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domingo, 31 de julho de 2011

TATUEI VOCE NO MEU CORAÇÃO

Fiz...Cumpri nosso acordo...nao consigo falar....Hoje não será um dia fácil, em todos os sentidos e de certa forma me apavora o conhecimento de que você não estará aqui para me proteger, mesmo que você não fizesse absolutamente nada e estivesse calado em seu quarto, só em saber que você estava ali, eu me enchia do super-poder. Fui neutralizada, perdi essa força e em meio aos escombros tenho que achar uma força nova. Então, hoje olho para meu pulso esquerdo, do lado do coração, perto da mão, aquela parte do corpo em que conduzimos ou somos conduzidos e o vejo  ali representado.

Em junho de 2008 conheci uma educadora em Brasilia, ela tinha no pulso três bonequinhos minúsculos daqueles de palitinho, coloridos e achei muito lindo e perguntei o que significava, ela me respondeu, que representava os dois filhos, um casal, e um afilhado. Tirei uma foto e disse comigo mesmo, se eu fizesse uma tatuagem queria alguma coisa assim.

Passados alguns meses Rafael discorreu sobre a vontade que ele tinha de fazer tatuagem e eu lhe disse que eu também faria, mas quando ouvi as ideias dele, fiz as seguintes considerações. Filho, eu tenho a idade que tenho e não estou segura se devo fazer, e  que você nesta idade também não tinha isso claro e determinamos, tatuagem só com a maturidade.  Ele achou que maturidade era a maioridade. Lei do engano. Comentou outro dia comigo, mãe, próximo ano com 18 vou fazer um tubarão martelo na barriga, respondi, e eu uma baleia lixa, e vou lixar o tubarão, e não seja bobo de fazer que eu tiro mesmo,  você vai ver a fúria da baleia, ele  disse oxente mãe, você sabe tirar tatuagem? Vamos ganhar dinheiro mainha, e saiu rindo, depois entendeu o recado. Conversamos sobre arrependimentos, sobre coisas permanentes e eu afirmei, filho eu quero fazer, mas não fiz ainda primeiro pela coragem, segundo pela certeza que não tenho e terceiro porque mesmo representando você, eu não quero me arrepender mais tarde, a depender das suas escolhas e perguntei se ele entendia. Ele respondeu afirmativamente e fizemos um novo projeto: nos meus quarenta anos eu faria a tatuagem e discutiríamos a dele.

Não deu tempo. Fui sábado, não fiz a tatuagem que tinha lhe mostrado, defini uma especial para você.  Escrevi: Meu Xeberel, registrei dois bonequinhos, um casal de mãos dadas, eu e você, o bonequinho flamenguista (por ideia de sua avó) e embaixo dos dois a frase: Por onde for quero ser seu par.

Mas quis ir além e quis fazer meio que uma por você, mas filho eu não combino nem com o tubarão martelo muito menos com a baleia lixa (apesar da aparência), então escrevi em minhas costas, minha coluna, meu esteio, como você era para mim, minha sustentação, seu nome e depois dele cantei o meu amor e agradeci a Deus ter me dado você. E descrevi a estrofe de nossa musica predileta, Deus forte, aquela que fala que o Rafa é o Deus que cura...Jeofa Rafa meu Senhor que cura toda a dor.


Mas filho, muito mais tatuada no corpo fui tatuada no coração, pela vida contigo, pelo seu exemplo, e por seu amor tao grande pela vida e por mim. Sei que fui muito amada e sinto muita força quando lembro de nosso amor.

Rafael
presente de Deus, meu amor eterno


Te tatuei no coração
Passa os dias passa as noites
Passa horas e eu estou aqui sem você
A saudade está comigo
Tô tentando e não consigo mais te esquecer
Você é a tatuagem que gravei na minha alma e coração
Você é o sonho lindo que eu vivo com loucura e paixão
Quanto sinto o seu corpo me aquecer
Teu abraço me aquece nesse instante
Nosso amor que brilha mais do que o sol
Brilha mais que diamante
És a tatuagem que gravei no coração
És a menina dos meus olhos
Meu universo de paixão






sábado, 30 de julho de 2011

NOSSA CASA HOJE FICOU CHEIA DE VOCÊ.

Sabe aqueles dias em que mesmo quando as pessoas não estão presentes, falamos tanto, tanto nelas que chegamos a projetá-la fisicamente ali por perto? De quando a gente sente tanto tanto tanto que a gente chega a imaginar que ela não está distante? Foi assim que me senti hoje, num dia geralmente tão difícil pela carga de saudade e lembranças que o sábado traz.

Suas histórias encheram nossa casa hoje.  Hoje foi um sábado diferente, pois apesar da angustia que ele traz e das nossas lembranças vividas nos nossos sábados, hoje foi um especial. Eu explico, consegui andar uma milha em direção ao que precisava ser feito, tive coragem e iniciativa. Tomei e realizei a decisão. Segundo, porque mesmo sendo complicado passar por aquilo tudo sem você, pois tínhamos um acordo que em sua maioridade faríamos aquilo juntos e o desenho que eu traria no pulso eu já tinha discutido contigo, eu estava tendo um apoio que fazia toda a diferença, sua avó estava comigo. Mesmo sabendo o que ela pensava a respeito, tê-la do lado foi fundamental e imprescindível, eu retardei a saída de casa ate a hora que ela me ligou...eu literalmente esperei a ligação dela. A emoção do que passei ali no estúdio eu trato amanha, porque mais coisas especiais tomaram conta de nossa vida.

No meio do desenho que se perdia em meus pensamentos, ali relembrando nossos planos, hoje frustrados ou em nossa vida juntos, recebi a melhor ligação de todos os tempos. Gui e Tico iam ficar um tempo conosco, ou com nossas lembranças.

Foi um sábado sem você com cara de sábado nosso.  Rimos muito, lembramos do que vivemos juntos, compartilhamos, nos doamos mutuamente, numa alegria cinza e desbotada, mas leve e densa ao mesmo tempo porque trazia um brilho muito especial para nossa casa. Trazia seu reflexo em outro tom, que não o meu.

Rimos das historias do famoso carro de  açúcar e de sua coragem em descortinar o mundo avassaladoramente. E por falar nesta palavra, lembro de um filme que recomendei a muitas pessoas e que quando você me viu falar sobre ele, me perguntou o que era avassalador, e eu falei de forma bem crua o que significava e você me perguntou porque eu tinha gostado do filme e eu disse, porque a protagonista era instada a viver com euforia, com gana. Vivi esse sábado assim. Me senti muito forte porque nossas historias só construíam uma imagem que eu me orgulho de ter vivido contigo. E mesmo o que com certeza reprovaria, hoje não tem importância, na verdade até digo, que bom que você viveu e que pode dominar um pouco o seu mundo.

