar isso, só porque você está comigo...aí passa um tempo, estou vazia de novo...eles não iluminam você para mim, aí resta só eu e sua lembrança.  Hoje de manha entrei no orkut de Dea, e vi a primeira postagem que fiz lá, meu primeiro depoimento em 2007. Eu ainda não tinha orkut...usei o seu. Ao final assinei, Mãe de Rafa...como hoje está no meu orkut.  Chorei tanto filho, porque essa é a minha unica certeza no momento de dor...sou sua mãe, mas não posso te aconselhar, te acalentar, te ninar, te dar colo ou mimo, sequer posso te tocar. 

Viajei mentalmente  para o Ed. Del Rey, lembrei de seus amigos... você tinha isso, meu amigos de vida inteira. Muitos amigos e conhecidos, isso é muito bom, mas não impedem que eu sinta tudo isso nem ameniza a dor, simplesmente ajudam o tempo a passar mais rápido, e isso faz uma diferença muito grande nesta hora.

Hoje choveu aqui em Aracaju e quis sair na chuva. não levei sobrinha e fui para rua, queria tomar banho mesmo, lavar a alma e quem sabe parte da tristeza, no caminho passei no banco minha senha era 14, fui chamada para o guichê 3...14 3...data de seu aniversario, não dei conta só chorei, nem consegui fazer o que queria, só chorava sua ausência.

Meus amigos... você era o melhor, o mais importante, o que eu confiava e com quem eu dividia minhas preocupações, anseios, desejos, medos, alegrias...tá barra seguir sem você.  Muita coisa que fazíamos juntos ainda não consigo, mas vou sim agradecer a Deus por sua vida e estes 05 meses longe, gritando num parque de diversões, porque hoje ele é quem mais lembra nossa alegria, depois dos mergulhos e viagens.

Dizem que família a gente não escolhe mais amigos podemos escolher.Acertei duas vezes, você é o filho  mais especial que eu poderia ter e o melhor amigo, amigo de todas as horas. Você foi muito mais que amigo...me resgatou todas as vezes, desejo de Deus em minha vida, enviado por Deus, e nosso amor dava sentido a minha vida, mesmo não enxergando hoje o sentido, sei que nosso amor vai me levar novamente para o caminho de Deus e que não importa onde esteja, vou me sentir resgatada sempre pelo presente que Deus me enviou, meu Rafael, nome de anjo, Deus que cura, e que me curará novamente, meu intercessor de todas as horas, sinto falta de te chamar para concordar em oração, e você sempre disponível e consciente de nosso poder, em nome de Deus.  Saudades...









terça-feira, 18 de outubro de 2011

O QUE APRENDI NESTES 145 DIAS SEM VOCE.

Percebi, ao longo destes dias tão dolorosos, que você será sempre inesquecível, que eu não posso fazer nada para te trazer de volta e que continuo sem saber como viver sem você aqui do lado de fora, e só e simplesmente do lado de dentro.

Aprendi que muitas vezes um abraço, uma lagrima de cumplicidade, um olhar carinhoso ou o silencio mais estático é melhor que a indiferença diante desta dor, e que todas as vezes que essas coisas acontecem porque pessoas se juntam a mim para lembrar de você, faz-me sentir mais viva, porque você vive em mim.

Aprendi que o que nos une é incondicional e interminável, e esse amor é eterno, é o elo mais forte que podemos sentir.  Imagino que se não cortassem o cordão umbilical seriamos capazes de viver com nossos filhos germinados, eu vivo assim hoje.

Aprendi que saudade tem gosto: gosto doce das lembranças que povoam nossas mentes e gosto amargo da distancia e da tristeza de não te-lo perto.

Aprendi que mesmo não enxergando com esperança dias melhores ou um futuro que anuncie que o melhor de Deus ainda está por vir, dependo exclusiva e inteiramente de Deus para continuar a sobreviver e para achar um novo sentido nisto tudo.