Muitas duvidas ainda perduram e também sabemos que teremos que andar e você sera apenas uma lembrança em nossas vidas. Só que para  mim filho, você não sera lembrado, porque não foi esquecido e não posso lembrar do que não esqueço.

Lanchamos, justificamos nossas dúvidas, nossas questões, revelamos parte de nossas confidências e nos permitimos por algumas horas vivermos como se Rafa fosse chegar de uma viagem e estávamos ali esperando a qualquer momento ele nos envolver novamente. Fomos jantar, deixei-os em casa e perto do fim da noite chorei um choro de saudade sem dor, um choro de pesar sem angustia, porque minha casa tinha som, cheiro, cor, barulho, história e vida, porque quando pessoas que te amam se reúnem para te celebrar, celebramos a amizade e a vida...e não morte.

CANÇÃO DA AMERICA
Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração
Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.


sexta-feira, 29 de julho de 2011

INSANIDADE

Penso todos os dias com afinco como me esquivar dela. Sinto que ela beira nossa razão e nossa mente. Busquei estágios do luto, venci parte da literatura a que tenho acesso. Não consta ali insanidade, como forma de representar o que sentimos durante esse processo de prostração diante da perda, da falta de direção e até mesmo entendimento.

Falo insanidade porque se sempre nos recorre os mesmos pensamentos (aqueles de dor, perda, tristeza, falta, angustia, decepção, traição, revolta, enganação, etc) como podemos querer ter resultados diferentes, ou seja, pensar as mesmas coisas o tempo inteiro e ter outras conclusões.  De repente este é o processo que precisa ser feito, eu apenas não tenho conseguido, a partir das mesmas incógnitas, achar resultados diferentes.


Fico sempre me perguntando quanto tempo as pessoas que passam por essa dor levam para superá-la. Ao mesmo tempo me auto-recrimino, ninguém supera isso. Mas quanto tempo são capazes de levar para retomar a vida, porque para mim tem sido difícil, desde pedir a água mineral para o bebedouro, dirigir, retomar o trabalho, falar de forma natural: meu filho morreu, porque sempre digo, que ele partiu, que ele viajou, que ele se foi, que Deus o chamou, e não mesmo pronuncio, quando o faço, com naturalidade, que a morte chegou a porta dele.


Também imagino que não sou a que mais sofre no mundo, sei que as pessoas podem e devem sofrer muito mais que isso, não tenho a pretensão de estar no centro do mundo, nunca tive, e principalmente por este motivo.  Tem horas que me pego pensando que podia ser pior, eu podia ter causado a morte dele, como tantos pais que de forma culposa o fazem, e alem da perda sucumbem a culpa.  Quer saber, acho que isso também acontece com aqueles que não tiveram culpa no caso, porque simplesmente nos perguntamos todo o tempo, porque não o livramos da morte, como fala o Pai Nosso...e livrai-nos do mal.


Fico o tempo inteiro me cobrando se eu preciso reagir assim, com essa vontade tao grande de que o mundo simplesmente não existisse mais, apagassem as luzes e saíssemos de cena. Fico sempre, todo o tempo, e cada minuto do meu dia, perguntando quando isso vai acabar, quando pelo menos para  mim as luzes se apagarão, porque sinceramente, por mais grandioso que seja o espetáculo aqui desse lado, eu não vejo, não sinto mais graça em nada.


Tem dias que eu queria que a morte (aqui eu queria escrever viagem - mas ele não volta) de Rafael valesse de alguma forma para que eu aprendesse coisas, que eu tivesse força para mudar para melhor a vida de algumas pessoas, sei lá, como se a morte dele não fossem em vão, pode ser loucura...


Mas simplesmente não consegui nem doar as roupas ainda, que podem de alguma forma abrigar, agasalhar, vestir pessoas que precisam, ou sei lá, simplesmente acho tudo tão insano e tantos protocolos sociais que o mundo a cada dia vem me impondo, e não precisa ser de pessoas de longe, tão próximos, se sentem tao íntimos e me dizem como eu devo ou não agir...e no final do empobrecido discurso dizem eu imagino sua dor.


Eu imaginava tanta coisa.


Esta insanidade provocada pela angustia, me faz ouvir coisas, pensar em tantas outras sobrenaturais, querer estar com alguém e no instante seguinte que a pessoa me cerca querer estar só. Querer gritar e urrar de dor, e um segundo depois chorar em silencio e sentir a lagrima quente molhar os lábios e lembrar dos dele, ali deitado, frio e inerte. Espero que sem sentir nada e eu neste turbilhão de coisas.


Tem uma musica que Ney Matogrosso cantava que num dos versos dizia, mais louco é quem me diz, que não é feliz, não é feliz.  Por essa ótica, desde o dia 23/05 saí de um estado supremo de felicidade, só por tê-lo por perto, só por crer que juntos, venceríamos qualquer problema, só por ter uma fé que julgava inabalável e o mais grandioso por amar um Deus que cuidava da gente. Hoje vivo a insanidade, que pode ser traduzida pela situação contraria ao que enfrentava antes do dia 23... não o tenho por perto, não creio que posso vencer qualquer coisa porque perdi meu parceiro e com ela a força para continuar, minha fé tem sido provada a cada dia que continuo dizendo ao meu Deus..eu continuo Te amando, mas me tira deste buraco logo, e por fim, sei que injustamente, não tenho me sentido cuidada, apesar de saber que Ele, meu Deus, está lá, onde sempre esteve.  E apesar disso, porque não consigo reagir?


Li há um tempão atrás que insanidade tem relação com ausência de sofrimento, as pessoas não suportam a realidade e rompem com ela, e consequentemente com o sofrimento que ela trás. Eu acho que enlouquecer poderia ser uma saída, neste sentido, negar essa dor, porque descobri o sentido de sofrimento...é o silencio do mundo quando Rafael, meu Xeberel o deixou.











quinta-feira, 28 de julho de 2011

POR QUE É TAO DIFÍCIL?

RE-COMEÇAR...Começar de tras para frente. Começar do fim. Literalmente preciso recomeçar. Mas não seu por onde, não sei para onde ir, nem tampouco onde chegar, e o mais intrigante de tudo... não tenho vontade. Onde estou é muito ruim, mas não imagino que em qualquer outro lugar desse mundo seja melhor.  Este é o meu enredo, mas sei que preciso, começar do fim.

Conheço um Deus maravilhoso, apesar de ter me imposto uma dor tao insuportavelmente grande, isso não diminui a soberania DELE em minha vida, continuo amando-o, embora ainda muito resistente  a entrega total.  Conheço as promessas Dele e sei que o que prometeu para os seus eleitos, todo o meu amor e dedicação a Rafa, mesmo que eu fosse - e não sou ou fui - a melhor mãe do mundo seria insuficiente para concede-lo o que o Pai o tem concedido, um lugar onde não há dores, tristeza, angustia, etc.

Se o Reino de Deus é um lugar onde a paz e a alegria do Senhor ecoa, Rafael está muito à vontade lá, pois se não somos deste mundo e aqui ele nos dava tantas alegrias imagina num lugar que não tem antônimo para o estado de estar alegre e pleno.  Penso muitas vezes de que muitas pessoas especiais para mim e para Rafa também ja estão lá, e compartilham dessa festa. E o mais importante, nos meus pensamentos, Rafael amava servir, ele se condoía com a dor do outro, ele era daquele tipo que ri com os que riam e chorava com os que choram... então, se lá é o lugar de servir e adorar...acho que ele está muito melhor lá, experimentando coisas que só experimentam aqueles que Deus chama.

Se estar no Reino de Deus é privilegio, e alguns tem vida longa na terra e outros prematuramente são chamados, eu podia argumentar então que se Deus elege Rafa para estar em Seu reino mais cedo, ele era especial para Deus. Não significando que nós não sejamos, porque temos mais de 17 anos e ainda estamos nesse mundinho meia boca.

Já tenho argumentos suficiente para espiritualmente me convencerem que Rafael pode estar melhor lá do que aqui, enfrentando todas as agruras deste mundo ao nosso lado, especialmente bem perto de mim, mas por que é tao difícil recomeçar?

Teria que fazer com que meu lado espiritual reprogramasse meu lado emocional, eu lado físico, meu lado racional, meu coração, meus braços, e todo o meu mundinho do lado de cá, para conseguir entender que Rafael está bem e que eu estou sendo egoísta chorando uma coisa que deveria ser objeto de muita alegria.  Mas quer saber...ainda não consigo. Confesso, estou sendo muitissimo egoísta sim, queria te-lo do meu lado...por que ele não poderia ira para esse lugar fabuloso um tempinho mais tarde, por que não poderia ter ido com outro tipo de partida, por que não poderia ter visto os sonhos mais imediatistas acontecerem...por que? Por que? Por que?

Pergunto-me todos os dias, por que não consigo me desfazer das coisas? Por que não consigo enfrentar o trabalho? Por que dirigir tem sido sacrifício repugnante? Por que não consigo estar bem, não consigo achar graça de nada, ver perspectiva, me sentir feliz com a felicidade dos outros, não ter sonhos, vontades, por que?  Ao longo de dois meses, não fiz nada... não consigo fazer nada, tenho sido uma aberração ambulante, um zumbi sem sonhos (e nem sonho com ele nada, nunca o vi em sonhos...), sem perspectivas, andando sem direção, e o pior sem enxergar que isso possa ter fim, que isso vai acabar.

Ouço um monte de conselhos de pessoas que se apropriam de termos e títulos para julgarem o que devo fazer, mas sempre me pergunto, são PHD em dor? em perda? Não, sequer perderam um peixe de aquário, falam de perdas de mãe e pai, de avós de amigos...todos em idade adulta, as vezes já na terceira idade, as vezes com uma doença terminal ou cronica que já sufoca os entes por alguns anos.  Falam de pessoas próximas mas não de pessoas do seu núcleo de casa, que viam todo dia, que estavam ali lado a lado...para essas pessoas, quando a morte vem, não se lida apenas com a perda, mas com a rotina, o habito,  a casa, as coisa, o luto, etc.

Eu não estou assim porque quero, e não tenho suportado as psicologias baratas ou o religiosismo precioso. Não sou heroína bíblica, senão teria um livro lá com meu nome, ou uma citação em algum versículo, não tenho a paciência de Jó, nem a sabedoria de Salomão, nem o coração de Davi...e Deus sabe muito bem quem eu sou, não precisam me julgar, afinal ainda não foram transformados em juízes, e pelo que eu saiba chorar e enlutar-se do meu modo ainda não foi traduzido para nenhum artigo do Código Penal.  Estou ferindo a Bíblia? Deus, só Ele me conhece e me julga.

Então queria que entendessem que eu ainda não estou pronta para recomeçar, apesar de querer muito, ainda não sei para onde ir...e até lá, o mundo não vai se perder porque eu não estou na obra, ou porque não dei as roupas de Rafa, ou porque não fiz caridade, ou porque não me mostrei hipocritamente mais forte do que sou e sinto para afirmar que faço parte de uma doutrina religiosa ou de uma bandeira.

E para tantos outros que usam o argumento de que Rafael não está feliz em me ver assim...se você está, você não pode ser normal. Quanto a Rafael, ele entenderia, e como ele me conhecia, ele saberia que eu estou lutando, mas não é do seu jeito, caro amigo,...é do jeito que Deus quiser e permitir.

Então Senhor, eu tenho esperado a direção e sei que antes disso, poderei está lá...num lugar onde as pessoas não julgam...até lá, segue um louvor em oração.

RECOMEÇAR
Pai,
Tá difícil manter o caminho,
Tenho andado em meio a espinhos,
Nem sempre é tão fácil acertar.
Pai,
Emoções descalçam os meus pés,
Me roubando em meio a cordéis,
Que me enlaçam em minhas fraquezas.
Pai,
Eu nem sei o que te falar,
Mas eu quero recomeçar,
Me ajuda neste instante.
(Refrão)
Preciso da tua mão,
Vem me levantar,
Faz-me teu servo Senhor,
Me livra do mal.
Quero sentir o teu sangue curar-me.
Agora meu Senhor,
Vem restaurar-me. (2x)
Pai,
Tá difícil manter o caminho,
Tenho andado em meio a espinhos,
Nem sempre é tão fácil acertar.
Pai,
Eu nem sei o que te falar,
Mas, eu quero recomeçar,
Me ajuda neste instante.
(Refrão)
Preciso da tua mão,
Vem me levantar,
Faz-me teu servo Senhor,
Me livra do mal.
Quero sentir o teu sangue curar-me.
Agora meu Senhor,
Vem restaurar-me. (3x)
Agora meu Senhor,
Vem restaurar-me...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

EU NÃO CONSIGO FAZER AS COISAS QUE FAZIA ANTES CONTIGO.

Tem dias que me sinto uma mulher forte. Passo quase sempre em frente ao Cemitério onde enterrei meu filho.  Passo no local do acidente, todas as vezes que vou acompanhar o inquérito em Estancia, mantive o quarto dele em ordem e as coisas dele no lugar, lavei todas as roupas que estavam suja, eu mesma as lavei, ao longo desses meses, não quis colocar na maquina, e cada dia que me sentia forte enfrentava isso. Falto passar algumas, tem muito tempo, pelo menos uns 18 meses que não passava  roupas com frequência, a não ser desamassar uma outra camisa de botão, de alfaiataria para que ele fosse a alguma recepção. Tenho, por opção estado sozinha a maior parte do tempo em casa. Tem dias que enfrento tudo isso como se fosse normal...mas não é, sabemos disso. Só tenho 38 anos, perdi meu único filho, e encontro não sei onde força para levantar da cama, porque vontade, mesmo, não tenho nenhuma.