Aprendi que nunca terei certeza se saberei viver sem você, e a unica coisa que queria de alguma forma que você soubesse é que eu vou continuar te querendo aqui inesquecível em mim, que sua voz e a alegria fazem em mim moradia, e viram tatuagem. Sigo procurando seu olhar e não pensando no adeus, porque você sempre será inesquecível para amar.  






segunda-feira, 17 de outubro de 2011

MAIS UMA NOITE EM CLARO NO MEIO DA ESCURIDAO

Depois de um domingo em família, que faltava você, que faltava suas historias, suas implicações, sua alegria, seu pedido de tomar sorvete depois do almoço e antes de começar o jogo, se fosse o mengo jogando, e todas as outras coisas.  Talvez a pior hora seja na hora do sorvete, lembro sempre de seu pedido, milk shake do grande de creme, com cobertura de  chocolate. As vezes acompanho e não peço sorvete, vejo as famílias ali, vejo quantos anos passamos indo a vi sabor depois do almoço de domingo.  Lembro um dia depois de uma eleição que não trabalhei que você encontrou com um candidato ao governo do estado, e você tomou a iniciativa vou cumprimenta-lo e disse que eu havia votado nele, e que se você tivesse titulo eleitoral votaria nele também.

Você não teve tempo nem de conquistar o seu primeiro voto como eleitor.  Que pena, adoraria discutir politica com você, e penso como seria quando seus conhecidos e chegados se candidatassem e como seriam suas discussões, se você cederia a amizade ou votaria com compromisso.  Penso muito agora sobre você entre  a minha opinião e a de seu pai sobre politica, muito embora a gente não tivesse tantos problemas nesta área porque sempre buscamos a ética e eu sempre mais independente nesta área, talvez ate por não ser do interior, sei lá.

Mas ontem alem do sorvete, parte difícil do dia, passei mais uma noite em claro. Acredite que só ontem tive coragem de montar minha primeira apresentação de power point com fotos suas e com musica.  Briguei com windows a madrugada inteira e a cada tentativa, à medida que as fotos iam passando eu ia chorando e revivendo cada uma daquelas situações.

Acho que com sua partida eu fiquei mais egoísta em relação a você, mas acho que esse também é um dos aspectos da bipolaridade da perda. Tem horas você quer dividir toda a memoria com os outros, tem horas que você quer ter a foto exclusiva, a  lembrança exclusiva, a melhor musica, o melhor momento, o melhor tudo. Mas sei que isso é fantasia porque se você fosse só meu não teria sido tao amado por tanta gente. Foi a sua capacidade de ser a melhor lembrança para tantas pessoas que a comunidade do orkut que fizeram depois que você partiu tem 700 membros.

Então neste primeiro álbum, só quis momentos seus e meus, mais ninguém. prometo fazer um mais abrangente e aos poucos liberar nossa historia, porque quanto mais você viver e habitar o coração dos outros, mais estará intenso neste mundo de onde partiu e não podemos nos ver, mas sintonizados com você, ou com suas lembranças, saberemos nos consolar e nos ajudar mutuamente.

Tentei montar a apresentação para postar ontem. Não consegui...ouvi mais de 20 vezes seguramente a musica que te escolhi.  Mas não postei, talvez hoje mais tarde, consiga dividir com todo mundo a razão de minhas noites em claro, no meio da escuridao: a falta que você faz em nossas vidas.

Sempre disse que você era a minha razão de acertar, eu não teria outra chance, você era único, ainda É, em todos os sentidos.  Também dizia que seu sorriso iluminava minha vida, nestas noites em claro, em que relembro você, suas mãos compridas seus pés enormes as vezes sobre minhas pernas enquanto assistíamos filmes...e a falta de seu clarão, só aumenta a escuridão de meus dias, esses longos 145 dias sem você.