Outros dias...tudo isso que faço não consigo fazer. Não lavo, fecho os olhos quando passo pelo banheiro que ele usava, não abro a porta do quarto dele, acendo todas as luzes de casa para permanecer nela, e na cama era o ultimo lugar que eu queria ficar, pois ficava muito com ele ali, assintindo filmes, conversando, e no período de minha separação, dormi com Rafael na mesma cama por 03 anos, ate termos novamente um espaço só nosso.

Mas independente de força ou não. De me sentir forte ou fraca, ao contrario de Marco, não consigo ir para os lugares que ia com ele. Não fui ao cinema, não consigo andar pelo Jardins, era o shopping que eu mais ia com ele, não consigo fazer pipoca no microondas, não consigo ficar na casa do Saco, não me vejo naquela piscina, não fui na praia nem andar, nem chorar, coisa que sempre fazia, era meu lugar predileto de reflexão. Não consigo ir na Ideal, comer o pastel da Jane da feira da Aratipe, ir na Baviera do centro,  usar os óculos que compramos juntos, ou o relógio que ele me deu, olhar o meu local de trabalho com os mesmos olhos. 

Descobri que estou sem aguá mineral em casa há quase 30 dias, porque não consigo falar com Michel porque quando ele pergunta o endereço eu engasgo para falar que era na casa de Rafael, e da ultima vez que pedi aguá choramos muito.  E não consigo pedir a outro fornecedor porque Rafa sempre pedia para darmos preferencia, para ajudar, teve um tempo que recusei, mas acabei voltando, pelos argumentos de Rafa.  Nunca pedi aguá sem dizer que era para o apartamento de Rafael.

Não consigo ir para o Casquinha, lá temos garçom predileto, frequentava com Rafa há 10 anos, dos quais mais de seis com o mesmo garçom. Também tem um queijo na orla, não consigo enfrentar essas pessoas, não sei o que fazer, o que dizer.  Também não consigo visitar Dea e os meninos, Bia seria nossa afilhada, simplesmente não consigo sequer olhar para o Del Rey, fomos -eu e Rafa- muito felizes ali. Muitos amigos, o prédio em peso em sua despedida, mas eu não consigo nem agradecer a força.

Não cozinho mais,  nem tive vontade de fazer nada, não como o que havia comprado para ele e que ainda está na dispensa ou no congelador, gosto de ver no congelador, mas não consigo fazer, não sento na mesa da cozinha para fazer nenhuma refeição, mesmo quando fico todo o dia em casa.   Não consigo arrumar suas coisas, filho...simplesmente não consigo, não quero, ainda não posso.

Não vai ser como daquelas vezes que eu arrumava e você ficava na cadeira no computador e dizia essa não dá mais, essa eu não gosto, essa eu não uso, essa veja se pode arrumar e juntos deliberávamos e você levava tudo para o bazar ou para alguém que você sabia que necessitava.

Eu vou fazer, e você não vai estar comigo dessa vez. Eu não consigo fazer as coisas que fazia antes contigo, nem as novas, impostas por sua ausência, nem quando me sinto forte, pois fico pensando o que você gostaria que fosse feito.  Desculpe minha fraqueza, meu filho, mas ainda não consigo, continuo sem a água, e sem as outras coisas que me foram impostas.





terça-feira, 26 de julho de 2011

QUANDO A AMIZADE NOS LEVA A MORTE

Hoje fez dois meses sem Rafa Bispo, uma dor que também pulsa dentro de mim.  Primeiro pelo comportamento que Rafa tinha, um menino calmo, pacato, educadíssimo, estudou no melhor colégio que a vida podia te-lo dado, uma família amorosa e trabalhadora.  Hoje, que conheço pela dor os pais de Rafa, entendo de onde vinha a calma e amorosidade dele.  Segundo, pela própria fatalidade, um amigo que vai ajudar ao outro e na volta para casa morre, faz essa dor ficar mais intensa e machuca mais profundamente.

Naquele domingo, 22 de maio de 2011, eles passaram o dia juntos, almoçaram juntos, comeram caranguejo, foram as dunas, visitaram outro amigo que havia sofrido acidente em janeiro e jantaram juntos.  Tanto na casa de um como na do outro.  Um pediu ao outro para que dormissem na mesma casa, querendo mais companhia.  O cansaço apertou e não titubearam, juntos foram para Estancia, município de Sergipe, mais próximo do povoado onde estavam,  buscar alivio, primeiro na farmácia, depois no hospital e juntos sucumbiram a alguma coisa na estrada que o impediram de voltar para casa, ou de chegarem no céu juntos. 

As vezes penso que inventamos varias formas de minimizar a dor no coração, e uma delas é estruturando novos fatos que possam justificar o ocorrido, ou torná-lo mais suportável. Muitas horas brinco disso, em outras, ufa, não suporto ouvir o que eu chamo de desculpas baratas para que a uma mãe engula seu choro, ou para que um crente teorize sobre aquela passagem bíblica que ele leu ontem a noite e que foi para aquela mãe, embora eu ache que Deus falara comigo diretamente, sem precisar falar com todos os religiosos antes.

Encontramo-nos, eu e a mãe de Rafa, e as vezes nos perguntamos como vamos, outras vezes, nos respondemos reciprocamente, vou como você está indo, e choramos ou rimos aquele sorriso amarelo de canto de boca.  Tem dias que estamos mais revoltadas, mais desconsoladas, em outros, ela continua afirmando que meu Rafa era anjo do Rafa dela, e que veio pegá-lo, acho sensível, principalmente pelo carinho com o qual me trata, mas sei que não foi isso que aconteceu.  Mas tem dias que tentamos pensar como nossos filhos pensaram, e porque decidiram ir sem pedir ajuda. Queríamos mesmo poder responder, mas até agora não entendemos, como e por que eles resolveram ir, sem acionar ninguém que pudesse trazer o conforto mais rápido, aí nos calamos, enxugamos nossas lagrimas e nos dizemos, a morte só quer uma desculpa. Mas quer saber... não aceitamos, mesmo.

Depois eu sozinha começo a pensar de forma fantasiosa sobre isso, e um dia me pus a elocubrar...Bom, dizem que quando uma pessoa gosta muito de uma coisa e morre fazendo essa coisa que a pessoa morreu feliz.  Considerando que a morte é a unica forma de passar para a eternidade, ou até imagino que a gente precise e que em algum momento até entenda que queira ou que é chegada a nossa hora...mas dizer que Rafa ficaria feliz por isso, bem acho que não, na flor da idade, uma pessoa que falava desde muito pequeno em mulher e filhos, família, amigos...aos 17 anos, ter ido feliz...acho que não.

Então começo a bandear para outras divagações, tipo, mesmo que não fosse a hora de ir, e m pergunto, onde Rafa gostaria de ter ido...eu vejo o Saco como o lugar que ele amava, ele gostava de estar lá, gostava de estar com a família, com os amigos, nas visitas que fazia, nas dunas, na praia quando ainda dava para surfar e se tinha muito acesso.  Então, digo sempre a outra mãe o quanto nossos filhos gostavam de lá, apesar de não pertencer aquela redondeza por nascença, a adotaram por amor. E continuo elocubrando....

E que tipo de ocorrência, uma rápida, ou uma que demorasse, para que nos acostumássemos com a ideia...bem Rafa era tudo para ontem, paciência mesmo não era o forte dele, não imagino Rafa persistindo para a morte, porque ele insistia com a vida. E aí vem a pior parte...como, ele gostaria de estar sozinho? Acho que não, Rafael foi, desde pequeno, muitíssimo amigueiro. Soube fazer amigos e a maior prova disso ainda é o orkut ou as mensagens no celular.  Talvez por isso, infelizmente outra vida ceifada, penso eu.  Mas não era qualquer um, era um amigo. Daqueles que nem a morte separa.

E vou adiante, numa tentativa insana (talvez aqui merecesse caixa alta) justificar porque não no mesmo dia, ou na mesma hora.  Primeiro, porque Rafa amenizou a pancada do outro Rafa, com seu próprio corpo, já que o meu Rafa estava na garupa da moto; segundo porque acho que Rafa imaginava que cada um precisava daquele tempo de despedida de suas famílias e juntas era uma dor muito grande e muita comoção para todo mundo, e assim as famílias podiam ser solidarias, alem de Rafa Bispo poder ser homenageado com parte da historia já revelada, pois quando meu Rafa partiu eu nem sabia que ele tinha ido buscar ajuda, ou estado no hospital (e eu não descanso enquanto não souber o que aconteceu) ; terceiro porque Rafa queria arrumar primeiro para quando o amigo chegar e quarto porque eu acho que ele queria um pouquinho de exclusividade para ambos.

Loucura tudo isso. Mas acho que se nossos filhos tivessem vindo de uma farra, onde beberam muito, não dormiram, fizeram arruaça, bagunça,  estivessem em alta velocidade, fossem indesejados ou pessoas ruins...acho que eu não estaria aqui escrevendo nada disso, estaria chorando a dor de perder um filho apenas, não de duas vidas tão especiais.

Mas aqui eu não quero falar de morte física, mas de amizades que nos levam a nossa morte, a emocional, porque nos roubam nossa confiança, porque nos sacrificam a paz, porque nos trazem solidão, tristeza, revolta...esse tipo de amizade os Rafaéis não tinham. 

Até e inclusive nisso eles eram parecidos. Eram daqueles que não mediram esforços para socorrer um amigo.  Embora eu quisesse que tivessem medido. Embora eu quisesse que tivessem se negado a ir, tivesse dito a um adulto ou mais experiente o que pensavam em fazer...mas isso também fugia a nossa vontade, e a deles também.

Eu já tive amigos que fariam qualquer coisa por mim..acho que eu tinha a idade de Rafael quando achava isso.  Continuo tendo muitos amigos , os daquela idade ainda me acompanham, talvez hoje, não façamos qualquer coisa um pelo outro, mas naquela idade, acho que também pilotariam uma moto para me livrarem de um cansaço agudo.  Não os julgo por isso, afinal, eles não foram em busca da morte, mas da vida.

Encontraram-se com a vida eterna.


Vou me recolher filho, orando por amizade como as que você fez ao longo de sua vida, e ao fundo, esse louvor, me ninando, cada dia mais próximo de você....


AMIGO QUERIDO
Amigo, como eu queria poder enxugar 
Todas as lágrimas do teu olhar 
Te ver desfrutar do melhor de Deus pra você. 

Amigo, como eu queria poder entender 
Dói tanto em mim não saber o porquê 
Mas saiba que eu não desisto 
De crer por você! 

Amigo, querido 
Você é mais que um irmão! 
Siga em frente fluindo 
Em louvor e adoracão 
Você não está mais sozinho 
Em meio a multidão 
Estamos juntos neste caminho 
Segure a minha mão. 

Amigo, eu te digo, 
Eu vou crer até o fim 
Estou orando e clamando, 
Profetizando sobre ti 
Veja o que é invisível 
Com os olhos da fé 
Pode parecer impossível, 
Mas para Deus nada é. 

Amigo, querido! 
Tenho uma aliança com você! 
Amigo, querido! 
Tenho uma aliança com você! 




http://www.supergospel.com.br/letras/letra.php?letra=2333







segunda-feira, 25 de julho de 2011

TO COM SAUDADE DA GENTE

Hoje eu tive coragem de ir lá.  Da outra vez fiquei olhando de longe, e acho que olho todos os dias, mas nao quero ver. Hoje eu vi, eu entrei, eu toquei.  Sei que para todo mundo que crer em Deus e na eternidade, e crer na promessa de um vida plena ao lado do Senhor pode condenar, pode não aceitar, até eu relutei inclusive hoje, porque sei que ele não esta mais lá, mas fico me perguntando, como pode uma mãe abandonar seu único filho naquele lugar.

Fiquei sentada ali, perplexa, me dando conta da dura realidade, percebendo que aquilo é natural para todo mundo, mas não pode ser para mim, não para mim. Circundei os quatro lados daquele sepulcro, e orei muito, talvez seja a terceira vez que oro em um mês, e cansei encostei minha cabeça próximo de onde está a sua e tive uma saudade tão grande da gente.

Lembrei de coisas nossas, lembrei de quando você era bem pequeno e íamos naquele lugar levar flores para meu pai, em outra época de minha crença, percebi que as flores que lhe levaram estavam todas secas também.  Em seguida, lembrei de suas perguntas, as vezes eu não sabia responde-las, mas não lhe enganava, respondia o que sabia e pesquisava depois, mas nunca consegui te responder com segurança como era o lugar que meu pai estava, e acho que ainda não sei, mas você já deve ter uma descrição bem legal da parada aí, como dizia você.