A coisa mais preciosa do mundo...VOCE.
Seu sorriso, minha paz.
Suas maos, minha segurança.
Seus pés, meu alicerce
Seus olhos, expressão de verdade.
Sua boca, doces palavras ao meu coração
Seu jeito, nos doava vida e muita paz
Sua alegria, uma bandeira
Sua vida, um compromisso de amor
Seu coração...terra de todos
Voce, a maior preciosidade que eu poderia ter.
Meu filho, sua vida alegrou meu viver
Sua partida, aproximou meu morrer.
Xeberel te amo muito,
cada dia doi mais...cada dia mais dificil...cada dia...
mais um dia, sem voce.

domingo, 16 de outubro de 2011

REVOLTA E INCONFORMISMO

Todas as vezes que tenho que lidar com os sentimentos que a falta de Rafael provoca me sinto revoltada, mas não preparada para rebelar-me a ponto de me insurgir e lutar contra esse processo de sufocamento. Sempre que penso em revolta, penso em uma situação de não equiparidade, alguém que tem mais forca ou poder e por liderar ou dominar os demais gera um sentimento de inconformismo capaz de suscitar um grande capacidade de desordem, de rebelião ou de motim.

Eu tenho vontade muitas vezes de brigar com o mundo, de me revoltar com tudo, de demonstrar a minha rebeldia e o efeito de sedição que esse processo provoca, gerando concomitantemente os sentimentos de traição, abandono, expropriação e acima de tudo de negação da realidade.  Como é cruel esse processo.

Eu deveria reagir diferente a traiçoeira morte. Até hoje não sei dizer se ela é mais amena quando chega de supetão ou quando nos avisa paulatinamente que bate a nossa porta, só sei dizer que ela é inimiga, de qualquer forma que chegue, nunca nos achara preparados. Não sei sobre os que partem, mas com propriedade, sei falar dos que ficam.

Perdi coisas importantes na vida. Perdi pessoas, perdi oportunidades, perdi contatos, perdi controles, perdi a razão milhões de vezes, mas é a primeira que me perco, por ter te perdido, filho.  Não sei dizer se alem de conviver com essa mutilação emocional se conseguimos depois de perder um filho, único, nos sentir pessoas normais ou de alguma forma especial para Deus.

Uma coisa posso dizer, a chuva cai para todo mundo, ela não molha só os bons, ou os que estão mal vestido, ou os que não mentem, ou os endinheirados, então percebo que a  morte pode bater a porta de qualquer um. Bateu na minha.  O que não consigo ainda compreender, é qual o sentido que Deus tem querido operar em minha vida com tantas perdas.  Perder pai com 38 anos quando se tem apenas 12 anos  e o único filho, com 17 anos, aos 38 anos é sem duvida gostar muito de andar na chuva.  Tenho uma relação intima com a morte, e consequentemente, com perdas...mas até hoje não aprendi a perder.  Talvez agora fique mais fácil, não se tem muita coisa a perder, ou se é que se pode dizer, talvez seja isso, perder é natural, então que caia a chuva.

Essa também é uma postura de revolta e inconformismo, talvez seja a etapa do luto que hoje me encontro, meu puro desencontro.

Eu passo dia e noite tentando achar uma saída, um sentido para isso tudo. Tento entender o que Deus quer, tento buscar forças não sei para onde andar, nem sei qual a direção em que posso encontra-me novamente com minha fé, e quem sabe assim perceber que o momento para estar de volta aos braços de Rafael vai se aproximar definitivamente.

Neste período de revolta e inconformismo começamos a negar ate o que tínhamos certeza, começamos a duvidar sobre nosso destino, sobre como será o reencontro, e se não tiver reencontro? E se, se, se, se?

Eu sinto o meu gás acabando, meu barco virando, meus sonhos frustando-se, meus desejos desmoronando e não tenho perspectiva de ver nada disso passar. Então neste motim eu tenho duas saídas, continuar na revolta ou me aliar ao que me domina, e apesar da dor e de todo sofrimento querer me algemar na tristeza, meu domínio é de Deus, é a Ele que tenho gritado, e com Ele que quero sair desta batalha.