Lembrei de um jantar no Sesc Siqueira quando seu pai trabalhava lá. No jantar tinha muitos colaboradores e era dançante, você tinha seis anos e foi o primeiro a formar casal e a ir para a pista dançar, paguei mico contigo, desinibido, todo bossa e depois foi pedindo aos outros tios da mesa para dançar com as tias, só depois de muitas musicas você achou alguém de seu tamanho que topou dançar.

Lembrei de você em janeiro, a ultima dança comigo quando levamos os turistas aquela casa de show, senti seu perfume hoje, do jeito que senti naquela noite de verão, passou uma brisa fresca e caiu uma gota em meu braço mas não choveu, levei um susto e sorri...lembrei de todos os sustos que você me dava na cozinha e sua gargalhada depois.sabe com certeza.

Olhei para o lado e vi a terra da arvore em frente à nova morada, lembrei de quando eu te enterrava na areia da praia, bem fundo, só o pescoço para fora e você achava o máximo sair dali.  Lembro de ter feito isso em Copacabana, enquanto morei lá e registramos na foto, você nunca esquecia de comentar, lembro de ter brincado com você assim ano passado novamente, e via em seus lábios a mesma alegria. Lembro de ter feito isso com Dinho, e esse ano você comentou que também tentava fazer com Rodrigo, mas nao podia demorar nem botar pressão.  Parece que o tempo nao passava para nossas brincadeiras.

Lembrei do primeiro show de camisa que te levei comigo,  num domingo, e no primeiro a noite que fomos todos juntos. Lembrei de tantas coisas que fizemos juntos, lembrei dos cultos quando eu ficava emocionada e você procurava logo meu lenço de papel na bolsa, ou ia no banheiro da Barão e pegava um papel toalha para mim. Lembrei da gente fazendo aquela massa em abril e voce resenhando com meu braço bichado sem saber se eu aguentaria sovar a massa, e de nossas criticas ao nosso prato.  Lembrei da sobremesa que você fez decorada quando eu cheguei de viagem, e voce comeu ela todinha depois.

Lembrei de tanta coisa nossa, cada hora lembro de mais uma...ate que senti outra gota no braço, por um instante parei de chorar, pensei que fosse voce ali chorando, e nao queria te ver chorando, mas voltei a realidade, voce nao estava mais ali, que bom que nao. Sei que está num lugar lindo, e me espere que vou me esforçar para ser tao especial para Deus como voce foi, porque agora se tinha alguma coisa especial em mim, era de quando voce estava comigo, era voce.

Percebi que precisava sair estavam fechando, aí lembrei que nao quis por uma cruz informando que voce tinha partido, eu desenhei uma gaivota, uma pomba, um passaro, sei lá, queria representar a data não de quem vai embora, mas de alguem que volta ao ninho, ao lugar preparado pelo Pai desde o seu nascimento (sei que antes dele, ja estava preparado o seu lugar, no Reino de Deus), e ali tambem constatei que desenhei um coração com um buraco no meio, isso eu não lembrava, mas quando pus meus olhos, veio a mente meu pensamento daquele dia 23, meu coração sangrava, por um amor e uma dor imensa, tinha um buraco no meio.  Ele continua vivendo e morrendo a cada dia, vivendo por voce e por misericordia de Deus e morrendo de saudade da gente, porque eu nao sou mais a mesma pessoa desde que voce partiu e tenho saudades de voce e de mim ao seu lado, porque eu era feliz com voce.



Nao sei te dizer Adeus.
Desde quando te perdi
Nunca mais fui feliz,
Acabou o meu viver.
Eu preciso ter você só mais uma vez.
Você é tudo que eu sonhei,
A paixão que esperei.
Meu princípio, meio e fim,
Eu te quero, vem pra mim
Só mais uma vez.
A minha vida sem você
Perdeu sentido é o céu em plena escuridão.
Já não sei mais o que fazer,
Tento enganar, fingir,
Mentir pro coração,
Porque não sei te dizer adeus.
Você é tudo que eu sonhei,
A paixão que esperei.
Meu princípio, meio e fim,
Eu te quero, vem pra mim
Só mais uma vez.
A minha vida sem você
Perdeu sentido é o céu em plena escuridão.
Já não sei mais o que fazer,
Tento enganar, fingir,
Mentir pro coração,
Porque não sei te dizer adeus.

domingo, 24 de julho de 2011

EU ESTOU TENTANDO ACHAR LÁ FORA O QUE MAIS TENHO AQUI DENTRO

Sabe quando a gente procura determinada coisa, de repente a chave de casa, ou do carro, ou o óculos e esses objetos estão pendurados em nosso corpo, bem na nossa cara, e nós não os enxergamos?  Isso acontece com você? Nunca aconteceu? Comigo não é comum, mas agora tem sido.

Entro praticamente todos os dias no quarto do meu filho, que ainda o mantenho da mesma forma, o limpo apenas, toco nas coisas, nos objetos, hoje vou passar ferro nas ultimas roupas que ainda não tinha tido coragem de fazer. Não vou deixar o quarto intacto, não, obviamente vou doar muitas coisas, quase tudo, a alguns amigos, a alguns familiares e as pessoas que necessitam, mas no meu tempo, sem cobranças externas, afinal eu que estou lidando com essas lembranças reais diariamente. Mas eu estava falando que entro no quarto dele, e mesmo sabendo que não vou encontrá-lo, ou o procuro, de repente me vejo querendo dar um jeito irracional e contrario ao que acredito, só para aliviar um pouquinho a sensação de tê-lo perdido.

Passo as horas em casa buscando-o, perco horas a fim tentando organizar os arquivos e me perco nas lembranças e acabo deixando tudo ainda muito confuso. tenho muito medo de perder a memoria, a visual, a olfativa, a auditiva e a de internet ou tecnológica.  As vezes faço perguntas bem imbecis, tipo e se o pen drive, ou o computador, ou o hd, ou acabar o orkut, ou se a internet evoluir e os arquivos q eu tiver não forem mais lidos daqui a alguns anos, o que faço?    

Desespero ao pensar em qualquer uma dessas coisas, tenho lido todos os meus e-mails, guardados ao longo dos últimos seis anos, procurando fotos ou coisas trocadas com Rafa. Pesquiso todos os cds e disquetes (disquetes mesmos) de casa. Fitas das filmadoras, e cada vez que não consigo abrir um arquivo, que nem sei se terá alguma coisa dele, fico nervosa, é como se estivesse perdendo-o novamente.

Quando isso acontece me vejo fazendo referencia a imagem de Rafa, assim:
e só então percebo que não posso mais achar aqui fora filho, aquilo que estou cheia por dentro, pois apesar de toda essa dor, e esse vazio, é estranho eu dizer que estou cheia porque você mesmo longe e distante continua me completando, me preenchendo, e se quando tento achar aqui fora voce intacto e a cada dia que passa eu percebo mais um pedacinho que perco, posso dizer que quando me olho por dentro, vejo o quanto que você me impactou e me completou.  Quando eu olho para dentro, enxergo você, sorrindo, feliz, generoso, compartilhando e se doando..chego a ouvi-lo, a senti-lo, fecho os olhos e por um instante...vejo você...



Eu estou te procurando do lado errado, como eu fazia quando estava com a chave na mão e procurando a chave. Você esta sim do meu lado, só que não aqui fora, você esta cada vez mais forte aqui dentro. E eu te amo ainda mais pela força que tem me dado, só porque convivi com você.

Entao meu amor, acho que essa é a conclusao que eu chego, aqui dentro, é o unico lugar onde sua marca, sua lembrança e sua vida nao é ameaçada a sumir com o tempo, porque aqui sua vida deixou uma marca que só se apaga quando nos encontrarmos novamente, até lá, vou te chamar varias vezes (aqui dentro) para a gente fugir, de preferencia com você dedilhando seu velho violão... numa das primeiras musicas que você cantava, muitas vezes com Tio Aguiar.

Vamos fugir!
Deste lugar
Baby!
Vamos fugir
Tô cansado de esperar
Que você me carregue...
Vamos fugir!
Pr'outro lugar
Baby!
Vamos fugir
Pr'onde quer que você vá
Que você me carregue...
Pois diga que irá
Irajá, Irajá
Prá onde eu só veja você
Você veja a mim só
Marajó, Marajó
Qualquer outro lugar comum
Outro lugar qualquer...
Guaporé, Guaporé
Qualquer outro lugar ao sol
Outro lugar ao sul
Céu azul, Céu azul
Onde haja só meu corpo nu
Junto ao seu corpo nu...
Vamos fugir!
Pr'outro lugar
Baby!
Vamos fugir
Pr'onde haja um tobogã
Onde a gente escorregue...
Vamos fugir!
Deste lugar
Baby!
Vamos fugir
Tô cansado de esperar
Que você me carregue...
Pois diga que irá
Irajá, Irajá
Prá onde eu só veja você
Você veja a mim só
Marajó, Marajó
Qualquer outro lugar comum
Outro lugar qualquer...
Guaporé, Guaporé
Qualquer outro lugar ao sol
Outro lugar ao sul
Céu azul, Céu azul
Onde haja só meu corpo nu
Junto ao teu corpo nu...
Vamos fugir!
Pr'outro lugar
Baby!
Vamos fugir
Pr'onde haja um tobogã
Onde a gente escorregue...
Tô cansado de esperar
Que você me carregue
Todo dia de manhã
Flores que a gente regue...
Uma banda de maçã
Outra banda de reggae...
Todo dia de manhã
Flores que a gente regue...
oooo ... ooo ..
Uma banda de maçã
Outra banda de reggae...



sábado, 23 de julho de 2011

QUANDO FECHO OS OLHOS

Dois meses sem você.  Esperei o dia inteiro coragem ou condição para estar aqui.  Pensei em muitas coisas que acho importante tratar hoje, mas me deixei levar pelos fatos do dia. Foi a primeira vez que dirigi desde então. Eu gosto de dirigir, principalmente num dia como hoje, sem transito, sem hora para fazer nada.  Um pouco de medo no inicio, medo de ver você em vários rostos que zig zagueam pelas ruas.

Mas fui em frente, apesar de não ter sido um bom dia para fazer isso, a principio quis fazer uma coisa diferente, quis estar com você em algum lugar comum para nós dois nos nossos sábados, mas depois achei que não era ainda hora, quero lembrar de nossos sábados como lembro hoje, sem ter novas experiencias sozinha nos lugares que fui contigo.

Resolvi o que tinha que resolver, gravei mais um momento nobre num metal. Pus outra insignia em meu peito, e esperei a hora, indefinidamente sem saber se deveria ir a missa.  Me pergunto porque tenho ido, acho que no fundo, para não desapontá-lo, acho que para não deixar seu pai remando sozinho esse barco, acho que para ver seus amigos pois de alguma forma eles me ajudam a mantê-lo mais vívido em minhas lembranças e mais sóbria a minha saudade. Acho porque de repente vou ouvir alguma história nova, vou lembrar as antigas, vamos rir e chorar juntos, etc.

Hoje tive vontade de traze-los todos para nossa casa, ficarmos jogando conversa fora, fazer daqueles nossos lanches, fazer o que você gostava de fazer, mas não consegui, não ajo com naturalidade, fico feliz pela força e apoio que eles me dão, cada um a seu jeito, com uma mensagem no orkut, um depoimento pedindo para eu recusar, no chat on line do e-mail, no telefone, ou nas visitas, não importa, eu sinto você mais vivo, mais intenso. As vezes não falam nada, nem eu consigo falar tudo que queria, mas em estar ali, apesar da dor e do sofrimento, ficar com eles, me dá a sensação de estar um pouco com você. Penso em fazer isso das próximas vezes, tudo acabando aqui em pizza, em cachorro quente, e qualquer folia que te agradasse, e que nos unisse por um  momento para celebrar a vida que passamos ao seu lado e de forma alguma a sua partida.

Isso tudo eu penso de olhos bem abertos. Penso em você de forma mais intensa quando vejo os torpedos de seu celular, que não param de chegar, quando vejo seus escritos e o que escrevem para você, quando vejo as pessoas te deixando scraps, etc. Mas quando fecho os olhos...filho, quando fecho os olhos...

Eu não gosto de chuva, desde pequena. Para  mim, chuva é sinônimo de tristeza, de tempo cinzento, de tempo frio, de tempo sem cor, etc.  Eu sou do sol. Acreditava que chuva só era legal para dormir ouvindo o barulho dela no telhado e o cheirinho que subia da chuva caindo no chão, para o resto, nada bom. ah! obviamente também adorava tomar banho de chuva e ficar ensopada, principalmente na volta do colégio, pois não tinha muitas oportunidades de tomar banho de chuva.

Hoje por volta de seis horas da noite choveu. Chovia intensamente, e eu pensei a mesma coisa que pensei da chuva do dia que você foi embora e do dia seguinte também, dia 24/05 saiu inclusive nos noticiários nacionais, para mim todas essas chuvas eram lágrimas do céus. Vejo a chuva desse jeito desde então...imagino que Deus permite que a natureza também se solidarize com a nossa dor.

Fui para a missa com este pensamento, de tristeza mesmo, mas filho...quando fecho os olhos e tento respirar fundo, tomando todo ar que posso para cortar um pouco o efeito da dor forte no peito, lembro de você, tao sereno, com um sorriso lindo, fazendo cafune nos meus cabelos, me beijando o rosto, ou exigindo trilhões de beijos e quanto mais eu beijo, mas você quer.  Já que não sonho contigo, consegui traduzir em olhos fechados o que gostaria de ter. Se eu pudessevivia de olhos fechados, mas não posso, e quando os fecho, tenho a visão do paraíso...e você iluminando ele com seu sorriso.

Quando eu fecho os olhos...só vejo voce. Amo voce. Ate já.

Quando Fecho os Olhos


Composição: Chico César/Carlos Rennó
E aí você surgiu na minha frente,
E eu vi o espaço e o tempo em suspensão.
Senti no ar a força diferente
De um momento eterno desde então.
E aqui dentro de mim você demora;
Já tornou-se parte mesmo do meu ser.
E agora, em qualquer parte, a qualquer hora,
Quando eu fecho os olhos, vejo só você.
E cada um de nós é um a sós,
E uma só pessoa somos nós,
Unos num canto, numa voz.
O amor une os amantes em um ímã,
E num enigma claro se traduz;
Extremos se atraem, se aproximam
E se completam como sombra e luz.
E assim viemos, nos assimilando,
Nos assemelhando, a nos absorver.
E agora, não tem onde, não tem quando:
Quando eu fecho os olhos, vejo só você.
E cada um de nós é um a sós,
E uma só pessoa somos nós,
Unos num canto, numa voz.


sexta-feira, 22 de julho de 2011

DE ONDE VEM A ESPERANÇA

Queria falar sobre esperança hoje, embora nem saiba como essas linhas irão acabar, porque meu conceito sobre esperança tem sido reformulado a todo instante.  A cada fase de minha vida achava que esperança tinha um sentido diferente, mas em todos os momentos que consigo lembrar hoje, esperei por alguma coisa.


Se hoje meu conceito de esperança estiver alicerçado apenas na espera, eu poderia concluir que eu sou a pessoa mais esperançosa do mundo, porque vivo a esperar.  Espero que isso tudo passe logo, espero que esse mundo termine brevemente, ou que pelo menos termine para mim, espero que se essas coisas não acontecerem logo, que qualquer outra ocorra e me faça sair deste buraco, e em todas as elucubrações que eu faço eu me vejo esperando, logo esperançosa.


Mas quando penso que esperança poderia significar um desejo emocional, com pensamentos positivos de que o que queremos que aconteça,  aconteça de fato, me vejo como a pessoa mais desesperançosa que já ouvi falar.


Não sei se o luto faz isso, sei que o luto tem estágios que acontecem para a maioria das pessoas, mas a forma como reagimos ao luto e o período que passamos em cada estagio do luto, é variável de pessoa para pessoa. Diria que varia ate para a mesma pessoa, pois não perdemos o mesmo ente querido duas vezes.  Por conta disso, reajo hoje diferente a todos os outros lutos pelos quais passei, pois eu nunca tinha perdido um filho...meu único filho.


Eu de fato me senti fortalecida nos primeiros dias, não tive a sensação que a maioria das pessoas descrevem de que a ficha não caiu ou que iriam acordar daquele pesadelo.  Nunca me enganei, a verdade era muito dura e muito factível para que eu conseguisse elaborar, mesmo que momentaneamente, uma segunda opção que não me levasse à beira do luto.


Mas também não quer dizer que não tentei outros comandos que pudessem me fazer suportar melhor aquela realidade, nos primeiros dias imaginei que meu milagre chegaria, e talvez de milagres só entendam aqueles que creem. Eu cria, e creio! Mas enquanto ele não chegava, eu ia tentando me acostumar com a nova realidade, mas não tenho esperanças de que isso ocorra, por mais que eu venha tentando recomeçar, me ver a essa altura da vida, me preparando para ver meu filho voar (faculdade, namoro, carreira, família, paternidade, etc.) e eu não poder estar ao seu lado vendo seu desempenho, seu trajeto, suas conquistas e desfrutando de sua companhia, me tirou esperanças e vontade mesmo de esperar... 


Passados esses 59 dias sem ele, eu ainda não consigo ver ou sentir esperança, ainda bem que um conceito de esperança que eu acho muito ilustrativo vem de um texto de Mario Quintana, cujo substantivo abstrato dá titulo ao texto.  Nele, o autor a compara a uma louca que se atira do 12 andar do Ano (ano mesmo), e ela se atira e cai miraculosamente intacta na calçada, mas agora criança, e alguém pergunta o nome dela e ela diz silabicamente bem devagar, segundo o autor, para que ninguém esqueça: es pe ran ça.


Hoje a minha esperança é essa louca em pleno voo de ponta cabeça prestes a se esborrachar no chão.  Eu ainda não sei que ela retornará como criança, e não estou me esforçando para perguntar seu nome assim que ela cair ao chão, eu decidi ficar bem aqui onde estou, de repente ela cai no meu colo, talvez aqui esteja me dando conta de uma esperança.


Eu espero mesmo que Deus faça alguma coisa, porque já não tenho como e a quem recorrer...E assim me deparo com a unica esperança que deveria me retirar do buraco, a esperança do cristão esta baseada na confiança e na fé. Confiar e crer nas promessas de Deus. Eu quero ter esta esperança novamente. 


Tenho fé, mas fui amplamente abalada, não imaginava que estaria imune a nada e nem que não mereço que o mal me acometa não me acho melhor que  ninguém nem tao boa que não mereça sofrer. Sei que não recebemos as coisas por merecimento, pois se assim fosse, não deveria ter tido o privilegio de ser mãe de Rafa.   Não é isso, só não imaginei mesmo, que a morte de meu filho chegaria a minha tenda, tao prematuramente. E isso me abalou profundamente, me senti traída  assim que me senti.  A minha esperança hoje reside não na minha conformidade com a vida sem Rafa de agora em diante, mas na esperança creditada nas promessas do Senhor, de que onde ele está é melhor, sem aflição e sofrimento, embora, nós que ficamos longe dele convivemos com todas essas dores.


Quando penso nisso, me lembro de um louvor que fala sobre esperança no Senhor, e que eu já postei essa semana, é que de fato tenho esperança de que algo aconteça também nesse mundo, e não só no mundo onde Rafa já usufrui das promessas de Deus. Então me atrevo a cantar dia sem fim, lembra Senhor....


Então lembro que não podes me esquecer
Se o meu nome está gravado em tuas mãos
Mesmo que ainda eu não consiga ver
Sei que se levantarás em meu favor.

Lembra Senhor
Juraste o teu amor
E nada pode mudar
O que sentes por mim
Nem os meus pecados

Lembra Senhor
E faz mais uma vez
Os teus sinais
E saberão
Que ainda és o mesmo Deus.


http://www.vagalume.com.br/ministerio-toque-no-altar/lembra-senhor.html#ixzz1Sy0dfrRk